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História Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Sangue


Escrita por: crownprincess

Notas do Autor


Capítulo novinho saindo do forno pra vocês! Boa leitura e deem uma passada pelas notas finais pra saberem o motivo do meu sumiço.

Capítulo 11 - Sangue


Fanfic / Fanfiction Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Sangue

Apesar de já terem se passado semanas desde o ocorrido, Jon não conseguia parar de pensar na conversa que tivera com o jovem Edric Dayne na comemoração que seguiram a tomada d’As Gêmeas pelas forças Stark. O Senhor de Tombastela aproximou-se do Rei, e a princípio o fez pensar que o assunto seria sua irmã caçula.

― Tenho bastante apreço pela Princesa Arya, Majestade. Nos tornamos amigos durante nossas andanças por Westeros em companhia da Irmandade Sem Bandeiras, e acabei me afeiçoando a ela. ― o rapaz corou, fazendo com que suas bochechas leitosas adquirissem uma coloração rubra ― Mas não foi este o motivo que me fez vir até o senhor...

― Então do que se trata? Algo grave? ― Jon perguntou, enquanto depositava sua caneca de cerveja na mesa de madeira.

― Não classifico como grave, mas sim importante. Por acaso Arya... Digo, a Princesa... ― Edric corrigiu-se, como se tivesse cometido um ato falho ― Ela lhe falou a respeito da mãe de Vossa Majestade?

O sangue de Jon gelou e por um breve instante ele podia jurar que sentiu o coração parar dentro de seu peito. Nunca soube nada da mãe, e por muitos anos sequer tinha conhecimento de seu nome; não entendia como o garoto Dayne poderia saber qualquer coisa sobre aquele assunto.

― Minha mãe? Do que está falando?

― Bem, Vossa Majestade nasceu em Dorne, e bem, apesar da minha aparência, eu também sou dornês. ― Edric lhe respondeu.

Nascido em Dorne? Bem, Jon sempre soube que nascera no sul durante a Rebelião, mas o senhor seu pai nunca lhe contou o exato local. Sabia pouquíssimo sobre sua própria origem, e por isto ficou tão surpreso ao ver a certeza estampada nos olhos violetas de Edric.

― Como sabe... Como sabe destas coisas? ― Jon indagou, ainda chocado.

― Bem... Não lhe contei isto antes porque não tive oportunidade e também porque sua irmã me disse que não era assunto meu e que lhe contaria quando o momento melhorasse... Mas já que vou para o Norte com a Irmandade e o senhor irá marchar para o sul com a Rainha Targaryen, eu pensei que... ― Edric começou a se explicar ― Enfim, o que quero dizer é que temos uma ligação, eu e Vossa Majestade, e por isto sei do que sei.

― E qual elo nos liga, Senhor Dayne?

― A resposta depende dos rumores que preferir acreditar, dos quais três são os mais importantes. O primeiro diz que o senhor é filho de Ned Stark com Wylla, e se assim o for, nós somos irmãos de leite, pois foi ela quem me amamentou e serviu como minha babá durante minha infância... ― Edric contou.

Wylla. Era o nome que havia escutado anos antes o pai utilizar para indicar quem seria sua mãe.

― ...Mas acontece que Vossa Majestade não se parece em nada com Wylla, o que me faz crer que o segundo ou terceiro rumor sejam mais prováveis. ― ele continuou.

― Parece ter muitas teorias a respeito da minha origem, Senhor Dayne. ― Jon lhe disse, inquieto ― Conte-as, por favor.

O rapaz se ajeitou no banco no qual estava sentado e aproximou-se do Rei como se fosse lhe contar um segredo gravíssimo.

― Os dois outros rumores envolvem o nome de alguém de minha família, especificamente minha tia Ashara. ― Edric revelou, em um tom de voz baixo ― Bem, ela dançou no Torneio de Harenhal com Ned Stark a pedido do seu irmão Brandon, e meses depois apareceu grávida em Tombastela. E neste ponto os rumores convergem. Alguns dizem que a criança era filho de Brandon, concebido após uma paixão fulminante e passageira que lhes atingiu... Outros comentam que, na verdade, minha tia e Ned Stark apaixonaram-se de verdade e juraram se casar após o Brandon tomar Catelyn Tully como esposa...

Jon podia sentir sua garganta secar após escutar aquilo, e pegou novamente a caneca de cerveja, entornando-a e tomando um longo gole do líquido. Ele sabia onde o garoto queria chegar, mas tinha que escutá-lo até o final. Precisava escutar.

― De toda forma, algum tempo depois, a Rebelião estourou. Se acreditar na primeira hipótese, é provável que a tia Ashara tenha ficado desolada com a morte de Brandon pelas mãos do Rei Louco... E se acreditar na segunda, é de se imaginar que ela enlouqueceu após descobrir que Ned havia matado seu irmão, Sor Arthur. O fato é que ela deu à luz, e alguns dizem que uma menina morta saiu de seu ventre, enquanto outros dizem que se tratava de menino vivo. ― Edric encarou Jon longamente antes de prosseguir ― A partir daqui, as convergências aumentam, mas a mais popular é que arrasada pela morte do tio Arthur, que foi morto pelo homem que ela amava e que tinha prometido que se casaria com ela um ano antes, mas que teve que desposar a noiva do irmão falecido e que ainda por cima levou o filho dos dois para o outro lado do continente, a pobre tia Ashara se jogou do alto da Espada Branca, uma das torres de Tombastela e caiu no mar. Nunca acharam o seu corpo.

Jon ainda podia sentir o gosto amargo dominar sua língua ao relembrar-se daquele diálogo. Brandon não poderia seu pai, não haveria razões para que Ned mentisse sobre isto; mas existiam motivos para esconder que Ashara era sua mãe, principalmente para preservar a honra e a memória da falecida moça. Naquela versão, o pai não havia traído a sua madrasta, pois Jon havia sido concebido antes de Ned desposar Catelyn. Pensou em como tudo em sua vida seria diferente se Brandon não tivesse morrido, se a rebelião não tivesse ocorrido, ou se o maldito Rhaegar Targaryen não tivesse feito o que fez...

Mas agora, lá estava ele, na Campina, indo em direção à Jardim de Cima, lutar as batalhas da irmã do homem que tanto fez mal à sua família. Edric e Arya estavam a caminho do Norte, após protestos veementes da última, que desejava lhe acompanhar; iam junto com a Irmandade, a Mulher Vermelha, Tormund, Alys, a Senhora Tully e seu filho e parte dos senhores e soldados nortenhos, que carregavam consigo a carta que tornava Sansa a Princesa Regente; Sor Davos e o resto dos homens lhe acompanhavam, lado a lado com cavaleiros do Vale que Lorde Royce lhe cedeu.

O destino era terrivelmente irônico, Jon pensou. Semanas antes, havia tomado conhecimento da identidade de sua verdadeira mãe, aquela por quem ansiou por toda sua vida, apenas para descobrir que ela decidiu morrer após o pai o separá-lo dela; e agora, lutaria a guerra de uma mulher pela qual estava perdidamente apaixonado, e que lhe propôs casamento tempos antes, mas com quem jamais poderia ficar. Um sorriso melancólico brotou em seus lábios ao pensar que talvez tivesse sido melhor permanecer morto após ser traído pelos próprios irmãos juramentados. As facadas que perfuraram sua carne eram mais suaves e menos doloridas que as chacotas que a vida lhe pregava.

 

***

 

Jaime era tudo que Tyrion jamais foi. Alto, atlético, belíssimo, capaz de fazer qualquer donzela abrir as pernas com uma simples piscadela... E terrivelmente burro, sempre acatando cada um dos caprichos de Cersei. Havia sido assim desde a época em que os três eram crianças em Rochedo Casterly, continuou da mesma forma quando se transferiram para a Fortaleza Vermelha após a irmã virar Rainha Consorte de Robert Baratheron e agora chegava ao ápice, quando a imbecil achou-se digna e capaz de tomar o Trono de Ferro para si. O Lannister mais novo, como apreciador dos prazeres da carne, conseguia entender o apelo que a área que ficava entre as coxas da irmã exercia sobre Jaime, mas não quando tudo chegou naquele ponto.

Como Jaime, que anos antes havia dado cabo de Aerys II apenas para prevenir que o Rei explodisse a cidade, ficou ao lado de Cersei, que de fato varreu parte de Porto Real em fogovivo? Se a única explicação fosse a boceta da irmã, Jaime havia perdido a noção da realidade tanto quanto ela.

Tyrion encarava Jardim de Cima, aguardando que o Lannister mais velho aparecesse, mas desde que se encastelara dentro dos muros da fortificação, Jaime recusava-se a vê-lo; esperava que finalmente Daenerys aparecesse após sumir depois de dizer que reuniria sua família, mas também não havia sinais da presença da Rainha, tampouco dos dragões. A única coisa que lhe restava era dar ordens aos homens e admirar a estrondosa beleza do castelo da família Tyrell.

Jardim de Cima era, com toda a certeza, a fortaleza mais bela que Tyrion vira em toda sua vida. Três muralhas feitas de pedra branca protegiam o castelo, que erguia-se ao céu com esbeltas colunas feitas de mármore e cúpulas douradas que faiscavam com a incidência da luz do sol. Mesmo com o inverno, que começava a chegar à Campina, o labirinto vegetal que cercava a construção ainda resplandecia com um verde que combinava exatamente com o fundo que a Casa Tyrell usava. Tyrion pensou em seu lar, Rochedo Casterly, e percebeu que mesmo sendo um lugar magnânimo, seu exterior não era tão belo quanto o de Jardim de Cima.

Os olhos de Tyrion desgrudaram-se da majestosa construção apenas quando seus ouvidos captaram a movimentação dos homens.

― O que está acontecendo? ― ele perguntou a um dos homens, que tinha o símbolo da Casa Tyrell costurado em seu peito.

― O bastardo do Norte chegou, meu Senhor. ― o homem respondeu.

― Ah! É bom saber que o Rei do Norte finalmente está entre nós! ― Tyrion corrigiu o rapaz, com sua ironia habitual.

Com os passos tão curtos quanto suas pernas, caminhou até a entrada do acampamento, e viu Jon passar pelos soldados Tyrell e Targaryen montado em seu cavalo. O jovem podia ser um bastardo, mas Tyrion tinha que admitir que ele possuía o porte de um Rei. Pelo menos, parecia ser mais Rei do que Robert, Joffrey ou Stannis.

Jon desmontou o animal, e acompanhado por seus próprios homens, caminhou em direção à Tyrion.

― E então? Os Freys receberam as saudações Stark? ― Tyrion perguntou.

― Para o azar deles, sim. ― o rapaz respondeu, com o usual tom de voz austero ― Olá, Lorde Tyrion.

― Olá, Majestade.

― Onde está o Regicida? ― Jon indagou, sem se preocupar em esconder seu desprezo.

― Meu irmão está no castelo. Recusou-se a falar comigo. ― Tyrion suspirou longamente ― Então montamos o cerco, pelo menos até Daenerys chegar.

O Lannister percebeu o corpo do rapaz enrijecer e sua expressão ficar mais séria ainda.

― A Rainha não está aqui?

― Não. Foi atrás dos seus filhos e até agora não retornou.

― E o senhor não faz nada a respeito? ― a voz do rapaz estava alterada, em um misto de preocupação e inquietação ― Daenerys pode estar perdida, machucada, ou...

― Acalme-se, Majestade. ― Tyrion o interrompeu ― Acha mesmo que sou burro a ponto de deixar a Rainha sem nenhum cuidado? Quando ela saiu, eu ordenei que uma escolta formada por alguns poucos homens a seguisse de forma discreta. Ela está a salvo, não há motivos para preocupações.

Jon pareceu ficar aliviado ao escutar aquelas palavras, aliviado até demais. Tyrion desconfiava que algo estava acontecendo entre o Rei e Rainha, mas teve certeza naquele momento. Nunca tinha visto Daenerys tão preocupada com outra pessoa como ela ficou quando o rapaz Stark partira em direção às Gêmeas, e agora enxergava o mesmo desassossego nos olhos escuros de Jon.

― Como vai a Senhora Karstark? Despediu-se dela antes de vir para cá? ― o Lannister indagou, esperando tomar melhor conhecimento da situação que se desenrolava.

― Não a vejo desde que parti de Correrrio. Ordenei que os homens a levassem para o Norte para que ficasse segura ao lado de minhas irmãs.

― Deve estar ansioso pelo casamento, não é? Quer dizer, o matrimônio deve ser uma das camadas dos Sete Infernos, mas mesmo assim... Ela é uma garota bonita e pude notar que também é gentil, pelo pouco que convivi com ela. ― Tyrion atiçou.

A cara de Jon fechou de vez ao escutar aquilo. Ele definitivamente não estava animado para casar-se com a pobre garota.

― Prefiro não tratar deste assunto agora, Lorde Tyrion. Temos coisas mais importantes a fazer neste momento.

― Oh sim, claro, perdoe-me por isto. Devemos esperar Aegon regressar, creio eu. ― o anão lhe disse.

― Aegon?

― Devido às conquistas alcançadas, chamam Daenerys de “Aegon de saias”. ― ele encarou Jon ― Pela sua seriedade e firmeza, talvez pudesse ser chamado de “Visenya de calças”, Majestade. Dizem que ela era uma grande guerreira, assim como o senhor.

― E você, Lorde Tyrion? Quem seria? ― Jon perguntou, sem deixar transparecer o que tinha achado da brincadeira.

― Rhaenys, com toda a certeza. Claro, não sou tão alto e belo como ela era, mas a moça sabia aproveitar a vida de um jeito que me agrada muito. ― ele deu alguns poucos passos em direção a Jon, e abaixou o tom de voz, lhe segredando o resto de sua fala ― Mas não se preocupe, não tenho pretensão alguma em compartilhar a cama de Aegon. Visenya pode tê-lo todo apenas para ela. ― deu uma piscadela e sorriu em direção a Jon.

 

***

 

O sol havia se posto e nascido no horizonte mais uma vez sem que se tivesse uma única notícia de Daenerys, o que incomodava Tyrion ao extremo. Não lhe agradava não ter controle sobre as coisas – uma característica que o homenzinho admitia ter puxado ao seu pai, Tywin Lannister – e a preocupação com o bem estar da Rainha lhe afastava de sua principal missão: conseguir tomar Jardim de Cima e resgatar a Senhora Olenna, para que assim as forças Tyrell pudessem se juntar aos homens Targaryen.

   Quando estava sentado à mesa, prestes a tomar o desjejum, foi interrompido por dois soldados que entraram em sua tenda acompanhados por homem que ele não reconhecia.

― Lorde Tyrion, este rapaz afirma ter algo importante a lhe dizer. ― um dos oficiais empurrou o jovem em direção ao anão.

Apesar de estar visivelmente assustado, o rapaz não titubeou e começou a falar:

― Fui enviado por Lorde Varys. Trago um recado que só pode ser entregue à Mão da Rainha.

― Pois cumpra o seu serviço, garoto. ― Tyrion estendeu a palma da mão ― Sou Tyrion Lannister.

― O Duende de Rochedo Casterly...? ― ele pareceu impressionado.

― Eu mesmo. Agora, vamos ao que interessa. ― o Lannister movimentou os dedos, mostrando sua inquietação.

O rapaz pareceu perceber o ato falho que cometera e revirou uma pequena bolsa de couro surrada que carregava consigo. Após alguns segundos, retirou da valise um pergaminho enrolado e entregou-o nas mãos de Tyrion.

Ao tocar o papel, Tyrion viu o selo com uma aranha desenhada, que reconheceu de imediato. Quebrou o lacre de cera roxa e pôs-se a ler o conteúdo da carta, e ao terminar sentiu seu queixo cair.

― Por acaso você sabe o que tem escrito aqui? ― Tyrion perguntou ao rapaz.

― Não milorde. Não sei ler. ― ele confessou.

― Você deixou alguém sequer aproximar-se da carta?

― Claro que não! Ela estava lacrada, o senhor mesmo viu!

― Ótimo. Entreguem ao rapaz um dragão de ouro pelo serviço prestado. ― Tyrion ordenou aos soldados.

― Obrigada, milorde! ― o mensageiro agradeceu alegremente antes de ser escoltado para fora da tenda pelos guardas.

As informações que Varys lhe enviara eram péssimas e poderiam atrapalhar a investida de Daenerys para tentar conquistar o Trono de Ferro, mas havia uma em especial que poderia ser usada para quebrar o maldito cerco de uma vez por todas.

Tyrion estava pronto para tentar falar mais uma vez com Jaime, quando escutou alguns gritos. O som aumentou e o barulho de pegadas de cavalos e tilintar de espadas invadiram a audição do anão, fazendo que seu coração acelerasse dentro do peito.

― Estamos sendo atacados, milorde! ― um dos guardas gritou, enquanto entrava novamente na tenda.

 

***

 

Daenerys sentia o vento cortar sua bochecha na medida em que planava no ar, livre como um pássaro – ou melhor, como um dragão. Apesar de seu temperamento um tanto quanto complicado, Drogon agora lhe obedecia e seguia em direção à Jardim de Cima para que enfim as palavras da Casa Targaryen fossem postas em prática; fogo e sangue seriam servidos aos Lannister e a qualquer um que lhes prestasse assistência àquela altura.

Segurava com firmeza a cela que lhe prendia à Drogon, e mesmo com o vapor que emanava do corpo do animal devido ao calor, Dany não sentia qualquer tipo de incômodo, apenas alguns calos que começavam a se formar na palma de sua mão devido ao atrito com o couro. Uma das vantagens de se ter o sangue da Velha Valíria correndo em suas veias, a Rainha pensou.

Rhaegal e Viserion voavam na retaguarda e seguiam o irmão e a mãe de perto. Não tinha sido fácil reunir os três novamente, e apesar de ter demorado mais tempo do que esperava, valia a pena para Daenerys ter os filhos consigo mais uma vez. A Targaryen estava conformada com o fato de que nunca mais geraria uma criança em seu ventre, mas ter os dragões diminuía o vazio que Rhaego deixou em sua vida. Lembrar-se de seu bebê, que tão cedo lhe foi tirado, fazia com que Dany se sentisse triste, mas ela sabia que não era o momento de se deixar consumir por qualquer sentimento, a não ser pelo da eminente vitória.

Após uma noite inteira sentada sobre o lombo de Drogon, Daenerys finalmente viu o castelo branco e dourado reluzir no horizonte, mostrando toda a riqueza e opulência que os Tyrell faziam questão de mostrar ao mundo. Mas agora, ao invés de possuir o símbolo da rosa dourada sobre um campo verde, Jardim de Cima possuía fincado em seus muros o estandarte do leão dourado de Lannister. Sentiu um frio no estômago quando ao seu comando, Drogon mergulhou em rasante; Dany pôde então ver a batalha que se desenrolava no solo, e mesmo que ainda estivesse distante do acontecimento e as pessoas sendo apenas pontos que ziguezagueavam, a Rainha sentiu a angustia dominar seu peito.

Ordenou a Drogon que mergulhasse mais ainda, e apertou suas mãos ao redor da cela com firmeza. Apesar da rapidez da manobra, que lhe causou uma vertigem inconveniente, sentia-se segura; no entanto, o mesmo não podia ser dito dos homens que estavam no solo. Agora, mais próxima do chão, Dany pôde ver suas expressões de choque e pavor enquanto eram engolidos pelas sombras de seus filhos. Alguns, totalmente embasbacados pela presença dos dragões, deixavam suas armas caírem no chão; outros fugiam de maneira covarde, tentando inutilmente escaparem de seus destinos.

Dany viu, em uma das colinas que cercava Jardim de Cima, o exército que portava bandeiras Lannister e de uma família que não conhecia: um arqueiro vermelho sobre um fundo verde. Mas pra ela, pouco importava quem eram. Eles estavam atacando os seus homens, tentando impedi-la de conquistar o seu trono, e por isto teriam que pagar com o próprio sangue.

Dracarys! ― Daenerys bradou, dando o comando para que Drogon, Viserion e Rhaegal lambessem o exército inimigo com fogo.

 

***

 

Os olhos de Jon conseguiam ver o que acontecia, mas seu cérebro parecia não ser capaz de assimilar o que testemunhava. No primeiro momento, pensou que o pior tinha acontecido e que a Longa Noite finalmente tivesse voltado ao mundo trazida pelos Outros. Depois, imaginou que um eclipse, que ocorria frequentemente nas estórias que a Velha Ama contava, mas que jamais presenciou com os próprios olhos, finalmente estivesse acontecendo. Mas foi uma terceira alternativa, a única que sequer tinha passado em sua cabeça, era a que explicava o que verdadeiramente estava acontecendo: dragões – exatamente três deles – cortavam o céu com suas asas tão grandes que simplesmente bloqueavam a luz solar.

Dois dos animais, um verde como as copas das árvores que cercavam Winterfell e o outro branco como a neve, tinham mais ou menos o mesmo tamanho e já eram assustadores por si só; mas o negro, que possuía as membranas das asas de um vermelho que muito lembrava a cor do sangue, era o maior de todos, e facilmente contava com o tamanho combinado dos outros dois dragões. Os rugidos que os bichos soltavam fazia o coração de Jon encher de pavor, a ponto de esquecer-se da batalha que ocorria ao seu redor. Contudo, foi a visão de algo, ou melhor, alguém, que fez o medo percorrer a espinha do jovem Rei: um pequeno ponto prateado, que parecia um borrão comparado com aos enormes dragões, que ele logo reconheceu ser Daenerys. Ela montava o dragão negro e fazia piruetas que causavam sobressaltos em Jon; ele temia que a jovem caísse ou se machucasse de qualquer maneira.

Mas contrariando toda e qualquer probabilidade, a Rainha manteve-se no lombo do dragão, e em um momento que aterrorizou todos os presentes, disse algumas palavras incompreensíveis e fez com que as três grandes bestas cuspissem fogo sobre o exército inimigo. Vários homens corriam, desesperados pelo que acontecia, tentando fugir da grande fogueira que se iniciara. O cheiro de carne esturricada e os gritos de desespero e dor fizeram o estômago de Jon revirar, mas a visão do fogo teve um efeito interessante sobre ele: sentiu-se atraído pelas chamas, como se as labaredas lhe convidassem a se aproximar.

Ignorando o que acontecia ao seu redor, ele caminhou em direção à grande fogueira, que tornava-se o ponto de iluminação do campo graças ao eclipse formado pelos dragões. Jon olhou para o céu e viu Daenerys descer lentamente, ainda montada no lombo da fera negra. Aos poucos, a figura da moça foi ficando mais definida, até que ele conseguisse ver o rosto belo e delicado que ela tinha. Não a via há algumas semanas e Daenerys parecia ainda mais bonita do que da última vez. Seria isso possível?

O dragão maior finalmente tocou o solo e a Targaryen desmontou-o. Ela olhava para a pira de fogo e os homens que ali pereciam com uma pose estoica, quase como se já estivesse acostumada com o horror. Jon não podia imaginá-la, sendo tão delicada e régia como era, sendo tão dura e forte daquele jeito. Mas Daenerys não era apenas uma garota comum, ele sabia muito bem disso. Ela era feita de sangue, mas ali pôde ver que a Rainha também possuía fogo correndo em suas veias.

Jon deus mais alguns passos, e mesmo que Daenerys parecesse não ter conhecimento de sua presença, ele ia em direção a ela. Tinha vontade de abraçá-la e repetir o beijo que trocaram debaixo do represeiro em Correrrio, mas sabia que não podia; muitas coisas lhe impediam de fazer o que queria, e entre elas estava o fato de ser Rei. Lembrava-se de Robb, e em como o fato de o irmão permitir-se desfrutar das vontades de seu coração acabou mal para ele e para milhares de outras pessoas.

Mas Robb e todos os outros foram apagados da mente de Jon quando ele viu o perigo se aproximar. Um soldado, com uma postura que deixava visível a raiva que sentia, corria em direção a Daenerys com uma adaga nas mãos.

― Daenerys, cuidado! ― Jon gritou a todos pulmões, o mais alto que conseguiu.

Quando ela percebeu o que acontecia, ficou atônita, sem reação alguma; porém Jon correu o máximo que pôde no menor tempo possível.  Tudo aconteceu muito rápido, mas dentro da cabeça do rapaz pareceu ser uma eternidade: ele brandiu Garralonga e apontou-a em direção ao homem, que percebeu que não estava livre para atacar. Daenerys também deu-se conta de que não estava sozinha, e os doces olhos violetas repousaram sobre a face de Jon, como se estivesse aliviada por vê-lo. O Rei conseguiu atingir o homem em cheio com a espada, porém, por questão de segundos, havia sido tarde demais. Ele atirou a adaga em direção à Daenerys, mas antes que o punhal pudesse atingir a moça, Jon jogou-se em direção a ela e sentiu a lâmina ser cravada em sua carne.

 

***

 

Sangue, sangue, sangue. Aquela era a única palavra que ecoava na mente de Daenerys. Apesar de ter armado um inferno feito de fogo ao seu redor, nada tinha mais importância para ela naquele momento do que Jon, que esvaia-se em sangue em seus braços. O punhal, que estava destinado à ela, agora estava fincado entre as costelas do rapaz, mas graças ao couro fervido que ele usava e a rapidez dos acontecimentos, a lâmina não havia entrado muito fundo na carne; contudo, o sangue esvaiu-se assim que Dany puxou o punhal para fora.

O homem que tentou atacá-la jazia no chão graças ao golpe de Jon, e a única coisa que restou à Rainha foi gritar por socorro. Mas, no meio da confusão que havia se formado, seus pedidos de socorro passaram despercebidos. Ela encarou Jon e as orbes negras lhe fitaram de volta. Ele tinha uma expressão fácil dura, e apesar de não querer demonstrar a dor que sentia, as linhas de sua testa o entregavam.

― Por que fez isso? ― Dany perguntou, e sua voz saiu mais fraca do que o esperado.

― Eu... Eu não podia deixar aquele homem machucá-la. ― Jon respondeu, enquanto tentava sem sucesso erguer o corpo.

― Não faça movimentos bruscos! ― ela colocou a mão sobre a ferida e sentiu o líquido viscoso inundar seus dedos ― Você não devia ter feito isso!

Jon respirou fundo, e sua expressão ficou mais grave ainda.

― E o que eu deveria ter feito então? Fingir que não via o que estava acontecendo e permitir que lhe matassem?

Ela passou a mão que não estava suja de sangue sobre a bochecha barbuda de Jon e suspirou. Mesmo se não o conhecesse, Dany saberia que ele era um Rei. Apesar de ter características comuns, havia algo especial nele, algo que emanava e resplandecia para todos à volta. Jon era incrivelmente belo, mas além do porte físico, era possível para Daenerys ver que o coração dele condizia com a aparência exterior dele.

― Temos que lhe tirar daqui. Consegue se levantar? ― a Rainha perguntou.

― Se você me ajudar, sim.

Dany passou o braço de Jon envolta de seus ombros e, em um embalo, conseguiu erguer os dois corpos. Ele era pesado, e ela mal podia carregá-lo. Agradeceu aos Deuses quando seus homens finalmente apareceram e ajudaram-lhe com Jon.

Lorde Tyrion também deu as caras, e apesar de assustado com o que vira, não perdera tempo para lhe indagar:

― O que aconteceu aqui?

― Eu reduzi o exército inimigo a uma pilha de carne esturricada. ― ela respondeu, como se fosse tudo muito natural ― E o Rei do Norte salvou a minha vida.

 

***

 

― Está tarde, tenho que voltar antes que minha família se dê conta da minha falta. ― Lyanna disse, afastando-se de Rhaegar.

Ela ainda estava tonta por conta da longa visão, mas não podia permanecer ali.

― Nos vemos amanhã então? ― o Príncipe indagou.

― Não creio que será possível. ― a jovem mordeu o lábio inferior, sem saber ao certo o que dizer.

― Então depois de amanhã?

― Tampouco. ― Lyanna respondeu, dando as costas para Rhaegar.

― O que está acontecendo? ― ele pegou a garota pelo braço e forçou-a a encará-lo.

A Stark suspirou pesadamente e sentia os olhos índigo do Príncipe perfurarem-lhe a alma.

― Brandon se casará com a garota Tully... ― ela começou a falar.

― Isto é sabido por todo o reino. ― Rhaegar lhe cortou ― O que o casamento do seu irmão tem a ver com os nossos encontros?

― Eu e minha família vamos para Correrrio para a celebração da cerimônia. Partiremos amanhã para as Terras Fluviais e... ― ela hesitou, sentindo o amargor tomar conta de sua boca ― E depois iremos para Ponta Tempestade para que eu e Robert nos casemos.

A expressão de Rhaegar murchou e ele soltou o braço de Lyanna, visivelmente decepcionado.

― Você quer se casar com ele? ― o Príncipe perguntou, com a voz dura.

― Não sei. Você quis se casar com Elia Martell quando o Rei lhe ordenou? Bem, isto não é mais relevante agora que estão casados e tem dois filhos juntos.

Rhaegar lhe encarou, visivelmente estarrecido.

― Então é isso? Uma forma de se vingar de mim? Você casará com o meu primo para me atingir?

Sem querer, uma risada escapou dos lábios de Lyanna, e ela viu como o Targaryen ficou confuso com aquilo.

― Acredite Alteza, isto não tem nada a ver com você! Esta situação diz respeito apenas à minha família e com o papel que meu pai espera que eu desempenhe! ― a risada cessou, e Lyanna sentiu seu rosto endurecer ― Não desejo casar com Robert ou com qualquer outro homem, pelo menos não agora. Se eu pudesse, fugiria daqui e retornaria apenas quando Lorde Rickard tirasse esta maldita ideia da cabeça!

Rhaegar aproximou-se novamente e pegou as mãos de Lyanna, segurando-as entre as suas.

― Então fuja comigo! Poderemos partir hoje mesmo se quiser!

― Não podemos e Vossa Alteza sabe disso. ― ela puxou suas mãos e afastou-se de Rhaegar ― Você é o Príncipe de Pedra do Dragão, e se aquelas visões estiverem erradas, será o próximo Rei. E eu... Bem, eu sou uma filha da Casa Stark e não posso desonrar minha família assim.

Lyanna virou os calcanhares e começou a caminhar, tentando não alimentar uma esperança impossível de ser concretizada.


Notas Finais


Por incrível que pareça, eu estou viva sim minha gente! Depois de quase dois meses sem dar as caras, vocês pensaram que eu tinha abandonado, né? Pois pensaram erradinho hahah. Acontece que eu tô tendo que adultar e conciliar faculdade + estágio + família + amigos + outras obrigações. Eu estou me preparando pra prestar concurso público ano que vem e gente, o estudo é demais! Por falar nisso, passei na seleção de estágio do TRE aqui do meu estado, obrigada vocês que me deram força ❤ Vou fazer mais algumas seleções pra tentar encontrar uma área que tenha mais a ver comigo, mas enquanto isso não acontece, vamos ficar felizes com que o que nós temos hahah
Enfim, chega de falar de mim, porque eu sei que o que interessa aqui é a fanfic. Como eu já disse antes, eu comecei a postá-la em outubro de ano passado crente que iria finalizá-la antes do começo da 7ª temporada. Ledo engano meu, porque faltam dois meses pra série voltar e eu não estou nem na metade da estória ainda. Hoje tirei a madrugada pra escrever esse capítulo, porque eu tinha conseguido escrever apenas metade nesse tempo todo que eu passei longe daqui, a outra metade foi toda feita hoje porque eu já estava incomodada com o peso da minha consciência. Eu respondi apenas metade dos comentários do capítulo anterior por essa falta de tempo, mas Julialins, Neka1992, Dreblack, _k4m1lly_, Azelen (velho, eu ri horrores com o seu comentário, de verdade), kingsjongin, cristal17 e Mahsschutz eu li tudo que vocês escreveram pra mim e fiquei muito feliz, de verdade. Vocês são muito fofos! ❤
Pra resumir a ópera, o que eu quero dizer é que: eu posso demorar pra postar os capítulos, mas não vou abandonar a estória. Eu posso finalizá-la até mesmo depois que a série acabar e o GRRM lançar o último livro (mentira, que ele demora mais do que eu pra escrever), mas não vou deixar vocês sem um final digno.
Ficou bem grandinha essa nota, mas é isso gente. Eu quero conversar mais com vocês também, sintam-se à vontade pra me adicionarem e puxarem papo comigo. Mais uma vez, eu posso demorar (novidade), mas eu respondo.
Comentem e me digam o que vocês acharam do capítulo. Lembrando que no próximo, vai ter chuva de R + L pra vocês e em seguida muito Jonerys também. Até ano que vem (brincadeira haha) ❤

PS: mudei o visual do tumblr da estória, deem uma olhada e me digam o que acharam. Podem me fazer perguntas por lá também se quiserem (mas comentem aqui também, ok amores?).
http://futurogf.tumblr.com/

PS2: ainda estou a procura de alguém pra fazer uma capa nova pra mim. Ajuda Luciano!


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