História Um Cavaleiro: A história de Áries - Capítulo 2: Infância, Segunda Parte...

Dez anos...

Muitos garotos precisariam esperar que seus cosmos estivessem em pleno desenvolvimento antes que seus mestres ensinarem suas técnicas especiais, e isso acontecia por volta dos dez ou doze anos.

Mas Mu havia há pouco tempo despertado seu cosmo, com apenas oito anos. Parecia que Shion tinha pressa em ver seu discípulo plenamente desenvolvido o quanto antes, como se predisse algum acontecimento terrível que se aproximava. E o fato de Mu pertencer a uma raça mais desenvolvida espiritualmente, ele estava tendo êxito nisso.

Desde pequeno, realizava atividades que outros não conseguiriam. Era muito inteligente e já havia aprendido a ler e escrever com apenas seis anos, e agora dominava o latim, grego, chinês e começava a se interessar por outros idiomas. Apreciava as ciências, mas tinha horror a matemática, e demonstrava habilidade com suas primeiras tentativas de reparar armaduras.

Mas, uma coisa Shion tentava ensinar seu discípulo a ter, e não conseguia. Mu não era nada pontual. O sol estava alto, deveria ser mais ou menos oito horas da manhã, e o menino ainda dormia, de maneira bem à vontade em sua cama. Haviam combinado que a aula começaria as sete.

Primeiro, Shion aguardou...tinha a vã esperança que Mu percebesse seu atraso e se levantasse. Afinal, ele tinha que aprender a ser mais responsável! No entanto, com o passar do tempo, a paciência do Mestre estava se esgotando.

Shion foi até o quarto do menino, franziu o cenho ao escutar o ressoar não tão leve dele.

—MU! -chamou de maneira impaciente. O garoto resmungou alguma coisa e virou-se na cama, com o travesseiro, cobriu a cabeça para abafar o sons incômodos.

 Shion arregalou os olhos, não acreditando nisso. Depois se concentrou e fez uma pequena bacia de água, usada para a higiene pessoal, levitasse da cômoda onde estava, até ficar sobre a cabeça de seu aprendiz.

Ele virou a bacia, para derramar seu conteúdo gelado sobre a cabeça de Mu, mas a água apenas molhou a cama. O garoto havia desaparecido!

De repente, Mu apareceu atrás de Shion e pulou em seu pescoço.

—Há! Desta vez eu fui mais rápido, mestre! -se vangloriava, rindo.

—Sim. Me surpreendeu! -Shion não conseguia disfarçar o seu orgulho de mestre e de pai pelo desenvolvimento de Mu, mas também não podia mostrar que estava de acordo com o atraso dele. -Mas deveria estar pronto lá embaixo para que eu lhe minhas técnicas! Se não estiver lá em baixo em cinco minutos...diga adeus a sua visita a Reena! -e desapareceu com o teletransporte, aguardando embaixo da torre.

Mu arregalou os olhos, saiu correndo, trocando de roupas rapidamente, passando como um raio pela cozinha e pegando um pedaço de queijo e pão no trajeto, para em exatos cinco minutos estar diante de seu mestre.

—Bem... -Shion o olhou com repreensão. -Seja mais responsável, Mu.

—Sim, senhor.

—Vamos começar. -ele faz um gesto para que Mu sente-se e se afasta um pouco. -Quero que veja algo.

O Cosmo de Shion resplandeceu como se fosse um sol, Mu ficou admirado e também receoso com o poder que sentia emanar do corpo de seu mestre. Então, atraída por esse mesmo cosmo, a armadura de Áries aparece diante deles, para em seguida cobrir o corpo de Shion.

—Esta é a Sagrada Armadura de Ouro de Áries, Mu. -explicava Shion. -Um dia ela será sua.

O menino estava boquiaberto, admirando a indumentária, mas de repente comentou:

—Mestre...por que ela tem essas coisas nos ombros? Parecem chifres! O senhor já furou o olho de alguém com isso? Ela não é pesada? Como se faz pra andar com ela?

Shion começou a rir.

—Uma pergunta de cada vez, Mu. São chifres sim, as do carneiro...o animal sagrado que simboliza a nossa constelação. Não. Nunca furei o olho de alguém com eles e para mim, que sou um cavaleiro de ouro, minha armadura é tão leve quanto uma pluma. Mais alguma pergunta?

Mu pensou um pouco e perguntou:

—Quando vou poder usá-la?

—Quando chegar a hora. -Shion ficou sério de repente. -E talvez nesse dia...eu não esteja aqui para vê-lo usá-la.

Mu levantou-se, assustado com o comentário de seu mestre.

—Não fala uma coisa dessas, mestre! O senhor disse que no dia em que eu usasse essa armadura, me contaria sobre meus pais!

—E eu sempre cumpro minhas promessas. Nunca duvide disso! -falou Shion com severidade e Mu baixou o olhar. -Se acaso eu não estiver aqui...no dia em que se sagrar cavaleiro, procure um homem chamado Mestre Ancião, nos Cinco Picos Sagrados de Rozan.

—Na China?

—Sim. Mestre Dohko é um grande amigo meu, ele lhe contará tudo em meu nome. -depois fechou os olhos e continuou sorrindo. -Mas acredito que isso não será preciso. Estou apenas sendo um velho pessimista, Mu. Não pensaremos mais nisso, certo?

Mu concordou com um aceno de cabeça.

—Vamos treinar.

Naquele dia, Shion mostrou a Mu a Técnica que ela havia batizado de Cristal Wall. Mu havia ficado o dia todo tentando dominá-la em vão. O dia estava chegando ao fim, e Mu ainda não havia conseguido.

—Precisa se concentrar, Mu. -ele viu o rosto desanimado do menino. -Em menos de três meses você não conseguirá dominar o Cristal Wall. Foi o tempo que eu levei para isso. Somente após aprender essa técnica de defesa, lhe ensinarei as de ataque.

—Eu consigo!

—Só conseguirá erguer o Cristal Wall quando seu Cosmo estiver em harmonia com seus poderes mentais, e isso exige muito treino e concentração.

—Eu consigo sim!

—Em menos de três meses? -Shion gargalhou fazendo Mu ficar irritado. -Se você conseguir isso, eu te dou um presente. -Shion saiu deixando seu pupilo para trás. -Farei o jantar. Não se atrase.

Uma hora depois, o jantar estava pronto e colocado sobre a mesa. Shion estranhou Mu não ter aparecido, ele que nunca perdia uma refeição sequer. Foi até onde haviam treinado e encontrou Mu ainda se concentrando para erguer o Cristal Wall, que nem percebeu sua presença.

Estava perto da meia noite, quando Mu deixou-se levar pela fome e pelo cansaço e sentou-se no chão. Colocou a mão sobre o estômago que reclamava da falta de alimento e sentiu um aroma gostoso.

Olhou para o lado e viu uma cesta colocada sobre uma pedra, com o seu jantar. O menino sorriu, seu mestre sempre cuidava dele.

Quinze dias passaram e Mu ainda tentava se superar e seu mestre, treinando arduamente. Estava de olhos fechado, concentrando-se, quando apanhou no ar uma pedra atirada contra ele.

Abriu os olhos e viu Reena sorrindo para ele. Linda com seus treze anos. Mu corou, sorrindo de volta.

—Oi, sumido!

—Reena...o que faz aqui?

—Faz quinze dias que você não aparece na vila. Estava preocupada.  -e sentou-se ao seu lado. -Mestre Shion apareceu e me disse que você estava treinando muito e pedi permissão pra visitá-lo.

—E Koh?

—Ele nem sabe que estou aqui. -e piscou com um olho.

—Vai ter problemas se o esquentado souber disso.

—Eu estou acostumada com o mal humor dele. Nem ligo mais! -ela deu os ombros. -Só minha irmã pra tolerar ele!

—E o que o meu mestre foi fazer na vila?

—Maah pediu que ele aparecesse. Está preocupada com o marido. -Reena ficou triste. -Você sabe que ele viaja muito...e quando volta, fica com o humor péssimo! Minha irmã gostaria que eles conversassem um pouco. -depois desconversou. -Que está fazendo, exatamente?

—Tentando dominar a técnica de defesa que meu mestre me ensinou. -respondeu.

—E como é?

—Chama-se Cristal Wall...você cria com seu Cosmo uma parede invisível que te protege de tudo! -falou com entusiasmo.

—Me mostra?

Mu estancou e ficou desanimado.

—Ainda não aprendi a usar...

—Coragem, você consegue! -a garota disse, encorajando-o.

Mu sorriu e concordou, voltando ao seu treinamento. Desta vez com mais afinco...pois Reena o observava. Era tarde da noite, quando Shion retornou e viu Reena, com olhar cansado dirigido a Mu, que ainda se concentrava.

Então, viu uma tênue aura dourada envolver seu discípulo. Começou fraca, e se intensificava aos poucos. Shion ficou admirado! Mu imitou os gestos que Shion usara ao lhe mostrar o golpe dias atrás e abriu os olhos.

—Cristal Wall!

Uma parede invisível surgiu entre ele e Reena. A garota espantada tocou levemente a parede.

—Você conseguiu! -ela pulou entusiasmada.

—Consegui! Consegui! -ele pulava de alegria. -Consegui! Consegui! Consegui!

Shion ficou boquiaberto. Mu dominou em quinze dias uma técnica que ele levou três meses para aprender, quando tinha a mesma idade que ele. Sorriu satisfeito.

Seu pupilo...seu filho...demonstrava que seria um grande cavaleiro um dia.

—Consegui! Consegui! -pulava e depois ele mesmo bate o rosto na parede de cristal. -AAAiiiiiii...

—Bobo! -resmungou Reena.

—To preso! -Mu falou sem graça.

—Como?-Reena espantou-se.

—Não consigo sair daqui de dentro! -ele gritava.

Shion balançou a cabeça...Talvez ainda faltasse muito tempo para que Mu se tornasse um cavaleiro.

—MESTREEEEEEEEEE! - o menino chamava quase às lágrimas.

Depois de ter “socorrido” Mu, Shion levou Reena para casa. Haviam jantado e o mestre estava recolhido em seus aposentos, esperando que Mu também estivesse fazendo o mesmo.

Mas o menino estava sem sono, e resolveu levantar. Vendo a luz das velas que iluminavam o quarto de seu mestre, Mu bateu na porta e a abriu. Shion fechava um livro no momento que Mu apareceu, guardando-o em uma gaveta juntamente com uma caneta tinteiro.

—O que foi, Mu? Perdeu o sono?

—Sim. O que o senhor fazia?

—Lia um livro. -depois levantou e guiou o garoto de volta ao seu quarto. -Precisa dormir, amanhã começaremos um treinamento muito importante!

—Qual, mestre?

—Lhe ensinarei a lutar, Mu. -depois acrescentou com um tom sério. -Mas não posso ensinar-lhe nada se estiver morrendo de sono!

Mu sorriu e rapidamente correu para o quarto, se jogando na cama. Antes de se cobrir, apagou a vela e fechou os olhos. Shion sorriu e retornou ao seu quarto, pegou o livro...seu diário...antes de recomeçar a escrever, sobre o desenvolvimento de Mu, retornou várias páginas atrás e começou a ler suas antigas anotações:

“Maya é uma jovem muito gentil. Tão linda quanto um anjo! Seus olhos verdes me fascinam! Será que sabe que eu a amo? Será que se eu declarar a ela, serei correspondido? Às vezes temo que meus deveres como Mestre do Santuário possam ser um empecilho para nós...não suporto mais ficar longe dela!"

Fechou os olhos, relembrando os momentos que passou com Maya. Depois voltou à escrever:

“As estrelas anunciam...Atena retornará em um ano. E também predizem que morrerei em breve. Preciso preparar Mu para os tempos difíceis que virão, e deixar o Santuário em boas mãos. O jovem Cavaleiro de Ouro de Sagitário, Aioros, demonstra uma sabedoria e bondade raras em sua idade.

Acredito que será um sucessor ideal ao cargo de Mestre do Santuário. Saga, Cavaleiro de Gêmeos também possui as qualidades necessárias para tal cargo...mas acredito que não esteja ainda preparado para isso. Aioros será a escolha ideal.”

 “—Espero estar fazendo as escolhas certas.” -pensou antes de fechar seu diário e guardá-lo novamente.

Continua...