História UM CONTO SEM FADAS - CAPÍTULO 64. NUNCA MAIS

Acordo no sábado já me sentindo ansiosa...não vi o Johnny e tão pouco tive notícias, mas decidi me arrumar, já que a consulta está marcada para daqui a duas horas.
Tomo um banho demorado, seco o cabelo e coloco um vestido vinho bem soltinho, coloquei um cinto bem fino acima da barriga na cor dourada, coloquei um salto e óculos escuros, não teve maquiagem que escondesse o inchaço dos olhos.

Desço para tomar o café e lá está ele, na cozinha tomando seu café e conversando com Clair.

_Bom dia, não te ouvi chegar.

_Você já devia estar dormindo!

Me servi de café, que mal passava pela minha garganta, insisti em uma fatia de queijo, não queria desmaiar de novo.

_Anne, vou pegar minha carteira e já estou pronto.

_Ok!

A indiferença dele me machucava como se fosse uma lâmina a perfurar minha pele.
Termino de comer, escovo os dentes e vou em direção à garagem, ele está na sala e me acompanha, abre a porta para que eu entre, depois se coloca a meu lado, estamos com motorista dessa vez.

_Nem uma única pergunta se quer...

_Como?

_Uma semana Johnny, não quer saber se estamos bem? Se algo novo aconteceu?

_Tenho falado com Clair diariamente.

_Hum... Entendo.

O silêncio voltou a reinar, me concentrei em acarinhar quem me restava...me distraio imaginando meus bebês, e sinto o olhar de Johnny sobre mim.

_Temos que pensar nos nomes.

_Sim, assim que o resultado do exame sair...

_Vai mesmo insistir nisso?

_Não é o que estamos indo fazer agora?

_Sim...

No consultório, os procedimentos foram bem simples, retiramos amostras de sangue (optei pelo método não invasivo) e assinamos alguns papéis.
O resultado sai em 15 dias, nesse tempo já estarei com minha vida decidida...

Johnny me ajuda a descer do carro, vou direto para o quarto e começo a arrumar minhas roupas nas malas.
Mike vem me pegar, sim é meu advogado, mas não posso pedir ajuda para outra pessoa e ele é a única pessoa que está por dentro de tudo.

Johnny está trancado no estúdio, penso em me despedir, mas não suportaria a indiferença dele.
Peço ajuda a um dos seguranças da casa para descer com as malas e colocar no carro de Mike.

Clair vê a movimentação e vem ao meu encontro.

_Anne, o que está acontecendo?

_Estou indo embora Clair, sei que você sabe o porque...

_O johnny sabe que você está indo?

_Não se preocupe, ele não liga...obrigada por tudo.

_Anne, espera...acho que deveria falar com ele antes.

_Clair não! Se achar que é seu dever avisa-lo, vá... Mas não o faça na intenção de me impedir, já estou de saida.

_Não acha que está muito tarde para sair? -a voz grave surge atrás de mim-

_Ela está indo embora Johnny! -Clair diz e se retira-

_Embora para onde? Não vai esperar o resultado do exame? Ou já não tem mais tanta certeza sobre o resultado?

Sem pensar eu acerto o rosto dele com um tapa, ele me olha surpreso e seus olhos escurecem.

_Ficou louca?

_Johnny, você ainda vai se arrepender, mas vai ser tarde de mais para voltar atrás. Estou indo morar sozinha, colocar minha vida no eixo, não se preocupe, nos dias de visita você será bem recebido.

Saio com o coração apertado, meus olhos marejados turvam minha visão e sinto o ar me faltar... Mike me acolhe em um abraço e o choro vem sem controle.

(MK) _Anne entra no carro, você precisa se acalmar.

Ele me leva até meu apartamento, o porteiro o ajuda com as malas enquanto dou um jeito no meu rosto.

(MK)_Anne você vai ficar bem? Não acha melhor chamar a Kim?

_Mike, por favor não comente com ninguém, como eu te pedi.

(MK)_Tudo bem, então se precisar de algo me liga...

Acompanho ele até à porta, fico pensando se não seria melhor abrir logo o jogo com a Kim, assim já paro de me iludir.
Resolvo ligar para ela e marcar um almoço para amanhã, mas ela não atende, então mando uma mensagem.

"Amiga, vamos almoçar juntas? assunto importante"

A mensagem foi visualizada, mas nada de resposta, chega então uma mensagem do Henrique.

(H) "Sua amiga está dormindo, mas eu estou acordado pensando em você"

"Não perca seu tempo"

(H) "Anne, sei que está zangada, mas eu estou aqui e sempre estarei pra você, me desculpa mas não escolhi sentir o que sinto"

"Não sei o que você fez, mas conseguiu o que queria, agora por favor me deixa em paz"

(H) "Não sei do que está falando... A única coisa que quero, não posso ter! A propósito, fiquei feliz pela novidade, um casal...você vai ser uma mãe incrível"

O que ele está fazendo agora? Porque voltou a ser o Henrique de antes, será que é bipolar?

"Graças a você, terei que ser mãe e pai, então é bom mesmo que eu seja incrível. Boa noite !"

(H)"Ele te deixou de novo?... Sinto muito Anne...queria poder te dar uma abraço agora, deve estar sofrendo muito."

Primeiro age como um perseguidor, agora isso...

"Você que vai precisar de um abraço quando eu contar a Kim o que aconteceu no seu apartamento."

(H) "Faz bem em contar... Só não contei para ninguém por sua causa. Dorme bem minha linda"

Só pode estar brincando comigo, se não foi ele quem contou ao Johnny, quem foi então? Ninguém mais sabia...

Passo o resto da noite lendo sobre maternidade, fazendo listas do que comprar, do que comer, e pensando em nomes...não tenho idéia de que nomes poderiam ter.
Nunca sonhei em ser mãe, nunca tive uma boa referência, nem lembro da minha mãe biológica, poderia homenagear alguém, mas quem, minha família? o homem que me deu como pagamento de uma dívida? A única conclusão é de que precisam ser facilmente pronunciáveis nos dois idiomas.
Abro o App de gravidez e me pergunto se o Johnny faz o mesmo.
"Aos 4 meses de gravidez o bebê mede cerca de 15 cm e pesa cerca de 240 g. já chupa o dedo e as digitais já estão formadas, apesar dos olhos estarem fechadas, já nota a diferença entre a claridade e a escuridão." 
Apesar de me sentir destruída por dentro, dessa vez é diferente, agora eu sei que nunca mais estarei sozinha.