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História Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Visão Verde


Escrita por: crownprincess

Notas do Autor


Olá, pessoas! Essa é a primeira fanfic que eu escrevo sobre As Crônicas de Gelo e Fogo. Eu queria muito escrever desde o final da sexta temporada de Game of Thrones, mas apenas agora criei a coragem. Esse é um teste, e dependendo da recepção de vocês, continuarei escrevendo ou não. O capítulo é um pouco longo porque eu me empolguei e também achei importante a introdução ser um pouco mais extensa para que as coisas se desenrolassem com mais facilidade mais pra frente. Boa leitura!

Capítulo 1 - Visão Verde


Fanfic / Fanfiction Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Visão Verde

Lyanna podia sentir o vento gélido balançar seus cabelos, fazendo-os chicotear em sua pele e causar uma leve ardência em suas bochechas avermelhadas. Sabia que fazia frio porque a neve cobria tudo que seus olhos alcançavam, transformando a paisagem em um grande borrão branco; contudo, não sentia o frio, como se sua pele, que era coberta apenas por uma fina camisola feita de algodão, fosse imune àquela temperatura extrema que seria capaz de matar qualquer homem, mesmo que este fosse nascido no Norte.

Caminhou por alguns minutos até encontrar uma caverna, cuja estrutura servia como base para uma grande árvore coração, com suas folhas de cor vermelho sangue que contrastavam com a alvura da neve. Aquele represeiro era, com toda a certeza, o maior que Lyanna vira em toda sua curta vida, tendo, talvez, o triplo do tamanho da principal árvore do bosque sagrado de Winterfell. Ao olhar para a entrada da caverna, percebeu que o local não estava totalmente escuro, pois uma luz branca emanava de seu interior, como um feitiço que lhe causou uma irresistível vontade de adentrar nas profundezas daquele lugar tão belo e misterioso.

Ao chegar ao interior da grande rocha, viu que seu teto era revestido pelas raízes do represeiro, e percebeu que essas ficavam mais volumosas e fincadas na estrutura de pedra na medida em que a luz lhe guiava para o centro do local, onde viu a cena que fez seu coração disparar: um velho senhor, com longos cabelos prateados, uma faixa de pele leitosa no lugar onde deveria ter o olho esquerdo e uma aparência quase cadavérica. Seu corpo parecia estar fundido às raízes, como se ele e a árvore fossem um só ser. O lógico seria que Lyanna sentisse pavor e medo ao presenciar aquilo, mas sua reação fora completamente diferente. Apesar de sentir-se intimidada pelo homem, ela estava maravilhada, e pôde sentir que as histórias de magia que a Velha Ama lhe contava quando era apenas uma menininha poderiam não ser apenas contos de ninar para crianças.

O homem lhe encarou, e Lyanna pode sentir sua alma sendo inspecionada pelo profundo olho vermelho que lhe restara.

― Menina Stark. Já não era sem tempo.

A voz dele era grave e profunda e ecoou por toda a caverna, fazendo com que um arrepio percorresse o corpo da garota. Ela percebeu que o homem possuía uma marca vermelha que ia do pescoço até a bochecha direita, o que lhe conferia um ar mais intimidante.

― Desculpe-me, mas sabe quem sou? ― não gostou nenhum pouco do "menina", mas tentou disfarçar. Sua curiosidade era maior do que qualquer pequeno arranhão em seu orgulho.

― Eu a espero há muito tempo, Lady Lyanna. A espero desde antes de seu nascimento.

― Como isto é possível? Como me esperava antes mesmo de eu existir? Quem é você?

― Tantas perguntas para tão pouco tempo, minha jovem loba... O que importa, neste momento, é que saiba que venho ajudá-la em sua missão. Sou o Corvo de Três Olhos.

― Minha missão?

Lyanna sentiu um aperto em seu peito e sua respiração ficou irregular. Ela não entendia o que o homem falava, mas pressentia que aquilo tudo era muito mais sério do que aparentava ser.

― Sim. Você tem uma missão, e o mundo depende do seu sucesso na empreitada que a aguarda. Infelizmente não poderei revelar-lhe nada agora, pois parte do seu aprendizado será o desenvolvimento de sua habilidade de interpretar as coisas que vê, os sonhos que lhe acompanham enquanto dorme...

― Então... Isto é um sonho? Não estou aqui de verdade?

Ela finalmente compreendeu o que estava acontecendo. Aquilo tudo não passava de um delírio que acontecia apenas dentro de sua cabeça. Nada daquilo era real.

― Eu existo, da mesma forma que você, senhorita Stark. ― o Corvo de Três Olhos lhe respondeu, como se pudesse ler sua mente ― O que ocorre é que tenho a capacidade de enviar sonhos para as pessoas, da mesma forma que você tem de recebê-los, mas diferentemente dos outros, consegue ter a experiência de forma vívida, quase física. Sabe melhor do que ninguém que esses dons lhe acompanham desde que era apenas uma criança que corria pelos pátios e torres de Winterfell. Essa sensibilidade sempre lhe foi inerente, mas desabrochou e expandiu-se mais ainda depois que conheceu o Príncipe.

O ancião falava de Rhaegar. Apenas a simples menção ao Príncipe de Pedra do Dragão fez seu corpo estremecer, e a lembrança dele depositando em seu colo a coroa da Rainha do Amor e da Beleza, fato que causou desconforto entre as casas Stark, Targaryen e Martell, fez com que corasse. Pensou na pobre Princesa Elia e sentiu-se uma pessoa horrível ao relembrar o quanto havia gostado do beijo que recebera do marido desta antes de voltar a Winterfell.

― Não faço a mínima ideia do que e de quem está falando. ― Lyanna tentou disfarçar seus pensamentos, mesmo sabendo que seria inútil.

― Sabe bem, minha jovem senhora. ― o homem repetiu ― É uma vidente verde, Lyanna. Você tem a capacidade de ver o futuro, e é exatamente isto que dará ao mundo a chance de sobreviver à Longa Noite.

Lyanna ficou estarrecida com o que escutara. Sim, ela tinha alguns sonhos que se concretizavam tempos depois. Sim, tinha uma sensibilidade maior do que qualquer pessoa de sua família. Mas uma coisa é ter alguns poucos sonhos, outra completamente diferente é ter a capacidade de prever o futuro.

― Isso não é possível! Apenas as crianças da floresta tem visão verde! Se realmente é tão esperto quanto se esforça em aparentar ser, deveria saber que é o sangue dos Primeiros Homens que corre em minhas veias!

Um sorriso discreto brotou no rosto do homem, como se Lyanna tivesse dito algo engraçado. Aquilo a irritou profundamente, e sua expressão fechou-se tal qual o clima de inverno que os cercava.

― Sangue Stark corre em suas veias, jovem Lyanna. Sangue de Bran, o Construtor, aquele que ergueu a Muralha com ajuda de magia. Sangue dos Reis do Inverno. Sangue de heróis. ― ele disse, de forma enigmática ― O mesmo sangue que tomará parte na criação da canção de gelo e fogo.

Antes que pudesse responder, os olhos de Lyanna abriram-se na penumbra que tomava conta do quarto. Sua respiração estava ofegante e a camisola que usava estava ensopada. Ergueu seu corpo e sentou-se na cama, ainda impressionada pela vividez do sonho que acabara de ter. Tentou raciocinar, convencer-se de que tudo aquilo fora uma alucinação criada por sua mente. Não entendia nem metade de tudo que o tal Corvo de Três Olhos lhe falara, mas seu instinto lhe dizia que eram coisas importantes. Tentou pensar em um jeito de tentar descobrir mais informações sobre sua suposta clarividência e o peso que ela teria na sua vida e na vida dos que a cercavam, e lembrou-se do ancião lhe contando da habilidade que tinha em implantar sonhos na mente das pessoas. Colocou a cabeça no travesseiro, fechou os olhos, mas não conseguiu dormir. Não conseguiu parar de pensar no que lhe foi dito. Não conseguiu parar de pensar em Rhaegar.

 

***

 

Assim que o sol raiou, Lyanna saiu de seus aposentos e correu para os estábulos, onde encontrou Flecha, seu amado cavalo, e escovou seus espessos pelos negros até que estes estivessem brilhando. Pediu para que um dos criados armasse a montaria e saiu de Winterfell, indo em direção aos campos abertos que cercavam o castelo. Precisava pensar e digerir tudo que acontecia em sua vida naquele momento e os passeios a cavalo sempre a deixavam com a cabeça mais limpa, com a capacidade de raciocinar renovada.

Sentia o animal trotar sob o seu corpo enquanto o vento batia em seu rosto, tentando expurgar de sua mente toda aquela loucura que se passou na noite anterior. Estaria ela ficando insana? Tentou relembrar detalhes do que ocorrera, mas não conseguia; contudo, não esqueceu a gravidade da voz do Corvo de Três Olhos, que lhe dissera que ela seria parte da criação da canção de gelo e fogo. Não entendia o que aquilo significava, mas seu corpo tremia e o coração disparava ao pensar naquelas palavras que lhe causaram tanto impacto.

A revelação de que era uma vidente verde também foi uma surpresa. Lyanna sempre tivera uma intuição aguçada, mas nunca passou por sua cabeça que coisas como a habilidade de prever o futuro realmente existissem. Se aquilo fosse mesmo verdade, temia pelas coisas que seria capaz de ver. Tinha medo de contemplar o próprio destino, de deparar-se com uma versão mais velha sua, casada e infeliz ao lado de Robert Baratheon, longe de sua casa e da família. Por mais que se esforçasse, não conseguia amar o melhor amigo do irmão, e muito menos lhe agradava a ideia de abandonar Winterfell e viver o resto de sua vida em Ponta Tempestade. Seu estômago revirava ao imaginar as bebedeiras e traições de Robert, e tinha certeza que seu espírito seria incapaz de tolerar as atitudes imaturas do noivo. Pelo que sabia, ele concebera uma bastarda no tempo em que passou no Vale, e aquilo não era um bom presságio para Lyanna.

Sem perceber, sua mente começou a comparar o futuro marido com o Príncipe Rhaegar, e deu-se conta que apesar do cavalheirismo e da cortesia que lhes eram inerentes, o herdeiro do Trono de Ferro não era muito melhor que Robert. Ora, no ano anterior, no Torneio de Harrenhal, Rhaegar ignorou a própria esposa e dedicou a Lyanna sua vitória sobre Sor Barristan Selmy na justa final, na qual se sagrou o campeão da disputa. Demonstrou não importar-se com os sentimentos da Princesa Elia, que ficou visivelmente constrangida ao presenciar o esposo coroar outra como a Rainha do Amor e da Beleza; além de ser ousado o suficiente em procurar Lyanna após a o combate e roubar-lhe um beijo e declarar que estava apaixonado. Aquele não era o comportamento adequado para um homem que deveria respeitar a família, o homem que seria o próximo monarca dos Sete Reinos.

Porém, por mais que tentasse, Lyanna não conseguia desprezar o príncipe. Rhaegar era o homem mais lindo que já vira em toda sua vida, além de conseguir aquecer seu coração de uma forma que Robert jamais pudera. O Corvo de Três Olhos foi verdadeiro ao dizer que sua sensibilidade amadureceu após conhecer o Príncipe de Pedra do Dragão, e coisas que jamais pensara ou sentira começaram a fazer parte da vida da jovem Stark. Lembrou-se do momento no qual seus lábios se encontraram, e mesmo após mais de um ano, era capaz de sentir o calor de seu corpo colado junto ao dele. Sua cabeça foi tão longe que, por alguns segundos, perdeu o equilíbrio, e se não fosse uma excepcional amazona, provavelmente teria caído do cavalo.

Sentiu-se desanimada e pensou em encerrar o passeio, mas desejava continuar sozinha. Decidiu ir até o bosque sagrado, rezar e pedir para que os Deuses Antigos lhe guiassem e a impedissem de cometer uma loucura da qual se arrependeria pelo resto da vida.

Chegou ao bosque e foi até o pequeno lago de águas negras que ficava em seu centro. Encarou sua imagem refletida naquela escuridão e tentou pensar em algo que lhe trouxesse alívio; ponderou que talvez, se rezasse, os Deuses escutariam o seu clamor e dariam ao menos um pouco de conforto ao seu coração. Caminhou até a árvore coração que ficava próxima ao lago e tocou a face esculpida na madeira. De repente, sentiu sua cabeça girar e sua visão transformou-se em um emaranhado de imagens em sequência que não faziam muito sentido. A dança de cores fez com que suas têmporas doessem, como se estivessem sendo comprimidas; sentia o fluxo de lugares, pessoas e tempos desconhecidos invadir sua mente e não sabia como interpretar tudo aquilo. Tentou concentrar-se, encontrar algum ponto que pudesse lhe servir de âncora e colocasse em ordem toda aquela confusão. Após um esforço considerável, conseguiu focar em uma das imagens, que ampliou-se e invadiu sua cabeça, como uma explosão.

Enxergou um tumulto, vários pontos negros em um movimento caótico num fundo branco. Com um pouco de esforço, percebeu que aquelas pequenas manchas eram pessoas, e que a cor alva era neve. Deu-se conta que os movimentos desordenados eram golpes e pancadas e que aquilo era uma grande batalha, e constatou que Winterfell era o plano de fundo daquela disputa. O branco da neve misturava-se ao marrom da lama e o vermelho do sangue. Sangue, muito sangue. Seu coração afundou no peito ao notar que os homens que portavam as bandeiras Stark eram minoria e que estavam sendo massacrados por aqueles que lhes deviam lealdade. Bolton, Karstark, Umber. Todos eram traidores, que marchavam contra seus senhores e assassinavam a sangue frio os homens que faziam parte do exército dos lobos.

Lyanna via pilhas de corpos serem formadas, nas quais a tropa Stark ficou presa até ser encurralada por homens que portavam escudos com o homem esfolado, símbolo da Casa Bolton. Os viu sendo massacrados por lanças, que espetavam e cortavam ao meio os poucos homens que restavam daqueles que eram leais – Mormont, Hornwood e alguns guerreiros que percebeu serem selvagens. Todos lutavam ao lado dos Stark. Todos morriam ao lado dos Stark.

No meio do tumulto, onde o exército de sua família era esmagado, Lyanna viu um homem erguer-se. Com o rosto coberto de lama e sangue, ele tentou apoiou-se sobre seus soldados e tomou uma longa lufada de ar, como se quisesse preencher seus pulmões que foram esvaziados por um longo período sem respiração. Ele estava sem fôlego e seu olhar estava desfocado, até se dar conta do que ocorria à sua volta. Lyanna percebeu que aquele homem tinha o lobo Stark gravado em sua couraça, e deduziu que ele deveria ser o comandante da tropa. Os cabelos negros, grudados na sujeira que impregnava seu rosto também entregava sua origem. Aquele desconhecido era de sua família, mas a garota não fazia ideia de quem ele era.

Tudo desapareceu tão rápido como surgiu. Sua visão enegreceu e a cena da batalha sumiu. Lyanna fechou os olhos e pensou que fosse desabar no chão, mas sentiu braços impedindo sua queda; deu um pulo, afastando o desconhecido que lhe cercava. Abriu os olhos e seu coração acelerou ao ver de quem se tratava, sem acreditar que era realmente ele.

― Príncipe Rhaegar. ― sua respiração era ofegante e sua cabeça pesava devido ao esforço que tivera em tentar compreender a visão que tivera ― O que está fazendo aqui?

― Minha Senhora Lyanna. ― o Targaryen pegou e segurou delicadamente sua mão, onde depositou um demorado beijo ― Meu coração pediu-me para vir visitá-la. Não aguentava mais ficar longe de você.

― Deslocou-se de Porto Real até o Norte apenas para me ver? ― Lyanna puxou sua mão, tentando esconder que ficara mexida com o contato físico entre eles ― Como conseguiu entrar em Winterfell?

― Não importa como, o que conta é que estou aqui. ― ele a encarou com os seus estonteantes olhos violeta-escuro ― Tenho que admitir que não vim apenas para prestar-lhe uma rápida visita. Quero que venha comigo, Senhora Lyanna.

Lyanna encarou Rhaegar, tentando detectar algum sinal de que o que acabara de falar era apenas uma brincadeira. Mas, como sempre, o príncipe possuía uma expressão séria e contida, que não demonstrava nenhum indício de que não estava falando sério, muito pelo contrário; ele a fitava diretamente nos olhos enquanto esperava por uma resposta.

― Perdoe-me senhor, mas terei que recusar sua oferta. Não pretendo fugir com um homem que já é casado com outra e que é pai de dois filhos. Não é de meu feitio ser a causa do sofrimento de outra mulher, muito menos ficar com os restos desta.

Lyanna deu as costas para Rhaegar e começou a caminhar para longe. No entanto, ouviu os passos do príncipe e sentiu quando ele a segurou pelo braço, impedindo que fosse embora.

― Por favor, Lyanna. ― ele aproximou seu rosto ao dela, e sua expressão era de sofrimento, como se algo o martirizasse por dentro ― Não consigo parar de pensar em você! Pelos sete infernos, tentei de tudo para esquecê-la e reconstruir meu casamento com Elia... Mas simplesmente não consigo! Todas as noites em que me deito com ela, é o seu rosto que vejo! Inclusive chamei seu nome quando nós estávamos...

― Não quero saber! Não quero saber de nada disto! ― Lyanna o empurrou e elevou seu tom de voz ― Não é da minha conta se há problemas na alcova real! Mantenha-me fora de tudo isto!

Se como forma de calá-la ou como um impulso, Lyanna não sabia, mas Rhaegar puxou-a e encostou seus lábios nos dela. A garota pôde notar a urgência e o desejo que o príncipe nutria por ela e por um breve momento, fraquejou. Deixou-se levar e sentiu o corpo amolecer nos braços de Rhaegar, como se todas as forças tivessem lhe abandonado de uma só vez. Percebeu que tinha tanta necessidade dele quanto ele tinha dela, e permitiu que o príncipe avançasse em suas carícias. A mão dele desceu até sua cintura e passeou por seu corpo até ele a encostar contra a árvore coração. Sua boca desceu até o pescoço de Lyanna e não demorou muito para que chegasse até o colo, numa tentativa desesperada de sugar a pele dos seios que estava à mostra graças ao decote. Rhaegar levantou a barra de seu vestido e começou passar a mão por sua coxa, tentando encaixar seu corpo ao da menina Stark. Naquele instante, acabou o momento de fraqueza de Lyanna.

― O que você pensa que está fazendo? ― ela o empurrou e quando deu-se conta, sua mão havia ido de encontro ao rosto do príncipe, atingindo-o com um estrondoso tapa.

O corpo de Rhaegar tombou para o lado, e instintivamente, ele levou às mãos até a área atingida, que rapidamente ficou vermelha e inchada ao ponto que Lyanna podia perceber facilmente a marca de seus dedos. O choque era visível nos olhos do Targeryen, que encarou a garota ainda sem acreditar no que ela acabara de fazer.

― Nunca mais me toque sem a minha permissão, está ouvindo? ― Lyanna gritou, tentando intimidá-lo ― Jamais tente me induzir a fazer algo que eu não quero!

Dirigiu-lhe um curto olhar carregado de cólera e deu-lhe as costas, correndo para sair dali o mais rápido que pudesse.

 

***

 

Lyanna jogou-se na cama após um longo e demorado banho quente que tomara após retornar para casa. Fechou os olhos e tentou dormir, mas não conseguiu; sua cabeça borbulhava após suas recentes descobertas, e principalmente depois do encontro que tivera com Rhaegar. Ainda não acreditava que o príncipe havia deixado a esposa e os filhos em Porto Real e partido para Winterfell pedir para que a jovem Stark abandonasse tudo e fugisse com ele. Afundou sua cabeça no travesseiro, pensando no quão irreal aquilo parecia. Tentou imaginar a reação do pai, de seu irmão Brandon e principalmente de Robert se descobrissem a proposta indecente que o Príncipe de Pedra do Dragão lhe fizera.

Por mais impulsiva que fosse e, na maioria das vezes, fizesse apenas o que lhe agradava, Lyanna jamais teria coragem de deixar tudo para trás e fugir com um homem, mesmo que este fosse Rhaegar. Não podia negar que nutria sentimentos pelo Targaryen, pois seu próprio corpo, pelas reações que tinha quando pensava nele ou, nas raras vezes em que se beijaram, a traía e entregava o que se passava em seu coração. Contudo, não seria capaz de trazer tamanho sofrimento à Princesa Elia, e muito menos jogar o nome dos Stark na lama ao tornar-se concubina de um homem casado. Imaginou as consequências desastrosas que assolariam os Sete Reinos caso aceitasse a proposta de Rhaegar, e sacudiu a cabeça ao visualizar a imagem de uma guerra caótica que acabaria com a paz caso cometesse tal loucura.

Tentou limpar a mente, pois tudo que Lyanna mais queria era dormir; não porque estivesse cansada, mas sim porque desejava encontrar novamente o Corvo de Três Olhos em seus sonhos. Rezou aos deuses que permitissem que tal encontro se realizasse, pois necessitava obter respostas para as perguntas que consumiam sua paz de espírito. Após algum tempo, suas pálpebras formigaram e sentiu o sono invadir seu corpo, transportando-a para fora da realidade.

Contudo, Lyanna não foi para onde desejava ir. Viu-se parada em frente a uma grande porta de madeira, que reconheceu ser de Winterfell. Era a sua casa, no entanto, havia algo diferente. Afastou-se da porta e percebeu que ela tinha dois estandartes: ao seu lado direito, pendurado na parede, estada o lobo dos Stark; mas o que realmente prendeu sua atenção foi o dragão vermelho dos Targaryen, que pendia do lado esquerdo da estrutura de madeira. Virou-se e pôs-se a olhar ao seu redor e notou alguns homens que montavam guarda nas outras entradas do salão. Em suas armaduras, era possível ver o lobo e o dragão esculpidos juntos, em um só brasão, como o símbolo pessoal de alguém importante. Caminhou até um dos guardas e perguntou-lhe:

― O que significa este emblema em sua armadura?

Mas não obteve respostas. O homem olhava para outro lugar, através dela, como se fosse incapaz de enxergá-la. A garota gesticulou com as mãos, tentando chamar sua atenção, mas foi em vão. Escutou passos, que indicavam que alguém se aproximava. Viu um homem de barba e cabelos grisalhos, que aparentava ter em torno de quarenta ou cinquenta anos, entrar no salão e instruir os guardas a trocar de posto em duas horas. Lyanna encarou-o, tentando reconhecer seu rosto, mas deu-se conta de que jamais vira o tal senhor.

Pôde escutar mais alguns passos, que desta vez vinham do lado oposto do salão. O olhar do homem desviou-se dos guardas e sua voz ecoou pelo salão.

― Lady Lyanna!

A jovem Stark surpreendeu-se. Aquele homem era capaz de vê-la enquanto nenhum dos outros conseguia. Abriu a boca para pergunta-lhe algo, mas escutou outra pessoa falando antes que pudesse dizer algo.

― Sor Davos. ― uma voz feminina respondeu.

Lyanna virou-se e viu uma garota, que deveria ter sua idade, aproximar-se do homem. Ela tinha longos cabelos negros e uma expressão de total seriedade e sobriedade.

― A que devemos a honra de sua visita, Lady Mormont?

Mormont. O sobrenome de uma das casas aliadas aos Starks, os senhores da Ilha dos Ursos. Não tinha ideia da existência de uma garota Mormont com o mesmo nome que o seu.

― Desejo falar com o Rei. ― ela respondeu ― Preciso de reforços. Os homens de ferro voltaram a atacar a Baía de Gelo e temo que não demorem a tentar saquear a Ilha dos Ursos.

O Rei estava em Winterfell. Era essa a causa do símbolo Targaryen estar pendurado nas paredes do castelo, Lyanna pensou. Mas o que ele fazia tão longe de Porto Real?

― Os homens de ferro voltaram a atacar? ― o homem pareceu verdadeiramente surpreso, como se tivesse acabado de escutar algo absurdo ― O Rei deverá tomar providências, então. Mas creio que não seja a hora apropriada, pois...

― A Rainha está em trabalho de parto. Disseram-me assim que cheguei.

― Sim. Estamos esperando para saber o que virá desta vez, se um príncipe ou uma princesa. ― o tal Davos sorriu ― Creio que Vossa Majestade não terá cabeça para pensar em outro assunto que não seja a esposa e o filho que está prestes a nascer.

― Entendo, mas se for possível, eu gostaria de ao menos trocar algumas palavras com ele. ― a garota insistiu.

O homem gargalhou.

― Não terei alternativa a não ser levá-la até o Rei, não é mesmo, Lady Mormont?

― Sabe que não, Sor Davos. ― ela continuava com a mesma expressão, impassível.

― Acompanhe-me, então.

O homem caminhou até a grande porta de madeira, sendo seguido pela garota. Abriu a estrutura e ambos entraram no cômodo seguinte. Lyanna Stark apressou os passos e conseguiu acompanhá-los para dentro da sala, que percebeu ser o gabinete que o seu pai utilizava para comandar Winterfell. No entanto, notou que assim como o grande salão, aquele ambiente também estava modificado. Era mais luxuoso, tinha uma mesa maior e uma grande poltrona que não existia antes, na qual um homem estava sentado.

― Majestade. ― Davos lhe saudou ― Lady Mormont veio visitar-lhe.

O homem, que Lyanna deduziu ser o Rei, levantou-se da poltrona e saudou sua visitante. Porém, sua aparência chamou a atenção da garota Stark. Ele não tinha o cabelo prateado dos Targaryen, tampouco seus hipnotizantes olhos violetas – pelo contrário, sua aparência era de um homem nortenho, com a cabeça coberta de cachos escuros como a noite, assim como seus olhos. Ao observar seu rosto e seu olhar com mais atenção, Lyanna percebeu que o conhecia. Ele era o homem da visão que tivera no represeiro, aquele que travava uma batalha nas portas de Winterfell.

― É um prazer recebê-la, Lady Mormont. ― o dito Rei a cumprimentou, com um forte sotaque nortenho.

― É um prazer ser recebida por Sua Majestade. ― a garota respondeu ― Perdoe-me pelo momento, não sabia do que se passava.

― Não há do que se desculpar. Não é possível adivinhar o momento em que uma criança decide nascer.

― Ainda mais quando a criança tem sangue de lobo e dragão em suas veias. ― ela lhe disse.

O Rei riu.

― Sente-se, Lady Lyanna. O que deseja?

― Alguns problemas estão ocorrendo na Baía de Gelo, mas acho que não seja o momento adequado para discutir o assunto. ― a garota sentou-se na pequena poltrona que ficava ao lado da que o Rei utilizava.

― Na verdade, acho que é o momento ideal. ― o Rei movimentou-se em seu assento, mostrando inquietude ― Gostaria de falar sobre qualquer coisa que me distraia do fato de que minha esposa está dando a luz nesse exato momento. Aliás, alguma notícia, Davos?

― Não, Majestade. A Rainha ainda está com contrações insuficientes, pelo que eu soube. Terá de esperar um pouco mais para conhecer seu filho. ― o velho homem respondeu ― Tenho que voltar a inspecionar a guarda, e se o senhor quiser, posso averiguar novas notícias assim que terminar.

― Faça isso. ― o Rei balançou a cabeça.

― Então até mais. Majestade. Lady Mormont. ― Davos inclinou a cabeça, fazendo uma leve reverência e saiu da sala.

Assim que ficaram sozinhos, Lyanna Mormont explicou o problema que enfrentava em suas terras. A ameaça de saque pelos homens de ferro aterrorizava os habitantes da Ilha dos Ursos e era necessário que a Coroa enviasse reforços para assegurar que nenhum mal fosse causado ao povo.

― Duzentos homens são o suficiente? Não são como os guerreiros da Ilha dos Ursos, onde cada soldado vale por oito, mas são competentes. ― o Rei sorriu.

― São mais do que o suficiente, Majestade. ― pela primeira vez, a jovem Mormont esboçou um sorriso.

― Ótimo. Eles irão com você hoje mesmo, se quiser.

― Seria perfeito. Muito obrigada.

― Não é necessário agradecer, Lady Lyanna.

Alguém bateu na porta, e o Rei gritou, permitindo a entrada da pessoa desconhecida. A estrutura de madeira foi aberta e uma menina entrou correndo no cômodo.

― Papai! Papai! ― a criança jogou-se em cima do homem.

Lyanna Stark analisou a garotinha e percebeu que ela deveria ter, no máximo, uns cinco anos de idade. Reparou também que, ao contrário do pai, ela tinha todos os traços valirianos, com cabelos prateados que iam até quase metade de sua cintura e olhos violetas curiosos, que analisavam cuidadosamente todo o ambiente ao seu redor.

A aparência da filha do Rei poderia ter quatro origens diferentes: algum antepassado com raízes na cidade livre de Lys, ou nas casas Blackfyre, Velaryon, Celtigar ou Targaryen. Os Blackfyres foram extintos há meio século, e pelos dragões de três cabeças vermelhos em um fundo preto que Lyanna vira pendurados na parede, a família real era a provável fonte da aparência da princesa. Talvez a Rainha fosse uma Targaryen, no final das contas.

― Eddara, luz da minha vida. ― O Rei abraçou a criança e beijou o topo de sua cabeça.

― Princesa Eddara, é um prazer imenso vê-la novamente. ― a Senhora Mormont disse a pequena garota.

― Igualmente, Lady Lyanna.

Escutar seu nome sair dos lábios da garota fez o corpo de Lyanna Stark tremer, por algum motivo desconhecido. Não sabia explicar ao certo, mas algo lhe ligava àquela pequena criança, da mesma forma que se sentia intrigada em relação ao Rei. Os dois possuíam um ar familiar, que fazia com que Lyanna se sentisse confortável.

― Papai, posso fazer uma pergunta? ― a pequena princesa indagou.

― Claro que sim, querida.

― É verdade que se a mamãe tiver um menino, eu não serei mais rainha no futuro?

― De onde você tirou isso?

― Escutei alguns guardas conversando. Disseram que se mamãe der a luz a um menino, seria melhor se ele fosse o Rei, não eu.

― Não, meu amor. Você será a Rainha, não importa quantos filhos eu e sua mãe tivermos. Não escute as bobagens que soldados dizem. ― o Rei passou os dedos entre os cabelos prateados da filha, tentando acalmá-la.

― Você será a Rainha que unirá as duas coroas, Princesa. ― a Senhora Mormont lhe disse ― A lei foi alterada para que você possa reinar um dia.

― Você é a filha do gelo e fogo, Eddara. Nada nem ninguém será capaz de mudar isso. ― o Rei disse à criança.

“Gelo e fogo”. Ao escutar aquelas palavras, Lyanna despertou do sonho que tivera e notou que seu corpo tremia e sua respiração era descompassada. Ainda não havia amanhecido, mas tivera a impressão que havia transcorrido muito mais tempo do que de fato tinha.

Percebeu que, para compreender melhor o que acontecia e as coisas que via, teria que descobrir o que era a canção de gelo e fogo, e que talvez, tivesse que pedir a ajuda de Rhaegar. Apenas não sabia como conseguiria manter-se perto dele sem que desse vazão aos seus instintos – e temia as consequências caso perdesse o controle.


Notas Finais


E aí, gostaram do capítulo? Não deixem de me avisar se vocês encontrarem algum erro. Beijos e até a próxima!


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