Prelúdios Antigos
Era primavera, o clima estava agradável. Havia muitas flores pela cidade. As folhas voavam ao sabor do vento e eram observadas por um homem sentado no banco de trás de um carro preto. Ele ouvia o ruído do motor do carro em que estava enquanto observava os galhos das arvores balançando, pelas ruas em que passava. Sua mente estava silenciosa. Sentia o aroma do vento e das flores, mesmo com os vidros fechados.
Ele tinha os cabelos muito lisos, a cor prata dos fios grossos quase chegava a refletir a luz do sol. Estavam curtos e eram arrumados de maneira modernosa, o que lhe dava um ar extremamente sensual, recaindo sobre seus olhos. Estes, dourados, aparentavam profunda tristeza, e ao mesmo tempo, uma frieza cortante. Os lábios tinham o formato e o tamanho perfeitos em relação ao restante do rosto fino. Poderia-se dizer que aquele era um homem de beleza rara.
O carro estacionou em frente a um hospital. O motorista que guiava o automóvel desceu e abriu a porta traseira esquerda para que aquele exótico homem pudesse sair. Ele andava em passadas rápidas indo em direção ao hospital.
O prédio para onde o rapaz se dirigia era grande e com arquitetura moderna. Havia um gramado que rodeava todo o hospital. Como era primavera havia uma espécie de flor amarela no local. Ele, que usava um terno preto e gravata carmim, andava por um caminho cimentado que desembocava na porta principal do prédio.
Ao chegar abriu a porta e entrou no recinto.
As paredes eram pintadas de verde e havia um silêncio quase beirando o mórbido. A presença da figura imponente e alta, elegantemente trajada, de porte físico atlético, chamou atenção de praticamente todas as pessoas que estavam dentro da recepção do hospital. O homem, que tinha quase dois metros de altura, dirigiu-se ao balcão que ficava logo na frente da porta de entrada.
— Boa tarde, por favor, venho visitar Taisho Kagome, esposa de Taisho Inuyasha. — Possuía a voz grave, doce e suave. Era como uma melodia que encantada os ouvidos.
A senhora que estava sentada em frente a um computador, olhou para o rapaz por alguns segundos e depois procurou na máquina pelos dados informados dizendo por fim:
— Quarto 301. O elevador está no fim do corredor — apontou o caminho com o dedo indicador.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça e virou-se, seguindo o caminho indicado pela senhora.
— Nossa, que visão! Deve ser algum modelo. Que pedaço de mal caminho! — a garota de cabelos negros e curtos que estava sentada mais para dentro da bancada comentou com a senhora que havia atendido o rapaz.
— Nem me diga, minha filha! De cair o queixo! — a outra sussurrou.
O homem alto seguiu o corredor. Havia algumas salas que estavam fechadas durante o percurso até o elevador. Chegou até um hall. Apertou o botão do elevador para subir e ficou esperando.
"Hospital tem um cheiro horrível! Estou louco pra sair daqui! Cheira a sangue!" Pensava, um pouco impaciente e irritado. Queria logo que o elevador chegasse. Queria logo sair daquele lugar.
- Enfim! - Ele falou para si mesmo entrando no elevador.
"Esse cheiro me lembra morte!"
….
— Não morra, minha pequena! Não me deixe, minha amada Rin! — ele falava ao seu ouvido acariciando-lhe o rosto suado.
— Sesshy! Meu amado Sesshoumaru! Eu te amarei pela eternidade, até mesmo em outras vidas.
Num fio de voz, aquelas foram as sua últimas palavras.
…..
O andar onde sua nora estava, havia chegado. O homem saiu do elevador e andou pelo corredor vazio a procura do quarto indicado pela recepcionista. Parou em frente à porta, elevou a mão até a maçaneta e antes de girá-la, suspirou profundamente. Estava triste, toda aquela situação o fazia lembrar de sua amada e pequena Rin.
Entrou.
Havia uma divisória entre a porta e o cômodo em si. Observou tudo atentamente. Havia duas poltronas que circundavam a cama ao centro. Kagome estava deitada e seu esposo sentado em uma banqueta ao lado dela. Inuyasha segurava a mão da moça e ambos olharam o recém chegado.
— Sesshoumaru? Você veio? — Kagome estava um pouco surpresa.
— Sim — Sesshoumaru estava visivelmente triste.
— Muito obrigada! Nós sabemos como isso é doloroso para você — a moça de olhos castanhos escuros procurava uma forma de tentar abrandar a dor do homem.
— Já passaram muitos séculos desde que ela morreu.
— Sente-se, Sesshoumaru! — Inuyasha falou para o meio-irmão.
— Só ficarei um pouco —ele disse.— Como se sente, Kagome?
— Estou bem! Nossa filha tem os olhos dourados e o cabelo prata como o de vocês.
Sesshoumaru não poderia perder uma oportunidade de irritar o irmão. Olhou de lado para ele e com um sorriso sarcástico o alfinetou:
— E as “orelhas”? Puxou a você? — gesticulou com as mãos mostrando o topo da sua cabeça
Inuyasha que estava feliz com o nascimento da filha controlou-se:
— Claro! É linda como eu. Mas infelizmente as orelhas dela são como as da mãe.
— Ah, que pena mesmo.
— Vocês dois ficam só brincando. Imagino o que faríamos se Kikyou tivesse nascido com orelhinhas de hibrido hanyou, meio youkai, meio humano. Vocês só estão aqui nesse mundo por causa da antiga sacerdotisa.
— É verdade, Kagome! Imagine se o Sesshoumaru passeasse por aí com todas as marcas no corpo, as orelhas de elfo e a calda. Iria parar numa clínica ou ser experimento de algum cientista.
— Cale-se, meu caro irmão inútil! — o irmão espetava mais uma vez.
— Seu, baka! — Inuyasha serrou os punhos e levantou-se para acerta-lo. Foi em direção a ele, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa ambos sentiram um cheiro de criança chegando.
— Nossa filha está vindo, Kagome!
— Kikyou? — Sesshoumaru perguntou arqueando uma das sobrancelhas.
— Sim. Qual outro nome que poderíamos dar a nossa primeira filha.
Sesshoumaru ficou quieto observando Kagome segurar a criança recém nascida entre os braços. Inuyasha estava como um bobo olhando carinhosamente a filha e a esposa. Kagome ninou o bebê e começou a cantarolar uma canção muito antiga que sua mãe costumava entoar para fazê-la dormir. A música vez o rapaz solitário relembrar momentos antigos.
…...
Sesshoumaru estava sentado num lençol estendido na grama e em seu colo Rin cantarolava uma canção infantil. Ela acariciava a enorme barriga à sua frente. Segurou a mão do esposo para que este pudesse sentir o fruto que se desenvolvia em seu ventre.
— Qual nome quer dar a nossa filha, minha vida?
— Não pensei ainda nisso. Nós podíamos chama-la Sakura, se for menina. Você gosta do cheiro delas e são tão delicadas.
— Hai! É um lindo nome — o homem disse beijando uma das mãos da esposa carinhosamente.
Os dois estavam entretidos ouvindo o som do vento que, silencioso, refrescava a face rosada de Rin.
— Eu te amo, meu Sesshy — ela interrompeu o som do vento.
…..
— O senhor gostaria de beber alguma coisa? Há café no restaurante do hospital — a enfermeira retirou o rapaz, que aparentava ter seus vinte e oito anos de seus mais profundos pensamentos.
— Não, muito obrigado! Eu já estou indo. —Levantou-se de onde estava e dirigiu-se para o casal. — Que vocês sejam felizes e que a criança cresça com saúde.
— Obrigado por ter vindo, Sesshoumaru. Não esperava isso de você — Inuyasha estendeu a mão para ele que a apertou com força.
— Nós fizemos as pazes há 300 anos, meu caríssimo irmão. Não haveria motivos para eu deixar de visitar sua primeira filha. —Sesshoumaru disse assim que a enfermeira saíra do cômodo. — Desejo, muitas felicidades para o casal — disse seco e caminhou para a porta retirando-se.
Assim que o rapaz saiu, os dois jovens pais entreolharam-se e permaneceram em silencioso. Inuyasha podia ouvir o coração da filha bater acelerado e sentir o cheiro do leite de Kagome, pois agora ela amamentava. Nenhum dos dois tinha coragem de interromper o silêncio, no entanto, Kagome acabou por falar.
— Deve ser muito duro para seu irmão. Acho que depois de 500 anos ele não esqueceu a Rin.
— É, ele não a esquece. Às vezes eu penso que a imortalidade é uma maldição. Vemos todos irem e só nós ficamos. E às vezes fico pensando que a sina de Sesshoumaru vai acabar sendo a minha também. - Inuyasha ficou em silêncio analisando as duras palavras que acabara de dizer – Mas, não quero pensar nisso agora. Vamos viver intensamente nossas vidas. E aproveitar cada segundo.
— Hai, hai — Kagome falou balançando a cabeça quase que para espantar os pensamentos.
Fora do hospital Sesshoumaru estava pensativo. Mesmo depois de tantos séculos sem sua Rin ele sentia saudades dela. Ele a amava profundamente como se ela estivesse viva e com ele por todos esses anos. O amor que sentia fazia Rin presente em sua vida. Tudo o fazia lembrar dela. O cheiro das flores, o vento que soprava e embalava as árvores, uma criança que estava correndo e cantando.
Ele a viu crescer, ele a viu se tornar mulher. Ele acompanhou cada segundo da vida de sua pequena Rin e ele também a viu morrer em seus braços. Não pôde fazer nada. Nem Tenseiga, a espada que salva vidas, a acordou. Sua existência sem ela era um grande nada. Ele estava vazio, oco. Humanos morrem, youkais são imortais. Já havia tentado esquecer Rin de todas as maneiras. Já havia tentado a esquecer nos braços de outra mulher, mas nenhuma se comparava a sua doce, ingênua e delicada Rin. Aquilo era uma maldição, mas Sesshoumaru não conseguia se livrar do amor que sentia e da saudade que o corroía por dentro. Era uma dor horrível.
…
Retornou para o carro sentando-se novamente no banco de trás. O motorista deu partida. A única coisa que podia fazer era obter mais poder. O poder agora não era medido pela quantidade de força bruta, mas sim pela quantidade de dinheiro e conexões. Sesshoumaru adaptou-se bem ao mundo moderno. Ele juntou-se ao irmão e formaram uma aliança infalível. Eram poderosos donos de uma impressa internacional. Mas, Sesshoumaru queria mais, o vazio que sentia lhe queimando por dentro pedia para ser povoado e a única coisa que sabia fazer era adquirir mais poder. Ser o mais poderoso.
Assim foi para seu escritório no centro tumultuado de Tóquio. A central da empresa Taisho era um arranha-céu com uma arquitetura arredondada e muito exótica. Poderia-se dizer que era um obra de arte moderna. Numa visão rápida, destacava-se no meio dos outros prédios da cidade. Podia-se ver a cidade toda dos últimos andares e lá estava a sala do elegante empresário de cabelos prateados.
Todos os empregados já tinham ido para suas casas. Eles tinham alguém para encontrar. Ele não, não tinha ninguém. Trabalhou até tarde e só parou de madrugada...
As paredes de sua sala formavam amplas janelas de vidro. Podia-se ver a lua crescente brilhar. Era uma belíssima visão. Nesses dias de vida moderna não se conseguia ver o céu aberto como ele era acostumado em seus dias de jovem youkai. Porém, precisava ver a lua. Ela o acalmava, ela dava um pouco de paz a seu coração machucado. Sesshoumaru abriu uma das janela e flutuou para fora até o topo do prédio. Lá poderia ter uma visão mais ampla do céu e poderia ver a luz do luar.
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