História Um anjo que caiu do céu - Nada me prende aqui

>>>Angel<<<

Chegamos no clube e todos estavam na piscina. Ninguém perguntou porque não viemos ontem, talvez Eadlyn já tivesse contado, afinal, minha mãe contou que briguei com meu pai. Mas ninguém perguntou o motivo da briga, o que foi um alivio para mim, que não estava nenhum pouco afim de conversar sobre o que tinha acontecido.

Meu pai, na noite de ontem, veio junto com a minha mãe me pedir desculpas por ter gritado e por ter sido grosso. Eu, é claro, o desculpei e o abracei, afinal, ele era o meu pai e eu amava muito. Conversamos um pouco sobre a universidade, sobre as coisas que eu disse e sobre o que eu ouvi, que eles tinham brigado sobre isso no carro. No final, meu pai disse que poderia pensar se eu poderia ir para uma universidade na Inglaterra, desde que, eu conseguisse aguentar mais um ano com essa minha vida sem reclamar e procurasse tudo para a viagem para Inglaterra. Fiquei muito feliz, mesmo não dando uma resposta concreta, sabia que meu pai iria pensar com carinho na minha proposta.

O dia foi divertido, passamos o dia nas piscinas quentes, fizemos churrasco e jogamos muitos jogos entre as famílias na sala de jogos do clube. Mesmo com toda aquela minha reclamação, eu ainda gostava de passar um tempo com todos ali.

Na hora do jantar, comemos em frente à praia, que estava linda com a luz da lua refletindo sobre o mar. Comemos em volta da fogueira e conversamos bastante, nada sobre política, nada que estávamos acostumados a conversar durante nossos jantares.

Eu estava muito feliz, me senti normal, senti como fossemos apenas famílias que viajaram juntas para um clube. Eu poderia passar o resto da minha vida assim, sem nenhum problema. Eadlyn veio me perguntar sobre o que tinha acontecido e eu contei que me pai tinha brigado comigo por causa da minha ideia de ir para a faculdade, para a minha surpresa, ela não concordou com ela. Disse que eu estava livre para tomar as minhas próprias escolhas e eu me senti muito feliz por isso, mesmo sabendo que ela não concordava com a ideia de eu ir para longe ela entendia que nada me prendia aqui.

Mais ou menos onze horas eu ainda estava acordada, todos já tinham ido dormir e eu fiquei apenas pensando no que meu pai falou, talvez ir para uma universidade no exterior fosse realmente besteira minha, talvez eu realmente devia fazer alguma coisa aqui. O importante para mim era mesmo ir para longe ou fazer a faculdade?

- Ainda acordada? – disse Nicolas se sentando do meu lado no banco.

- Estou meio sem sono. Você também? – falei sorrindo.

- Sim- ele falou. Ficamos em silêncio apenas olhando para o mar e sentindo a brisa da praia- Está tudo bem entre você e seus pais?

- Sim, estamos. Já resolvermos as coisas.

- O que aconteceu para vocês terem brigado? – me lembrei que não tinha contado ainda para Nicolas sobre a faculdade.

- Eu quero ir para a Inglaterra fazer uma faculdade de pedagogia. Eu gosto muito de trabalhar com crianças e gostaria de trabalhar com isso, sabe? – ele concordou e continuou me encarando- O problema é que ninguém está do meu lado, meus pais, Eadlyn, Josie, Kaden...eles não acham que seja necessário eu ir para longe só para uma faculdade, mas eu quero muito fazer uma. Quero...- dei um suspiro. Não queria falar que me sinto presa e que não gosto dessa minha vida monótona, mas eu confiava em Nicolas, ele era meu melhor amigo.

- O que você quer? – ele falou chegando mais perto. Apoiei minha cabeça em seus ombros e olhei para o mar.

- Poder tomar minhas próprias decisões, poder sair um pouco, ser mais livre.

- Por que você não passa umas semanas comigo na Alemanha? Você pode ser livre comigo lá- ele falou. Olhei em seus olhos e vi ele sorrindo.

- De novo essa história?

- Ué, você quer ser livre e essas coisa, você podia estar comigo. Sinto que estamos tão distantes.

- É claro, você mora do outro lado do mundo- falei sorrindo, mas ele continuou sério.

- É, talvez- ele falou agora olhando para o mar.

- Ei, o que foi? Você sempre fica assim quando a gente conversa ultimamente.

>>> Nicolas<<<

- Você largaria tudo e moraria comigo na Alemanha Angel? – perguntei morrendo de medo de sua resposta.

- O quê? Por que essa pergunta agora?

- Nada, esquece- falei já levantando. Eu nunca conseguia conversar com ela sem me sentir um idiota por não contar o que eu realmente queria falar. Ela foi atrás de mim e me puxou.

- O que está acontecendo Nicolas? Estou cansada de você sempre evitar essa pergunta. Às vezes você parece estar me escondendo uma coisa e sempre que está prestes a dizer você vai embora, você vai me contar agora- eu não queria e nem eu não conseguia dizer. Como eu conseguia ser tão fraco e não contar logo meus sentimentos por ela? – Nicolas? – eu a puxei e a beijei, calmamente, como sempre nossos beijos eram calmos. Sempre que eu a beijava me sentia nas nuvens, me sentia maravilhoso, sentia uma emoção que só ela era capaz de me mostrar, sempre que eu a via ou escrevia uma mensagem para ela sentia isso.

- Eu sou louco por você- falei depois de termos parado de nos beijar. Ela continuou sem palavras- Eu sei que você não sente isso por mim, você vê apenas como amigo e isso me machuca mais que tudo. Eu quero beijar você sempre que você sorri, quero tê-la em meus braços sempre que você ri.

- Nicolas eu...- interrompi por outro beijo, não quero ouvir isso dela, sei que ela não me vê assim do que jeito que a vejo. Ela continuou me beijando, ela sempre retribuía meus beijos, da mesma forma, eu a beijava com paixão, mas ela me beijava apenas por beijar. Assim que o ar acabou eu ouvi sua respiração- Me desculpa por não sentir o mesmo.

- Eu sei você não sente e não tem como sentir. Mal nos vemos, além do mais, eu sempre me apaixono rápido pelas garotas- ela abriu um sorriso. Nossos rostos ainda estavam perto um do outro.

- Você sempre se apaixona por todas as garotas que beija e eu sei que não foram poucas- falei sorrindo.

- Por isso, quero que você passe umas semanas comigo. Eu vou poder te mostrar o que eu sinto é de verdade, você não é, nunca foi e nunca será igual as outras- falei levantando minha mão até seu rosto- Você se destacou desde a primeira vez que te vi- ela ficou corada e colocou a cabeça em meu ombro- Você é a única pessoa que eu me vejo dividindo meu reino, eu vejo você facilmente como minha rinha, todos na Alemanha iriam te amar, assim como eu. Afinal, não tem como te amar assim quando conhece você.

- Você não pode falar esse tipo de coisa sabendo dos meus sentimentos por você. Eu nunca conseguiria gostar de você do mesmo jeito que você gosta de mim.

- Nunca diga nunca- disse mais para mim do que para ela. Ela me olhou nos olhos e me beijou, intensamente.

- Eu não consigo, eu posso afirmar isso, porque...eu já tentei- me surpreendi por aquela afirmação- Eu já tentei ver nós dois juntos, namorando, casando, mas sempre que eu imagino que faremos isso, penso que eu sou sua amiga demais para me casar com você por amor. Você se casaria comigo por apenas amizade?

- Me casaria, se é para ter você ao meu lado.

- Então, o que você vê em mim é apenas amizade, seus sentimentos estão confusos- aquilo me magoou, por que ela estava tão seca? Eu estava me abrindo para ela.

- Entendo- falei um pouco triste e encarei o chão, fraco demais para encara-la. Ela levantou meu rosto e beijou minha bochecha.

- Não ache que eu não gosto de você, eu sinto um profundo carinho por você Nicolas, mas não vejo nós dois juntos, não como Ahren e Camile são. Eu sinto muito, juro que já tentei.

- Não é culpa sua, não posso te obrigar- falei a abraçando com força, me deixando sentir seu perfume doce, me deixando sentir nossos corpos juntos- Você é muito especial para mim e apoio você em ir para a Inglaterra, talvez você mereça ser livre, nada te impede como me impede- eu tinha inveja dela. Eu queria poder ter essa opção de escolha como ela tem, eu também queria ser livre, não ter que me prender a um destino que eu era obrigado a seguir.

- Você também é para mim- eu a soltei e depositei um beijo em suas mãos.

- Vou me deitar. Boa noite Angel- falei forçando um sorriso.

-Boa noite Nicolas, me desculpe- neguei com a cabeça e fui em direção ao meu quarto. Me sentindo derrotado, me permitindo chorar.

>>>Angel<<<

Me senti na areia e encarei o mar, o que tinha acabado de acontecer? Nicolas gostava de mim, mais do que como amiga, mas eu não senti isso por ele. Ei tentei, quando ele me deu nosso primeiro beijo eu me imaginei o namorando, mas eu não conseguia ver nós dois como um casal, ainda não consigo. Eu o vejo com um amigo, até quando nos beijamos sinto mais nossa amizade falando mais forte e isso me magoa, por deixar ele triste, por deixa-lo decepcionado, por poder senti o mesmo.

Eu não me importaria morar com ele, eu sou o tipo de amiga que se casaria com ele por a mais pura amizade se ele não encontrasse uma esposa, não negaria isso a ele. Mas eu não o amo, nem chega perto disso o que eu sinto por ele, nem por ninguém, não ainda.

O sono começou a dominar meu corpo então decidi ir para o meu quarto já devia ser quase uma da manhã e amanhã eu acordaria cedo.  Fui até o corredor que dava o meu quarto e me surpreendi por um barulho de passos. Fiquei nervosa, quem deveria ser essa hora?

- Quem está aí? – falei olhando em todas as direções- Apareça- falei um pouco mais alto por conta do nervosismo. Alguém me agarrou por graças e segurou a minha boca, tentei me debater, mas não conseguia, a pessoa era mais forte.

- Shhh, vai acordar tudo mundo Angel- falou Kaden. Assim que ele me largou bati em seus braços.

- Você é idiota Kaden, eu odeio levar susto- ele continuou sério e nem abriu um sorriso, o que ele sempre costumava fazer depois de me assustar- O que faz essa hora acordado?

- Me diz você, o que está fazendo essa hora acordada com Nicolas? – ele falou nervoso.

- Como é? Está me seguindo?

- É feio responder uma pergunta com outra pergunta.

- Responde logo, para de ser idiota- falei nervosa. O que ele está fazendo acordado ainda me perseguindo? Ele suspirou, derrotado.

- Não estava de perseguindo. Eu só vi vocês dois conversando e trocando beijos- ele falou dando ênfase nos beijos.

- Não é da sua conta o que estávamos fazendo Kaden- falei me distanciando dele.

- É tem razão- ele falou e me empurrando para dentro de seu quarto- mas mesmo assim quero saber.

- E desde quando eu tenho que dar satisfação da minha vida para você- falei indo até a porta, mas foi mais rápido e ficou na frente da porta- Sai da frente.

- Por que está assim comigo? Você some, fica dias sem me ver e quando te vejo você está toda grossa. Você não é assim.

- Talvez eu esteja assim porque ALGUÉM ME PRENDEU DENTRO DE UM QUARTO QUANDO EU ESTOU MORRENDO DE SONO.

- Primeiro, você não estava com sono quando estava beijando o Nicolas, segundo para de gritar.

- Kaden me deixa passar- falei tentando tirar de frente da porta, mas sem sucesso.

- Você está assim porque eu não concordo com você em ir para a Inglaterra- suspirei.

- Talvez- falei sem encara-lo- Eu não entendo por que você não concorda eu não tenho nada que me prende aqui.

- Você tem a mim- ele falou segurando minhas mãos.

>>>Kaden<<<

- Mas eu quero muito ir para a Inglaterra Kaden, vocês não podem me prender a essa vida para sempre- olhei para ela sem entender.

- Eu não posso perder você.

- VOCÊ NÃO VAI ME PERDER- ela gritou. Por um momento, pensei que ela iria dizer eu nunca iria perde-la, mas não ela apenas suspirou- Eu estou aqui agora- talvez aquilo fosse um sinal verde, talvez aquela fosse a brecha que eu queria, mas não era o momento, não agora.

- Como é que eu vou ficar se você estiver longe, você é...minha confidente, eu preciso de você aqui ao meu lado por quanto tempo eu puder...

- EU NÃO VOU PASSAR POR ISSO DE NOVO KADEN, JÁ ME FALARAM AS MESMAS COISAS E MESMO ASSIM EU PARTI.

- Como assim? QUEM TE DISSE ESSAS COISAS?

- Um garoto...no orfanato- ela falou sentando na cama- Quando eu morava no orfanato eu tinha um melhor amigo, Marcos, éramos inseparáveis, sempre estávamos juntos. Eu sequei suas lágrimas e secou as minhas, éramos a cara metade um do outro. Quando eu conheci Lucy e Aspen ele ficou morrendo de ciúmes, porque eles iriam me adotar e eu iria embora, então nos brigávamos por causa disso.

- O que aconteceu? – falei me sentando seu lado.

- Uma vez eu briguei com uma menina que ficou falando que ele ficaria feliz com a minha partida e essas coisas idiotas de criança. Marcos me tirou de perto da garota e começou a brigar comigo por ele por estar brigando com ela, a gente começou a gritar um com o outro e ele me beijou- me surpreendi com aquilo.

- Uma hora vocês estavam brigando outra se beijando? – falei dando um sorriso.

- É, éramos complicados, só sei que Marcos gostava muito de mim, ele foi o meu “primeiro amor” podemos dizer. Ele sempre insistiu que eu ficasse ao seu lado, que eu nunca o deixasse, mas mesmo assim eu parti, deixei ele de lado e virei a página da minha vida.

- Esse é meu medo, você ir embora e virar a página, me deixar de lado, se esquecer de mim.

- Kaden, se eu não me esqueci de um menino que viveu na minha vida a 7 anos, não vou me esquecer de você. Até por que- ela me encarou sorrindo- como eu vou me esquecer do primeiro príncipe que eu conheci? Da pessoa que mais me ajudou quando eu comecei a treinar etiqueta? Da pessoa que me ensinou a tocar piano? Da pessoa que me acolheu quando o meu mundo desabou? – ela segurou minha mão, mas eu soltei e a abracei.

- Promete que não vai deixar? Vai ser o único jeito de eu deixar você ir para longe sem mim- falei sem seu ouvido.

- Prometo, mas não preciso, eu nunca vou me esquecer de você seu bobo- abri o maior dos sorrisos e beijei sua testa.

- Você é me deixa muito confuso Angel Leger.

- Você é muito confuso por si só Kaden Schreave- ela disse sussurrando. Ficamos ali, um tempo abraçados quando me lembrei. Me levantei e sua até a escrevinha, abrindo uma gaveta e pegando o embrulho que estava dentro. Voltei até Angel que continua sentada no chão.

- Feliz aniversário- ela se surpreendeu e depois se tocou, já era aniversário dela e nem percebeu. Ela se levantou e me abraçou com força.

- Obrigada- ela disse assim que me soltou. Eu entrei o embrulho em suas mãos e ela sorriu voltando para o seu lugar na cama, onde se sentou novamente.

- Não é nada demais- ela abriu um sorriso e continuou a abrir o presente. Assim que abriu deixou cair algumas lágrimas. Eram diversas coisas, um colar de ametistas, uma pulseira de prata com alguns diamantes que combinava com os brincos iguais, mas também coisas simples, um álbum de fotografias e um porta-retratos com algumas fotos nossas quando pequenos e quando ficamos mais velhos. Olhei para ela e ela chorava- Sei que você não gosta muito de guardar momentos do passado, mas tem coisas...

- Que vale a pena lembrar- ela falou ainda chorando. Passei o braço em volta de seu ombro e beijei seu cabelo.

- Exato- ela abriu o álbum e olhou as fotos, tinha fotos dela com os pais ainda pequena, fotos dela correndo pelos jardins, fotos de nós em festas, fotos dela com a minha irmã e Josie, diversas fotos dela.

- Ain Kaden, você sempre sabe como mexer comigo- ela falou me abraçando. Eu adorei ouvir aquilo dela e abracei com força.

- Você merece mais do que eu posso te dar- falei ainda a abraçando- Se eu pudesse te daria as estrelas, mas eu sou um simples principe.

- Você não precisa me dar muita coisa para me deixar feliz- ela disse sorrindo.