História Um Ano Nem Tão Incrível Assim - Ashley Boazinha

Cada palavra que lia no diário, incontáveis nomes de suspeitos vinham em minha mente.

''Hoje foi um dia bom. Segundo meus netos fiquei em coma por um mês inteiro. É quase impossível acreditar nisso. Pra mim, eu apenas adormeci profundamente por algumas horas... Mas meus queridos me disseram que não foi bem assim. Quando acordei, não sabia muito bem o que estava acontecendo, mas havia alguém sentado na sala. Não consegui distinguir com exatidão quem era. Não consegui ao menos ter certeza se era um homem ou uma mulher, mas consegui reparar em seus cabelos: madeixas brancas. Porém, não sei se é de velhice ou se é uma coloração que mulheres geralmente fazem em salões de beleza. 'Seus dias estão contados', dizia um bilhete que a pessoa havia deixado. A princípio não dei muita importância, mas com o passar do tempo coisas estranhas foram acontecendo.'' 

Aquelas palavras estavam me assustando. Vovô já sabia que iria morrer logo, só não sabia que esse logo estava tão próximo. Me despedi de Louyze e fui até Mary com o diário do vovô em mãos.

- Mary, será que posso focar com isto aqui? - perguntei ao chegar na cozinha. Em minha cabeça tinha um turbilhão de coisas, minha voz saiu até meio rude. Sem perguntar o motivo, ela cedeu e me deixou ficar com o diário.

Saí da casa e fui andando sem rumo, mas no final acabei dando de cara com a garagem de Mauro. Sem perceber abri o portão usando a cópia da chave que meu pai me deu. Minha cabeça estava em um outro lugar, e por isso não notei que já havia chegado em casa.

- Olhe para você. Cansada, com os olhos inchados. Querida, não precisa chorar mais. Pense que agora seu avô está em um lugar melhor do que esse mundo cheio de pessoas maldosas. - Ashley disse ao me ver chegar. Me olhei no espelho que tem atrás da mesa de jantar e ela estava certa. Meus olhos estavam inchados e vermelhos. Sem contar a olheiras, que ela foi gentil em não mencionar. Já não estou aguentando a falta que meu avô me faz.

- É... Tem razão. - apenas concordei.

- Que tal irmos ao spa? - ela sugeriu. Pelo o que sei, se eu dizer não ela vai me convencer do mesmo jeito. Isso acontece muito com a minha mãe, suas amigas sempre a convenciam de ir às festas e tudo mais.

- Ok. - respondi com um leve sorriso.

- Olha só! Vejo que tirou o aparelho. - ela estava sendo simpática. Normalmente eu diria que ela estava sendo falsa comigo, mas vejo seu esforço para que eu não sofra tanto com a recente perda.

Entramos em seu carro e fomos ao spa. Durante o caminho quase batemos com um caminhão. Ashley havia dito que o trânsito estava demais, e do nada entrou na contra mão. A minha atitude foi pedir a Deus que me tirasse do carro daquela mulher louca, mas graças a Ele nada de mal nos aconteceu. Fingi que aquilo não aconteceu e continuamos o percurso.

- Combo de massagem nessa garotinha! - Ashley disse ao entrarmos no estabelecimento. Pelo visto ela o frequenta bastante, já que, aparentemente, todas que ali trabalhavam a conhecia. 

- É pra já! Me acompanhe, querida. - uma delas disse. Eram todas muito bonitas, cada uma com sua beleza. Incrível como há variedades fantásticas e muito superiores as dos padrões de beleza que a sociedade impõem. Obedeci ao pedido da moça e fomos para uma sala que continha duas macas. Depois de tirarmos o que vestíamos, Ashley e eu nos deitamos, uma em cada maca, cobrindo algumas parte de nosso corpo. 

Quando senti as mãos de fadas de Donna, uma das massagistas, tocar meus ombros, que até então estavam tensos, meu corpo relaxou automaticamente. Foi realmente muito bom. Nunca agradeci tanto Ashley mentalmente por ter me levado àquele spa.

Após uma deliciosa sessão de massagens, fomos para casa. Não trocamos uma palavra durante o percurso, mas foi bem tranquilo e nada de clima pesado. Quando finalmente chegamos, agradeci e fui direto para meu quarto. Já era quase oito da noite, e decidi que iria para o colégio no dia seguinte. Então, tomei um banho e me deitei. Adormeci rápido, mas alguns pesadelos leves vieram me atormentar durante a madrugada.

Era o mesmo pesadelo: uma pessoa mascarada matando a minha família em minha frente, um por um. Me fazendo sofrer ao ver todos os que amo implorando por piedade e misericórdia por suas vidas. 

Acordei um pouco assustada, mas vi que faltavam exatos dois minutos para o meu despertador tocar, então me levantei e fiz o que sempre faço. Desci as escadas prontas para tomar meu café da manhã. Todos já estavam na mesa.

- Decidiu ir pra escola hoje? - Josh perguntou meio surpreso. Afirmei balançando a cabeça positivamente e com um leve sorriso.

- Creio que o que fizemos ontem a animou a sair um pouco do quarto. - Ashley disse orgulhosa, entre um gole de café e outro. Talvez ela esteja certa. Apenas sorri. Terminei meu café e fui para o colégio de bicicleta, dessa vez.

- E aí. - Joseph brotou de bicicleta ao meu lado na ciclovia. Sorri ao vê-lo.

- Oi!

- Fico feliz por ter resolvido sair do seu quarto e ver pessoas.

- Apesar de a minha última lembrança do colégio ser a pior possível. - ele deu um sorriso sem graça. - Mas tá tudo bem. Tô superando...

...

A aula foi normal, nada de demais. Aconteceu o que eu já esperava: pessoas perguntando se eu estavam bem. Acho que eu nunca menti tanto sobre o que eu realmente estava sentindo. Ah! Uma coisa que eu não esperava aconteceu: Melissa não foi ao colégio. Isso é estranho porque ela nunca falta. Deve estar acontecendo algo de bem sério. Espero que não seja nada grave e que dê certo, seja lá o que está ocorrendo.