Eu só quero te ter por perto, cada vez mais perto...
Jéssica dirigia perigosamente pelas ruas do Jardim Europa fazendo os pneus do seu carro tilintar a cada solavanco quando freava o automovel crucialmente em um semáforo fechado.Buzinava ao mesmo tempo que insultava os pedestres e outros motoristas. Felipe não estava na Peripécia e ela estava irada o bastante para ignorar algumas normas sociais para boa convivência no transito.
Já fazia duas semanas que Felipe havia rompido com Jéssica, mas ela dispensava a ideia de que o desenlace fosse realmente definitivo.
Pra ela mesma, afirmava que ex noivo apenas manifestava um receio trivial a aquela transição. O matrimonio implicava em uma série de adaptações conjuntas então era esperado que Felipe se sentisse encolhido perante tais dilemas conjugais. E afinal que outro motivo levaria Felipe a desmanchar o noivado se não esse? Jéssica se opunha em conjeturar outra possibilidade. Era uma mulher prática e apesar de ser consciente das divergências de valores que os envolviam e que muitas vezes era responsável pelo desencadear de um discussão entre eles, achava que era o de menos.
Jéssica tratava seu casamento como uma união pecuniariamente equivalente, já que ambos orbitavam em torno da alta sociedade paulista . Por mais que afirmasse para todo mundo que o amava, sabia que se ele não possuísse um amplo apartamento em um dos bairros nobres da zona oeste e não fosse filho de Vitória certamente não o cumprimentaria nem com um breve aceno de cabeça.
Ela tratava a ultima conversa que havia tido com Felipe e que propiciou o rompimento como um surto passageiro dele... até aquele momento.
Era inadmissível que Felipe a tivesse esquecido ou simplesmente negligenciado todas as suas tentativas de reaproximação sem ao menos ter atendido a uma de suas numerosas ligações ou te-la procurado, arrependido e resignado.
- Ele só pode ter outra –Falou pra si mesma enquanto apertava ainda mais as mãos ao volante convicta que o flagraria com outra mulher assim que chegasse no apartamento dele. – Ah mas isso não vai ficar assim...
***
Shirlei nunca teve tanta dificuldade para finalizar um macarrão quatro queijos como naquele dia. Ainda sentia aquele formigamento corporal anestésico que lhe impedia de articular qualquer palavra quando serviu o almoço de Felipe.
- Eu deveria ter avisado que viria almoçar... – Felipe se desculpava ao notar que Shirlei se atrapalhava com os talheres – A Cris não é uma grande entusiasta de refeições completas e saudáveis, pra ela um hambúrguer e uma coca-cola já é o suficiente... acho que acabei te dando um serviço extra hoje. – Ele garfava a refeição sem desviar os olhos de Shirlei que parecia cada vez mais retraída – E também é uma boa desculpa, eu queria ter ver...
- O senhor queria me ver?? Me ver!! – Ela enrubesceu diante a menção que Felipe fizera, e não pode conter a exclamação seguida da pergunta.
- Você já trabalha aqui há alguns dias e nós nunca tivemos a oportunidade de conversar.- Ele desconversou - Quando você chega pela manhã eu já estou saindo para Peripécia e quando regresso ao apartamento você já esta indo embora... Desencontros fazem parte do nosso cotidiano não é? – Esboçou um sorriso que logo se apagou. Não é indicado sorrir com a suspeita de ter resquícios de macarrão entre os dentes.
- É, eu acho que sim... - Ela concordou simploriamente em um timbre descontente por ver o patrão apenas de relance algumas vezes quando o que queria era poder vê-lo todos os dias – Mas, não é serviço extra nenhum viu? O meu repertório culinario pode ser simples mas... se o senhor tiver preferência por algum prato mais elaborado eu posso aprender a fazer – Shirlei acrescentou solícita.
- Hmm, depois desse macarrão quatro queijos de hoje, acho que vou vir almoçar todo dia... – Felipe recostou-se na cadeira tentando lembrar-se da ultima vez que fizera uma refeição tão deliciosa.
Shirlei ia responder alguma coisa quando notou respingos de molho de tomate na camiseta azul marinho de Felipe.
- O senhor... É que... O senhor acabou manchando a sua camiseta.
- Ih Felipe, Felipe... É melhor eu ir trocar de camiseta...
- Eu vou pegar uma camiseta limpa pro senhor na lavanderia – Shirlei rapidamente se dirigiu até o cômodo mais pequeno do apartamento de Felipe.
***
As engrenagens do elevador começavam a se movimentar ascendentemente propulsando-o até o seu destino: 14º andar.
Jéssica já era conhecida no prédio em que Felipe morava, e ninguém a contestou se queria ser anunciada ou não até por que ninguém se atreveria aborda-la. Seu péssimo humor era visível, enquanto apertava impacientemente os botões do elevador, era como se um aviso de Afaste-se mulher irada pendesse em sua testa.
***
Shirlei após escolher meticulosamente uma camiseta na lavanderia para Felipe, se apressou a alcançar o quarto do patrão para entrega-la. Ao ultrapassar a soleira da porta a passos desmedidos acabou esbarrando no patrão que vinha igualmente precipitado na direção oposta.
A garota bamboleou o corpo para trás após o choque acidental quando o seu olhar caiu involuntariamente sobre o peitoril desnudo de Felipe. Ele estava sem camisa e ela foi assaltada por uma falta de fôlego repentina.
- Desculpe seu Felipe, eu não vi o senhor...
- A culpa foi minha, eu estou um pouco atrapalhado hoje quase te atropelei... de novo – Ele sorriu ante ao nervosismo habitual e dessa vez mais acentuado na empregada quando estava na sua presença.
Shirlei tentava recuperar o ar que se fazia cada vez mais rarefeito em seus pulmões enquanto se perguntava se a mudança brusca de temperatura naquele ambiente só era sentida por ela. Estava calor ali. Sentia suas bochechas corarem, o coração ribombar no peito e não fazia a mínima ideia de como afastar os pensamentos que a dominavam nem de como amenizar aquele tremor frenético ridículo que fazia suas mãos suarem. Felipe era absurdamente atraente e ela já antevia que seu patrão se tornaria em um (lindo) problema.
- Eu trouxe a sua camiseta... – Ela enfim conseguiu proferir alcançando a peça de roupa devidamente limpa que aquela altura queimava entre seus dedos.
Sem perceber, um sorriso impressionado despontava de seus lábios.
Felipe a contemplava sorridente.
- Ela é tão linda e tão pequena! – pensava enquanto se viu tomado por uma atração irresistível que o impulsionou instintivamente a dar meio passo a frente abreviando ainda mais o curto espaço que os separavam. Podia sentir a respiração arfante de Shirlei e ver com mais nitidez aqueles olhos que se desviaram furtivamente dos seus.
- A Porta... Tem alguém tocando a campainha... – Ela disse afastando-se sôfrega dele. Por mais que sentisse uma necessidade lancinante que nem ela compreendia direito de o querer cada vez mais perto dela, a sua racionalidade a despertava para a realidade: Ele era o seu patrão.
- A porta? – Ele perguntou confuso. Alguém quase esmurrava a porta da entrada de seu apartamento pedindo passagem mas ele estava tão fixado em Shirlei e alheio ao que acontecia a sua volta que nem sequer havia ouvido a campainha tocar.
- Eu vou atender... – Shirlei fez a volta se afastando rapidamente em direção a sala abaixando os olhos e fazendo um esforço enorme para não se mostrar perturbada pelos bíceps muito bem torneados de seu patrão.
- Felipe, Felipe... vê se toma jeito...- Sozinho em seu quarto ele repreendia a si mesmo - Mas que ela é linda, ela é...
***
Shirlei ria nervosamente se perguntando o que exatamente tinha acontecido para deixa-la tão zonza.
- Shirlei, tira isso da sua cabeça, ele é o seu patrão... – Ela ainda evidenciava um sorriso bobo quando abriu a porta.
- Ah Finalmente...– Jéssica adentrou o apartamento bufando e sem nenhuma cerimônia ignorando completamente a empregada.
- Shirlei? Quem esta ái?– Felipe surgiu na sala com a camiseta parcialmente aberta.
Jéssica o olhou primeiro, depois se voltou para Shirlei.
Compreendeu, equivocadamente, tudo.
- Estou atrapalhando algum divertimento seu Felipe?
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