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História Um conto de inverno - Uma tarde no rio


Escrita por: JotaSanto

Notas do Autor


Estou reescrevendo!

Capítulo 1 - Uma tarde no rio


Era maio e a chuva estava caindo como se não houvesse amanhã, as gotas geladas sob meu rosto e o som do vento uivando nos meus ouvidos me disseram que a chuva não daria trégua tão cedo. Enquanto corria para uma marquise passando pelo meio dos carros atravessando a rua, meus pés foram de encontro a uma poça no chão, esse infeliz acaso me deu uma mancha d'água que pintava minha calça jeans até a altura dos tornozelos.

O som dos carros buzinando em meio ao engarrafamento incitava em mim uma dor de cabeça infernal.

Na marquise pude fechar o guarda chuva, me balançar um pouco para tirar o excesso de água do casaco e fugir da chuva. Minhas luvas estavam molhadas, e minha toca, apesar de ter uma ajuda externa do guarda chuva, já caminhava para o curto caminho – dada as circunstâncias -  de se encharcar.

Dei uma boa olhada para a rua. Os carros parados com suas buzinas gritando incessantemente e as pessoas andando entre eles com seus guardas chuvas abertos e suas expressões vazias,as expressões de um fim de tarde em uma terça chuvosa, expressões de quem ainda tinha a semana toda para perder tempo de vida, em troca de uns trocados no início do próximo mês. Pena? Não. Eu também estou nesse barco.

Desviei meu olhar da rua me virei procurando um lugar para sentar. Olhei para o relógio : 17:45. um bom horário para se perder no mar de pessoas do rush. Atrás de mim havia uma porta de um edifício, um daqueles de centro, a porta era de madeira ornamentada com ferro, no centro um vão de vidro, também ornado com barras de ferro entrelaçadas, três para ser mais exato. A porta parecia antiga, mas por sorte havia um pequeno degrau de mármore no chão, perfeito para se sentar.

Sentei e comecei a me perder em  pensamentos.

Nebulosas no espaço, sentimentos alheios, talvez na minha família e a conturbada relação com meus familiares. Enquanto vivia minha brainstorm um barulho de trinco rosnou atrás de mim, acima da minha cabeça, quando olhei pra cima para averiguar, a porta se abriu e minhas costas foram de encontro ao chão de cimento queimado de maneira mais violenta do que gostaria, com um baque surdo e muita dor lá estava eu, deitado no meio do saguão – um corredor, na verdade, com uma escada em espiral no fim, que levava aos apartamentos – do edifício.

Pisquei por alguns momentos talvez tentando afastar a dor ou tentando enxergar direito, talvez os dois quem sabe.

-Tudo bem com você? A voz doce, com um forte sotaque estrangeiro veio de encontro aos meus ouvidos. – Rey abrra os olhos. Os tapas eram leves na minha bochecha, quase como pequenos golpes de travesseiro aplicados com certo amor materno.- Aa, parrece que está bem. E quando finalmente abri meus olhos, debruçada sob mim estava uma mulher.

A franja negra cobria sua testa e seu cabelo curto milimetricamente cortado chegavam até o seu fino pescoço, sua pele era branca, embora estivesse um pouco avermelhada pelo sol que tomava nos dias anteriores ao andar a pé pelo centro. Os olhos negros e profundos me encaravam de frente, sem medo, lançando um olhar superior, talvez não proposital. O nariz era fino e longo como sua cintura, e nos lábios segurava um cigarro.

Quando teve certeza de que eu estava em bom estado, se levantou e levou o isqueiro até a cigarro, acendendo-o.

Me sentei de novo enquanto ela dava uma tragada profunda no cigarro que ficou marcado de batom vermelho quando foi tirado dos lábios, deixava os braços cruzados expelindo fumaça pelo nariz.

- Não vai se lanvatarr parra eu passar? Quebrou o silêncio enquanto eu a observava de baixo.

Sob aquele ângulo ela parecia uma mulher imponente, com um cigarro entre os dedos, uma boina e um vestido negro de costas abertas que chegava até uns dois dedos do joelho. Nada de bolsa apenas a carteira de cigarros, que ela guardava embaixo do sutiã.

- Depende, vai me dizer seu nome? Peguei meus cigarros no interior do casaco, tirei as luvas, e acendi um.

- Nah. Secamente, com mais uma tragada, ela respondeu, com as órbitas negras sob mim.

Dessa vez eu levantei antes de falar. A mulher era um dedo mais baixa que eu. Aqueles enormes olhos me seguiam enquanto eu levantava e a cabeça dela levemente inclinada para cima não deram sinais de fraqueza, pelo contrário, me sentia mais inferior ainda, àquele monstro selvagem que estava em minha presença.

- E o que vc acha de eu subir para gente conversar melhor? Pela primeira vez, meus olhos se fixaram nos dela e senti como se nossas almas estivessem se tocando, e uma tímida onda de calor surgiu atrás das minhas órbitas.

A jovem ficou me encarando por um tempo em silêncio e os nossos cigarros queimando eram as únicas peças que produziam algum som no corredor.   

- clarro, venha comigo. Soltou antes de começar a subir as escadas. Não pude deixar de notar o modo majestoso como andava e chamava atenção, o seu quadril se mexia e seu jogo de pés fazia parecer uma dança sensual. Me virei para fechar o portão, e peguei a chave, que ela havia esquecido na maçaneta.

Logo depois, a segui rumo ao seu apartamento.

......

O interior do apartamento era bem simples, logo na parede oposta a porta se encontrava um sofá, com estofamento cinza que exibia as mais variadas manchas de vinho e alguma sujeira, uma estante que ficava imediatamente ao lado da porta e um tapete verde musgo. A mesa no centro da miúda sala não sustentava nada além de uma garrafa de vinho, uma taça e um gato preto dormindo.

Os livro na estante estavam jogados sem ordem alguma, desde filosofia até astronomia avançada, tudo em um turbilhão de páginas e títulos. Me incomodava o fato de não haver ordem ali, teve uma época em que esse fato não me incomodaria mas isso é passado, já faz algum tempo que a ordem e a organização se tornaram qualidades importantes para mim.

- Vou trrocar de roupa. Exibia novamente o seu andar gracioso e sensual, as pernas finas se sobrepunham com um ritmo mais lento e seus quadris se moviam para esquerda e direita conforme realocava seu peso. Estava indo em direção a uma porta localizada ao lado do sofá.  

- Não, pode tirar ela aqui mesmo, serei rápido. Balancei a mão no ar

Ela virou a cabeça, lançou um olhar pra mim, parou a caminhada e começou a se despir e vir na minha direção, e  conforme as peças caiam no chão meu desejo por ela aumentava e podia sentir o calor do seu corpo emanando pela sala. Me agarrou com forma e apertou meu corpo contra o dela, nu. Eu respondi a pressionando-a contra mim e beijando seu pescoço. Passei minhas mãos sobre toda a extensão de seu corpo pude sentir como sua pele era macia, depois apertei sua cintura e ela respondeu suprimindo um gemido. Foi quando mordi sua jugular com força.

O sangue que saia da jugular escorria por todo o corpo dela, enquanto eu sugava o que conseguia saciando minha sede de dois dias. Ela tinha alguns espasmos, que eu reprimia a segurando com mais força. O sabor daquele sangue era delicioso, jovem, e eu já não me alimentava a algum tempo. O espasmo final veio e pude sentir que sugava seu último suspiro de vida. Me deleitei por alguns momentos mais com as presas enterradas em sua pele aveludada, balançava o seu corpo, como quem balança um pote de qualquer coisa, tentado tirar até a ultima gota do liquido rubro. Quando ja era uma casca vazia, larguei o corpo sem vida no chão que bateu contra a pequena poça que se formava ali sujando metade do apartemanto com respingos de sangue

- Merda. Limpei o excesso de sangue da boca com minhas mangas e avaliei as avarias da minha roupa : A calça tinha respingos de sangue, as mangas estavam manchadas e a camisa igualmente tinha pontos vermelhos em sua extensão.

- Acho que sujei o tapete, mas esse verde merecia ser estragado. Resmunguei a mim mesmo.

Atravessei a sala, passando por cima do corpo sem vida da indigente estirado no chão. “Devia ter perguntado o nome dela…” Pensei enquanto caminhava. Me dirigi até a porta a qual ela estava indo antes de eu matá-la, abri e me deparei com um banheiro simples e compacto. O espelho se posicionava de frente para a porta, de modo que, quem abrisse a porta via seu reflexo antes de qualquer coisa, e comigo não foi diferente.

O reflexo mostrava minha verdadeira aparência, aquela que eu tento esconder a maior parte do tempo, a aparência de um predador em todos os sentidos. Quatro presas amostra, longas e mortais, duas nos caninos superiores e mais duas nos inferiores. Meus cabelos, curtos e castanhos levemente bagunçados e as órbitas oculares de castanho escuro tornaram uma tonalidade escura de vermelho, mais escuro que o rubro, talvez vinho, as sobrancelhas ficaram um pouco acima da posição normal, e eu mal conseguia fechar a boca. Minhas expressões eram animalescas, violentas, e o rastro de sangue em minha boca não me deixava mentir ou disfarçar quem eu era de verdade.

Tirei o casaco e a camisa social, azul com listras brancas. E respirei fundo, fechei os olhos me concentrando e deixando meu próprio sangue esfriar, não tardar pude sentir o sangue no interior das minhas veias correr mais devagar, principalmente em meu rosto, senti meu corpo esfriar e por fim minha respiração ficar mais leve. Fiquei ali, parado na frente do espelho, sem camisa e de olhos fechados por alguns momentos. E quando os abri meu rosto já voltara ao estado natural.

Não me leve a mal, eu não sou o cara mais bonito do mundo, olhos castanhos escuro, cabelo igualmente castanho escuro, uma barba lisa por fazer, o rosto fino, magro, talvez atlético, não passo de 1,77m com toda certeza.

Me abaixei para pegar minhas roupas e quando voltei a olhar para o espelho, havia um reflexo a mais além do meu, posicionado atrás de mim. Já escurecera e o apartamento estava com as luzes apagadas, apenas a luz em cima do espelho estava acesa e mesmo assim era  um pouco fraca demais, eu não conseguia identificar o reflexo que era apenas uma mancha negra parada no meio da sala. Não me sentia reprimido de modo algum e continuei a abotoar a minha camisa, e aquela silhueta continua a me observar. Terminei, liguei a bica e me abaixei para lavar o rosto, o som do jato de água inundava o local, e quando desliguei o silêncio ficou ainda mais perturbador. Levantei a cabeça novamente e o reflexo continuava lá. Confesso que comecei a ficar um pouco tenso nesse momento.

- Espero que se apresente logo, antes que tenha que quebrar o seu pescoço. Terminei de me arrumar e me virei para encarar o vulto de frente.

- Os seus hábitos alimentares continuam os mesmos, não é Rafael? A voz era claramente feminina, embora grossa, o tom entregava o sexo do suspeito.

O vulto se deslocou rápido sobre a extensão do apartamento e apertou o interruptor ao lado direito da porta de entrada jogando luz dentro da sala.

A mulher tinha cabelos vermelhos que chegavam até a cintura e olhos azuis profundos, era mais alta que eu e usava botas com uma calça jeans rasgada nos joelhos e uma camisa preta de banda americana. Seus seios eram pequenos igual aos ombros. Era magra e esguia, mas isso não tirava sua beleza natural. poderia facilmente ser uma dessas modelos norte americanas de dia e uma jovem punk reincidente a noite, as duas faces combinavam com aquela mulher.

- Anna, que surpresa agradável, não esperava vê-la tão cedo nessa noite de terça. Andei até a estante e comecei a observar com mais atenção os livros da cadáver, me pondo de costas para a nova personalidade na sala. Devo admitir que matá-la talvez tenha sido um erro, ela gostava de filosofia clássica e astronomia, discutirmos muita coisa se eu não tivesse saciado minha sede. Posso ter saciado minha sede física, mas meu intelecto ficou instigado pelo debate sobre a filosofia de Kant.

- A reunião geral é hoje, vamos reunir todas as famílias, você vai? O tom era sério e inquisitório.

Anna não era do tipo de pessoa que se brinque. A vampira era rigorosa, séria e justa. Dona de uma expressão única e um talento para fazer obedecer fosse por bem ou por mal. Não é atoa que agora era uma conselheira do regente da área, não sei quanto tempo demorou para ela se vender nem o porquê dela ter feito tal loucura, mas agora, não restava mais nada da antiga Anna que eu conheci a 140 anos, apenas uma personalidade pública em um grande jogo de poder… Apesar disso  ela ainda era dona de uma beleza instigadora e tinha um sorriso misterioso um rosto de traços leves e expressões fortes, olhos levemente puxados e rosto amendoado, poderia facilmente ser comparada a mona lisa de leonardo, exceto pelo fato da conselheira ser americana e ter presas.

- Hey, somos amigos certo? Só porque o regente te nomeou sei lá o que você não precisa me tratar mal. Não olhei pra ela enquanto falava, tentando demonstrar, sem sucesso, desdém. Peguei um livro da estante e comecei a folha-lo : “A arte Nórdica na europa medieval.”. Nada me interessava no assunto e eu era tão leigo quanto uma criança, mas só queria ter algo nas mão para me confortar um pouco daquele olhar que a Anna jogava sobre mim.

- Nós éramos amigos, Rafael. Acho que já se esqueceu o que fez comigo. Podia escutar os passos dela pela sala, até mesmo os que passavam por cima do sangue, fazendo um barulho peculiar, escutei ela se jogando no sofá, nesse momento me virei, mas continuei alternar o olhar entre o livro e ela.

Ela havia se sentado de pernas cruzadas e braços abertos no sofá de dois lugares.Depois de passar pelo corpo e pelo sangue ela deixara um rastro de pegadas do meio da sala até a posição em que se sentou, inclusive no horrendo tapete verde.

- O que? Ainda está chateada por Istambul? Anna, já fazem uns 30 anos. Esbocei um sorriso de canto da boca e encarei a vampira. Ela parecia calma e tinha uma expressão indiferente.

Eu e Anna já trabalhamos juntos por muito tempo. Antes de eu virar um andarilho do dia, e ter um título militar junto a um alto cargo na nobreza. Mas isso é passado, como minha amizade com ela. Não sei ao certo em que ponto ocorreu essa ruptura. Sei que não sou flor que se cheire, não me orgulho do que fiz nem das minhas atitudes no geral e se eu pudesse voltar no tempo teria mudado tanta coisa que no fim das contas acabaria sendo outra pessoa nesse momento, mas não posso mudar. O que está feito está feito.

Eu sabia exatamente o momento em que nossa amizade começou a enfraquecer, mas não sabia o exato momento em que o laço se rompeu, a incerteza de ideias me deixa inquieto e me incomoda o fato do clima que permanece entre nós : Extremamente profissional.

- Rafael, você me deixou no meio de três misticos, e me disse para segura-los que traria ajuda. A ajuda não chegou, você completou a missão sozinho e me encontrou dois dias depois no aeroporto com um buquê de flores e um cartão de desculpas. Ela fez uma pausa na fala, soltou um longo suspiro e revirando os olhos, completou : - Você sempre soube que eu odeio flores.

- Mas adora cartões de desculpas? Deu uma risada alta, tentando deixar o clima mais jovial. Sem sucesso algum.

Ela aparentava uma calma e continuava a me encarar com a expressão de indiferença enquanto eu ria... Eu sabia que não era por istambul. Sabia que, para Anna istambul pouco importava, assim como tantas outras situações parecidas. Ela tinha total noção que eu confiava na guerreira que ela era e em sua relação estreita com a espada e o escudo… Mas no fim das contas, agradeci a ela por não querer ir mais a fundo nesse assunto e ter dito uma situação aleatória como resposta. Eu realmente gostaria de fugir desse fantasma e deixar o passado no passado.

- Eu recebi uma ligação, e eu não sabia que eles estavam no quarteirão! Qual é. Fechei o livro e me virei para pôr de volta na estante.

- Tanto faz, vá a reunião, terá um anúncio importante hoje. O endereço é o de sempre. NÃO FALTE.

Quando acabou de falar ela s levantou e foi até a janela, se posicionando na sacada, um pé no chão e o outro engatilhado para pular

- É sério. E limpe essa merda de bagunça. Se você se alimentasse com mais frequência não teria que matar todos eles. Ela ficou de pé na sacada, pronta pra pular e virou o rosto para me olhar pelos ombros.

- O que eu posso fazer, se só sinto fome de tempos em tempos... Respondi com um sorriso cínico. – Posso ligar pra ele resolver isso? Apontei para o cadáver e a sujeira de todo o sangue.

- Deve.  Ela ficou de pé na sacada e o vento que vinha da corrente do 4 andar dançava sob seus cabelos.

- Ok, nos vemos a noite. Fechei o livro e acenei para ela.

-Sim.

Ela pulou, me deixando sozinho na sala com o cadáver um livro que eu queria jogar no lixo.

 


Notas Finais


Obrigado pela leitura! Vou tentar postar os capítulos de 15 em 15 dias!


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