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História Um alguém especial - 7


Escrita por: FrancisClay

Notas do Autor


Olá meninas....como prometido a uma leitora um capitulo extra essa semana....então boa leitura.

Capítulo 7 - 7


 

E a noite que estava incrível culminou numa perfeita catástrofe novelesca.

Enchi a cara, entornei o caneco, enxuguei como uma toalha e outros ditados bebuns. Espírito nem tentou me conter, ele sabia que de nada adiantaria. Deixou que eu me afundasse no álcool e foi um amigo bem prestativo. Disse palavras de consolo e me ajudou a xingar a vadia.

No retorno para a pousada, cambaleando por ruas estreitas, sendo amparada por Espírito, minha rasteira branca literalmente me passou uma rasteira daquelas. A ponta dourada fincou numa fenda do calçamento pé-de-moleque e fui de cara no chão. Por sorte, fiquei sóbria por tempo suficiente para ralar apenas os dois joelhos e uma das mãos, já que meu amigo segurava bem firme a outra. Ele não teve reação para nada, seu reflexo estava bem comprometido. É por essas e outras que vivo dizendo que vou parar de beber.

Lembro que comecei a chorar e rir ao mesmo tempo, totalmente surtada. Espírito ajoelhou-se ao meu lado e me deu um caloroso abraço, tão necessário naquele instante.

— Por que estou me sentindo assim? – perguntei, num lufo alcoólico.

— Não sei, Nina. Acho que você não estava preparada para ver a Clara com outra pessoa. Ainda mais ela sendo quem é.

— Eu não estou me entendendo.

— Ninguém a entende. Mas olhe, eu estou aqui, sua família ama você e logo a Vanessa chegará. Você nunca estará sozinha, eu prometo. – Espírito estava com a voz meio molenga, mas entendi suas palavras de conforto. – Venha, eu ajudo você.

E entre mortos e feridos, chegamos salvos à pousada.

 

                                                                                                ≈≈≈

 

Essa ressaca vai me matar.

Tem um galo enorme crescendo na minha cabeça, meus joelhos ardem, a palma da minha mão direita está em chamas… o que mais pode acontecer? Desde que reencontrei Clara, levei dois baita tombos. Por sorte, ela não viu o segundo acontecer.

Estou no hospital, trancada no meu escritório, montando a apresentação para a administração. Tenho boas ideias para a revitalização da marca e também algumas sugestões quanto aos materiais impressos e a papelaria básica.

Mas essa dor de cabeça dos infernos não me deixa pensar com clareza. Checo a bolsa mais uma vez, irritada por não encontrar qualquer remédio que seja. Só então a ficha cai e dou com a testa no teclado do notebook.

Como sou estúpida! Isso aqui é um hospital, não? Impossível não terem um analgésico, uma dipirona, ou quem sabe seria melhor um Gardenal ou um Diasepan bem de leve na veia. Vou enlouquecer com esse sambão dentro da cachola!

Afasto a cadeira e me levanto, sentindo um enjoo surgir lá dos recônditos do meu estômago revirado. Eu tinha mesmo que encher a cara daquele jeito? Quando vou aprender a me controlar?

Destranco a porta e saio para o corredor, na esperança de cruzar com alguma enfermeira gente boa pelo caminho. É só um comprimido, nada demais. Vou me arrastando, tateando pelas paredes, a visão ficando turva e então… sei lá o que houve.

                                                                                      ≈≈≈

 

Escuto palavras soltas no ar.

Tem algo gelado passeando pelo meu peito.

Agora acho que furaram o meu braço.

Meus olhos começam a se abrir, vagarosamente.

E então, a visão do Paraíso.

— Eu morri? – balbucio.

— Ainda não. – reconheço aquela voz, mas de onde mesmo?

É um anjo, só pode ser. Ele veio me buscar, envolto por uma aura prateada, uma luminosidade que me cega. Ah, como ele é lindo. Está tocando harpa? Hum, não se parece com um instrumento musical. Espere aí, é um estetoscópio! Droga, estou no hospital!

Ergo o tronco num sobressalto. Duas mãos grandes entram em cena, pedindo que eu me acalme e volte a deitar. Obedeço, mas não sem resistir um bocadinho.

— O que aconteceu? – apresso-me em questionar.

— Eu é que pergunto. Seu exame de sangue ainda não chegou, mas não precisa ser nenhum Espírito para adivinhar o resultado. Quanto você bebeu ontem e desde quando não se alimenta?

— Droga, Clara, faça perguntas fáceis. – só então me dou conta do meu braço furado. – Que merda é essa que vocês injetaram aqui?

— Soro e um coquetel. Vai ajudar a curar essa ressaca.

— Quem aqui está de ressaca? – pergunto, indignada.

— Seu hálito a denuncia. – ouço o arranhar de um banco sendo arrastado. Clara toma assento, fixando meu olhar. – Pensei que tivesse mudado, Marina.

Não digo nada, fecho-me em copas. Aquela última frase doeu e não tenho defesas para tal afirmação. Clara tem razão, eu continuo a mesma inconsequente de tempos atrás. Enquanto todos evoluíram, eu ainda sou aquela adolescente babaca que pensa erroneamente que a vida é um parque de diversões. Também acredito que sou a Mulher Maravilha e posso tudo, sem qualquer regra.

— Nina, não estou recriminando você. – ela toca meu pulso e eu estremeço. – Mas precisa crescer, já está mais do que na hora. – Clara gira minha mão direita. – Onde conseguiu esse ferimento? E o dos joelhos?

— Foi um acidente idiota – meu tom de defesa esta no mode on.

— Eu cuido disso pra você.

— Uma enfermeira pode fazer isso – rebato.

— Ainda assim eu farei.

 Ainda grogue com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, enquanto estou perdida em meus pensamentos Clara me solta a bomba.

— Qual o nome dele?

Clara faz a pergunta enquanto gemo baixinho. Ela desliza a gaze suavemente sobre meus joelhos e o antisséptico geladinho causa um conforto imediato. A pergunta ecoa e meu cérebro faz a busca. Caramba, qual o nome daquele filho da mãe do meu ex-chefe e ex-namorado? Não consigo me recordar!

Isso não é possível, estou com algum problema neurológico sério. Esforço-me a lembrar e entro em pânico com essa pane generalizada. Mas então, o nome daquele indivíduo me é sussurrado pelo meu ego agonizante: Roger.

— Por que acha que alguém é responsável por minha decisão de voltar para Paraty? – interpelo.

— Foi só uma coisa que me passou pela cabeça. Não acho que sua mudança tenha a ver com consciência pesada ou filantropia. – seus dedos acariciam meu joelho direito. Será que ela se deu conta disso? Não digo nada, adoro os choques elétricos que percorrem meu corpo nesse exato momento.

Olhos nos olhos. Ela aguarda que eu responda.

— Roger é o nome dele.

— Hum. – e então, ela percebe o que está fazendo e tira as mãos das minhas pernas apressadamente. – Deixe-me ver sua mão.

Meu punho cerrado se abre, com a palma voltada para cima. Clara faz a mesma manobra, borrifando o antisséptico e limpando o local com a gaze. Solto outro gemido involuntário e ela me encara, inquisidora:

— Esse cara deve ter feito algo de muito grave.

— Talvez. – viro o rosto, desviando-me de seu olhar profundo. Poucos são os que conseguem ler a minha alma, meus pensamentos. Clara definitivamente é uma delas e não quero correr o risco. – Mas eu já me esqueci, fique tranquila.

Ela fica pensativa por algum tempo. Não quero falar sobre meus flagelos com ela, aliás, deixei isso bem claro ontem. Mas então, o assunto muda drasticamente e ela inicia:

— Quanto ao convite da Samantha…

Não deixo que ela conclua a frase.

— Não há com o que se preocupar, não vou aparecer no seu casamento. Se é por esse motivo que está aqui me bajulando, pode ficar sossegada. – uma fúria insana se instala na boca do meu estômago.— Não era bem isso o que eu iria dizer.

       E o que era então? Ah, quer saber? Não estou a fim de descobrir.

— Por favor, posso ir agora? Tenho trabalho a fazer e já me sinto bem melhor.

— Espere o soro terminar. Depois disso, estará liberada. – ela faz menção em me dar as costas e sair, mas então, petrifica no lugar. Parece indecisa, como se precisasse dizer mais alguma coisa. – Por que não me contou sobre a universidade em São Paulo? Soube da sua mudança dias depois, quando fui até a pousada procurar por você.

— Foi me procurar? – ok, ela consegue cem por cento da minha atenção e boas doses de culpa reprimida resolvem esmagar meu peito.

Clara está de cabeça baixa e umedece os lábios, numa tensão que parece estar crescendo. Espero, ansiosa, que ela continue. Ajeito-me na maca para ouvir melhor.

— Achei que pudéssemos nos entender. – ela morde o lábio com uma sensualidade que me deixa sedenta de repente. – Como sempre, eu estava enganada.

— Pensei que não quisesse mais me ver depois do que fiz.

— Eu também pensei. – ela parece engolir em seco e seu semblante denota que está nervosa com o rumo dessa conversa. – Você deveria ter ao menos se despedido. Não fui qualquer uma na sua vida, por mais que seus atos digam o contrário. – ela faz uma pausa e estou sem ar. – Sei que fui importante para você, por mais que negue isso.

Eu quero chorar. Cortar os pulsos. Me afogar numa privada malcheirosa. Meu cérebro formula milhões de respostas, mas nenhuma delas ganha voz. Clara se antecipa antes que eu diga qualquer coisa.

— Eu realmente pensei que tivesse superado essa rejeição. – ela sorri, laconicamente. – Quer saber? Esqueça essa nossa conversa, são águas passadas.

— Bem turvas. – murmuro.

— E tempestuosas. – ela completa.

— Doutora? – uma enfermeira aparece do nada. – Um garoto acaba de dar entrada na emergência. Fratura exposta após uma queda de bicicleta.

— Já estou a caminho. – ela responde e seu olhar se atira dentro do meu. Vejo angústia e outro sentimento que não identifico. – Assim que seu soro terminar, aperte esse botão e a enfermeira virá retirar, está bem?

— Hum, hum.

— Qualquer mal estar, peça para chamarem o Doutor Mazer. – ela já está de saída, quando eu digo:

— Me perdoe, Clarinha. Eu não sabia o que estava fazendo.

Clara está parada à porta, com a respiração ofegante e os lábios entreabertos, em dúvida. O olhar está cravado no chão e ela parece pensar no que dizer a seguir. Não há nada a ser dito. Tanto que, sem me dirigir o olhar ou se despedir, sai apressada pelas portas vai e vem da sala de observação.


Notas Finais


Por hoje é isso e até quinta...
Bjos a todas
Fuuuiiiii


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