História Um Amor Inesperado - Lá vem a chifruda.

Quando nós chegamos ao shopping, tratamos de ver logo as estréias do cinema, marcando se irmos na praça de alimentação depois.

Como eu queria agradar à Juliana, já que ainda dava para sentir um clima de tensão entre nós, deixei ela escolher o filme, e tive o azar de ela escolher logo um de terror.

Sério, me deu uma vontade de dar na cara dela, mas essa vontade foi logo anulada, ao começo do filme, aonde, por incrível que pareça, eu consegui me controlar, e até curtir o filme mais que ela, que se tremia toda.

Essa era a Ju, e essa era a nossa amizade. E eu não deixaria nada nos abalar.

Depois que o filme terminou, Ju fez questão de me arrastar para a fila do McDonald's, que começava a encher.

- Pera aí, sua maluca! - pedia, rindo da situação. - Me arrastar desse jeito, não vai fazer a diferença!

- Claro que vai! - retrucou, também rindo. - Também, se não fizer, pelo menos estamos nos divertindo!

E realmente estávamos nos divertindo, até vermos a cena mais desagradável de todas: Murilo estava com a Raquel, esperando por um pedido, na fila ao lado.

- Amiga, vamos embora...- murmurei para a Ju, não querendo obrigá-la a ver aquilo. - Podemos comer em um outro lu...

Mas eu nem tivemos tempo de completar a frase, pois ela partiu decidida até aqueles dois, me fazendo ir atrás, para apoiá-la.

- Murilo, que palhaçada é essa?!- ela perguntou, com os olhos marejados.

- Ih, chegou a chifruda...- murmurou Raquel, com aquele seu sorriso debochado.

- Se ela é chifruda, então você é uma vaca! - defendi a minha amiga, que ignorou a ofensa, concentrada em receber a resposta do seu "namorado".

- Putz, cara...- ele resmungou, como se estivesse arrependido.- Eu não sabia que você ia estar aqui. Me desculpe.

- E se eu não estivesse aqui, hein?! - começou a gritar, chamando a atenção de algumas pessoas na fila. - Iria me por mais um chifre?!

- Calma aí, gata! Você ainda não me respondeu se voltaria, ou não, para mim! - retrucou, como se ela fosse a culpada.- Enquanto você não responde, eu tenho o direito de fazer o que eu quiser!

- Não, seu direito como um rapaz decente, é esperar por mim, caso realmente esteja interessado! - ela respondeu de prontidão, com os punhos cerrados. - Como eu fui burra!

Nesse instante, a atendente veio com o pedido dos dois, e Ju não pensou suas vezes, em pegar todo o conteúdo, e jogar naqueles dois.

- Meu vestido de grife! - Raquel choramingava, encarando a grande mancha de queijo cheddar na roupa.

Quanto ao Murilo, ela não parou, e começou a bater com a bandeja na cabeça dele, sem hesitar nunca.

Por mais que eu quisesse ver aquela cena, tive que reunir forças para apartar a minha amiga, enquanto eu podia ver os guardas chegando, e fazendo isso por mim.

- Senhoritas, vou ter que pedir para que saiam daqui, agora! - um dos seguranças declarou, nos puxando para longe do Murilo, que estava inconsciente no chão.

Raquel havia fugido como uma ratazana, no meio disso tudo, o que só nos deixou com mais raiva.

- Ju, fala comigo...- pedi, com o coração apertado, ao ver a minha amiga, em estado de choque.

Ela mal falara após termos sido expulsas do shopping, algo que considero como sorte, já que não alertaram as nossas mães. Juliana simplesmente continuava com o olhar distante, sempre em direção a rua.

- Eu...não quero falar nada.- respondeu, em meio a um suspiro.- Só...estou cansada.

- Quer que eu fique na sua casa hoje? - propus, disposta a ajudar aquela pessoinha, que tantas vezes me fez companhia.

- Quero...- soluçou, antes de me abraçar, desabando de vez, as lágrimas que tanto a perturbavam.