História Um Ano Nem Tão Incrível Assim - Perguntas e Respostas

   Fui para uma carteira do fundo. A última carteira da fileira ao lado da janela, que tinha uma vista para a parte aberta do colégio. Todos ainda estavam conversando, mas dessa vez, sentados. A professora chegou e todos se calaram. Essa tal professora é meio velha. É professora de inglês. Ela aparenta ter uns cinquenta e tantos anos.

   - Bom dia, alunos! Para quem não me conhece, meu nome é Liz Proulay. Sou a professora de inglês... – ela começou a falar, mas alguém a interrompeu. Foi um garoto. Acho que faz parte do grupo dos populares que só passam de ano porque os pais pagam pra isso.

   - Todo mundo já sabe disso! É completamente desnecessário. – esse tal menino falou, e algumas pessoas riram.

   - Caso você seja desatento o suficiente para não ter percebido, há novos alunos na classe. Uma vez novos aqui no colégio, não me conhecem. Antes de ficar fazendo piadinha, pense um pouco mais, ok? – a professora disse. Todos vaiaram o garoto. – Enfim, os alunos novos são Jade Müller e Rafael Müller, certo? – ela perguntou mudando de assunto.

   - Certo. – falei de lá do fundo.

   - Ok. Quer ser a primeira, Jade? – ela perguntou.

   - Primeira o que, exatamente? – perguntei.

   - Ah! Perdoe-me. Esqueci de explicar. É que aqui no colégio, no primeiro dia de aula, pedimos para que os alunos novatos venham aqui na frente se apresentarem para a turma e tirarem suas dúvidas. Mas como vocês não vieram ontem, hoje é o primeiro dia de aula de vocês. – ela falou com um tom simpático na voz.

   - Ah sim! Vai lá, Jade. Primeiro as damas. – Rafael falou debochando da minha cara. Lancei um olhar frio pra ele, que logo em seguida, se encolheu fingindo estar com medo.

   - Bom, meu nome é Jade Müller, como vocês já sabem. – comecei. – Morei cinco anos da minha vida aqui, em Home Sweet Home, e dez anos no Brasil. – ao falar BRASIL, todos fizeram uma expressão de impressionados. – Logo, falo duas línguas fluentes. Ér... Ah! Não, meu olho não é lente! Nasci com eles assim. Chama-se heterocromia. Sou fissurada por esportes, seriados de TV, música e arte. A coisa que mais gosto de fazer é dormir. Meu esporte favorito é o skateboarding e o que menos gosto é a ginástica olímpica, apesar de ter feito por doze anos seguidos. Devido ao meu amor pela música, toco violão, guitarra, piano, um pouco de bateria e canto. Amo desenhar e pintar. São um dos passatempos que mais me acalma. Então... é isso, acho. Alguma pergunta? – conclui. Várias pessoas levantaram as mãos.  – Humm, você! – falei apontando o queixo para um garoto que estava na fileira do meio.

   - Você disse que gosta de música. E pelo seu estilo de se vestir e pelos instrumentos que toca, diria que você curte rock. Quais são suas bandas favoritas? – ele perguntou. Ótima observação.

   - Bom, você acertou em cheio! Mas também curto outros estilos musicais, como pop, soul, blues, jazz, e outros. Mas essa pergunta é difícil de responder. Posso fazer um top cinco? – perguntei, e o menino afirmou com a cabeça. – 1- AC/DC. 2- Megadeth. 3- Metallica. 4- The Beatles. 5- System Of A Down. Tem várias outras, mas essas são as que mais escuto no momento. E também gosto muito de Amy Winehouse, apesar de não cantar o gênero rock. Mas também amo Jenis Joplin. – falei e o menino fez uma expressão de estar satisfeito com a resposta. Mais pessoas levantaram as mãos. – Você! – falei apontando para um garoto do fundo.

   - Você assiste a quais seriados? – foi sua pergunta.

   - Mais uma pergunta difícil. Vou separa em tópicos. Ah! E deixando claro que, sei que são todos antigos, mas são os melhores. Em minha opinião, pelo menos. Série de super-herói: Demolidor, The Flash, SuperGirl e Jessica Jones. Ficção: Prison Break, Breaking Bad e The Walking Dead. E por último, comédia: Full House, Fuller House e F.R.I.E.N.D.S. Provavelmente, tem mais, quer dizer, com certeza tem mais, mas não me lembro agora. Espero ter respondido sua pergunta. – conclui com um sorrisinho no rosto. De novo, mais pessoas levantaram as mãos. Escolhi a tal de Halsey.

   - Por qual motivo que você só assiste e escuta coisas de anos e anos atrás? Essas coisas velhas? Ficou presa lá no passado? As músicas e séries mais legais estão todas sendo feitas agora! Um ótimo exemplo de música é o Brooklyn Mirrors. – ela falou com um ar de deboche.

   - Não é velho! É clássico. É cultura! – falei um pouco indignada -- Ah, sim! Brooklyn Mirrors. Aquele cara cujas músicas falam apenas de drogas, sexo, bebidas e dinheiro. Com certeza é bem melhor aquilo do que ouvir algo perecido com "Someone told me long ago/ There's a calm before the storm/ I know/ It's been coming for some time/When it's over,so they say/ It'll rain a sunny day/ I know/ Shinin' down like water/ I wanna know/ Have you ever seen the rain?/ Comin' down on a sunny day? {tradução: Alguém me disse que tempos atrás/ Que há uma calmaria antes da tempestade/ Eu sei/ Já vem chegando há algum tempo/ Quando estiver terminado eles dirão/ Que haverá num dia ensolarado/ Eu sei/ Brilhado como a água/ Eu quero saber/ Você já viu a chuva?/ Você já viu a chuva/ Caindo em um dia ensolarado.} – sim, eu cantei esse trecho na frente da sala toda. E falei com um ar de deboche também. – Caso não conheça, essa música se chama Have You Ever Seen The Rain? Da banda Creedence Clearwater Revival. – conclui com a maior cara de ironia. Todos olharam torto para ela, e ela, para mim. Senti seu olhar frio congelar minha espinha.

   - Jade, querida, não sabia que sua voz era tão boa! Deveria entrar no coral. E eu amo essa banda! O papo está ótimo, mas temos que cessar suas perguntas e respostas e iniciar as de seu irmão, Rafael, caso contrário, iremos perder muita aula. – a professoras interrompeu as perguntas, dando início as de Rafael.

   Até que um garoto levantou a mão e disse que queria fazer uma última pergunta. Ela cedeu.

   - Por algum acaso, você está à procura de um amor? – ele perguntou tentando fazer um sorriso meio galanteador. Não deu certo.

   - Não. Não mesmo. – respondi indo para o meu lugar.

   As perguntas de Rafael foram tipo: "você tem namorada?" "sua irmã tem namorado?" "me ensina a tocar violão?" "troca de olhos comigo?" e a maioria era de meninas. E ele as respondia com o seu patético sorriso galanteador.

   Não acho meu irmão um galinha que pega geral. Quem não o conhece acha. Mas na verdade, não sabem que ele apenas está à procura de seu verdadeiro amor. Mas ele acha que todas as garotas são o seu amor. É meio que tipo, ele olha para a garota, vê algo que o chama atenção e acha que está apaixonado. Ele começa a sair com essa garota, a namora por uns cinco meses e descobre que, na verdade, apenas havia a achado bonita.

   A aula passou voando, só percebi que havia acabado quando todos começaram a sair. Peguei minhas coisas e fiz o mesmo. Joguei tudo no armário e, quando fechei a porta, havia garotos a minha espera. Não vou negar, me assustei.

   - E aí, docinho de côco. Como vai? Precisa de ajuda com suas coisas? – um deles disse tentando fazer um sorriso sedutor. Não deu certo. Segurei o riso.

   - Em primeiro lugar: não me chame assim. Aliás, não chame ninguém assim. É cafona. E eu odeio côco. E não, não preciso de ajuda, obrigada. – falei. Sendo educada, até.

   - Ok. Se não se importa, acompanharei você até o refeitório. – ele falou. Não disse nada, apenas andei até o local.