1. Spirit Fanfics >
  2. Um estrangeiro em Paris >
  3. Oceanos

História Um estrangeiro em Paris - Oceanos


Escrita por: camieroux

Notas do Autor


Oi, gente! ♡
Como vão, leitorxs tão bregas e românticxs quando eu?

Como sempre eu gostaria de agradecer aos comentários maravilhosos que vocês me escreveram! Eles dão aquele gás pra continuar, sempre bom saber que estou fazendo algo útil e que agrada alguém. Agradeço também a todos os favoritos que a fanfic recebeu, obrigada ♡

Gostaria de informar que sou uma pessoa muito sortuda e rodeada de artistas!
Não sei se vocês repararam, mas a capa da fanfic mudou! Ela ganhou uma edição linda feita pela minha amiga Ana (Kokoro Tsuki)! Gente, fiquei apaixonada, de verdade, tô super me sentindo especial!
Além disso, a fanart capa desse chaps foi feita pela Dyh (PeixeGay), não ficou um luxo? Fala sério, eu sou muito rodeada de artísticas, socorr!
Meninas lindas e talentosas que me cercam, obrigada ♡

Nas notas finais tem o Segundo Bolão da Tia Camie Roux, participe você também!

Obrigada por acompanhar até aqui e boa leitura ♡

Capítulo 15 - Oceanos


Fanfic / Fanfiction Um estrangeiro em Paris - Oceanos

Enquanto sua mente trabalhava para realizar algum movimento, Camus sentiu um par de mãos em suas costas, empurrando-o com delicadeza até o barco. Estava tão estupefato que mal se dava conta do que fazia, apenas era guiado sem fazer objeções.

Milo gostava de si! Não havia mais como negar, não era algo de sua cabeça ou seus próprios sentimentos lhe pregando uma peça, Milo gostava mesmo de si. Como aquele grego incrível, bonito e alegre poderia gostar de alguém como Camus? Essa dúvida martelava insistentemente na cabeça do francês, brigando por espaço com sua ansiedade, insegurança e expectativa de rejeição futura.

Por todos os deuses do Olimpo, não conseguia nem andar sozinho, imagine só organizar a profusão de sentimentos que lhe invadia naquele momento?

Ao subir no barco, Camus notou que o irmão era o guia por trás dos movimentos realizados até então. Afrodite trocou de posição, ficando em frente ao ruivo que tanto amava.

– Está tudo bem? – Segurou a face do irmão com ambas as mãos, olhando preocupado para os olhos inquietos.

Com um leve manejar de cabeça como resposta, Camus sentiu que a embarcação começava a se mover. Precisava conter a tempestade dentro de si imediatamente, precisava fazer com que seu coração batesse mais devagar.

– Você pode conversar comigo? – Afrodite sorriu, achando engraçada a expressão confusa em sua frente.

Com um movimento quase imperceptível, Camus acenou negativamente.

– Dite, amore mio! Venha aqui! – A voz de Carlo pode ser ouvida, desviando a atenção do sueco momentaneamente.

– Não pense que acabamos, você vai me contar por que está assim! – Beijou a bochecha do irmão antes de se seguir para a proa do barco.

Camus permaneceu onde estava, segurando o corrimão de metal que rodeava a embarcação. Buscou em seu âmago o que desejava fazer naquele momento. Imaginou-se andando até o grego e puxando-o para um beijo, ali mesmo, na frente de todos. A cena em sua mente foi tão real que quase pode sentir os lábios desenhados moldando os seus.

Balançou a cabeça para afastar as vozes animadas da proa e se concentrar. Era tudo ou nada, precisava se decidir. Andou até o os amigos calmamente, buscando nos atos simples a sua frieza habitual, estava demasiadamente abalado e isso não o fazia bem.

Com passos leves, deteve-se ao lado de Mu, a pessoa que mais lhe passava segurança e neutralidade naquele momento.

– Sejam bem-vindos ao Sea Dragon. Meu nome é Kanon Halkias e eu serei o capitão hoje. – O gêmeos mais novo surgiu na proa com um quepe sobre as revoltas ondas aloiradas. Fez posição de continência, recebendo a risada de todos.

Saga desejou ardentemente poder beijá-lo naquele momento, mas se conteve. Os olhares dos gêmeos se encontraram e um sorriso cúmplice foi trocado antes do mais novo sumir cabine a dentro.

Camus, por sua vez, não conseguia se concentrar na alegria dos demais. Precisava se decidir.

 

O sol estava a pino e o mar cada vez mais claro. Os passageiros do Sea Dragon conseguiam ver boa parte do ecossistema abaixo de si devido à translucidez da água. Os amigos estavam sentados preguiçosamente no banco que circundava a proa, jogando conversa fora enquanto Milo olhava para o mar apaixonadamente.

Mu se sobressaltou ao lembrar de algo, ignorando a conversa paralela e se dirigindo ao grego.

– Ei, Milo! Ontem eu fiquei sabendo de algo interessante.

Todos se viraram para o tibetano, que prosseguiu.

– Você ainda está morando nas proximidades de Paris? – Tentou ser delicado e não chamar de periferia.

– Estou sim, por que?

– Porque eu tive uma notícia ótima ontem. Um dos apartamentos do oitavo andar do edifício onde o Dite o Camus moram está à venda. É um lugar ótimo e acho que seria perfeito para você.

– Hum... então Mu... – O grego tencionou responder, mas o outro não o deixou terminar.

– Eu vou comprar esse apartamento e seria um prazer para mim se você aceitasse morar lá até o fim do seu intercâmbio.

– Mu, eu agradeço muito, mas não posso simplesmente me mudar. E a área onde o eles moram – Apontou para os irmãos de olhos claríssimos a sua frente – é nobre. Eu não teria o dinheiro para um aluguel correspondente.

– Eu farei algumas pequenas reformas antes de anunciá-lo para aluguel. Você poderia tomar conta das reformas como pagamento e estaria mais próximo do seu orientador e da universidade.

– Não posso ficar em um apartamento sem pagar por ele, Mu. Eu agradeço de verdade, mas não acho isso justo.

O tibetano viu que nada sairia dali. Mas, por sorte, Shaka veio em seu auxílio.

– Poderíamos fazer uma petição para a Sorbonne passar a bancar sua estadia.

– Mas esse foi um dos acordos para que eu pudesse vir, meus irmãos me bancariam.

– Eu sei, o Kanon reclamou o suficiente de você. – Sorriu, bondoso – Mesmo assim poderíamos tentar. Tem dois promotores na família e nem pensa em apelar?

– O Milo é honesto demais para isso. – Camus, que tomava água em uma garrafa de plástico, resolveu se pronunciar.

– Burro, você quer dizer. – Interferiu Afrodite.

– Ei! Eu ainda estou aqui! – Milo reclamou.

– É burro sim, e orgulhoso! – O sueco continuou – Só é plausível ter um defeito grave de cada vez, meu amor. Ou se é burro, ou orgulhoso em excesso. Ambos deixam a situação agravada.

– Eu não sou orgulhoso, só quero ser independente.

– Você ainda não trabalha para ser independente!

– Milo, quer trabalhar para mim? – Camus, sombrio, mais uma vez se manifestou.

Todos se viraram na direção do francês.

– Como assim?

– Você está sendo bastante efetivo no meu próximo artigo. Se você quiser se comprometer oficialmente, posso te pagar como estagiário.

– Camus, é minha função como aluno orientado.

– Mas não com o afinco que você mostra. Você passa 24h por dia comigo, Milo. Vamos tornar oficial, trabalhe para mim.

Antes que o grego tivesse a chance de responder, Mu voltou ao assunto do apartamento do oitavo andar.

– Desse modo você poderia me pagar parte do aluguel, já que você se sentirá melhor assim.

– E iria morar a poucos andares do Camus. – O sueco completou com um sorriso sugestivo.

– Camus, eu... – Milo mirou os olhos frios do ruivo. Por frações de segundo cogitou aceitar. Seria realmente incrível estar tão próximo do professor, mas sua independência falava mais alto. Girou a cabeça em negação – Eu agradeço a intenção, mas estou muito bem no meu apartamento.

– Não, Milo, você não está! – O francês elevou a voz, assustando a todos. Mesmo sabendo que estava perdendo o controle, era seu dever continuar – Você mora em um bairro absurdamente perigoso, em um apartamento sem aquecedor, com janelas quebradas e mofo espalhado pelos cômodos. Você não tem um lugar confortável para estudar, para dormir ou até mesmo para comer. Faz tudo o que pode para permanecer na Sorbonne o máximo de tempo possível pois sua casa é um inferno. – Parou, respirando com dificuldade pelo nervosismo já há muito tempo acumulado – Isso tudo por orgulho, matando de preocupação todos que gostam de você. – Abaixou consideravelmente a voz – Não está tudo bem.

Todos os presentes encaravam Camus com assombro.

O francês se sentiu corar, havia falado demais. Amassou a garrafa vazia com força e se levantou, rumando para o quarto abaixo da cabine do capitão. Desceu pesadamente os degraus de madeira, deixando todos os presentes ainda mais pasmos.

Nesse instante o motor da embarcação foi desligado. Kanon surgiu na proa com um sorriso iluminado, trajando apenas uma sunga preta com detalhes brancos, estilo short, grudando nas coxas largas e torneadas.

– Hora do mergulho! – Andou até a borda do barco, se apoiando no corrimão de metal – Vejam só a cor dessa água! – Se virou para a turma, animado – Quem quiser pode mergulhar. Nesse pedaço não há animais perigosos e a água é mais rasa devido à bolsões de areia. – Pronunciou as últimas sentenças em quase sussurro. Não entendia o motivo de todos estarem tensos.

– Não vou mergulhar agora. – Milo se levantou em um pulo, o cenho franzido. Seguiu o caminho que Camus havia feito. Precisavam conversar.

– Ok. – Pronunciou a palavra longamente, seguindo o caçula com os olhos sem entender – Bom, vejo vocês lá embaixo!

Falando isso, o gêmeo mais novo correu ruidosamente pelo assoalho de madeira até o bico da embarcação, subindo no banco e, posteriormente, no corrimão de metal. Pulou se inclinando para trás, abraçou os joelhos e deu um belo mortal de costas.

 

Milo desceu os degraus e parou na porta da cabine, vendo o ruivo deitado na cama de casal. Bateu com os nós dos dedos no batente.

– Posso entrar? – Perguntou hesitante.

Camus se virou e indicou o lugar vago ao seu lado na cama.

O grego entrou lentamente e se deitou próximo ao professor. Camus sentiu o colchão ceder sob o peso do aluno e também se moveu até que ambos ficassem frente a frente, olhos nos olhos.

– Me desculpe ter sido um idiota lá em cima, eu não tenho nada a ver com a sua vida ou com as decisões que você toma.

– Não se preocupe com isso. – Milo sorriu gentilmente.

– Preocupo sim. Eu não tinha o direito. Além disso agi feito um completo idiota te expondo injustamente daquela maneira. É só que – Camus desviou o olhar – eu fico maluco ao pensar nas coisas que podem te acontecer naquele lugar.

– Sou eu quem deve desculpas aqui. Eu sei que sou teimoso e é difícil controlar isso, até. Mas a verdade é que eu realmente não vejo como posso estar errado morando onde estou.

– Você não está errado.

– Camus... sobre o que eu disse na praia...

O coração do francês falhou momentaneamente. Camus havia pensado sobre. Havia se decidido. E não acreditava que havia sido capaz de tomar essa decisão, não acreditava mesmo.

– Milo, eu preciso deixar algo claro.

– Não, eu ainda não terminei.

Apesar de surpreso, Camus deixou o aluno continuar.

– Eu não ligo de estar na França. Não tenho um objetivo definido como o seu, posso ficar aqui e... ver o que acontece. – Olhou para o colchão. O que estava acontecendo consigo? Não estava conseguindo ser direto.

– Você tinha um objetivo ao chegar, não tinha?

– Sim. – Voltou a encarar os olhos do ruivo – Era conhecer você. Tudo bem que haviam outros planos, mas isso não importa. Nenhum deles é mais importante do que ficar aqui. Planos são mutáveis.

– Os meus não. – Disse firme, surpreendendo o grego – Eu sinto muito, Milo, mas meus planos não são mutáveis. Eu mirei a Sorbonne durante muito tempo e me esforcei muito para chegar onde estou. Não vou abrir mão disso. – Viu a surpresa nos olhos do mais jovem e completou – Por nada.

– Entendi. – Pestanejou algumas vezes até conseguir diluir a surpresa e o sentimento de recusa. Então isso era gostar de alguém e não ser correspondido?

Ia se levantar quando sentiu dedos hesitantes se fecharem em seu antebraço.

– Milo...

Por alguns segundos o loiro teve esperanças. A fechada de frieza de Camus parecia ter trincado, como se não fosse algo inquebrável.

– Desculpe, mas eu não posso tentar.

Milo se soltou do toque com aspereza.

– Eu entendi da primeira vez, Camus.

O grego mirou os olhos claros com uma mescla entre tristeza e orgulho antes de deixar o quarto. Camus se levantou com a pretensão de segui-lo. Mas para que? Não tinha falado tudo o que queria?

Milo não poderia amá-lo para sempre. Ninguém poderia. Ele era uma pessoa complicada, acorrentado a uma situação frágil, que poderia se quebrar a qualquer momento. Se a Sorbonne desmoronasse, tudo iria desmoronar. Todo o seu débil castelo de cartas iria ruir.

Uma avalanche de memórias e sentimentos o invadiram e ele quis chorar. Levou a mão a boca, respirando fundo e reassumindo seu delicado autocontrole.

Acima de si, ouviu Milo se despedir dos demais, seguido pelo som de um mergulho. Percebendo que seria uma oportunidade segura de se juntar ao grupo e evitar perguntas sobre seu isolamento, Camus resolveu subir as escadas para a realidade que o esperava dali em diante.

 

Afrodite se lambuzava de protetor solar, conversando amenidades com Shaka e Saga quando viu o irmão retornar a passos frouxos. Pediu licença aos amigos e andou até Camus, segurando as mãos ainda mais geladas que de costume entre seus dedos delicados.

– Ei, aconteceu algo?

– Não, nada. – Disse indiferente. Sabia que o sueco perceberia que havia algo errado, mas os outros não.

– Beleza, ruivão, vai lá. – Soltou a mão tão alva quanto a sua e espanou uma poeira invisível do ombro de Camus, sorrindo. Ele havia percebido, mas o francês insinuou que conversassem depois.

Camus se desfez das roupas que usava, mantendo apenas a sunga. Iria mergulhar como os outros, indo para o mais longe que seu corpo permitisse, sem se importar em guardar energia para a volta. Quem sabe suas forças se extinguiriam, impedindo seu retorno e fazendo com que todos os seus problemas desaparecessem como fumaça em temporais de neve.

 

Após o salto de Camus, o trio restante se inclinou à bombordo para ver os mergulhadores sob as águas claras.

Mu e Carlo nadavam tranquilamente de um lado para o outro, contando novidades e jogando conversa fora. Ambos eram amigos desde que o italiano começara a sair com Afrodite, adentrando para o grupo “exilados em Paris”. Mantiveram-se próximos ao barco, esticando o corpo quando seus amantes se inclinavam para beijá-los.

Kanon, por sua vez, nadava com uma perfeição excepcional. Seu corpo ondulava, levando-o para onde queria. Buscava algo para Saga, já que sempre escolhia algo bonito e chamativo para oferecer ao mais velho, tocando em tudo sem o menor vestígio de medo. Subia à superfície, buscava pouco ar e retornava à submersão. Pegava em pedras, bichos, corais, cutucava, sacudia...

Já Milo nadava com tanta habilidade quanto o irmão. O corpo desenhado cortava a calmaria das águas de modo rápido e hidrodinâmico. Seu ambiente não era aquele, como era o de Kanon, mas Milo era bem-vindo. Tudo que o grego queria era esfriar a cabeça e aquele momento era bastante propício para isso. Subiu à superfície, buscando o máximo de ar que conseguiu e deixou-se afundar lentamente até sentar na areia macia, fechando os olhos para pensar. Maldito o dia em que quis ir para Paris, maldito o dia em que ele resolveu se apaixonar por seu tutor. Talvez se ele soubesse quem era Camus quando chegou atrasado na aula de retórica tudo isso teria sido evitado.

Mas esses sentimentos iriam sumir, ele iria seguir em frente.

 

 

Após um tempo, Camus foi o primeiro a retornar. Girou a cabeça com força ao parar em frente ao barco, fazendo com que todo o seu cabelo fosse arremessado para o lado, grudando em sua face e pescoço. Olhou para cima com a boca entreaberta e diversas gotas escorreram por seu rosto alvo. Saga ofereceu a mão em ajuda e, em pouco tempo, o ruivo se uniu aos demais na proa.

– Seja bem-vinda de volta, Ariel. – O sueco o cumprimentou sorrindo de modo doce.

– Perspicaz. – Devolveu o sorriso e sentou-se ofegante, pegando o assunto pela metade.

– Mas a verdade é que o Kanon é muito grego.

Afrodite riu.

– O que quer dizer?

– Ele não gosta de Paris. Ele precisa de sol, mar, areia... e eu preciso dar um jeito de voltar.

– Por que vocês saíram? – O sueco questionou.

– Honestamente, sem motivo válido. Eu gostaria muito de achar um profissional da área trabalhista competente para conseguir nos levar de volta sem ter que abrir mão do cargo público.

– Isso é tão estranho. Trazer dois gregos para a promotoria de outro país é bem mais complicado do que simplesmente advertir vocês por algo. – Shaka participou da conversa.

No fundo, Saga sabia que alguém da promotoria havia suspeitado de seu relacionamento com Kanon. Contudo, havia se certificado que ficassem apenas na suspeita, sem evidências comprobatórias. Apesar disso ele não conseguiu evitar o afastamento de ambos.

– Exato. – O gêmeo mais velho suspirou, resignado.

– Talvez eu conheça alguém que possa ajudar. – Disse Camus.

Afrodite sorriu, sabia quem era esse alguém.

O momento de paz foi quebrado pelo barulho de alguém saindo abruptamente da água. Kanon surgia com um pedaço de coral em tons de roxo e rosa.

– Saga, Saga! Veja! – Disse alto e animado, assustando a todos.

Após alguns segundos para se recomporem, os quatro se mexeram novamente.

– É lindo! – Riu gostosamente do entusiasmo do irmão.

– Pra você. – Ofereceu com o braço em riste.

– Obrigado. – Saga pegou o coral da mão do mais novo com um sorriso no rosto – Kan, o Camus vai nos indicar um advogado para tentarmos retornar à Grécia. – Sentado no banco despretensiosamente, viu o gêmeo mais novo buscar um sanduíche e se sentar entre suas pernas no assoalho de madeira.

Kanon fez um muxoxo de satisfação com a boca cheia, enquanto Carlo e Mu subiam com a ajuda dos demais.

Após a pequena confusão do regresso ao barco, todos, exceto o caçula dos Halkias, se sentaram na proa.

– O acham de a gente almoçar? Já está mais ou menos na hora. – Disse Mu.

– Eu acho uma ótima ideia. – Concordou Saga – Kan, chama o Milo para comer com a gente.

– Chamo sim, pode deixar. Jogue aquela boia no mar, por favor. – Apontou para uma boia vermelha no convés. Se levantou e com pouco esforço subiu no teto da cabine do capitão. Primeiro correu para depois se jogar no mar com outra cambalhota. Nadou a braçadas alternadas na direção de Milo, levando consigo a boia lançada.

Quando finalmente alcançou o caçula que flutuava tranquilamente nas águas cristalinas, Kanon tocou em sua face já avermelhada para indicar que queria conversar. Ambos ficaram frente a frente, usando o objeto vermelho como apoio.

– Maninho, quero bater um papo com você.

– Hum.

– Você e o francês conversaram, não foi?

– Sim, conversamos... – Suspirou resignado, debruçando o corpo sobre a boia.

– E? Quer me contar? – Insistiu.

Após uma pausa, Milo voltou a se pronunciar.

– Na verdade eu quero sim. – Viu Kanon acenar com a cabeça, incentivando-o – Eu meio que me declarei lá no porto.

– Sério? Até que enfim! E o que ele disse?

– Ele me deu o fora.

– Com todas as letras?

Milo suspirou, nunca havia desejado tanto estar naquele muquifo que ele chamava de casa. Era nessas horas que ter seu próprio canto valia a pena, ele só queria que o dia terminasse.

– Sabe, Kan, gostar do Camus foi muita burrice.

– Mas você não escolheu gostar do francês, Milo.

– Eu sei, mas... eu ainda estou meio perdido, sabe? É um sentimento inédito e eu não sei bem como lidar ou o que devo fazer.

– Maninho, isso é normal. Pelo o menos o Camus foi sincero com você e não começou algo que não poderia terminar. Isso significa que ele respeita seus sentimentos.

– Isso não me faz sentir melhor.

Kanon sorriu.

– Milo, eu sei que é clichê, mas você tem a vida inteira pela frente. Esse foi só o seu primeiro amor, logo passa. É raro encontrar a alma gêmea de primeira e está tudo bem. Além do mais o Camus é professor da Universidade de Paris, vai ficar nessa pra sempre. Já você tem o mundo inteiro aos seus pés.

Viu o mais novo fazer uma careta.

– Anda logo, você já saiu com mais gente que eu e o Saga juntos, consegue qualquer coisa!  Você está em Paris, frequente festas, vai conhecer gente!

Milo tentou sorrir. Sim, ele seguiria em frente.

 

 

A refeição começou quando todos se uniram no barco. Camus havia combinado de levar o almoço e os gêmeos se encarregaram dos lanches e bebidas.

Milo percebeu o quanto o professor ficava bem de sunga preta. Prestou atenção quando o francês inclinou o corpo para frente e a barriga transformou-se em uma parede sólida de músculos abdominais compactados pela curva que seu corpo fazia. Era possível contar os quadradinhos. Milo entreabriu os lábios, tamanha semelhança do corpo de Camus ao de uma estátua grega esculpida em mármore. Se não fossem os mamilos rosados e pequenas sardas salpicadas pelo seu colo e ombros, não poderia afirmar com certeza se Camus era um homem ou a tal escultura.

Já o francês observava o porte do aluno, os ombros largos e a sunga branca, como já havia feito antes. Lembrou-se do dia da festa e invocou todos os deuses para que não tivesse uma ereção naquele momento. Cores claras de tecido se destacavam de um jeito excepcional no corpo largo e bronzeado do aluno.

Todos riram e conversaram amenidades no almoço. Milo e Kanon voltaram para a água logo depois, ignorando as reclamações dos demais que insistiam para que esperassem um pouco. Afrodite dividiu protetor solar com todos e Saga subiu um toldo para fazer sombra na proa.

Passaram a tarde se conhecendo melhor. Saga e Camus se deram muito bem, ambos gostavam muito de Milo e queriam que este tivesse o melhor que o mundo pudesse oferecer.

Haviam tido um passeio agradável.

 

 

Por volta das 17h, todos decidiram que era hora de voltar.

– Bom, pessoal, eu gostaria de agradecer a presença de vocês e me desculpar por não ter passado tanto tempo interagindo. No mais, Saga é mais agradável que eu de qualquer modo, vocês saíram ganhando. – Kanon disse com a voz grave e todos riram.

Enquanto os gêmeos seguiam para a cabine do capitão, todos se puseram a arrumar suas coisas. Quando se aproximaram na praia, dois homens já esperavam no porto, auxiliando a chegada do Sea Dragon. O fato de Kanon ser um cliente assíduo e confiável fez com que todos pudessem ir embora sem maiores burocracias.

Todos se despediram calorosamente com agradecimentos intermináveis após tudo ser guardado nos dois carros.

Vendo que os presentes portavam os lugares da ida, Milo olhou para o Cadillac e, temendo ser o tema de conversas fortuitas até Paris, optou por sentar ao lado de Camus.

– Milo, pode pegar o iPad do Camus para mim, por favor? – Carlo se pronunciou, esticando-se entre os bancos da frente e apontando para o porta luvas.

– Claro.

O italiano se pôs a escolher uma playlist para a viagem de volta.

Apesar de não haver um consenso sobre o silêncio que se instalara, Milo e Camus se sentiam desconfortáveis. Afrodite, sempre perspicaz, desbloqueou o celular com o intuito de conversar com o amigo. Camus tinha a ocupação de dirigir, não se preocuparia com ele.

“Vocês conversaram?” – Teclou e enviou, vendo Milo buscar o celular no bolso da frente do jeans.

“Sim. Ele me deu o fora.”

Afrodite parou por alguns segundos com o celular suspenso, olhando alternadamente para os bancos a sua frente. Crispou os lábios finos e jogou o aparelho sobre o assento.

– Ei! O que houve? – Sussurrou Carlo.

O italiano recebeu apenas a palma do amante sobre a sua, indicando que conversariam depois.

As horas seguintes foram de puro silêncio. Carlo, apesar de confuso, nada fez. Sabia reconhecer a situação em que se estava, era a famosa oportunidade de ficar quieto. Não a desperdiçaria.

Os carros se separaram em Paris. Camus seguiu para a periferia com a certeza de que seria a última vez que deixaria Milo em casa. Sofreu antecipadamente, sabendo que teria que pedir para subir até o 302 em dezembro, quando o aluno retornasse à Grécia, para se despedir internamente de algo intenso que marcaria a sua vida para sempre.

Ironicamente, algo que nunca teve.

 

Já no edifício onde os três moravam, o ruivo estacionou precisamente em sua vaga, se preparando para os sentimentos de solidão que retornariam. Pegaram o elevador em silêncio, parando no décimo primeiro andar.

– Mask, pode ir subindo, tenho que conversar com o Camus. –  Afrodite seguiu o irmão sem esperar por uma resposta, ouvindo a porta do elevador se fechar atrás de si.

Após estarem dentro do apartamento do francês, o loiro despejou.

– Então você e o Milo finalmente tiveram uma conversa esclarecedora.

Camus suspirou, soltando a caixa de isopor no chão e se virando para o irmão.

– Sim, nós tivemos. – Disse frio.

– E você o deixou ir.

– Dite, o que mais você esperava? – Estava cansado.

– Não sei, que talvez isso pudesse ser um início... – Começou a andar de um lado para o outro – O início da sua liberdade...

– Eu não estou preso. – Camus insistia em manter a postura fria e indiferente, cruzando os braços sobre o peito forte.

– Sabe qual é o problema, Camus? Eu amo você. Esse é o problema. E, amando você, eu não vou conseguir ser feliz enquanto você não for feliz, entende?

– Dite, – andou até o irmão, segurando a face delicada entre suas mãos abertas – eu sou feliz.

– Não! Você não é! – Se esquivou bruscamente – Você vive acorrentado a um homem que nunca se importou com quem você realmente é!

– Não me venha com isso de novo. – Finalmente Camus estava sendo vencido pelo cansaço.

– Não estou começando, Camus. Você não vê? Sua vida é baseada “nisso”. – Fez o sinal de aspas com os dedos, nervoso – A minha vida é baseada nisso! – Gritou.

– Do que está falando, Dite? – Sussurrou.

– Camus, eu te amo muito. E eu sempre estive aqui, não estive? – Viu ruivo balançar a cabeça positivamente, mesmo sem entender aonde queria chegar – Você vive numa sombra, na sombra que seu pai te deu. Você se mata para encaixar nessa sombra, mesmo ela não servindo pra você. Ela não pertence a você, Camus.

O francês apoiou o corpo no encosto do sofá e abaixou a cabeça, deixando a franja farta lhe cobrir a face. O sueco prosseguiu, bastante alterado.

– E sabe o que é pior? Aquele detestável do Raul nem é seu pai! Você sempre quis a aprovação desse maluco, racista, homofóbico e patriarcal sendo que já tinha um pai! O meu pai, o nosso pai, o homem que nos criou com amor e carinho, o homem que jamais se perdoou por não ter conseguido ser bom o bastante pra você! – Apontou o indicador em riste para Camus, que levantou o rosto para receber a acusação.

– Dite...

– O MEU PAI – Disse alto, cortando qualquer sentença que saísse da boca do mais velho – sim, é um pai. Ele aceita as pessoas como elas são. E você o recusou por burrice. – Apoiou-se na mesa de jantar.

– Dite, o que isso tudo tem a ver com o fato de eu ter dispensado o Milo? – Sussurrou.

– Tem a ver com o fato de você ter, mais uma vez – Frisou as últimas palavras – estragado uma ótima oportunidade de se livrar dessa prisão que o Raul te trancafiou!

Viu Camus piscar, expulsando quaisquer vestígios de lágrimas que pudessem e rebelar. Contudo, não se intimidou.

– O Milo gostava de você. Para mim era verdadeiro. – Fez uma pausa para depois prosseguir – E, honestamente, eu nunca te vi tão interessado por alguém. Mas, que diferença faz, não é mesmo? – Sorriu, cínico, em meio as suas próprias lágrimas – Afinal, ele é só mais um que não foi bom o bastante pra você.

Após uma longa pausa o sueco decidiu continuar, porém mais calmo.

– Camus, quando você vai entender que eu só serei feliz quando você for feliz?

– Isso vai passar.

– O que?

– Você será feliz.

– Só quando você for. – Repetiu.

– Não. Você vai embora, vai se casar com o Mask, vai viajar pelo mundo em exposições, vai ser feliz...

– Você não entende, não é?

Os olhos então avermelhados do mais velho o fitaram.

– Eu te amo com tanta força, Camus, que dói.

O ruivo não entendia.

– Eu sou aluno de Belas Artes. Todos os meus amigos já viajam pelo mundo, expõem suas obras, se apresentam. Eu não. Eu estou aqui, esperando você ser feliz – Sua voz saiu embolada devido ao choro. Fungou, colocando o dorso da mão direita sob o nariz enquanto chorava mais – Eu não conseguirei ir enquanto não souber que você está feliz, seu idiota!

Imediatamente, Camus correu para amparar sentimentalmente o irmão. Abraçou o mais novo com força, acomodando a face molhada em seu peito. Correu os dedos sobre os fios loiríssimos e apoiou seu queixo sobre o topo da cabeça do sueco que soluçava.

Sentiu os braços delicados enlaçarem sua cintura e a intensidade dos soluços diminuir.

– Me desculpe, Dite. – Disse com a voz grave, beijando os fios aloirados em seu peito.

– Eu espero que você sofra vendo o Milo com outras pessoas. – A voz saiu abafada devido ao abraço apertado – Quem sabe assim você aprende. – Disse manhoso.

– Justo. – Camus sorriu.

Brincadeiras à parte, realmente o inferno de Camus começaria no dia seguinte. E ele sabia disso.

 

 

 

Parece que há oceanos

Entre mim e você mais uma vez
Nós escondemos nossas emoções
Sob a superfície e tentamos fingir
Mas parece que há oceanos
Entre você e eu

 

Trecho da música Oceans da banda Seafret


Notas Finais


Primeira coisa: eu não fumo, eu não gosto de cigarros e eu não quero influenciar ninguém com essa fanfic, ok? Eu recebi comentários sobre o Camus fumando e ressalto que não concordo com isso. Só queria mostrar o quão desesperado ele estava naquele momento, que ouvir Lana Del Rey enquanto bebia vodka não foi suficiente, hehe

Além disso, o desespero do Camus, assim como a relação dele com o pai vai ser explicado muito em breve! Espero que vocês não odeiem esse bb ruivo, ele tem seus motivos e vai sofrer consideravelmente com a decisão que tomou.

SEGUNDO BOLÃO DA TIA CAMIE ROUX

Gente, vocês pediram treta, aí vem treta ò.ó (mentira, tava no roteiro, eu não sou vingativa)
Camyu realmente deu o fora no Milo, que coisa, não? Declaro aberta a primeira temporada “Camus sofrendo em Paris”!
Pra melhorar, capítulo que vem chega um personagem novo! E, adivinhem só, é ex de um dos dois! E aí, quem vocês acham que é essa pessoa nova e de quem ela será ex?

A vencedora (ou vencedor) pode escolher o prêmio!

Obrigada por ler até aqui!
Um beijo ♡


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...