1. Spirit Fanfics >
  2. Um beijo, apenas >
  3. Infato

História Um beijo, apenas - Infato


Escrita por: DiasKin

Capítulo 1 - Infato


 

 

Eu voltava para casa no final de tarde. Mochila nas costas, subindo a mesma ladeira de sempre. O ar estava levemente frio, mas agradável... O céu roxo iluminava tudo estranhamente. Pensativo, com meus passos lentos, comecei a ouvir alguém correndo atrás de mim. “Eduardo!” uma voz me chamava.

Ao me virar, ali estava Augusto. Um momento de pleno silêncio. Observei por um momento o seu rosto...  Seus olhos castanhos refletiam o céu purpúreo... Seu olhar dizia “posso ir com você?”, e sem nenhuma palavra, continuamos a andar no mesmo sentido pela rua.

"Foi legal hoje, né?" ele perguntou. "Sim... faz tempo que não passo tempo com o Victor. Acho que dês do ano passado." respondi.

"Ah, sim" ele coçava o cabelo por baixo de seu boné "Vocês são amigos a muito tempo?" 

"Alguns anos, eu acho... e você, conhece ele de onde?" perguntei.

"Colégio antigo" Augusto explicou. "Faz tempo que não vejo ele... Vários anos. Mas é bom conhecer pelo menos alguém em um colégio novo."

"Já conhece dois, agora!" brinquei.

Ao chegar em casa, comecei a observar a lua novamente iluminando meu quarto. Isso já se tornara um ritual.

Terça feira-

Victor e eu tínhamos acabado de chegar ao colégio. Ao chegarmos, ouvi uma voz familiar chamar meu nome. Ao me virar, para ela, analisei a menina... Cabelos compridos e castanhos, olhos verdes, chamativos, um batom que complementava lindamente sua pele latina com uma cor entre vermelho e marrom.

“Laura? Quanto tempo, não te vejo desde quando éramos vizinhos! Como vai?”

“Bem Eduardo, e você? Pensei que seria uma boa ideia começar a estudar aqui esse ano, pra me preparar pro vestibular.”

O sino tocou. "Estou bem também... depois a gente se fala melhor! É muito bom te ver novamente, Laura. Até depois". Quando me virei para falar com o Victor,  percebi que ele já não estava mais lá.  

Chovia. Ao sair da aula fui atrás de Victor, que percebi ir embora sozinho. Avistei ele um pouco de longe, mas chamei seu nome. Victor se virou lentamente, claramente pensativo. Eu não perguntei nada, apenas acompanhei-o, abrindo um guarda-chuva para nos cobrir, até sua casa para que não se molhasse.

Andávamos lentamente com o mesmo silêncio de sempre... Mas dessa vez, a companhia do outro não trazia mais tranquilidade. Eu me preocupava e queria entender o que perturbava Victor. Mas não sabia como deixá-lo saber disse. No meio do caminho, ouvi um barulho vindo de trás de nós, mas isso apenas fez Victor andar mais rapidamente. Tentei olhar para trás, mas Victor estava andando tão rápido que precisei me esforçar para andar no mesmo ritmo.

Chegando na casa dele, Victor apenas entrou, sem agradecer ou se despedir de mim. Quando estava voltando, passei novamente pelo mesmo luar onde ouvimos aquele som. Olhei para baixo para refletir, e ver se lembrava de algo que poderia ter o aborrecido, quando percebi que Vitor havia derrubado seu celular no chão. Eu peguei-o do chão para devolvê-lo no dia seguinte.
 

Voltando para casa, encontrei-me na mesma rua em que, no dia anterior, voltava pra casa. Dessa vez, porém, não estava sozinho. A minha frente estava Augusto, esperando na chuva, sob a proteção de uma árvore.  Corri até ele, e com um sorriso que se alargava, Augusto começou a rir "Já tava na hora, né?"

"Augusto!? Mas oquê... "

"Tava te esperando né. Onde você tava esse tempo todo?"

Demorei um pouco parar me tocar, mas percebi que ele estava se molhando, e rapidamente estendi o guarda-chuva. Caminhávamos em silêncio também. Me virei a ele e observei seus olhos mais de perto. Realmente... Pareciam sempre brilhar, de algum jeito. Comecei então a ficar sem jeito. Aos poucos percebi o que era esse interesse. Preocupado em não deixá-lo tão óbvio, virei o rosto, envergonhado. “O que houve?” Augusto percebeu que algo me incomodava. Percebeu que eu estava vermelho, e tocou minha a testa para medir a temperatura. “Caraca... Você tá muito quente.” Ele notou “Se cuida, deve ser um resfriado”.

Chegando em casa. Ao me deitar, desbloqueei o celular de Victor. Para a minha surpresa, havia uma conversa entre Victor e Laura... Então eles se conheciam? Decidi não abrir a conversa.

Victor estava sozinho em seu quarto, quando alguém bateu em sua porta. Quem estava fora era Laura. Victor nao abriu.

 

2- Quarta-Feira

Dessa vez Victor não apareceu para me acompanhar até o colégio. Chegando lá, fui encontrado por Laura, que se aproximou entusiasmada. Ela me deu um convite, e explicou que para começar o ano forte, sua amiga Ana iria fazer uma festa na sexta-feira. Pediu também para entregar um para Victor. Envergonhado, pedi um convite a mais. Ana perguntou para quem seria e brincou sobre eu convidar uma menina especial. Ou... um menino especial!? Laura sabia que podia ser qualquer um dos dois. Fiquei um pouco vermelho e xcpliquei não ser nada disso... mesmo que fosse..  Ela me deu boa sorte e entrou em sua sala. Observei Augusto conversando com um pouco de flerte com Ana. Sem pensar muito da situação, entrei na sala.

Na saída, encontrei Victor novamente, e entreguei o convite. Tentei dar uma animada dizendo que seria super divertido e Victor realmente pareceu se animar. Um pouco mais sincero e simpático, dessa vez ele disse que preferia ir sozinho para casa. Respeitei e me despedi dele. Encontrei Augusto e começamos a voltar juntos. Foi então que eu me lembrei; o celular! Eu tinha esquecido de devolver. Augusto disse que Victor havia mencionado ter perdido ele. Continuamos a conversar sobre Victor um pouco. Perguntei se Augusto sabia se havia alguma história entre ele e Laura, mas ele disse não saber. Então, com um pouco de vegonha, entreguei-lhe um convite para a festa da Ana. Um pouco confuso, Augusto repondeu que já havia sido convidado. Afinal... ele e a Ana estavam ficando.

Essa resposta me pegou  um pouco de surpresa, mas ele entendeu. Explicava o motivo do flerte mais cedo... Um pouco decepcionado, brinquei sobre querer ter aumentado meu ego convidando –o. Os dois riram.

Chegando em casa, um pouco chateado, peguei o celular de Victor e quase abri sua conversa. Dessa vez, a curiosidade quase me tomou conta... Mas me controlei. Não era da minha conta saber o que havia por trás disso tudo.

Quinta-feira

Victor novamente não apareceu, mas eu estava mais tranquilo sabendo que ele parecia estar se sentindo melhor.

No colégio, Augusto conversava com ana no corredor. Ao ver Victor passar, ela perguntou a Augusto quem aquele era. Um certo interesse em Victor  ficou claro. Augusto então me notou passando e correu até mim suavemente.

“Ei, melhorou daquele resfriado?” “Ah... ahn, sim, haha...” “Você vai amanhã, né?” ele perguntou. “Não sei” respondi. “Nunca fui muito de festas, sei lá.” “Mas vá, vai ser legal. Juro que não vai te faltar companhia. Vai ter muita gente lá, você pode aproveitar... já que curte de tudo...”

Fiquei meio sem reação com o comentário dele, que logo em seguida voltou para perto da Ana. Então ele já sabia... Essa naturalidade dele com isso, o que será que significava?

“Como se fosse tão simples assim...”

Eu voltava para casa. Dessa vez Augusto não me acompanhava. Parei de andar e olhava fixamente para o chão. Meu coração batia forte. Eu olhei para trás, como se esperando que Augusto estivesse vindo me encontrar. Decepcionado com a rua deserta, continuei a andar.

Cheguei em casa, e dessa vez, a lua quase não iluminava meu quarto. Deitei-me e desbloqueei o celular de Victor. “Talvez, se realmente tiver um problema entre eles, eu possa resolver isso” pensei.

L-Eu vou mudar de escola. Vamos estudar juntos agora haha

V-Ah... entendi. Mas tem algum motivo específico pra você ter mudado?

L-Ah tem, é uma escola boa, e eu preciso focar no vestibular agora

V-hm

L-mas é óbvio que você também foi uma influência né...

L-mas isso seria um problema? N entendi

V- eu só não sei o quanto eu quero que isso seja sério.

V-me divirto com você e tals mas n sei se tipo, a esse ponto, entende?

A-acho que sim... mas sla vc n quer pelo menos tentar? Mesmo que fosse apenas amizade?


A conversa acabava aí, e fazia tempo que não havia resposta. Eu queria ler mais, mas ao mesmo tempo fiquei com medo de passar dos limites.

Sexta-feira-

Acordei com uma mistura de animação e agonia por não saber se podia fazer algo por Victor e Laura. Talvez conversar com ela fosse uma boa opção.

Ao abrir a porta, fui surpreendido por Augusto. “Bom dia! Então... Vai hoje né?” “Aah... bom dia haha. Vou sim. ... Mas porque você tá aqui?”

“Já que eu moro perto mesmo, pensei que seria bom ir com um pouco de companhia pro colégio. Vamos?”

Eu já não sabia o motivo de ficar tão infatuado perto de Augusto. Algo sobre o jeito de falar, de sorrir... Como se transmitisse um aura positiva. Claramente, ele era uma ótima pessoa, que apesar de conhecer a pouco tempo, se preocupava comigo.

“Você... não fala muito.” Augusto percebeu. “É, não falo. Sei lá. Não sei como vocês conseguem.” Respondi.

“Como assim?” Augusto riu “Não tem nenhum segredo em conversar!”

“Ah, sei lá... É algo meu, eu acho.” me envergonhei um pouco.

“Sei. Mas como é que você vai pegar alguém hoje se nem um papo você consegue trazer pra mesa?”

Me choquei um pouco com o rumo da conversa. “Quê?? Ah, não. Sei lá. Não tô muito afim de ir lá pra pegar ninguém...”

“Qual é? 16 anos e nem um pouco de vontade?” Augusto percebeu que eu tentava esconder alguma coisa. “A não ser que você...”

 Comecei a me alertar. “A não ser que eu...?”

“Esquece. Vamos chegar logo no colégio.”

Chegando no colégio, percebemos  Ana conversando com Victor.

“Vejo que vocês já se conhecem” Augusto afirmou. Ana, animada, explicou “Só estava conferindo se ele ia na minha festa! Só não pode floppar.” Ela olhou para mim. “Eduardo, né? Nunca falei com você antes... Você vai hoje também, né?”

“Ah, sim, claro. To bem animado também.” Respondi, um pouco sem entusiasmo.

Victor se inturmou. “Então, eu tava falando com a Ana sobre a gente sair antes da festa pra dar uma esquentada. Que tal?” Eu fiquei surpreso, mas não entendi o motivo.

Augusto se animou “Carai, boa ideia. Melhor ainda!”

--

Após a aula, nós quatro nos juntamos.  Decidimos ir a um parque mais ou menos deserto. Compramos bebida em um mercadinho, e fomos.  A princípio, tudo estava bem tranquilo, todos nós apenas sentados conversado e bebendo.

“Victor, quando você e o Augusto se conheceram?” Ana perguntou.

“Somos amigos de infância, quase.” Ele respondeu  “Nos conhecemos em outro colégio, mas nos separamos quando eu mudei pra esse. Aí ano passado ele também veio.”

“Orra, essa aí vai durar então!” Ela falou rindo. “E o Eduardo, qual é a história dele?”

“Conheci ele uns dois anos atrás... foi bem aleatório na verdade” expliquei. “Na verdade não lembro exatamente como foi, só lembro que eu não falava muito.”

“Isso não mudou até hoje né!” Victor riu. “Quero ver se pelo menos hoje você se anima um pouco.” Todos rimos um pouco.

“Falando nisso...” Ana começou a ficar curiosa. “Ouvi falar, Eduardo, que você ia convidar alguém especial pra essa festa.”

Fiquei paralizado. Afinal, Augusto estava bem ali. Eu havia entregado um convite a ele... Se percebesse, estava tudo acabado.

“Ahn?? Que história é essa Ana? Nada a ver isso...” tentei disfarçar.

“Então pra que você pediu outro convite?” Ela perguntou. “Vai, pode falar.”

Fiquei vermelho. “Eu só ia chamar mais o Augusto, mas não sabia que você já tinha convidado ele. Só isso mesmo.”

“Eu sabia!” Augusto exclamou baixinho. Fiquei nervoso, mas continuei disfarçando. Ainda tinha uma chance de continuar fingindo.

Dei uma desculpa e disse que precisava fazer uma ligação, e me afastei um pouco. Fui até o lago e me sentei ali. Como chegou a esse ponto? Eu mal conhecia esse menino mas tudo que eu queria era que ele gostasse  de mim. E se ele descubrisse os meus sentimentos? Nossa amizade com certeza acabaria. E por mais que eu tivesse o Victor... Ele era apenas UMA pessoa. Um amigo. E por algum motivo me interessava mais a companhia de Augusto.

“Ligação demorada, em?” ...Essa voz...

Era Augusto. Ele se sentou ao meu lado. “Em, eu já sei porquê você ficou envergonhado aquela hora, e não se preocupe. Você não precisa se sentir assim.”

Porra. Acabou... Hora de abrir o jogo...

“Afinal, o Victor é um grande amigo seu, é claro que ele não se importaria se você gosta dele assim ou não.”

“QUÊ!?” Fiquei surpreso.

“Ué, não adianta tentar mudar a história agora. Eu vi você entregando o convite pra ele. É ele que é “alguém especial” que a Ana mencionou, não é?” Augusto tinha interpretado tudo errado, mas eu aproveitei a situação ao máximo.

“Poxa, mas como você descobriu? E eu aqui pensando que tinha sido discreto...”

“Ué, só de você mentir pra Ana e nem ter mencionado que convidou o Victor, ficou meio óbvio. Não se preocupre Edu, seu segredo está seguro. ”

Fiquei um pouco confuso, então. “Mas afinal, como vocês sabiam que eu ia convidar “alguém especial”?”

“Foi você que contou para a Laura, afinal, não foi?” Então me toquei. Laura e Ana eram amigas. Então, se a Laura pediu pra eu convidar o Victor... Então...  Ela estaria na festa, e provavelmente tentaria ficar com ele!

“Ah não.” Percebi que se Victor estava evitando ela, não seria uma boa ideia deixar isso acontecer. Devia ter algum jeito de impedir que ela se aproximasse dele lá.

“Ei” Augusto me chamou. “Vamos voltar lá? Já cansei desse seu silêncio introspectivo...”

“Você realmente acha que o Victor não se importaria se eu gostasse dele?” perguntei.

Augusto ficou sem jeito. “Acho que não. Ele é o tipo de pessoa que entende tudo.”

Ousei um pouco mais. “E se um menino gostasse de você? O que faria?”

“Eu?” Ele se questionou, surpreso. “Eu... não sei. Acho que dependeria.”

Ele rapidamente se virou e começou a voltar. “...Acho que se fosse um grande amigo eu não me importaria muito, não”. Por algum motivo isso me deu um pouco de alívio... Aí lembrei. Nós só nos conhecíamos a cinco dias.

A festa estava realmente animada, e nosso grupinho já estava levemente bêbado. Além da música alta e das bebidas, vários cantos da casa da Ana estavam ocupados por pequenos grupos de pessoas fumando maconha, e talvez usando outras drogas. Eu preferia não me envolver, mesmo com tanta acessibilidade.

Só me preocupava com uma coisa. Onde estava a Laura? Eu precisava manter ela longe do Victor. Mesmo sem saber a história completa, eu sabia que a presença dela jogaria ele logo devolta àquele humor de alguns dias atrás. Logo fui abordado pela Ana e pelo Augusto.

“E aí? Tá curtindo Dudu!?” a Ana perguntou, rindo e gritando. “Devia estar dançando pelo menos um pouco né!” Eu tentei disfarçar. “Ainda tô esperando o álcool fazer efeito haha! Ana, você viu a Laura?” Ela respondeu com um gemido incoerente e continuou a dançar, saindo pulando pelas multidões de pessoas em sua cozinha. Virei para Augusto e rimos da loucura da Ana.

 “Gente, essa menina tá se divertindo mesmo em?” Eu gritei, tentando sobresair a música.

“Ao contrário de você, seu mané!” Augusto brincou. “Se você não arranjar alguém pra ficar até o fim da festa, eu mesmo dou um jeito nisso!” Dei uma risada, tentando disfarçar o vermelho do meu rosto apenas sobre pensar nessa possibilidade. Bem que ele podia dar um jeito mesmo...

Continuei a minha busca. Abri uma porta no canto de uma sala quase vazia, e encontrei Victor sentado em um sofá, bebendo.

“Algo errado, Victor?”

“Acho que vi alguém que eu não queria que estivesse aqui...” Ele respondeu. Eu estava tarde demais.

“A Laura?” Perguntei sem pensar.

“Como você sabe sobre a Laura?”

Eu congelei. “Eu... eu...” tentei pensar em algo para dizer. “Você derrubou seu celular. Eu esqueci de devolver... Aqui.” Peguei o celular do bolso e estendi a mão a ele.

“V...você leu as minhas mensagens não leu?” Eu não tinha como sair dessa.

“Li. Eu percebi que você estava chateado e pensei que talvez pudess ajudar se eu entende-“

“MEU, VOCÊ TEM PROBLEMA!?” Ele gritou, levantando-se “De todas as pessoas, você era a última pessoa que eu pensei que invadiria minha privacidade assim! Caralho, E ainda uma conversa dessas...”

Tentei explicar que eu não tinha visto nada, mas não foi suficiente para acalmar ele.

“Vai se fuder, Eduardo.” Ele disse enquanto saía do quarto. Eu continuei sentado, sem saber para onde ir depois disso. Peguei o copo de que Victor bebia... alguma coisa, enchi com a garrafa que estava na mesinha ao lado do sofá e bebi. Muito. Parecia a coisa certa a fazer.

Pelo menos eu ainda tinha o Augusto... Isso é, até ele também descobrir a verdade. Esse menino... Só de pensar naqueles olhos, meu coração batia. Como apareceu na minha vida? Claro... O Victor. Mas agora eu não tinha mais o Victor. Tudo que eu precisava agora era de um abraço. Se fosse do Augusto, melhor ainda... E um beijo... Um beijo do Augusto. Na verdade, nem sabia se queria um beijo dele. Eu só queria... ele. Bem. Na verdade, queria muito um beijo, sim... concluí, que tudo que eu queria era um beijo dele naquele momento. Aí sim essa festa poderia acabar de uma vez.

Em apenas cinco dias, esse menino virou, talvez, o melhor amigo que eu tinha. De algum jeito, ele mexia comigo como ninguém consegue... O que eu estava sentindo por ele, agora? O que eu estava fazendo ali?

                -A festá está sem graça?

                Olhei para cima do sofá onde eu estava jogado, para ver o Augusto. Óbvio que era o Augusto, já tinha me acostumado com a voz dele até agora.

                -Não é a festa - eu respondi, de maneira fria. - Eu só nunca bebi tanto, preciso ficar parado um pouco.

                Mas a verdade é que eu estava muito confuso naquele momento. Eu estava na casa de alguém que eu nem conhecia, bebendo coisas que eu sequer sabia o que eram, tinha acabado de perder meu melhor amigo até então, e estava pensando em coisas que eu nunca havia pensado antes... Tudo por causa desse outro menino que eu pouco conhecia. Bem, melhor do que não conhecer absolutamente nada. Eu conhecia... alguma coisa sobre ele. Isso era o suficiente.

                -Entendo - ele disse, sem se preocupar muito. Ele se sentou ao lado da minha cabeça, e abriu as pernas do jeito desleixado de sempre. -Bem, eu estou ficando entediado, já. Parece que é sempre a mesma coisa, nessas festas, sabe?

                -Sinceramente, não -eu admiti, ao levantar a cabeça do sofá e sentar ao seu lado -Eu não frequento muito essas festas. Nem tenho certeza por que eu vim hoje...

                -Entendi.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, suspirando de vez em quando e nos ajeitando para ficarmos mais confortáveis. Aos poucos, Augusto ia se aproximando de mim. Foi nesse momento que Augusto colocou um braço por trás de meu pescoço e sobre o um dos meus ombros, e apoiou sua cabeça no outro. Não estava entendendo por que, mas fiquei parado, olhando para o nada, como estava antes. As pessoas rindo e gritando em outros cômodos da casa não me perturbavam mais.

                Ficamos sentados por um tempo, observando a sala da Ana. O cheiro de maconha estava bem mais fraco do que no corredor e nos outros quartos, mas ainda dava para escutar a música eletrônica tocando na cozinha. A sala estava escura, mas ficamos olhando aqueles quadros paralelos a nós, os móveis caros, e até uns pendentes pendurados no teto. Apesar do barulho por fora, nós estávamos juntos, na escuridão, e tudo que eu conseguia ouvir era meu próprio coração batendo. De certo modo, eu sabia que Augusto estava ao meu lado, mas não entendia esse fato. Para mim, nós eramos um só ser.

                -Eduardo.- A voz de Augusto estava estável, mas senti dúvida ao dizer meu nome.

                -É ele, quem gostaria?- Eu respondi, brincando. Estava tão bobo que comecei a rir de minha própria piada. Ele também riu, e ficamos rindo que nem dois idiotas, sem motivo.

                -Nada não, haha...

                Ele deu uma olhada nada discreta pelo quarto, para ter certeza de que estávamos mesmo sozinhos. -Você quer ir lá pra fora?-Ele perguntou com uma leve seriedade em seu rosto. percebi que seu braço ainda estava sobre meu ombro.

                Talvez eu deveria ter questionado um pouco mais... Mas não estava em condição para fazer perguntas. Aceitei, sem dizer nada, e abrimos a porta para o jardim.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...