História Um fim de Inverno para não se esquecer - O Grande Dia (part. III)

O mais novo e poderoso casal seguiu para um lugar incrivelmente privilegiado do Seireitei. Ainda que a montanha Soukyoku fosse alta o suficiente e desse uma ampla visão de toda a Soul Society, nada se comparava ao Lago das Almas. As histórias eram divergentes entre si, mas sempre tinham o mesmo significado no final das contas: "O lago era uma janela para os que já morreram e que eles cuidavam de seus entes queridos. "

Não, eles não iriam comemorar o casamento em um grande banquete, festa ou baile. Eles iriam fazer algo que nunca fora feito por alguém antes, algo tão belo e simbólico que, não precisava de explicação para aquilo. Todos os convidados se reuniram as margens do lago e começaram a rezar ou melhor dizendo, pedir algo para alguém que já morreu. Gestos nobres e simples, mas que realmente mostrava o seu valor perante à sociedade e para todos os presentes, mesmo a minoria ( no caso nobres)  discordando totalmente dos atos. Depois de um tempo, seguindo a atitude do casal, cada um ali presente esperançassua lanterna no lago e delicadamente a empurrou enquanto viam elas iluminarem o fim de tarde. Lágrimas salpicavam os rostos de muitos e em outros, o choro já se era visível. Eles estavam ali para um último "Adeus" aos seus companheiros e amigos desde os momentos bons até os momentos difíceis em que acharam que não iriam conseguir.

As gêmeas Kurosaki haviam ido para a cerimônia e correram para Isshin chorando. O homem apenas abriu os braços para as duas meninas e para seu filho tão instável e cabeça oca quanto ele, os recebendo em um abraço não contendo mais as lágrimas. Eles estavam se despedindo de Masaki Kurosaki e dos sentimentos depressivos que os assolaram por tempo demais. Nem mesmo ali, Ichigo deixou de se culpar, mas do quê ele tinha culpa? Era uma criança e sua inocência e desejo de proteger falaram mais alto que tudo. Sua mãe era uma esposa maravilhosa,uma melhor amiga e uma mãe amorosa para si e para suas irmãs. 

Rukia via sua lanterna ir embora lentamente, se sentindo com o pior sentimento de perda do mundo. Primeiro a perda dos pais, depois o abandono, em seguida ela fez alguns amigos e depois eles vieram a falecer. Sua entrada na Academia foi o maior marco, afinal ela foi adotada por nobres, criada como uma deles, engressou no JuuSan Bantai e ali teve sua perda e pecado: Kaien Shiba, seu tenente, seu amigo, seu professor, seu confidente e que mais tarde, ela iria descobrir que era um ótimo irmão e primo de seu melhor amigo. Sua lanterna era para ele, para a esposa dele e para sua irmã Hisana que, onde quer que estivessem, estariam olhando por todos, especialmente por ela. Sentiu os braços de Byakuya em torno de si e ali baixinho, ela chorou.

O nobre capitão do Roku Bantai estava no mesmo estado que sua irmãzinha, mesmo sendo frio e calculista, ele tinha sim sentimentos e um coração de carne que igualmente sofreu com as perdas. A perda dos seus pais, dos seus primos e de alguns tios  quando mais novo, mecheu muito consigo. Claro que, como herdeiro do clã ele precisava de uma esposa e uma descendência sua,por isso em uma de suas caminhadas pela bantai com seu avô enquanto tentava esfriar a cabeça, conheceu Hisana e se apaixonou pela mulher que ela era. O casamento não foi aprovado de início,mas quem não se encantava com ela?! E foi isso que aconteceu, mas Hisana morreu em uma manhã de primavera e lhe deu Rukia, a filha que não puderam ter. Ele a confortava enquanto dizia que estava  tudo bem.

Hinamori, Abarai,  Izuru e Hisagi perderam amigos, esperanças e quase suas vidas. Embora fossem amigos de longa data,  eles se odiaram em um momento. Esqueceram da promessa de nunca abandonar ou brigarem entre si. Esqueceram seus valores e suas prioridades. O peso da culpa estava ali para quem quisesse ver, mas afinal de contas, de quem era realmente a culpa?Do Aizen ou de suas escolhas? Eles entregaram de bandeja para Aizen suas fraquezas e seus sonhos, ele somente as manipulou da forma que lhe convinha. Já era hora de aprenderem com seus erros e crescerem, mesmo que dissessem que não tinham culpa e que eram jovens, eles sabiam que também tinham sua parcela de culpa, mas era o momento de se livrar de todo aquele sentimento e o alívio que cada um deles sentia, era mágico. 

Yamamoto também teve suas perdas irreparáveis durante a sua trajetória de vida. Ele perdeu esposa, filhos, noras e netos enquanto vivia em um dos distritos de Rukon, embora ele tenha lutado contra aqueles Hollows, já era tarde demais. Foi nesse momento que ele decidiu que não iria deixar mais ninguém morrer,pois aquelas pobres vidas e almas mereciam descanso e paz. Ele criou a Academia Shinigami e juntamente com Ichibei e alguns clãs nobres, ele deu início aos Ceifeiros de Almas,homens e mulheres que não temiam à morte. Foi aí que apareceu em sua vida três crianças distintas em personalidade e caráter, mas que mudaram todos os seus conceitos. Ukitake Juushiro era um garoto de cabelos negros e pele alva muito bondoso e gentil, mas sua saúde era comprometida, ninguém colocava muita fé nele, mas mudaram de opinião rapidinho ao verem o quão talentoso e inteligente o menino era. Unohana Retsu era uma garota turrona e séria demais para a pouca idade, tinha cabelos negros e seu olhar era um tanto frio e calculista, demonstrava também grande reatsu e habilidades invejáveis com espadas, mas fora isso, tinha um bom coração,era amável e cordial. Kyouraku Shunsui era a sua dor de cabeça ambulante, era um garoto poderoso e bonito, mas era preguiçoso e mulherengo, contudo ele compensava em velocidade, perspicácia e inteligência. Essas três crianças se tornaram seus pupilos e depois seus soldados, para enfim se tornarem capitães de suas bantais, além de serem conhecidos pelos seus feitos. A vida lhe tirou tudo, mas te deu três filhos e agora lhe daria a chance de ter seus netos.

Ichimaru e Matsumoto perderam muito tempo de suas vidas perdidos em seus mundos e ambições. Sim, eles eram egoístas e mesquinhos, mas era algo de natureza.  Ele por tentar ser um vingador com suas próprias mãos, achando que poderia acabar com a maldade  e fazer justiça sozinho. Ela por se preocupar tempo demais com sua aparência e gastar noites em bares do Seireitei, não dando muita atenção para os acontecimentos até aquele dia horrível. Foram dois egoístas e mesquinhos que esqueceram de seus amigos e daqueles que realmente lhes acolheram como partes de suas famílias. Estavam arrependidos e agora depois de tanto tempo, resolveram mudar os seus conceitos e serem pessoas melhores, aquilo somente serviu como um pontapé inicial. 

Os vaizard's perderam tudo e sofreram por séculos até serem considerados inocentes. Quanto sofrimeto passaram e a injustiça que sentiram na pele, jamais serão apagadas. Eles perderam suas famílias, seus lares,  seus cargos,  suas honras, suas dignidades, suas vidas e suas liberdades. Viveram na escuridão e nas sombras por séculos esperando o momento para se vingarem, então vigiaram Kurosaki Ichigo e no momento oportuno, o ensinou tudo o que sabiam ganhando em troca amizade, carinho, compreensão e aceitação. Quando a Guerra estourou, eles finalmente puderam lutar por suas razões egoístas e pelo garoto hiperativo. Com a vitória e com a verdade descoberta, puderam regressar para a Sociedade das Almas e para suas vidas, mas o destino foi cruel e bondoso ao mesmo tempo, Lisa que esperava gêmeos perdeu um dos bebês devido a consequência da batalha, mas ainda tinha o outro em seu ventre  que nasceria dentro de dois meses. 

Kisuke, Tensai e Yoruichi nunca se arrependeram de suas atitudes e mesmo que no começo havia sido difícil  para todos, eles não desistiram de seus sonhos e eram mais felizes com a nova vida que levavam no mundo dos vivos. Eram uma família agora de nove integrantes e apesar das brigas, tentativas de assassinatos e princípios de incêndio doloso, eram unidos e felizes. Estavam ali para dizer adeus definitivo para o seu passado e para tudo o que eram. Eles não eram mais parte do Gotei, eram apenas amigos e mentores, tinham suas vidas para viver e filhos para criar e cuidar. Embora se preciso fosse, entrariam numa guerra novamente para defender o mundo e os seus lares. 

Houve uma grande maioria que preferiu o silêncio e a sua própria meditação para assuntos mais delicados que, não precisavam vir ainda mais à tona. A festa iria acontecer próximo ao Véu da Noiva, uma cachoeira tão linda que, parecia um presente do Céu para as pessoas. Todos foram na frente de carruagens para receberem os noivos que, por sua vez, preferiram ir montados em cavalos. Os galopes eram divertidos e ritimados pela campina do distrito 70, as pessoas daquele lugar ao discobrirem que sua princesa estava viva e que estava se casando, se juntaram ficando um pouco de cada lado da estrada aguardando o jovem casal. Quando eles alcançaram as ruas do povoado,foram recebidos com bravos de alegria,além de pétalas e flores que foram jogadas aos noivos que sorriram e prometeram voltar.

Ao chegarem no lugar escolhido, ficaram encantados com a simplicidade e harmonia do ambiente. De fato, não seria uma grande festa ou um grande baile, seria um grande piquenique em um lugar calmo e rodeado pela natureza. Foram recebidos pelos convidados e padrinhos com uma verdadeira chuva de pétalas de flores de cerejeiras, mas eles não imaginavam  que suas maiores surpresas, ainda estavam por vir...

Continua no próximo capítulo.