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História Um amor difícil. - Capítulo-24


Escrita por: JuuhUzumaki

Notas do Autor


Próximo capítulo é o final.

Boa leitura.

Capítulo 24 - Capítulo-24


Sakura On:



É impressionante o que conseguimos ignorar. O que conseguimos compartimentalizar e colocar numa caixa com o rótulo “Para ver depois”. Como podemos deixar a dinâmica da vida diária nos distrair dos problemas reais que se aproximam. Durante duas semanas, Naruto e eu ignoramos a audiência. Fomos à cafeteria, eu pedi latte e ele café preto, como sempre fazíamos.
Vimos filmes, estudamos e nos revezamos dormindo no meu quarto ou na casa dele, quando sua mãe não estava. Eu cozinhava e ia para o meu emprego de meio período, e o Naruto ia para a loja de conveniência. Cada dia passava como sempre, e a gente ria, conversava e transava. Parecia que, se ignorássemos o futuro e vivêssemos apenas o presente, tudo se resolveria como num passe de mágica.
Duas vezes eu perguntei ao Naruto sobre a audiência, os possíveis resultados e o que O advogado indicado pelo tribunal tinha dito a ele. Nas duas vezes ele mudou de assunto, dizendo:

— É o que é não faz sentido ficar se preocupando.

Fizemos as provas finais e planos para ele aparecer por algumas horas em casa na noite de Natal, quando eu estaria lá para as férias. Eu não tinha exatamente permissão do meu pai para isso, mas achei que, depois da audiência, a gente poderia ajeitar as coisas. Ele mesmo tinha dito que gostou do Naruto.
Na manhã da audiência, eu ainda estava discutindo com o Naruto sobre ir ao tribunal com ele.

— Eu posso falar com o meu professor.

— De jeito nenhum — ele disse enquanto vestia uma camisa social que tinha pedido emprestada ao Shikamaru. Era meio pequena, mas era melhor do que usar uma camiseta do Metallica no tribunal. — Você tem prova final de literatura hoje, e não sabemos se vai voltar a tempo.

Estávamos no meu quarto, e a Karin e a Ino já tinham saído para as provas. Eu realmente tinha prova final de literatura à uma e meia e, graças ao Naruto, me sentia um pouco preparada.

O Sasuke e o Shikamaru iam ao tribunal com ele, mas eu ainda sentia uma pontada de ansiedade no estômago. Eu queria estar lá. Eu não ia poder mudar o resultado, mas meu lado controlador achava que de algum jeito eu conseguiria. Que eu poderia fazer as perguntas certas. Que, com minha absoluta força de vontade, eu poderia conseguir um resultado positivo.

— Tenho certeza que posso remarcar a prova.
— Não. — Ele me deu um olhar firme enquanto ajeitava a camisa azul dentro da calça jeans.

— A última coisa que eu quero que você faça é remarcar suas provas por minha causa. Você precisa pensar na sua bolsa de estudos, não pode colocar suas notas em risco. O seu pai ia me odiar ainda mais.

Ele estava certo sobre tudo. Mas, ainda assim, eu queria estar lá.

— Me manda mensagem assim que terminar. Vou estar surtada esperando notícias.
O Naruto sorriu e passou a mão no meu rosto.

— Nada de surtar. Vai ficar tudo bem. Qual é a pior coisa que pode acontecer?
Nós dois sabíamos qual era a pior coisa que podia acontecer. Ele passar um ano na prisão.

— Meu advogado disse que eu não vou receber a sentença máxima. Agora eu preciso ir, pra não me atrasar.

O Naruto me beijou, um beijo longo e vagaroso que relaxou minha tensão e fez meus dedos do pé se enroscarem no carpete.

— Hum — disse ele. — Te amo.


— Também te amo.

À uma da tarde, eu ainda não tinha recebido notícias, então desliguei o celular quando chegou a hora da prova e fui para minha carteira. Atravessei as águas confusas de Hemingway, Fitzgerald e Williams. Era impressionante que duas partes do meu cérebro pudessem coexistir com tanta facilidade: uma refletindo metodicamente sobre o simbolismo e a outra num tribunal no centro da cidade com o Naruto.

Enquanto eu respondia a perguntas sobre Um bonde chamado desejo, lembrei-me da minha primeira conversa com o Naruto sobre a reação da Stella quando Stanley jogava longe os sapatos. Ele estava certo. Eu não entendia, na época, que o amor e a paixão não são lógicos, que você pode ficar de fora, observar e dizer que alguém está se comportando de um jeito ridículo, mas, quando você e seu amante estão entre quatro paredes, nada faz sentido além do vulcão de emoções que explode entre vocês.


Depois de entregar a prova e sair da sala, a primeira coisa que fiz foi ligar o celular. Andei pelo corredor, esperando impacientemente que ele ligasse e captasse o sinal de internet e, depois, recebesse as mensagens e e-mails. Não havia nenhuma mensagem do Naruto.
Mas havia uma do Sasuke.

“30 dias e uma multa de 15.000. Ele começa cumprir a sentença imediatamente. ’’


O alívio por ele não ter recebido a pena de um ano foi imediatamente substituído pelo pânico. Espere um instante. O Sasuke quis dizer que ele foi levado direto para a prisão? Por trinta dias? Isso significava que eu não poderia ver o Naruto. E ele estaria atrás das grades no Natal. Digitei o número do Sasuke e ele atendeu.

— Oi.

— Oi. O que isso quer dizer? O Naruto já está na prisão? Imediatamente. O advogado disse que.

— É. Levaram ele pra começar a cumprir a sentença ele poderia cumprir a pena aos fins de semana pelos próximos quatro meses, mas que ele provavelmente não ia precisar cumprir a pena toda se fosse pra prisão agora. Ele decidiu acabar logo com isso.

Parei de andar, afundando num banco perto da fonte de água. Alunos se movimentavam de um lado para o outro do corredor, e tentei pensar e processar o que estava ouvindo.

— Então eles não acreditaram que ele era inocente?

— Ele se declarou culpado. O advogado fez um acordo que foi combinado com o promotor na semana passada. Ele sabia que ia pra cadeia hoje, a menos que o juiz decidisse suspender a sentença, o que não era muito provável.

— Ele fez um acordo? Ele não me contou.

Houve um silêncio constrangedor quando nós dois percebemos que o Naruto tinha escondido informações importantes de mim e compartilhado com o Sasuke.

— Ele provavelmente não queria que você se preocupasse. Fazer acordo é o procedimento normal, eu acho.


— Ele ficava me dizendo que ia dar tudo certo. — Minha garganta se fechou. — Ele me pediu para não ir hoje.

— O Naruto é protetor, Sakura. É a personalidade dele. Ele não queria que você perdesse as provas.

— Eu nem pude me despedir nem nada. — Agora eu estava chorando.

O Sasuke resmungou provavelmente irritado por ser forçado a lidar com a namorada histérica do amigo.

— Ele não morreu porra. Está tudo bem. Você provavelmente se despediu dele hoje de manhã, não foi? É como se ele tivesse viajado por algumas semanas. Não é diferente disso. Ele vai voltar antes do início das aulas em janeiro.

— Promete? — perguntei, e era absolutamente ridículo pedir isso ao Sasuke. Ele não tinha controle sobre nada, afinal.

Mas ele apenas riu.

— Prometo. Trinta dias são trinta dias. Eles não aumentam a sentença. A verdade é que ele teve sorte de escapar tão fácil. E de não ter mais pílulas com ele. Se fosse um frasco inteiro, ele teria sido preso por um ano, sem dúvida.

De alguma forma, eu não achava nada daquilo uma sorte, já que as drogas nem eram dele. Mas não fazia sentido ficar amargurada.

— Eu posso ir visitar o Naruto? — Apesar de a ideia de entrar numa prisão deixar minhas mãos suadas, eu queria mostrar ao meu namorado que estava a seu lado.


— Não. Ele não vai ficar lá por tempo suficiente. Além do mais, ele ia arrancar minhas bolas e me enfiar goela abaixo se eu te deixasse ir.

Isso me fez rir um pouco, apesar das lágrimas. O Sasuke provavelmente estava certo.

— O Naruto devia acreditar que eu não vou surtar.

— Você está chorando, não está? — provocou o Sasuke. Depois disse sério: — Olha, Sakura, não leva pro lado pessoal. Algumas coisas a gente tem que lidar sozinho, e essa é uma delas. O Naruto está com vergonha, sabe, e você ver ele atrás das grades só ia piorar tudo. Ele precisa manter a dignidade, só isso.

Eu sabia que ele estava certo. Encarei o piso rachado no corredor.


— Tem razão. Obrigada.
Finalizei a ligação e encarei a tela, sem saber muito bem qual era a próxima etapa lógica. Depois de ficar sentada ali por dez minutos, tentando me acalmar, tentando encaixar as peças do quebra-cabeça jurídico, concluí que a única coisa que eu podia fazer era voltar para o meu quarto e estudar para a última prova, um teste de biologia às nove da manhã do dia seguinte.
Porque eu não podia obrigar a mãe do Naruto a ir para a reabilitação, nem podia voltar no tempo e fazer com que ela levasse as pílulas com ela até o mercado, nem fazer o policial ir para uma rua diferente. Eu não podia limpar a ficha do Naruto e fazer com que ele continuasse no programa de paramedicina. Nem podia dirigir até o presídio da cidade para vê-lo.
Mais uma vez, eu me senti a garota atrás da parede de vidro, andando a margem e observando todo mundo ao redor, incapaz de interagir com as pessoas. Os outros alunos se movimentavam pelo corredor, alguns conversando e rindo em grupos, outros olhando para a tela do celular, alguns apressados, outros devagar. Para mim, era como se eu estivesse paralisada e o mundo estivesse girando ao meu redor, um redemoinho barulhento e confuso, e eu não via o menor sentido em nada daquilo.
No fim, decidi que, se o Naruto ia ficar na prisão por um mês, eu poderia me controlar pelo mesmo período, em minha existência relativamente fácil. Eu só tinha três dias até meu pai me buscar para as férias de inverno e, depois da prova final de biologia, me senti motivada a ajeitar tudo antes de ir embora. Fiz uma mala gigantesca com roupas e objetos de higiene pessoal para algumas semanas e enfiei no meu armário. Tirei toda a comida estragada do frigobar.

Comprei um presente de Natal para o Naruto: um disco de metal gravado à mão num cordão preto. As letras formavam a palavra UZUMAKI no metal desgastado, e achei que era legal e que tinha a cara dele. Eu ficava empolgada toda vez que olhava para o presente, guardado numa sacola plástica na minha bolsa.
Comprei cortadores de biscoitos na forma de Papai Noel e de boneco de neve, e granulado e cobertura para decorar. O Shikamaru zombou de mim, mas, uma hora e meia depois, percebi que ele tinha passado muito tempo decorando um biscoito de Papai Noel.

— Meu Papai Noel tá lindão — declarou ele, levantando o biscoito para todo mundo admirar. Ele tinha preenchido a barba e o chapéu com cobertura e jogado granulado na capa.

Era impressionante.

— Uau — foi à opinião da Mai. Ela estava mordendo o lábio enquanto jogava granulado num boneco de neve até ele parecer ter sido passado várias vezes num campo de grama verde e vermelha.



O Takashi tinha mais cobertura em si que no biscoito, e percebi que ele ficava enfiando o dedo na tigela para raspar os restos de massa e colocar na boca. A cozinha estava com um cheiro delicioso, eles estavam felizes. A única coisa que faltava era o Naruto, mas tirei fotos com o celular para mostrar a ele.

Eu sentia mais saudade do Naruto do que nunca. Fui ao estúdio e tatuei “UZUMAKI” no pulso, em letras cursivas, pequenas e femininas. Eu queria poder olhar para baixo a qualquer momento e ver aquelas letras unidas, um lembrete visível do Naruto e do meu compromisso com ele e com seus irmãos. Permanente.
Como o amor.


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— Como é? — perguntei ao meu pai, piscando para ele do outro lado da mesa de jantar. Ele não podia ter dito o que eu ouvi.

— Você está proibida de ver o Naruto — repetiu ele, espetando um brócolis com o garfo e evitando meu olhar. — Sinto muito, Sakura, mas não posso permitir que você se arrisque.

Com muito, muito cuidado, pousei o garfo enquanto tentava me acalmar o suficiente para ser racional. Brigar não ia levar a lugar nenhum.

— Você não pode me proibir de ver o Naruto. Tenho vinte anos e nem moro mais aqui.
— Eu ainda sou seu pai e, dadas às circunstâncias, tenho todo o direito de restringir seu envolvimento com ele.

Acho que eu não deveria ter ficado surpresa, mas eu estava em casa havia uma semana e absolutamente nada tinha sido dito sobre o Naruto. Meu pai parecia ignorar que ele existia, e por enquanto estava bom para mim. Meu pai sabia que o Naruto estava cumprindo a pena na cadeia porque eu contei para a Yuno, que contou para ele. Mas ele não havia se manifestado até aquele momento, dois dias antes do Natal.

— Bom, eu não vou parar de me encontrar com ele — falei de um jeito bem direto. — Então pode esquecer. — Puxei a manga para cobrir a tatuagem. Eu não precisava dar mais um motivo para ele surtar.

— Vai sim. — Meu pai me encarou, como se sua vontade pudesse me convencer.

Só que eu era tão teimosa quanto ele.

— Não. Nosso relacionamento é sério, pai, você não entende isso? Ele não é apenas um cara que eu acho que gosto. Eu me casaria com o Naruto, se ele me pedisse. — Não no dia seguinte, mas nos próximos anos. No entanto, eu queria que o meu pai entendesse. Não era uma paixonite casual.

Ele ficou pálido.

— Você não teria coragem.

— Não teria, mas só porque ainda não estou pronta pra isso — admiti, deixando lacunas no meu argumento. Eu era muito sincera, não podia evitar. — Mas estou te dizendo: eu não vou parar de ver o Naruto.

— Então eu vou parar de pagar a sua faculdade.
Meu queixo caiu.

— Você está falando sério? — sussurrei.
Ele fez que sim com a cabeça.

— Ele está preso, Sakura! Ele é um criminoso condenado. O futuro dele está arruinado. Não quero que ele te arraste junto pro buraco. Sinto muito pelas circunstâncias de vida dele, mas isso não muda o fato de que, se você ficar com o Naruto, ele vai estragar o seu potencial. Eu não vou ficar parado aqui e deixar isso acontecer. Você pode ficar com raiva de mim o quanto quiser, mas eu não vou voltar atrás.

— Yuno — falei com a voz estrangulada, buscando ajuda. — Diz pra ele que isso é ridículo.

Mas ela simplesmente balançou a cabeça, com os lábios cerrados.

— Eu não posso me envolver nisso. Você já vem me usando como escudo, e eu não posso fazer parte disso. É entre vocês dois.

Ela estava certa. Eu estava mesmo usando-a como escudo.

— Desculpa — falei. — Mas escuta o que ele está dizendo. É ridículo!

— Talvez eu devesse ter encorajado você a namorar mais no ensino médio. Talvez a Yuno não devesse ter se mudado pra cá. Eu não quero que você pense que precisa de uma família substituta porque perdeu seu lugar aqui.

Encarei meu pai sem acreditar.

— Você está brincando? Você realmente acha que o meu relacionamento com o Naruto tem alguma coisa a ver com vocês? Porque não tem! Eu não dou à mínima se a Yuno mora aqui ou não... Isso é entre vocês. E você podia ter me encorajado quanto quisesse a namorar no ensino médio que não teria importância, porque nenhum cara queria me namorar! O que está acontecendo não é uma forma de chamar atenção nem um ataque de nervos porque eu não quero que você namore. Meu Deus. Acho que eu aguento que você tenha uma vida amorosa. — Por que os pais sempre achavam que tudo tinha a ver com eles? Muito, muito irritante. — Eu conheci o Naruto e a gente se deu bem. Ele é um cara maravilhoso. É isso. Fim da história. Eu não vou voltar atrás nessa decisão. E eu vou simplesmente mentir e dizer que não estou me encontrando com ele. Como você vai saber? — perguntei de um jeito desafiador.

— Eu posso analisar os registros do seu celular e ficar de olho nos seus posts e check-ins nas redes sociais.

Isso era jogo sujo. Mas ele estava falando sério. Eu via no rosto dele.

— Então eu consigo um empréstimo estudantil e pago a faculdade sozinha.

Percebi que ele estava avaliando se teria um motivo jurídico para me impedir de obter crédito estudantil, mas eu sabia que podia fazer empréstimos no meu nome. E, como eu tinha mais de dezoito anos, ele não seria consultado. Então ficamos nos encarando, os dois pensando em estratégias.

— Não me põe pra fora da sua vida — pedi. — É isso que você quer?

— Estou pensando no seu bem. Você vai me agradecer daqui a dez anos, quando for médica e tiver um marido respeitável.

— O Naruto é respeitável — retruquei, com lágrimas se acumulando de repente nos olhos. — Ele tem um senso incrível de honra e lealdade, de certo e errado. Quer você decida olhar além das tatuagens e das camisetas de heavy metal ou não. O “respeitável” nem sempre vem embrulhado num suéter. — Joguei a cadeira para trás. — Nunca julgue um livro pela capa, foi o que você sempre me ensinou. Você está sendo hipócrita.

Levei meu prato para a pia da cozinha.

— Eu não inventei o fato de que ele está na cadeia neste exato momento.

Parei, deixando a água escorrer pelo ralo enquanto segurava o prato sujo com a mão fraca.

— Sim, ele está na cadeia. E eu ainda serei namorada dele quando ele sair.

— Então você vai sair da faculdade com uma dívida de cem mil dólares? Você está cometendo o maior erro da sua vida.

Balancei a cabeça.

— Não. O maior erro da minha vida foi passar a maior parte dela impedindo que as pessoas se aproximassem de mim.

Não foi um Natal divertido na nossa casa. Depois de uma sessão tensa de abertura de presentes naquela manhã, sentei no sofá e vi filmes o dia todo de pijama. A Yuno estava tentando alegrar o ambiente. Meu pai e eu estávamos mal-humorados, mas mantendo a educação. O destaque do meu dia foi uma mensagem do Shikamaru. Dizia apenas “Feliz Natal”, mas, para ele, achei que era um gesto muito importante. O Shikamaru não parecia um cara que discutia seus sentimentos. De jeito nenhum.

A Karin me mandou uma mensagem perguntando o que eu estava fazendo. O que ela achava que eu estava fazendo?, Me perguntei, sacudindo tristemente a cabeça. Mandei uma mensagem de volta.

“Nada tentando não estrangular meu pai.”

“Vai sair hj?”

Ela achava que eu ia para a balada na noite de Natal?

“Não, encontro com o sofá e uma maratona de filmes de terror.”

“Ta. divirta-se.”

Fiquei encarando a tevê, ouvindo meu pai e a Yuno na cozinha, fazendo café e conversando. Provavelmente sobre mim, já que estavam falando baixo. Não importava. Nem por um minuto eu acreditei que meu pai fosse realmente me obrigar a arcar com as despesas da faculdade. Mas, se ele fizesse isso, tudo bem. Eu tinha uma bolsa de estudos que cobria tudo, menos o quarto, as refeições e os livros, então, se eu me mudasse para um apartamento, poderia obter um empréstimo para pagar isso e minhas despesas diárias. Eu ia conseguir. Ele não ia me chantagear.

Duas horas e um filme sangrento depois, a campainha tocou. Ouvi que meu pai foi atender, imaginando que fossem os vizinhos com uma garrafa de vinho ou algo parecido de presente. Em vez disso, ouvi a voz do Naruto. Puta merda. Dei um pulo, jogando a coberta para o lado, alucinada porque ele tinha saído da prisão quase duas semanas antes do prazo estipulado. No Natal.

Mas aí eu ouvi meu pai dizer:

— Sinto muito, mas você não pode ver a Sakura.

Ah, não, ele não fez isso. Enfiei os pés nas botas.

— Me desculpa por interromper o Natal, mas, por favor, sr. Haruno, só preciso de dez minutos com ela.

Não esperei para ouvir a resposta do meu pai. Agarrei a sacola com o colar do Naruto debaixo da árvore de Natal e saí correndo pela porta dos fundos, atravessei o deque, cheguei ao quintal e contornei a entrada de carros.

— Naruto! — gritei, sem fôlego por correr no frio. Ele se virou.
Meu pai me viu, e percebi a raiva no rosto dele sob a luz da varanda.

— Sakura! Volta já pra dentro de casa!

Em vez disso, pulei para o banco do carona no carro do Naruto e tranquei a porta. Ele entrou e me encarou.


— O que está acontecendo?

— Dirige.

Mas, em vez disso, ele se inclinou, envolveu meu rosto com as mãos e me beijou, respirando fundo.

— Meu Deus, como eu senti sua falta.

— Eu também senti. Você saiu de vez? Eles diminuíram sua pena?

— É. — O Naruto me encarou por um segundo com a expressão séria, antes de lembrar de repente onde estávamos. — O seu pai vai vir aqui se a gente ficar parado aqui no carro?

— Não sei — respondi com sinceridade. — Provavelmente não. Mas a gente pode ir a algum lugar.

— É Natal, está tudo fechado. Eu só queria te ver, avisar que estou bem. Não vou ficar muito tempo. Preciso ir pra casa ver os meninos. O Shikamaru ainda não contou pra eles que eu saí.

— Ah, tá bom. — Ele tinha vindo me ver primeiro. Fiquei emocionada e agarrei a sacola de presente no colo. — Você está bem? Foi muito ruim?

Mas ele só deu de ombros.

— Não foi o melhor momento da minha vida, mas também não foi nada que eu não conseguisse aguentar. — Ele roeu a unha e encarou o volante, bastante pensativo.

Senti que eu estava esperando alguma coisa, que ele compartilhasse o que estava pensando. Minha euforia começou a diminuir. Tive a sensação de que havia algo errado. Aquele não era o reencontro feliz que eu tinha imaginado, nós dois sentados no carro dele em silêncio.

— Você devia ter me contado que fez um acordo — falei, porque ainda estava chateada com isso. — Não precisa me proteger.

Ele acendeu um cigarro e me olhou de relance.


— Na verdade, eu preciso sim te proteger. O que está acontecendo com o seu pai? Ele está puto porque eu fui preso?

Foi a minha vez de dar de ombros.

— Ele me proibiu de te ver. Mas só está chateado. Ele não vai parar de pagar a faculdade. Ele vai superar isso quando perceber que nosso namoro é sério.

O Naruto deu um longo trago no cigarro, com o olhar ainda focado no painel do carro, os joelhos separados enquanto ele se recostava na porta.

— Sakura, eu tive muito tempo pra pensar enquanto estava lá dentro. Não tinha nada pra fazer além de pensar.

— É? — perguntei nervosa de repente. Por que ele estava agindo de um modo tão esquisito? Meu coração começou a martelar de um jeito estranho.

— Acho que a gente não devia mais se ver.

Ai, meu Deus. Ele não acabou de falar isso. Meu coração começou a se despedaçar, minhas palavras saíram tropeçando, desesperadas e ansiosas.

— O quê? Não seja ridículo. O meu pai vai superar isso.
Mas o maxilar do Naruto estava tenso, e ele balançou a cabeça.

— O seu pai está certo. Eu não tenho nada pra te oferecer, Sakura. Nada. O dinheiro que eu tinha economizado para a faculdade foi pra pagar a minha multa. Eu vou ter que abandonar os estudos e, sinceramente, a universidade provavelmente ia me expulsar de qualquer jeito por ter sido condenado criminalmente. Eu nunca vou conseguir o diploma de paramédico agora. Já era. Ninguém vai me deixar ficar perto de medicamentos controlados. Tudo mudou, e eu não quero que você seja obrigada a lidar com as consequências dos meus problemas. Não é justo com você.

— A gente não vai passar por isso de novo — falei com firmeza e num tom baixo. — A gente já teve essa conversa, e eu te disse que você não pode fazer escolhas por mim. Nem você nem o meu pai. Eu tomo as minhas decisões.

— Isso foi antes! — disse ele, finalmente olhando para mim, a brasa do cigarro brilhando no escuro. — Eu sou um criminoso agora, você não entende isso? Se eu tiver sorte, o Sasuke pode me conseguir um trabalho no ramo da construção, mas é isso aí. É minha única opção. Eu perdi o emprego, aquele emprego de merda. Estamos com nove meses de atraso no pagamento da hipoteca, e, assim que o banco cumprir todas as burocracias, eles vão jogar a gente na rua. Essa é a realidade. Pisquei para afastar as lágrimas. Eu sentia a preocupação dele, a tensão que emanava dele.


— E é por isso que eu quero ficar com você. Relacionamentos não são apenas para os bons momentos.

Mas ele desdenhou e sacudiu a cabeça.

— Você não entende. Eu sou um fracassado, com F maiúsculo. E isso é tudo que eu vou ser na vida, porra. Você tem tanto potencial, e eu não vou me perdoar se estragar o seu futuro.

— Para de ser tão nobre, porra! — exclamei furiosa. Eu nunca falava palavrão, e ele pareceu surpreso por eu fazer isso. — E daí que você está falido? Eu também estou, sabia? Se eu estou dizendo que não dou à mínima, é porque eu não dou à mínima.

— Não torne isso mais difícil pra mim do que já é.

Eu ri, com lágrimas nos olhos.

— Difícil pra você? É você que está me dando um fora no Natal.

— Eu precisava te ver. Eu não podia deixar a coisa se estender, porque a gente ia acabar ainda mais magoados. É melhor simplesmente acabar logo com isso.

Estreitei os olhos para ele.


— Simplesmente acabar logo com isso? Como se não fosse nada? O que aconteceu com aquele papo de a gente ser de verdade? Pra sempre? Eu te amo?

Os punhos dele se fecharam sobre o volante, e ele jogou a bituca do cigarro pela janela.

— Eu fui sincero quando disse tudo isso. Mas preciso fazer o que é certo.

— O que é certo é o que a gente tem. Você e eu.

— Sakura, entra em casa. Por favor. Eu não consigo fazer isso. — Ele parecia agoniado, mas não tive pena. Então era isso? Ele ia embora porque não conseguia lidar com a situação?

Foda-se.

— Não. Eu não vou sair desse carro até você parar de agir como um idiota. — Cruzei os braços para provar meu argumento.

— O seu pai está olhando pela janela. Você precisa entrar. — Então ele abriu a porta do lado dele e pegou a bituca que tinha jogado, como se de repente tivesse se lembrado de onde estava. E a enfiou no cinzeiro, batendo a porta com força. — Por favor, vai embora.

Eu tremia de frio, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Eu confiei em você, Naruto. Eu te dei minha virgindade.

— Não me cobra isso. Foi escolha sua — disse ele, com a voz distante e um pouco impaciente. — Eu tentei te impedir. Eu avisei que você ia se arrepender.

Isso me deixou furiosa. Bati no ombro dele com a sacola do presente.

— Não me despreza desse jeito! Se o seu objetivo era ser um babaca, você conseguiu. Sua resposta foi se inclinar sobre mim e abrir a minha porta com força. Isso me destruiu.

Eu não tinha mais como lutar. Ele realmente estava terminando comigo no Natal. Ele tinha dirigido uma hora depois de sair da prisão para me dizer que nunca mais queria me ver. Por um segundo, não consegui respirar. Achei que fosse desmaiar. Mas engoli a bile que estava subindo pela garganta e virei para sair. Com os dedos trêmulos, joguei a sacola de presente colorida em cima do câmbio.

— Feliz Natal.

Ele encarou a sacola verde com papel vermelho saindo de dentro e tentou jogá-la de volta para mim, parecendo surpreso.

— Não posso aceitar isso. Eu não mereço.

— Não mesmo — falei sem rodeios. — Mas não faz sentido pra mim. Não tenho utilidade pra isso.

Saí do carro e bati a porta com força, os lábios tremendo e os dentes batendo.
Sem olhar para trás, corri e entrei em casa. Meu pai estava lá parado, esperando, e evidentemente estivera nos observando.

— Está satisfeito? — gritei para ele. — O Naruto acabou de terminar comigo, e em parte a culpa é sua! — Talvez isso não fosse justo. O Naruto tinha chegado à conclusão de que não podíamos ficar juntos antes de parar na frente de casa, mas acho que a ameaça do meu pai de cortar meu dinheiro não tinha ajudado em nada.

Subi correndo a escada, com as botas cheias de lama, e me tranquei no quarto, batendo a porta com toda força. Com um grito, arranquei um travesseiro da cama e joguei no chão.
Minha garganta estava doendo de tanto gritar, caí na cama e me desfiz em lágrimas. Chorei até meus olhos ficarem inchados e minha manga estar encharcada. Chorei até me engasgar com o catarro e minha cabeça latejar e não ter mais nenhum líquido saindo dos meus olhos, e eu ter virado uma bagunça congestionada, dolorosa e soluçante.
Chorei até ouvir meu pai e a Yuno conversando no corredor.

— Eu devia derrubar a porta. Eu preciso falar com ela — disse ele com a voz ansiosa.

— Deixa a Sakura em paz. Ela está com o coração partido. Você não lembra como sofreu na primeira vez em que se apaixonou?

— Não. Eu me casei com o meu primeiro amor.

E isso só me fez começar a chorar tudo de novo. Então eu me torturei olhando todas as fotos do Naruto no meu celular. Não havia muitas, porque ele odiava ser fotografado, mas tinha uma dele na cama, dormindo, com o rosto relaxado e o peito nu. Eu adorava essa foto. Ela mostrava um Naruto durão, mas vulnerável.

Abracei o celular e encarei a noite escura pela janela do quarto, sentindo uma dor tão forte que era difícil até respirar.
Então peguei o telefone e liguei para a minha avó.
No dia seguinte, peguei um ônibus para a Flórida para passar a última semana de férias com ela e o meu avô.


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