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História Um beijo no inverno - Capítulo único


Escrita por: yifantasticff

Notas do Autor



Capítulo 1 - Capítulo único


O primeiro raio de sol não havia brilhado ainda no céu, quando Yifan sentiu a velha pontada em seu peito que o alertava que próximo a ele alguém havia desencarnado e que ele como o Deus da morte mais próximo do local deveria ir até lá resgatar a alma e a conduzir dentro do seu corpo até o mundo dos mortos, uma viagem que levava pelo menos três dias. Apesar de todo o seu poder, não havia muito o que fazer em relação a isto, afinal era o caminho mais seguro embora também fosse o mais longo. Fazer isto, era apenas habitual demais e ele o tinha feito por séculos e séculos, na verdade o começou durante o império do primeiro imperador da China Qin ShiHuang o responsável pela unificação do país e também o responsável de muitas mortes. Naquela época havia muito trabalho a se fazer, e não havia tempo para descanso.

É dito que ele nasceu graças aos pedidos de intervenção de pais de soldados que iam ao campo de batalha e não retornavam, suas almas perambulavam por aí sem rumo desejando retornar para casa. Pelo fato de estarem muito apegados ainda a vida terrena e de terem suas vidas ceifadas muito cedo, eles não conseguiam chegar ao mundo dos mortos sozinhos. Yifan quando surgiu o fez e lhes concedia descanso. Naquele tempo ele era bastante popular, mas hoje ninguém mais lembrava seu nome.

Ao final do dia seu corpo estava tão dolorido e cansado que ele apenas queria fechar seus olhos e entrar em sono profundo pelo próximo ano inteiro, mas como se sabe Deuses não dormem e não descansam. Com um cigarro nos lábios ele se deitou em um banco de praça com as pernas cruzadas e os braços atrás da cabeça olhando o céu escuro com pequenos pontos brilhantes de luz quando ele simplesmente a viu. A chuva que não tocava a sua pele sobrehumana e que invariavelmente caia tinha deixado a garota tão ensopada que seu cabelo estava grudado em sua testa. Um homem grande e alto a empurrava com força fazendo com que ela tropeçasse na calçada uma centena de vezes. Sua voz grave poderia ser escutado a muitos metros dali, mas pelo visto ninguém queria se aventurar a colocar o nariz para fora em dia de temporal.  Com um último empurrão ela caiu sentada no chão e o homem entrou dentro da casa fechando a porta com força. Por algum tempo ela continuou lá caída olhando para baixo como se não tivesse vida.

Por algum motivo Yifan se levantou de onde estava e com as mãos nos bolsos de uma roupa típica antiga aproximou parando em frente da garota. Ela não poderia vê-lo o que lhe concedia alguma vantagem sobre os membros daquela espécie tão peculiar. Mas se o visse provavelmente não acreditaria no que estava diante de si. Sua pele tão lisa e macia parecia absorver os raios do sol instantaneamente, seus olhos puxados como os de um felino lhe davam um ar misterioso e a cor sólida de sua íris lembrava o chocolate derretido. Seus lábios grossos tinham um curioso formato e seu cabelo era cumprido, liso, branco e preso parcialmente por uma fita preta. Suas roupas tinham o estilo da era medieval tempo em que havia sido criado e lhe forneciam um visual bastante peculiar.

— Eu não vou chorar! — A garota disse para si mesma apertando as mãos em punhos. Ela tinha uma pequena aparência delicada fisicamente, mas ao que parecia era apenas fisicamente mesmo. Ele sorriu, pois gostava de pessoas fortes mesmo que elas estivessem mentindo o tempo inteiro para si mesmas. Ao mesmo tempo em que ela se levantava do chão, ele se levantou também e de suas mãos escorregou o cigarro que usava caindo no asfalto. Por algum momento ela olhou para baixo vendo a fumaça subir e em seguida olhou ao seu redor. — Quem está aí? — Seus olhos se dilataram e ele quis apenas rir. Será que seria divertido assustá-la ou ela já tinha passado por coisa demais naquele dia? Ela certamente já tinha tido a sua cota por um bom tempo. A viu apertar o paço pelas ruas e em seguida quando estava próximo à esquina ela se virou e como se o tivesse enxergado sua cara pareceu surpresa e sua mão voou para o peito, seus olhos se encontraram com os seus. Ela o tinha visto? Ele se questionou. Não, isto era impossível. A viu olhar para baixo e se virar seguindo seu caminho novamente.

Mas... E se ela o tinha visto? A ideia o incomodou tanto que decidiu comprovar por si mesmo uma outra vez. A distância a seguiu pelas ruas desertas na noite fria. As estrelas depois da chuva tinham sido encobertas por camadas de nuvens espessas tornando a cidade mais escura ainda. A garota bateu em uma porta branca de uma casa pequena por um longo tempo até uma luz se acender na sala e o barulho de chaves ser escutado. Uma mulher velha a atendeu em seu pijama folgado.

— Será que a Kaia está aí? Me desculpe as horas é que meu pai me colocou pra fora de casa de novo. Nós acabamos brigando outra vez.

— Entre Lisa, vou preparar um chá pra você enquanto você toma banho, querida. A Kaia está no quarto dela, pode ir lá. — E a porta logo foi fechada na cara de Kris e ele não pode ver mais nada.

Por algum momento esperou do lado de fora, mas logo surgiu em um quarto pequeno onde a garota de antes olhava para o teto, ela olhou por tanto tempo que seus olhos pareciam vidrados, olhou até cair no sono e dormir de barriga para cima ao lado de uma outra garota que parecia ter a mesma idade. Com isto decidiu partir, a ideia de que ela o tinha visto sem que ele lhe houvesse dado permissão era apenas absurda.

No dia seguinte tratou de três mortes na cidade, na verdade aquele lugar começava a lhe enjoar e talvez ele começasse a sentir a necessidade de partir mais uma vez para um outro lugar, um completamente diferente, mas não novo, afinal não havia um lugar naquele mundo inteiro que ele não houvesse visitado ao menos uma vez. O céu estava tingido de laranja, cor de rosa, lilás e alguns tons azulados vibrantes que iluminavam tudo. Escutou um som auto e estridente e logo viu um punhado de crianças e adolescentes saírem de dentro de uma escola. Uma garota de rabo de cavalo vinha na sua direção junto com uma amiga, estranhamente era a mesma garota de ontem. Ele continuou a encarando quando ela esbarrou em seu ombro. Por um momento ela jogou um pouco seu corpo de lado como se sentisse o impacto e olhou para cima diretamente para ele com os lábios entreabertos. Yifan sentiu seu corpo vibrar completamente, havia algo gelado em seu estomago que ele não conseguia controlar. A menina olhou em seguida para o chão e virou o rosto seguindo seu caminho como se nada houvesse acontecido.

As duas garotas pararam na mesma casa do dia anterior com a porta branca. Uma delas entrou, mas a outra de cabelo preso se sentou na escada colocando os braços sobre os joelhos como se estivesse pensando profundamente.

 — Eu sei que pode me ver. — Ele disse estando a apenas alguns poucos metros de distância da criatura. — Porque está fingindo não me ver? — Ela seguia parada na mesma posição sem esboçar qualquer reação. Esticando o braço ele tocou um dedo na ponta de seu nariz. — Ninguém pode me ignorar. — Os olhos dela se fecharam quando uma voz alta foi escutada.

— Lisa, venha jantar. — Levantando-se rapidamente ela se foi.

Por diversos dias ele a seguiu aonde quer que ela fosse, na escola, em um parque, biblioteca, enquanto andava pelas ruas... Mas em nenhum momento ela sequer voltou a menear a cabeça em sua direção. As coisas pareciam sossegadas novamente. Naquela noite, deitada em uma cama ao lado da amiga, Lisa abriu os olhos repentinamente.

— Eu sei que está aí. — Ela sorriu e fechou os olhos novamente. Yifan pela primeira vez sentiu à vontade pungente de tocar um humano afetuosamente. Esticando seu braço ele sentiu a textura macia de sua bochecha e por um momento fechou os olhos sonhando que pudesse ser tão humano quanto aquela criatura a sua frente, que poderia enfim ter paz e em algum momento ter a esperança de descansar.

O sol brilhava e havia poucas nuvens no céu azul enquanto Lisa com uma mochila pesada nas costas caminhava até a escola desta vez sua amiga tinha apanhado um resfriado e ficado em casa sozinha. Assim que viu o prédio grande onde aconteciam suas aulas ela se deteve antes de entrar e passou a caminhar no sentido oposto até encontrar um bando em frente há um rio que cortava a cidade. Yifan estava ao seu lado olhando para longe quando sentiu alguém tocar seus dedos. Instantemente sentiu um choque pequeno e quando se virou viu a garota o olhando diretamente e sorrindo.

— Eu o vi com o cigarro aquele dia deitado no bando de uma praça. Eu o tenho visto há muito tempo. Quando você tiver que ir, vai se sentir sozinho?

— Eu não tenho sentimentos assim. Não sou humano.

— Isto é... Certo. — Ela sorriu para ele novamente e a pontada tão familiar em seu coração surgiu. Por um momento ele realmente pensou estar enganado, e quis ignorar o chamado. Envolvendo todos os dedos da mão em sua mão Lisa encostou o peso de seu corpo contra ele. — Eu gosto de você, gosto mais do que alguém gosta de outro alguém. Gosto desde a primeira vez que botei meus olhos em você, gosto mesmo quando meus olhos não estão postos sobre sua imagem, gosto... Apenas gosto como se o desejasse pra sempre ao meu lado.

— O que está dizendo? — Yifan tinha no rosto uma expressão assustada, não porque não sentisse o mesmo, mas porque sentia, e sentia a ponto de estar esquecendo de que era um Deus e não um mortal com sentimentos e uma vida normal.

— Que eu o quero e estou feliz que seja você.

— Que seja eu? — Suas feições se tornaram mais pesadas e depois paralisaram quando ele se deu conta do que estava acontecendo. Sua mão se desvencilhou da dela e ele deu um passo à frente fitando a grama verde.  — Você está morrendo?

— Eu sinto muito ter te enganado. Estava curioso sobre como eu poderia estar te vendo não é? Eu não te disse porquê... — Ela se levantou e se posicionou a sua frente. — Sei que tudo termina com isto. Queria que durasse mais um pouco antes de que me dissesse adeus, mas agora... Agora estou pronta. — Ela enlaçou os braços ao redor de seu pescoço e tocou seus lábios aos dele. Com uma mão ele segurou a cabeça dela pressionando seus lábios com força mesmo que em seu peito não o quisesse fazer, pois aquilo era um decreto de vida. No céu de sua boca sentiu a luz quente que agora vibrava dentro de si. Em seus braços agora estava o pequeno corpo desfalecido da garota e mais uma vez ele tinha que cumprir seu verdadeiro papel como Deus dos mortos e conduzir a alma para o seu lugar esquecendo que um dia conheceu uma garota que conseguia enxerga-lo e que fez sua alma vibrar pela primeira vez mesmo que tudo tenha sido um terrível engano. 



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