História Um Ano Nem Tão Incrível Assim - Doida, Bipolar e Raivosa

Depois da morte de meu avô, tenho frequentado mais o psicólogo, e ele me tem feito tomar uns remédios. Ele disse que estes iriam me ajudar a controlar minha bipolaridade e um início de depressão, que segundo ele, eu estava tendo.  Henry, o psicólogo, disse que a morte de meu avô foi a causa do início de depressão. Eu fiquei muito triste com a perda, de fato, e ainda estou, mas não achei que seria a esse ponto. Pensei que seria passageiro, e que no futuro uma saudade ou outra viria me visitar. Porém ele disse que era mais grave do que imaginávamos. E quanto a bipolaridade, ele me explicou que percebeu logo na primeira consulta. 

Contudo, desde semana passada tomo dois remédio por dia, na parte da manhã. E para a minha tristeza e falta de privacidade, isso já está na mídia. Todos que leem sites de fofoca e afins sabem dos meus distúrbios de humor e infelicidade com a vida.

Hoje quem me acordou foi Joseph, ele estava animado demais por ser uma segunda-feira.

- Ei, você não pode ficar dentro de seu quarto o dia inteiro. Vamos para o colégio. Irei te proteger de tudo. Estou aqui para isso, não é? Confie em mim. Palavra de escoteiro. - ele disse depois que me acordou com um pulo em minha cama. Soltei um leve sorriso.

- Desde quando você é escoteiro? 

- Desde agora. - soltei uma semi gargalhada. 

- Ok, eu vou. - ele assentiu, contente. - É... Vai ficar aí pra me ver trocar de roupa? Não gosto nem um pouco de plateia nesses momentos. - ele sorriu meio desconfortável. 

- Te espero no corredor. - ele disse saindo do meu quarto. Coloquei a minha camiseta do AC/DC, escrito Back in Black* e imediatamente me lembrei da última vez que dividi um palco com meu avô. Senti meus olhos lacrimejarem.

- Hoje não haverá lágrimas. - disse a mim mesma. Coloquei uma calça preta completamente detonada, cheia de rasgos e meus velhos e bons amigos All Star pretos e encardidos. 

- Estou pronta, acho. - falei ao abrir a porta e me deparar com Joseph na divisa que a porta fazia com o corredor e meu quarto.

- Vamos nessa, docinho. - ele sorriu.

- Que cafona. - falei sorrindo dando um soco de leve em seu braço. 

Cheguei no colégio e foi como eu esperava. As pessoas ainda diziam que sentiam muito, mesmo depois de quase duas semanas depois da morte de meu avô. Apenas ignorei e entrei na sala da primeira aula do dia. Para a minha tristeza, nessa aula não fico na mesma turma que Mel, e só agora me dei conta de que as coisas não têm o mesmo brilho, digamos, sem ela. 

Estava tudo indo bem até que deu a hora de tomar os remédios. Apesar de Joseph estar do meu lado, ainda estava insegura. 

- Professora, posso ir beber água? - perguntei da minha carteira mesmo, enquanto pegava os remédios na minha mochila. 

- Algum motivo em especial? A aula mal começou, e você teve tempo quando chegou ao colégio. - ela me respondeu, interrompendo sua escrita no quadro negro.

- Depois da morte do avô dela, ela tem ficado muito esquentadinha, tem que tomar remédios, essa doida bipolar raivosa. - um garoto do fundo respondeu por mim. Nunca me senti tão humilhada como naquele momento. Pensei que o fato de essa notícia ter saído na mídia não iria afetar em nada, já que foi tudo muito bem explicado por mim mesma. Porém, pelo jeito ainda há pessoas sem noção no mundo. 

Minha única ação foi ir até ele e lhe dar um soco em seu rosto. Por ele usar aparelho, obteve um corte e sua boca começou a sangrar. 

- Viu? Ela é totalmente descontrolada. - ele ainda provocou. Eu ia agredir ele mais um pouco, mas Joseph me impediu e me levou pra fora da sala. 

- Ei, ta tudo bem. Ele não está mais aqui. Acalme-se. - ele pediu. Lágrimas de ódio e culpa rolaram meu rosto abaixo. 

- Eu sou mesmo descontrolada. - admiti. Eu bati no garoto que nem se quer sabia o nome. 

- Não, você não é. Você é Jade, a minha namorada Jade. Minha pedrinha preciosa. Nathan, aquele garoto sem noção é descontrolado. Ele poderia ter o mínimo de senso e entender sua situação. Entender que você está passando por uma fase muito difícil de sua vida. - Joseph me consolou. Me senti segura em seu abraço.

- Não me sinto bem, vou volta pra casa e pedir para que Mauro me mude de colégio. Não aguento mais. - Isso era a única coisa em que eu pensava, sumir. Jo deu um longo suspiro, sacou o celular do bolso de sua calça escura e ligou para meu pai pedindo para vir me buscar. 

- Querida, sinto muito. Nunca imaginei que essas crianças seriam capazes de fazer algo assim. Vou ir hoje mesmo na escola conversar com a diretora. Não vai mais acontecer, juro. - Mauro disse enquanto íamos a caminho de casa. 

- Provavelmente isso não vai mais acontecer, mas pode acreditar que se eu voltar amanhã pra aquele lugar as pessoas a minha volta me olharão com muita pena. Odeio que as pessoas sintam pena de mim. Não sou uma pobre coitada. - falei firme.

- Jade, tudo vai se ajeitar ao seu tempo... - foi a única coisa que Mauro me disse.

Chegamos em casa e fui direto para o meu quarto. Não sou do tipo de pessoa que chora pelo o que as pessoas falam a mim. Mas confesso que chorei, e quando as lágrimas finalmente secaram, notei que nem me lembrava mais do motivo de estar chorando. E depois adormeci.

Algumas horinhas depois acordei, mas continuei deitada, da mesma maneira que dormi.

- Ei, está acordada? - Joseph adentrou meu quarto, com uma expressão de preocupado e culpado. 

- Sim, senta aqui. - o convidei para sentar ao meu lado. Ele assentiu com um meio sorriso.

- De Halsey para Jade Müller. - ele começou a ler algo com voz de locutor, depois de se acomodar ao meu lado da cama. Sorri - Você foi convidado(a) para a melhor festa de toda a sua vida! Sim, isso mesmo que você leu... Halsey irá fazer aniversário, e você felizmente não vai perder essa chance, né? - soltei uma gargalhada, e pelo visto ele ficou feliz por me ver sorrir.

- Qual é?! Quando criança meu sonho era ser locutor. E saiba que minha voz é maravilhosa pra isso. - sorri mais ainda.

- Você, Joseph Philip, queria ser locutor quando criança? - eu ainda sorria radiante.

- Não posso? - ele disse tentando conter o riso, mas não deu certo. Peguei o convite de sua mão e olhei os dados, como endereço e afins.

Local: Salão de Festas Deluxe

Horário: Das 20 p.m até onde você aguentar! (Também conhecido como 6:30 a.m)

Data: Sério mesmo que você não sabe?! Presta atenção nas fofocas, querido(a)

Vestimenta: A festa será a fantasia! Por isso, espero que sua imaginação esteja em dia, para que seja o centro das atenções! Logo depois da aniversariante, claro.

Sorri ao ler o convite. Halsey é fútil até na hora de escrever um convite.

- É muito bom ver você sorrindo de novo. - Joseph comentou olhando pra mim, quer dizer, pra minha boca já que ele estava admirando meu sorriso. Ele foi se aproximando devagar, colocou uma de suas mãos em minha nuca e chamou minha atenção lentamente. Nossos lábios se encontraram e depois de uns instantes nos afastamos ao ouvirmos a porta ser aberta. 

- Vim aqui chamar vocês para almoçarmos. - Mauro disse fechando a porta. Assentimos. 

- Onde estávamos? - Joseph fez uma pergunta retórica, voltando ao mesmo jeito que estávamos.

- Estávamos indo descer as escadas para irmos almoçar. - disse batendo de dedo indicador de leve na ponta de seu nariz. Ele sorriu sem graça. Me puxou de novo pra cama, já que eu estava me levantando, e me deu mais um beijinho. - Jo. - o repreendi com divertimento. 

- Fala sério.

- Estou falando. Vamos.

O almoço foi tranquilo, o mesmo de sempre: comida saborosa que Lucy fez e Ashley estranha tentando me confortar com seus olhares nada significativos.

- Mas aqui, não vou na festa da minha querida amiga Halsey. - falei quando Jo e eu entramos em meu quarto.

- Por que? Jade, você não pode ficar trancada em seu quarto para o resto de sua vida. Eu vou estar lá, Victoria vai estar lá, Melissa vai estar lá, Tom vai estar lá... Posso citar nomes pra sempre. - ele tentou me convencer.

- Halsey me odeia. Por que ela me convidou? E se a festa é amanhã, por que ela só me convidou agora? - essas perguntas eu não tinha respostas.

- Primeiro, ela entregou os convites há cinco dias... - ele hesitou um pouco ao falar. - Mas eu não iria ir se você não fosse ir também. - sorri.

- Você pode muito bem ir sem mim. 

- E pelo o que ouvi ela decidiu te convidar porque você é famosa. Iria acrescentar à festa arromba. - ele fez uma vozinha tentando imitar a dela. Bem, imitações sempre saem zuadas, então. E Melissa está te implorando de joelhos pra ir com ela a essa festa. Por favor, vamos. - ele continuou implorando.

- Jo, sei que você quer o meu bem, quer que eu saia e me distraia um pouco, mas a minha resposta ainda é não. 

- Como assim a senhorita se recusa a ir àquela festa? Srta Müller vai na festa sim. Nem que seja amarrada. - minha mãe adentrou o quarto, junto a Mauro.

- Tive que chamar reforços. Você parecia invicta. - Joseph disse com um sorrisinho inocente. 

- Tá. Eu vou um pouquinho na festa dela. - me rendi. Na verdade, eu provavelmente iria inventar que estava passando mal quando fosse a hora de ir, de fato, pro aniversário. Meus pais e Joseph sorriram satisfeitos e saíram do quarto. 

Mensagem de Melissa

Oi, Jade  - a mensagem não estava lá há muito tempo, logo a respondi.

Oi, Mel. Joseph já me deu o convite, obrigada por se preocupar comigo.Pode ter certeza de que irei aparecer um pouquinho lá na festa da Halsey.

Certo. Você vai poder ir comigo para o shopping também? Não precisa ir se não quiser.

Vou poder ir sim. Já estou pronta, na verdade. Joseph conseguiu me convencer de tudo, agradeça a ele.:p

Ok, vou agradecer. :p Onde podemos nos encontrar lá no shopping?

Pode ser na prça de alimentação? Daí a gente começa a nossa busca.Vou aproveitar para procurar algo pra mim também.

Beleza. Nos vemos lá ^^

Desliguei o celular, peguei uns cem a cento e cinquenta reais na minha carteira e fui a caminho do shopping.