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História Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Prometida


Escrita por: crownprincess

Notas do Autor


Capítulo novinho, meus amores! Boa leitura e espero que gostem!

Capítulo 15 - Prometida


Fanfic / Fanfiction Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Prometida

Sentia o braço esquerdo dormente pela má circulação, mas não se importava. Daenerys estava deitada sobre ele, dormindo tranquilamente enquanto a tempestade brandia vorazmente do lado de fora das escuras paredes rochosas. Haviam chegado à Pedra do Dragão dois dias antes e Jon não conseguia dormir direito, passando a maioria das noites insone – não sabia o motivo, mas algo naquele castelo lhe perturbava. Pensou que seriam os espíritos dos antigos Targaryen, que se debatiam por ver uma de suas descendentes ao lado de um bastardo, ou talvez a magia que, segundo as lendas, cobria a antiga fortaleza.

Balançou a cabeça, tentando se livrar daqueles pensamentos. Não queria que sua mente fosse invadida por outras coisas enquanto estava ali, deitado com Dany em seus braços, enquanto observava os cabelos soltos e prateados brilharem em contraste com a pele nua e rosada. Jon passou a ponta dos dedos pelos fios e beijou o topo da cabeça da Targaryen, inebriado pelo perfume adocicado que exalava e sentia o calor das peles em contato amenizar o frio que se instalava no quarto.

Daenerys movimentou-se em seus braços, como se procurasse uma posição mais confortável, até que Jon ouviu um longo suspiro e a respiração cadenciada da garota tornar-se um pouco mais irregular.

― Já amanheceu? ― ela perguntou, virando a cabeça em direção a Jon, com os olhos violetas levemente inchados pelo sono.

― Não. Se o sol já tivesse nascido, eu não estaria aqui. ― ele respondeu.

A Rainha apoiou-se na cama e o encarou, como se despertasse de vez do sono no qual estava imersa.

― Estou farta de termos que nos esconder como dois criminosos. ― Dany murmurou ― Não estamos fazendo nada de errado...

― Se descobrissem que partilhamos a cama sem estarmos casados, os inimigos poderiam usar isto para prejudicar sua reputação e manchar-lhe a honra. ― Jon tentou explicar.

― Cersei Lannister dorme com o próprio irmão gêmeo... Ela não poderia utilizar este argumento sem soar hipócrita.

― As pessoas são hipócritas, especialmente em Westeros. ― ele respondeu ― E há também Alys...

A expressão antes relaxada que perdurava no rosto de Daenerys fechou-se e Jon percebeu quando a boca carnuda contorceu-se em dissabor ao escutar o nome da Karstark; a Rainha afastou-se dele e sentou-se na cama, ficando de costas para Jon.

― Não seria correto humilhá-la publicamente, sabe bem disto. Quando resolvermos nossas pendências aqui e formos para o Norte, prometo que...

― Então tudo bem deitar-se comigo todas as noites desde que ninguém fique sabendo? ― ela o interrompeu ― As pessoas de fato são hipócritas neste país.

Num rompante, Daenerys livrou-se das cobertas e pulou para fora da cama, indo em direção à grande janela que se lançava em direção ao mar, abrindo as cortinas que vedavam a abertura. A luz intensa da lua invadiu o quarto e a Targaryen permaneceu parada, virada para a ventana.

Jon levantou-se e caminhou até ela, decidido a acabar com qualquer desentendimento entre os dois. Ele sabia que Daenerys poderia ser teimosa e obstinada demais, mas também entendia – ou pelo menos tentava – o que ela sentia naquele momento. Se fosse ao contrário, e a Rainha estivesse prometida para outro homem, ele também não se sentiria à vontade e o simples ato de pensar naquela hipótese lhe causava arrepios na espinha.

Arriscou-se e colocou os braços ao redor da cintura de Dany, abraçando-a por trás e sentindo sua pele nua aderindo ao calor da dela. Por alguns breves instantes, ela pareceu resistir.

Jon aproximou sua boca à orelha da garota e a encostou no parapeito da janela.

― Estou prestes a quebrar um compromisso por você. ― ele sussurrou ― Prometi algo a alguém e não cumprirei simplesmente porque não suporto a ideia de não tê-la comigo... Dei minha palavra, mas sou incapaz de efetivá-la porque isso significaria nunca mais poder fazer isto...

Ele mordicou o lóbulo da orelha de Daenerys e notou quando ela baixou a guarda. Sua boca desceu até chegar ao pescoço, onde distribuiu pequenos beijos e mordiscadas.

― Eu não consigo nem mesmo me importar com a mancha que se impregnará em minha honra... Sabe por quê? ― Jon indagou antes de girá-la em seus braços e fazê-la encará-lo.

Os curiosos olhos violetas lhe fitavam e as bochechas rosadas e a respiração ofegante entregavam que Dany ardia tanto quanto ele naquele momento. Enquanto uma de suas mãos permanecia na cintura da moça, a outra fez o caminho até o rosto, sentindo o toque aveludado da tez pressionado contra seus dedos.

― Porque lutei contra tantas coisas na minha vida... Eu simplesmente cansei. Não consigo lutar contra nós dois, não quando eu já estou completamente arrebatado por você. ― ele por fim disse.

Jon puxou-a pela cintura e sentiu os pequenos braços enrolarem-se em volta de seu pescoço enquanto seus lábios encontravam novamente com os de Daenerys. O gosto adocicado de mel que ela tinha invadiu seu paladar e fez Jon imergir mais ainda naquele momento, que o fazia esquecer-se de todas as obrigações e guerras que teria pela frente. Segurou-a com mais firmeza, sentindo as pontas dos seios deslizarem em seu peitoral à medida que ela se rendia ao seu toque. Tomou-a nos braços e segurou-a, levou Dany até a cama e colocou seu corpo sobre o dela com cuidado enquanto seus lábios passeavam pelos lábios e pelo queixo da moça.

― Você é meu... Só meu... ― Daenerys lhe sussurrou entre arfadas.

Ela cravou as unhas nas costas de Jon e enviesou o corpo, colocando-se em cima dele. O nortenho não podia discordar daquela afirmação, pois ele sabia muito bem quando uma batalha estava perdida – e uma batalha contra Daenerys Targaryen era impossível de se vencer.

 

***

 

Pedra do Dragão podia ser pequena, mas não foi difícil encontrar a riqueza que se escondia sob o castelo. As palavras de Stannis Baratheon provaram-se verdadeiras e uma farta mina de vidro de dragão estava submersa nas entranhas do vulcão adormecido que jazia na ilha dos antigos Targaryen. Era necessário se preparar para a Grande Guerra e obter o máximo de vidro de dragão que pudesse era um começo, Jon pensou. Teria que pedir autorização para Daenerys e também arranjar os instrumentos necessários para extrair a substância, mas poderia inspecionar melhor o local antes de começarem, e assim o fez.

Após passar toda manhã e parte da tarde dentro das câmaras forradas de obsidiana, reuniu informações sobre os pontos com maior concentração do material e em como poderia minerá-lo mais eficácia. Decidiu então retornar para o castelo e descansar para o dia seguinte que prometia ser intenso.

Jon foi direto para seus aposentos, decidido a ao menos cochilar, mas foi interrompido por um dos criados, que trazia uma carta que vinha do Norte. Por um breve instante imaginou que fossem palavras escritas por Arya ou Sansa, mas percebeu que estava errado ao desenrolar o pergaminho amarelado.

 

“Meu querido e amado Rei

 

Soube do atentado que quase lhe tirou a vida e meu coração sangra ao imaginar o terrível sofrimento pelo qual passou. Rezei dia e noite, pedindo aos deuses que providenciassem sua recuperação e fiquei extremamente aliviada e feliz ao ler a carta que Sor Davos enviou a Winterfell para informar que Vossa Majestade havia vencido a morte mais uma vez.

Anseio por nosso reencontro, e principalmente para que este ocorra o mais rápido possível – assim como sua vitória contra os exércitos da usurpadora Lannister – para que enfim sejamos unidos em matrimônio. Cuide-se e jamais esqueça que sou eternamente fiel e devotada à Vossa Majestade.

 

Sua prometida e futura Rainha,

Alys Karstark.”

 

O sentimento de culpa, que geralmente ficava adormecido quando estava em companhia de Daenerys, tomou conta do peito de Jon. Sentiu vergonha de si, por ter tão pouca consideração pela mulher que lhe aguardava no Norte e ser egoísta a ponto de até mesmo esquecê-la em certos momentos. Alys era uma boa garota e não era correto trai-la daquela forma, ele bem sabia. Ela merecia saber o que realmente se passava com os sentimentos de seu noivo e a razão pela qual ele não poderia desposá-la.

Jon pensou seriamente em lhe mandar uma carta explicando a situação, mas sabia que não era a forma correta de terminar um compromisso tão sério quanto aquele que tinham firmado; se fosse covarde àquele ponto, envergonharia a memória do senhor seu pai. Teria que encarar Alys frente a frente e lhe dizer que estava apaixonado por Daenerys e que não poderiam se casar, mas que ainda lhe devolveria o que era seu de direito e recuperaria Karhold.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho vindo da porta, de um recém-chegado que se anunciava e pedia licença para adentrar no cômodo. Após gritar algumas palavras autorizando a entrada, Jon se deparou com a dama de companhia de Daenerys.

― Perdoe-me pela intromissão, mas a Rainha o convoca para uma reunião na Sala da Mesa Pintada. ― a moça disse.

Jon analisou a expressão de Missandei, perguntando a si mesmo se ela sabia da extensão do relacionamento que ele e Daenerys mantinham.

― Acho melhor ir de uma vez, não seria adequado deixar Sua Majestade esperando. ― ele disse.

Missandei assentiu e então o escoltou silenciosamente pelos frios e íngremes corredores de Pedra do Dragão. Quando enfim chegaram ao salão, Jon deparou-se com Davos e o tal Varys em companhia de Daenerys, que manteve a expressão impassível ao vê-lo.

― Bem, já que estamos aqui, posso dar-lhes as boas notícias que acabei de receber. ― a Targaryen começou a falar e então exibiu um pergaminho que estava enrolado entre seus dedos ― Lorde Tyrion informou-me que a conquista de Rochedo Casterly foi um sucesso e que os senhores das Terras Ocidentais dobraram os joelhos e deixaram de reconhecer Cersei Lannister como Rainha. Graças à renúncia de Jaime Lannister, Verme Cinzento e os Imaculados sequer precisaram entrar em combate. ― ela ergueu a outra mão e mostrou mais um pergaminho ― Qhono, comandando os dothraki, e os irmãos Greyjoy, comandando a marinha, trouxeram a paz novamente à Dorne, tanto na terra quanto no mar e expulsaram o exército inimigo da região.

Por mais que parecesse séria e régia ao pronunciar as palavras, Jon podia detectar um rastro de orgulho e satisfação no timbre de Daenerys, pois, afinal de contas, ela estava conseguindo o que tanto ansiava com o mínimo derramamento de sangue inocente.

― Meus passarinhos também trazem notícias, Majestade. ― Varys manifestou-se.

Daenerys assentiu com a cabeça, dando autorização para que prosseguisse.

― O bloqueio realizado por nossas tropas em Porto Real parece estar surtindo efeito, e a insatisfação da população com a tirania de Cersei aumenta cada vez mais. Não demorará muito até que por fim se revoltem. ― ele disse, com um tom de voz quase musical ― E também descobriram o mandante do atentado que vitimou o Rei do Norte.

Jon sobressaltou-se ao escutar aquilo, tanto curioso para tomar conhecimento da identidade do envenenador, quanto temeroso pela reação que Daenerys teria. Ela o encarou rapidamente com uma expressão séria e pesada, mas logo voltou seus olhos ao eunuco.

― Diga-me, para que eu possa enfim aplicar a justiça contra o traidor! ― a Rainha disse, e seu timbre ardia em um misto de raiva e dureza.

― Vossa Majestade já deve saber que era o alvo do atentado, que nada mais era do que uma tentativa de vingança. Com a informação de que a adaga estava envenenada, voltei-me para o local mais óbvio, onde a utilização de venenos é mais comum do que no resto de Westeros: Dorne. ― Varys começou a explicar ― Meus passarinhos informaram-me que após o golpe de estado aplicado pelas Serpentes de Areia, o castelão de Lançassolar, Manfrey Martell, primo do falecido Príncipe Doran, fugiu para Essos e instalou-se em Norvos junto à Mellario, viúva do Príncipe e mãe do jovem Trystane. Os dois contrataram um assassino de aluguel para que desse cabo da vida de Vossa Majestade por ter se aliado àquelas que causaram a morte dos Príncipes e a quase extinção da Casa Martell.

― Então... Não foram os Lannisters? Ou alguém que desejava impedir a minha conquista? ― Daenerys aparentou ficar um tanto surpresa ao tomar conhecimento daquelas informações.

― Não, Majestade. Os dois desejavam vingar os entes queridos que foram mortos pela amante e pelas bastardas de Oberyn Martell, e a julgaram culpada por ter se associado a elas... Um erro terrível, que lhes custou muito caro... ― a expressão de Varys tornou-se pesarosa.

― O que fez, Lorde Varys? Agiu sem me consultar? ― a Rainha indagou e sua expressão fechada endureceu.

― Jamais me atreveria a fazer tal coisa, Majestade! ― o eunuco se defendeu e suspirou pesadamente ― Mas infelizmente outros aliados seus não conseguem controlar os impulsos tão bem quanto eu...

― Do que está falando? Ou melhor, de quem?

― O Capitão Daario Naharis, que sempre foi dedicado até demais a Vossa Majestade, tomou conhecimento da situação, e antes mesmo que eu pudesse agir, mandou alguns de seus homens a Norvos para que dessem cabo de Manfrey e Mellario... Os passarinhos informaram-me que a coisa toda foi uma carnificina. ― Varys contou.

O rosto de Daenerys ficou vermelho e Jon soube que ela estava irada.

― Como Daario toma uma decisão que me atinge diretamente sem ao menos me consultar? ― ela elevou sua voz e quase gritava ― Agora as pessoas de Norvos devem pensar que sou uma carniceira que busca apenas vingança e nada mais! Ele não tinha direito de jogar meu nome da lama desta forma!

A sala foi tomada pelo silêncio e pela tensão após Daenerys apoiar as duas mãos sobre a Mesa Pintada e ficar encarando o local que representava Dorne.

― Acho que é hora de deixarmos a Rainha a sós, já que as notícias que tinham que ser dadas já foram reveladas... ― Missandei falou, tentando poupar as pessoas do clima pesado que se instalara no ambiente.

Daenerys não se manifestou e então os outros assentiram e começaram a sair um por um da sala. Quando Jon estava a apenas alguns passos da grande porta de madeira para se retirar, escutou a voz da Rainha:

― Você fica.

Jon virou-se e viu que ela ainda tinha os olhos vidrados na mesa. Deu alguns passos em direção a Daenerys, mas parou quando ela começou a falar.

― Eu jamais quis prejudicar os Martell... Pelos Deuses, a minha cunhada e mãe dos meus sobrinhos era uma deles! ― a voz de Dany falhou, e quando ela ergueu os olhos para encarar Jon, pôde perceber que eles brilhavam como se ela estivesse prestes a chorar ― Elia sofreu tanto por culpa do meu irmão e do meu pai, e agora o que restava da família dela foi massacrada por minha causa... Eu não queria que...

As palavras pareceram se perder na boca de Daenerys, abafadas pelas lágrimas que começaram a rolar por suas bochechas. Jon foi até ela e envolveu-a em seus braços, trazendo-a para perto de si e encaixando a pequena cabeça prateada em seu peito enquanto beijava a região.

― Eu nunca lhe pedi desculpas pelo que minha família fez com a sua... Eu sinto muitíssimo... Se eu pudesse mudar o que eles fizeram... ― ela disse, entre lamúrias.

― A culpa não é sua, você sequer era nascida quando tudo aconteceu. ― Jon lhe acalentava na tentativa de consolá-la ― Não faz sentido se desculpar por algo pelo qual não foi responsável.

Dany ergueu a cabeça e o violeta de suas íris contrastava com o vermelho do choro.

― É tão bom tê-lo do meu lado, tão reconfortante... ― ela colocou as duas mãos entre o rosto de Jon e beijou-lhe rapidamente os lábios ― Mal posso esperar para que a noite chegue logo para que possamos ficar juntos.

Jon desvencilhou-se de Dany e deu alguns passos para trás.

― Creio que seja melhor que passemos algum tempo sem visitar os aposentos um do outro. ― ele disse.

― Por quê? ― Daenerys indagou, visivelmente decepcionada ― Aconteceu alguma coisa?

Após hesitar brevemente, pensando que talvez aquele não fosse o momento ideal para trazer a informação, Jon decidiu que não aguentaria guardar aquilo para si e por fim contou-lhe o que se passou antes da reunião.

― Recebi uma carta vinda de Winterfell... Uma carta escrita por Alys e...

― A sua honra nortenha, a qual você estava disposto a flexibilizar voltou a ser rígida como sempre. ― Daenerys lhe cortou, e a expressão chorosa deu lugar a severidade.

― Eu sei que eu disse que não me importava, mas o fato era que eu tentava ao máximo não lembrar que há uma mulher esperando por mim no Norte, porém a carta me fez perceber que este não é um fato que eu possa ignorar sem que haja consequências. ― Jon tentou explicar.

― Então você não quer que partilhemos a cama até que tudo esteja resolvido? É isso?

― Acredite, será um dos maiores sacrifícios que eu farei na minha vida! ― ele deu alguns passos em direção a ela ― Meu maior desejo neste momento é jogá-la nesta mesa e tomá-la aqui e agora... Mas nós dois sabemos que não é a coisa certa a se fazer.

― Se prefere assim, não há nada que eu possa fazer. ― ela Daenerys deu de ombros ― Não pretendo me humilhar por um homem que prefere manter distância.

Jon suspirou pesadamente.

― Já disse que esse afastamento não é algo que eu deseje! Mas pense bem, uma coisa que começa mal tem alguma possibilidade de terminar de uma forma boa? ― ele segurou delicadamente o rosto de Dany e a fitou ― Quero que o nosso relacionamento seja feliz e duradouro. Quero que fiquemos juntos sem a culpa de trair outra pessoa, que seja minha esposa... Já pensou se por acaso lhe engravido justo agora, sem antes resolver toda esta confusão?

Daenerys cerrou os olhos e seus lábios retorceram-se em uma fina linha enquanto ela se desvencilhava das mãos de Jon e se afastava dele.

― Se esta é sua preocupação, não há o que temer. ― ela respondeu, de forma demasiadamente séria ― Não gerarei um filho seu nem de qualquer outro homem, seja agora, seja no futuro.

Ela lhe deu as costas e saiu da sala como uma tempestade avassaladora.

 

***

 

― Sansa me mandará para Skagos! ― Roslin lhe disse de forma ofegante, abordando Alys no átrio de Winterfell.

Alys lhe encarou e percebeu que ela tremia.

― Primeiro respire... E depois me conte de onde tirou essa ideia. ― a Karstark disse.

As bochechas de Roslin estavam vermelhas e sua respiração entrecortada, o que denunciava que ela deveria ter corrido compartilhar a informação. A Frey tomou uma bela lufada de ar e então começou a explicar:

― Escutei alguns dos soldados do Vale comentando que Sansa tem planos de unir todo o Norte e que planeja aproximar-se dos clãs de Skagos... E que a forma mais fácil e prática de fazer isto acontecer é por meio de um matrimônio, e que eu seria a noiva ideal para a situação... ― ela choramingava.

Alys rolou os olhos.

― Por acaso vai começar a acreditar em histórias contadas por soldados?

― Não posso me separar de Walder... Digo, Robb! ― Roslin falou, desesperada ― Meu filho é tão pequeno, tão indefeso...

   Então o rumor começou a fazer sentido. Qual seria a melhor forma de controlar o Senhor de Correrrio senão afastá-lo de sua mãe? Skagos era uma ilha misteriosa e sinistra, com povos que possuíam hábitos peculiares e que quase não tinham laços com o continente apesar de prestarem vassalagem à Casa Stark. Poucas pessoas da terra firme tinham coragem de colocar os pés na região, que sempre foi cercada de mitos e lendas – algumas destas, inclusive, envolviam supostos atos de canibalismo praticados pelos nativos, que seriam mais parecidos com os selvagens do que com o povo civilizado.

― Vai dar tudo certo. ― Alys encarou Roslin, tentando lhe acalmar ― Jon jamais permitiria que Sansa fizesse algo assim.

― Acha que ele enfrentaria a própria irmã para me defender?

― Tenho certeza. Ele é o tipo de homem que não admite injustiças, e lhe enviar para Skagos é uma injustiça, não acha?

Alys colocou a mão sobre as costas de Roslin, dando rápidas batidas para que se acalmasse. Contudo, sentiu algo estranho, e seu sexto sentido lhe disse que estava sendo observada. Olhou rapidamente para trás e deparou-se com um homem extremamente alto, com a cabeça coberta por uma penugem loura escura que era invadida por uma calvície precoce tendo em vista sua aparente idade; os olhos cinzentos a perfuravam e lhe encaravam sem discrição.

― Quem é aquele? ― Roslin perguntou.

― Um tal de Sigorn. É um dos selvagens que Jon trouxe quando reconquistou Winterfell. ― a Karstark explicou.

― Ele sempre olha para você desse jeito tão... Intenso?

Não sabia se desde sempre, mas desde que regressara das Terras Fluviais, Alys percebia que Sigorn lhe direcionava aqueles olhares enviesados e intensos. Nunca havia falado com ele e sequer sabia o motivo para todo aquele interesse, mas era algo que de certa forma lhe deixava temerosa e um pouco curiosa.

― Os selvagens são um povo um tanto quanto pitoresco... Não vale a pena perdemos o nosso tempo tentando entendê-los. Venha, vamos forrar nossos estômagos em frente a uma lareira para espantarmos o frio. ― Alys envolveu seu braço direito no de Roslin e começou a guiá-la para dentro do castelo.

Contudo, antes de adentrar as paredes de pedra, deu uma olhada por cima do ombro e verificou que os olhos de Sigorn acompanhavam as duas garotas. O encontro entre os dois pares de olhos cinza não demorou a acontecer e um estranho arrepio percorresse a espinha de Alys, e ela torceu para que fosse apenas o frio.

 

***

 

A maldita enxaqueca invadiu a cabeça de Lyanna assim que suas mãos se separaram do represeiro. Estava terrivelmente tonta e enjoada, e não havia mais Rhaegar para lhe acudir ou impedir que ela tombasse no chão. Então sentou-se aos pés da árvore e sentiu as folhas secas estalarem enquanto passava as pontas dos dedos pelas têmporas doloridas pelo excesso de esforço mental que fizera naquela tarde. Não conseguia pensar em nada, tampouco processar tudo que viu e desejava apenas voltar para dentro do castelo e deitar-se na cama que lhe arranjaram.

Lyanna fez um esforço e conseguiu levantar, caminhando lentamente para fora do bosque até conseguir chegar ao interior da fortificação. Utilizou-se de toda sua educação para cumprimentar as pessoas pelas galerias de Correrrio, até que chegou ao aposento que lhe fora destinado por Lorde Tully e jogou-se na cama, sem ao menos afrouxar as apertadas amarras que prendiam seu vestido. A mente cansada simplesmente apagou e um sono sem sonhos veio rapidamente para lhe tirar daquela torpor em que se encontrava.

A lua já estava alta no céu quando uma das damas de companhia lhe acordou, anunciando que haveria um festim em homenagem a Brandon e Catelyn. A cabeça de Lyanna ainda doía, mas ela sabia que o senhor seu pai ficaria furioso se não aparecesse na comemoração. Arrastou-se para fora da cama, jogou um pouco de água no rosto e colocou um vestido que trouxe de Winterfell, encomendado por Lorde Rickard e feito de brocado branco com desenhos e detalhes dourados que se estendiam ao longo das mangas, do corpete e do saiote – uma tentativa de emular a junção das cores das Casas Stark e Baratheon, Lyanna pensou.

A dama de companhia prendeu parte de seu cabelo para trás, trançando o cabelo e torcendo-o até formar um coque firme no topo de sua cabeça, enquanto o resto dos fios negros pendia solto pelos seus ombros e costas. Também passou algum tipo de pigmentação que deu aos lábios e bochechas de Lyanna uma leve coloração vermelha, que espantou a palidez excessiva que tomava conta de sua tez nos últimos tempos. Quando a Stark se encarou no espelho, sentiu que sua aparência estava sulista demais e não sabia ao certo se aquilo lhe agradava.

Mas de todo modo, dirigiu-se até o Grande Salão de Correrrio, onde o banquete tomaria lugar. Ao chegar, percebeu que com exceção de Brandon e Catelyn, todos os outros – o senhor seu pai, Ned, Robert, Lorde Tully, seus filhos e seu irmão – já estavam dispostos no alto assento e conversavam animadamente enquanto os vassalos sentavam nas mesas menores, servidos por criados que distribuíam vinho, cerveja e hidromel à vontade. Lyanna podia ver que as mesas fartas de tortas de carne de porco, de carne e bacon, costelas de carneiro acompanhadas por purê amanteigado de nabos amarelos, bolinhos de bacalhau, guisado de carne e cevada, frango ao mel, truta envolta em bacon, carne cozida temperada com armorácia, ensopado de coelho acompanhado de cebolas, repolho e cenoura, salada de feijões verdes, cebolas e beterrabas, pão de aveia marrom e alguns doces, como tortas de limão e uva de concórdia, tartes de cereja, pães-de-mel, e tortas de abóbora. O cheiro nauseante das comidas que se misturavam no ambiente abafado do salão fazia com que o estômago de Lyanna revirasse, e seu apetite, que era pouquíssimo, passou a não mais existir.

Ned a viu e avisou ao pai, que então fez um gesto com a mão pedindo para que Lyanna se aproximasse da mesa central, e assim ela o fez. Viu que um dos três acentos vagos ficava ao lado do local onde Robert estava sentado e antes mesmo que Rickard lhe dissesse qualquer coisa, sabia que aquele era o local que haviam lhe reservado.

― Está linda, Lya. ― o pai a elogiou, a observando com orgulho.

― Mais linda do que nunca! Que Lorde Tully não me escute, mas nem mesmo a Senhora Catelyn poderá reclamar o título de mulher mais bela enquanto estiver aqui, Lyanna! ― Robert completou, empolgado.

Deu um sorriso amarelo em direção ao noivo.

― Obrigada senhor meu pai, e obrigada Lorde Baratheon. ― ela respondeu.

― As cores das nossas casas combinam, não acha, Ned? ― Robert cutucou o amigo com o cotovelo, enquanto apontava para o vestido da jovem Stark.

― De fato, Rob. Branco e dourado são duas cores que casam bem. ― Ned disse, enquanto sua habitual expressão séria relaxou dava lugar a um sorriso discreto ― Esta lindíssima, Lya.

― Obrigada, irmão. ― ela sorriu, desta vez verdadeiramente.

Robert gesticulou para que ela se sentasse ao seu lado, e assim Lyanna o fez. Ofereceram-lhe vinho e hidromel, os quais ela recusou. Não conseguiu nem mesmo comer um pedado do frango ao mel que tanto adorava ou os tartes de cereja que geralmente faziam seu apetite aumentar, pois seu olfato simplesmente rejeitava todo e qualquer odor de comida.

Conversou com o noivo, que se dividia alegremente entre ela e Ned enquanto engolia cálices e mais cálices de vinho dourado da Árvore, contando-lhe sobre o tempo que os dois passavam no Vale ao lado de Jon Arryn. Depois, a conversa voltou-se para o eminente casamento entre os dois, e a empolgação de Robert – que já era grande – pareceu duplicar.

― Tenho certeza que amará Ponta Tempestade, Lya. Farei de tudo para que se sinta em casa. ― ele falou.

Winterfell é minha casa. ― ela respondeu, e soou mais grossa do que pretendia.

― Você pode muito bem ter duas casas. ― Ned tentou remediar.

― Talvez... ― Lyanna por fim respondeu.

Detestava pensar no assunto, mas a Stark sabia que se algo de extraordinário não impedisse o acontecimento, seu casamento com Robert era um fato consumado. Todas as visões que tinha do futuro se provariam falsas, ele nunca se tornaria Rei e seria apenas o Lorde de Ponta Tempestade – e ela seria sua esposa, a Senhora Baratheon. Pegou o cálice do noivo que jazia quase cheio sobre a mesa e entornou metade do vinho, sentindo gosto amargo do álcool misturar-se com o doce das uvas em sua língua. Pensou que, se a alternativa para impedir que todas as desgraças que se abateriam sobre sua família seria casar com Robert e parir crianças grandes, de cabelos negros e olhos azuis, que assim fosse.

Seus pensamentos foram interrompidos pelos barulhos das trompas, que anunciavam a chegada das estrelas dos banquetes. Brandon entrou no salão de braços dados com Catelyn, e Lyanna percebeu que os dois eram o casal mais lindo que vira na vida. O irmão era alto, musculoso e belíssimo – sempre fora o filho mais formoso de Rickard e Lyarra Stark, afinal de contas – e sua noiva era graciosa e linda, com o rosto delicado e os cabelos vermelhos presos no topo de sua cabeça, andando com o porte digno de uma rainha.

Todos os presentes aplaudiram o belo casal, que se dirigiu à mesa principal e ocupou os dois últimos lugares de vazios que ficavam entre Lorde Rickard e Lorde Hoster. O festim então entrou em polvorosa e a música começou a tocar mais alto. A mistura de vozes e risadas ecoava no salão, assim como o barulho das taças, dos talheres e dos pratos que eram rapidamente preenchidos de comida assim que ficavam vazios. As pessoas conversavam, bebiam e dançavam e estavam realmente felizes. Pensou que, talvez, as visões que os represeiros lhe concediam mostrassem um futuro alternativo que jamais chegaria a se concretizar, e que Brandon e Catelyn seriam felizes em Winterfell, enquanto Ned se casaria com uma nobre da Campina ou de Dorne – talvez Ashara – e ela teria uma vida tranquila em Ponta Tempestade ao lado de Robert.

Brandon e Robert levantaram-se da mesa para fazerem sabe-se lá o que e arrastaram Ned junto deles, enquanto seu pai conversava com Lorde Hoster e Lorde Brynden. A garota Tully mais jovem conversava com o irmão e lhe cobriu de pequenos tapas quando ele tentou roubar algo de seu prato, e de repente a Stark sentiu-se sozinha no meio da multidão.

― Senhora Lyanna? ― uma voz melodiosa lhe chamou, e quando virou para ver de quem se tratava, encontrou Catelyn Tully lhe encarando do outro lado da mesa

― Oh, olá. ― ela respondeu.

Catelyn levantou-se e caminhou graciosamente, sorrindo a ponto de deixar as belas maçãs do rosto evidenciadas.

― Em breve seremos irmãs, mas ainda não tivemos o prazer de conversar.

A Tully afastou a longa barra do seu vestido azul e sentou-se à esquerda da Stark, no lugar que antes era ocupado por Robert.

― Gostaria de lhe dar as boas vindas a Correrrio e dizer que estamos muito felizes por tê-la conosco. ― ela começou a dizer ― Brandon fala muito de você, me disse que não é como as outras garotas.

Lyanna ruborizou, imaginando o que o irmão havia dito à noiva.

― Acho que sou uma pessoa normal, ou pelo menos tento ser... ― ela disse.

― Então gostaria de se juntar a mim e a Lysa amanhã? Haverá um recital e gostaríamos que participasse. ― os grandes olhos azuis lhe encaravam, esperando por uma resposta.

Podia ter uma tendência a gostar de atividades tipicamente masculinas, mas Lyanna de fato apreciava boas músicas e poesias. Pensou que talvez fosse melhor se distrair com algo ao invés de ficar olhando para as paredes dos seus aposentos ou se perder nas visões dentro do bosque sagrado. Ela assentiu positivamente com a cabeça.

― Obrigada pelo convite, Senhora. ― a Stark agradeceu.

Catelyn sorriu, mostrando os dentes perfeitos.

― Fico muitíssimo feliz por se juntar a nós! ― ela se aproximou de Lyanna e começou a sussurrar ― Depois, se quiser, podemos pescar nas margens do Ramo Vermelho. Mas não conte para papai, ele me mataria se soubesse que ainda fujo para pescar.

Lyanna sorriu, achando graça da situação. Catelyn também riu, e pensou que talvez estivesse começando a gostar da futura cunhada.

As trompas bradaram mais uma vez e um rebuliço tomou conta do salão. Todos os convidados importantes já estavam ali, não havia mais ninguém para ser anunciado, então quem acabara de chegar? A resposta veio quando três homens da Guarda Real, vestidos com armaduras brilhantes pratas e capas tão alvas quanto o leite, escoltaram o Príncipe Dragão salão adentro.

― Anuncio a entrada de Sua Alteza Real, o Príncipe Rhaegar da Casa Targaryen, Príncipe de Pedra do Dragão e herdeiro do Trono de Ferro. ― o arauto bradou.

O sangue de Lyanna congelou e por um breve instante ela até mesmo esqueceu de respirar. Perguntou-se se seu rosto havia empalidecido ou se qualquer outro sinal havia entregado seu choque ao ver Rhaegar à sua frente.

Ele caminhou até a mesa principal, enquanto os nobres baixavam as cabeças à medida que o Príncipe passava por eles. Lorde Tully e o senhor seu pai levantaram no instante em que notaram sua presença e fizeram uma rápida vênia, assim como Cetelyn, que curvou-se graciosamente em direção a ele. Lyanna, surpresa demais, demorou para levantar e fez uma reverência tosca e desajeitada.

― Lorde Tully, Lorde Stark... Espero não estar atrapalhando as comemorações. ― ele disse, antes de lançar um olhar discreto em direção à Lyanna.


Notas Finais


Amores, primeiramente eu queria agradecer DEMAIS os comentários do capítulo passado e dizer que vocês são demais, sério! Foram 47 comentários, quase o triplo do segundo capítulo mais comentado com sugestões, ideias, elogios, críticas construtivas, impressões, todas vindas de vocês. Li tudo e também respondi (ou pelo menos acho que eu respondi, se eu esqueci de alguma pessoa eu peço desculpas e aceito um puxão de orelha) e olha, fiquei muito feliz e comovida com o carinho de vocês. Queria mandar um beijo especial pra @Anna09bs que começou a ler a fic recentemente mas deixou comentários em quase todos os capítulos e pra lindas @JanainaJose, @Directionfcks, @SamSilva, @hinadiva, @Neka1992, @_k4m1lly_, @Elena-Katarina, @Azelen (que às vezes me abandona, mas tudo bem), @Julialins, @NoivadoFogo, que são as pessoas que acompanham a fic desde o começo/sempre me dão uma tremenda força pra continuar e que são as melhores pessoas do mundo. E aos leitores que começaram a acompanhar/comentar agora, sejam bem vindos! Fiquem à vontade pra me adicionar, mandar mensagem e serem meus amiguinhos, porque gosto muito.
Depois de tantos agradecimentos, queria também pedir desculpas pelo atraso desse capítulo, eu tive alguns problemas pessoais e acabei sem ânimo nenhum pra escrever.
Mais uma temporada de GoT terminou e teve saliência Jonerys lá também, quem viu? Eu pulei do sofá na hora e quase acordei a rua toda só de felicidade hahahah Vem logo, 8º temporada!
Espero que vocês tenham gostado do capítulo (vai ter mais da minha rainha Lyanna no próximo pra quem tava reclamando que ela tava sumida) e se encontrarem algum erro, me avisem, por favor. Não esqueçam dos comentários, lembre-se que eles são o que impulsionam o escritor (e também nos deixam totalmente felizes, tipo capítulo passado).
Beijinhos e sigam o tumblr da fic:
http://futurogf.tumblr.com


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