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História Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Princesa Perdida


Escrita por: crownprincess

Notas do Autor


Meus amores, depois de quase uma eternidade, finalmente um capítulo novo! Eu não vou me alongar muito aqui, mas leiam as notas finais com a explicação pro meu sumiço. Boa leitura!

Capítulo 8 - Princesa Perdida


Fanfic / Fanfiction Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Princesa Perdida

A carroça balançava, ora pendendo para um lado, ora pendendo para o outro, fazendo com que a caixa que carregava sacudisse e se arrastasse sobre a madeira. O caminho era íngreme, cheio de buracos e pedras que batiam nas rodas do veículo, o que fazia Arya temer uma possível quebra; ela saltou para fora da carroça, decidida a impedir que aquilo acontecesse, pois o conteúdo da canastra era precioso demais para sofrer qualquer tipo de dano. Passou por entre seus companheiros de viagem e foi para frente, pegando a corda que estava presa ao cavalo e passou a guiar o animal. Ela podia escutar a conversa entre Beric Dondarrion, Thoros de Myr e Anguy, mas não se importava nenhum um pouco com os planos da Irmandade sem Bandeiras; o seu único foco era chegar até Correrrio e finalmente reencontrar seu irmão Jon.

 ― Senhora, precisa de ajuda? ― uma voz falou, lhe tirando de dentro de seus pensamentos.

Arya olhou para o lado e viu Edric Dayne, que lhe estendia a mão. O sol refletia em seus cabelos louros, que emanavam faíscas prateadas, e fazia seus olhos azuis resplandecerem em uma cor que se aproximava muito ao violeta. A garota pensou que se os Targaryen fossem mais numerosos, Edric poderia se passar por um facilmente.

― Não sou uma senhora. ― ela respondeu, de forma seca.

― Claro que é. ― o jovem retrucou ― É irmã de dois Reis, filha de uma Grande Casa. O mais correto, inclusive, seria chamá-la de princesa.

O garoto ainda tinha o braço estendido, o que fez Arya rolar os olhos. Edric era alguns poucos anos mais velho que ela, mas, ocasionalmente, parecia uma criança.

― Se sou uma princesa, ordeno que me deixe em paz. ― sua voz saiu mais azeda do que pretendia.

― Lorde Beric pediu-me para acompanhá-la, sabe que não posso desobedecê-lo. ― Edric lhe respondeu.

Dando de ombros, Arya o ignorou até que ele finalmente abaixasse o braço e calasse a boca. Continuou andando ao seu lado, mas o fez em silêncio, e a garota agradeceu aos Deuses por isto. Estava ansiosa e nervosa, pois nunca estivera tão perto de reencontrar sua família quando estava naquele momento... Bem, esteve a algumas léguas das Gêmeas e por pouco não juntou-se à sua mãe e a Robb, mas lhe tiraram aquilo antes mesmo de conseguir olhar seus rostos novamente. Ela apertou a corta ao recordar-se da maldita traição que os dois sofreram, e seu único conforto era o fato de que Walder Frey conheceu a morte por suas mãos, assim como algumas dezenas de seus descendentes.

― Ned, venha até aqui! ― Beric gritou.

O garoto ao seu lado a deixou e correu até Dondarrion. Arya sentia um nó formar-se em sua garganta toda vez que chamavam Edric daquela forma, pois aquela palavra era um lembrete constante de que jamais teria o pai novamente ao seu lado.

Decidiu olhar para trás, e acabou dando de cara com o Cão. Com metade de sua face sendo coberta pela carne esturricada, ele demonstrava estar descontente como sempre. Ele não lhe dirigia a palavra desde que se reencontraram, e Arya entendia o motivo, pois o havia deixado para morrer enquanto fugia para Essos. Sandor Clagane não esboçava nenhuma reação nem mesmo quando enforcavam algum Frey pelo caminho.

Do outro lado, próxima aos homens da Irmandade, estava a Mulher Vermelha, aquela que lhe dera a notícia sobre a morte, ressurreição e coroação de Jon como Rei. Arya sabia muito bem que Melisandre só estava ali porque pretendia usá-la como forma de reaproximar-se de seu irmão, mas não se importava nenhum pouco com a situação. Ela própria seria capaz de usar qualquer pessoa para atingir seus objetivos, e não seria hipócrita ao ponto de recriminar a sacerdotisa de R’hllor. Além do mais, fora a Senhora de Asshai quem lhe dera as condições necessárias para que obtivesse o conteúdo da caixa de madeira que estava sobre a carroça, e também lhe ajudou em um momento em que ninguém mais podia – e por aquilo, Arya lhe teria uma eterna dívida de gratidão.

O sol já estava baixo quando Nymeria retornou de mais uma de suas caçadas. A loba tinha as presas lambuzadas de sangue, e mesmo não tendo entrado em sua pele, Arya soube que ela tinha tido sorte desta vez. Sabia que Nym precisaria estar bem alimentada e preparada para o que lhes aguardava. Ela encontraria seu irmão Fantasma, assim como a garota Stark encontraria Jon – e aquele simples pensamento fez o estômago de Arya revirar por pura ansiedade. De todos os irmãos, Jon sempre fora o seu favorito, aquele com quem mais se identificava, a ponto de pensar que ela também fosse uma bastarda devido à grande semelhança física entre os dois. Mas não se tratava apenas daquilo.

Robb morrera praticamente às suas vistas. Rickon, o caçula, o bebê que ela, mesmo não sendo dada às coisas de senhoras, embalou no berço, fora morto pela besta Bolton que dominou Winterfell. E Bran... Bem, ninguém o via há anos. Podia estar vivo em qualquer lugar de Westeros, mas ele era um aleijado, e por pior que fosse pensar daquela maneira, provavelmente também estava morto. Os únicos irmãos que lhe restavam eram Jon e Sansa, e tocando Agulha, que estava presa em sua cintura, jurou que, se fosse necessário, enforcaria, degolaria, esfaquearia e torturaria quantos homens pudesse apenas para tê-los de volta ao seu lado.

Mesmo com o vento frio do inverno que começava a aparecer nas Terras Fluviais, Arya não pararia até que estivesse em Correrrio. Uma pequena fagulha de culpa acendeu em seu coração ao pensar no castelo, pois lembrou-se de seu pobre tio Edmure e em como foi burra em não ter pensado em soltá-lo antes de matar Walder Frey – e em razão de um deslize tão estúpido, o irmão de sua mãe fora assassinado por aqueles carniceiros que descendiam do traidor que se intitulava o Senhor das Gêmeas.

O céu já estava escuro quando finalmente avistou o castelo, e um impulso de correr até lá tomou conta do peito de Arya. Por mais que soubesse que não deveria fazê-lo, suas pernas não obedeceram a sua cabeça e começaram a movimentar-se rapidamente, mesmo com os gritos de protesto de seus companheiros de viagem. Escutou as patas de Nymeria afundarem na grama e deu-se conta de que ela a acompanhava, e sequer se importava com Agulha, que balançava no cinto que a segurava. Diminuiu o passo ao ver as várias barracas que cercavam o castelo, e sua atenção caiu sobre algumas bandeiras da Casa Targaryen que tremulavam do lado direito do campo. Então os rumores eram verdade, pensou Arya; Jon realmente estava se reunindo com a tal Rainha dos Dragões.

― Aonde que você pensa que vai, garota?

Arya virou a cabeça para trás e pôde ver Sandor Clagane caminhando em direção a ela, com a expressão completamente irada.

― Está falando comigo? ― ela perguntou, surpresa.

― Não há ninguém aqui tentando nos matar além de você, sua estúpida. ― ele devolveu.

― Não estou tentando nos matar, estou tentando chegar até o meu irmão!

O Cão bufou, como se Arya tivesse dito alguma tolice.

― Correndo desta forma, você apenas conseguirá ser transformada em uma peneira pelas flechas dos besteiros que protegem o acampamento. ― o homem ironizou ― Além do mais, o cavalo poderia ficar assustado e derrubar a maldita caixa que carrega. É isso que você quer?

― Claro que não!

O amargor invadiu a boca de Arya apenas por cogitar aquela ideia.

― Então seja paciente e não faça nenhuma bobagem.

Sandor afastou-se e caminhou até Melisandre e os homens da Irmandade sem Bandeiras, que estavam um pouco mais atrás. “Você terá que esperar apenas mais um pouco”, pensou Arya. “Apenas mais alguns poucos metros e você estará ao lado de Jon.”

Assim que todos finalmente a alcançaram, os viajantes prosseguiram com a caminhada. À medida que se aproximavam do acampamento, as vozes dos homens ficavam mais altas e compreensíveis, e era possível para a garota escutar algumas conversas a respeito do irmão e da Rainha Targaryen, mas nada lhe fez muito sentido no primeiro instante. Não demorou muito para que um soldado montado à cavalo viesse em sua direção, portanto uma bandeira da Casa Stark que flamulava com o vento, formando uma visão que alegrou o coração da garota.

― O que desejam aqui? ― o cavaleiro perguntou enquanto parava em frente ao grupo de viajantes.

― Desejo falar com o Rei do Norte. ― Arya respondeu, com o timbre forte.

― Perdoe-me moça, mas o Rei é um homem ocupado e não sei se possui tempo para atendê-la. ― o homem respondeu.

― Que tipo de Rei ele é se não pode sequer atender seus súditos?

Arya arqueou a sobrancelha em desafio, e o homem não soube como respondê-la.

― Apenas deixem o acampamento, sim? ― foi a única coisa que ele conseguiu dizer.

A garota deu alguns passos e encarou o soldado.

― Não sou apenas uma súdita. ― ela falou, enquanto cerrava os olhos ― Diga a Jon que sua irmã deseja vê-lo.

O homem gargalhou.

― A Princesa está em Winterfell. Ou vai dizer que é a Senhora Sansa?

― Claro que não sou Sansa, eu e minha irmã somos muitíssimo diferentes. ― Nymeria se colocou ao seu lado e a jovem notou quando os olhos do soldado quase se deslocaram das orbes, tamanho seu espanto ― Informe a Jon que Arya voltou para casa.

 

***

 

Correr. Aquele era o único verbo que o cérebro de Jon processava e suas pernas conseguiam obedecer. Os músculos de sua panturrilha queimavam e ele não se importava, da mesma forma que mal se dava conta da presença de Fantasma ao seu lado, tamanha era a urgência que tinha para chegar ao pátio de Correrrio. “Arya voltou para casa”, foram as exatas palavras do soldado que fizeram o Rei largar os senhores sozinhos e sair em disparada como uma flecha. Naquele momento, pouco importavam guerras, pactos, coroas, casamentos ou qualquer outro assunto que pudesse lhe distrair do que realmente importava: a garota acompanhada de um lobo gigante que dizia ser Arya Stark.

Sua ansiedade era tanta que Jon pensava que suas pernas pareciam ter diminuído, pois eram incapazes de transportá-lo na velocidade que desejava. Precisava vê-la, tocá-la e ter certeza de que sim, sua irmã tinha voltado. Arya foi, durante grande parte de sua vida, a maior preciosidade de Jon, a menina de seus olhos, e a simples ideia de tê-la ao seu lado novamente fazia com que o rapaz sequer conseguisse raciocinar perfeitamente. A única coisa que podia fazer era correr.

Quando finalmente chegou ao pátio, viu-a sentada sobre uma pilha de madeira, enquanto acariciava as orelhas de um lobo cinzento, que virou para Jon, parecendo pressentir sua presença. Os olhos amarelos o fitaram por um breve instante, até o rapaz perceber que o animal não estava interessado nele, mas sim em Fantasma. O lobo albino tomou a iniciativa e foi até o mais escuro, farejando-o como se o reconhecesse, e após alguns instantes, ergueu uma das patas e depositou-a de forma gentil sobre a cabeça do outro animal. Depois de tanto tempo, Fantasma e Nymeria finalmente estavam juntos.

Como se saísse de uma transe, Jon finalmente pousou os olhos sobre a garota e analisou suas feições. Ela era baixa e tinha um corpo atlético, com cabelos castanhos que iam até um pouco abaixo do ombro em um corte reto que emoldurava um rosto comprido e bronzeado. Os olhos eram de um cinza quase negro, assim como os de Jon. Vê-la em sua frente era como encarar o próprio reflexo no espelho, tamanha a semelhança entre os dois.

― Arya! ― o nome finalmente saiu de sua boca.

A garota pôs-se de pé, e encarou-o, parecendo estar abismada. Ficou parada, sem conseguir dizer ou fazer alguma coisa.

Mas Jon não podia mais esperar. Após alguns passos apressados, jogou-se sobre ela e a envolveu em seus braços, trazendo-a o máximo que pôde para perto de si. Após alguns instantes e finalmente saindo de seu estado catatônico, Arya retribuiu o abraço e afundou o pescoço sobre o peito do irmão.

― Jon! Pelos Deuses! ― a voz dela falhava ― Pensei que nunca mais o veria!

Ele a segurou pela cintura e ergueu seu corpo, fazendo com que os dois rodopiassem pelo pátio. A alegria explodia dentro do peito do jovem Rei, e a única coisa que conseguia fazer naquele momento era sorrir enquanto encarava o rosto da irmã.

― Lembra-se do que me disse quando nos despedimos antes de eu ir para Porto Real e você para a Muralha? ― Arya perguntou, enquanto sacodia os pés.

Jon a colocou novamente no chão, mas continuou fitando-a.

― “Às vezes diferentes estradas levam ao mesmo castelo”.

― Você estava certo. Literalmente certo. ― Arya passou os dedos pelo rosto de Jon.

Nunca um som lhe pareceu tão bom quanto a voz da irmã. Após tanto tempo, reencontrá-la parecia um milagre, e Jon agradecia aos Deuses por permitir que ele colocasse novamente os olhos sobre Arya antes de partir deste mundo pela segunda e definitiva vez.

― Pensei que estivesse morta... Procurei por você em toda parte, mas não tive notícia alguma...

― Eu estava em Essos, fui para lá depois do que aconteceu com Robb e com a mamãe. ― a expressão de Arya mudou repentinamente, oscilando entre tristeza e raiva ― Por falar nisto, trouxe algo para você.

Ela agarrou a mão de Jon e o arrastou até uma carroça que estava próxima aos portões de Correrrio, e só então Jon percebeu que a irmã não estava sozinha. Viu ali alguns homens que não conhecia, mas dois rostos lhe eram familiares: o primeiro era Sandor Clegane, que conheceu na época em que Robert Baratheon visitou Winterfell e pediu para que seu pai ocupasse o cargo de Mão do Rei; a segunda face era de Melisandre, a sacerdotisa vermelha que lhe fez levantar dos mortos.

― O que você está fazendo aqui? ― Jon perguntou à mulher.

― Estou acompanhando a Princesa. ― a seguidora de R’hllor respondeu.

― Já disse que não sou Princesa! ― Arya interveio, protestando.

― Você é o que é, querendo ou não. ― Melisandre encarou a garota brevemente, mas desviou seu olhar para Jon ― Da mesma forma que você precisa de mim ao seu lado, meu Rei.

― Senhora, eu lhe avisei que se regressasse, lhe executaria por assassinato. ― o rapaz tocou o punho de Garralonga, que estava guardada em sua bainha.

― Lembro bem do que disse, Jon Snow. Falou-me que se eu regressasse ao Norte, cumpriria a sentença que me foi dada. Mas devo lembrar-lhe que não estamos no Norte. ― ela lhe respondeu.

A Mulher Vermelha estava correta. Ela não desobedeceu sua ordem, mas o crime que cometera era grave demais para que ficasse impune. Havia também Sor Davos, que não ficaria nenhum pouco contente de vê-la novamente.

― Você não a executará, Jon. ― Arya manifestou-se ― Melisandre me ajudou bastante, e não permitirei que a machuque.

― Arya, isso não tem nada a ver com você, esta mulher...

― Sei bem o que ela fez, e acho terrível. ― a garota o interrompeu ― Mas também sei o que ela fez por mim, e principalmente o que ela fez por você, não podemos esquecer. Além do mais, foi graças a ela que encontrei... ― apontou novamente para a carroça, mostrando ao irmão a grande caixa que o veículo carregava.

― O que é isto? ― Jon perguntou.

O rapaz percebeu quando os olhos da garota ficaram úmidos e seu coração se despedaçou ao escutar sua voz plangente enquanto respondia à pergunta.

― Robb. Ou pelo menos, o que sobrou dele.

Jon encarou novamente a caixa e sentiu um nó formar-se em sua garganta. O seu irmão, aquele que sempre admirou, respeitou, e de certa forma, invejou, estava em sua frente, mas dentro de uma caixa suja e surrada. Robb Stark, aquele que foi Rei do Norte e do Tridente antes dele, que nunca perdeu uma batalha sequer, teve seu corpo encaixotado como um indigente.

― Tem certeza que é ele? ― foram as únicas palavras que Jon conseguiu pronunciar antes de sentir seu maxilar travar.

― Tenho. Um corpo humano enterrado com uma cabeça de lobo gigante acoplada não é uma coisa muito comum de se ver. ― o ódio de Arya ao dizer aquilo era quase palpável ― Aqueles malditos vilipendiaram o cadáver do nosso irmão, Jon. Fizeram um desfile grotesco com ele e Vento Cinzento, e o enterraram como um miserável dentro dos canis das Gêmeas. Dentro dos canis!

Era possível ver a dor brotar no rosto de Arya, assim como o ódio que parecia a consumir internamente. Os olhos cinza faiscavam ao lembrar-se das barbaridades cometidas contra os membros da Casa Stark.

― Melisandre me ajudou a localizar Robb, além de me ajudar com Nym. Não posso permitir que a machuque. ― a garota por fim disse.

O olhar de Jon viajou do rosto de Arya até o de Melisandre, e pôde ver que a expressão da mulher continuava impassível. O rapaz sabia que a irmã era terrivelmente obstinada e não mudaria de opinião nem se os próprios Deuses suspirassem em seu ouvido.

― Decidiremos isto mais tarde. ― ele por fim disse ― A única coisa que desejo agora é ficar ao seu lado e ouvir sobre todas as suas aventuras por Essos.

Jon deu alguns passos e encarou Arya, sorrindo enquanto contemplava o rosto comprido. Envolveu-a novamente em seus braços e por um breve instante, esqueceu-se de que iria para guerra.

 

***

 

Após dispensar todos os senhores e criados que os cercavam, Jon decidiu ter um jantar a sós com a irmã em seus cômodos. Sabia muito bem que as pessoas queriam ver Arya e conhecer a Princesa que estava perdida há tanto tempo, que muitos já consideravam como morta; mas depois de tudo que passaram e de todo o sofrimento que lhes consumiu ao longo dos anos, era justo que os dois tivessem aquele momento íntimo em família.

No começo, Arya comeu desesperadamente, como se não tivesse tido uma boa refeição há muito tempo, e Jon sorriu ao vê-la lambuzar-se toda com o molho do pernil que devorava avidamente. A Senhora Catelyn provavelmente reprovaria a atitude da filha se pudesse vê-la fazendo aquilo, o rapaz pensou. Mas ele não o faria, pois sabia o que era passar fome.

Tempos depois, quando já estava satisfeita, Arya contou ao irmão sua peregrinação por Westeros, desde a execução do pai até sua decisão de ir para Essos. Jon mal pôde acreditar quando soube que ela havia entrado para uma seita composta por Homens Sem Rosto e que fora a responsável pela morte de Walder Frey.

― Você precisava ver a cara do velhote quando eu passava a lâmina por sua garganta... Ele mal podia acreditar que seria um Stark o responsável por dar cabo de sua vida miserável. ― um sorriso formou-se no canto da boca da garota.

Jon viu, nos olhos da irmã, um brilho que anos antes não existia. Um brilho mortal, sangrento, que fez um arrepio percorrer pela espinha do rapaz.

― Não precisará matar mais ninguém, Arya. ― ele estendeu o braço sobre a mesa e segurou a mão da garota ― Está segura novamente, e em breve estará em Winterfell, ao lado de Sansa.

Ele estendeu o braço e segurou a mão da irmã, que estava descansando sobre a mesa.

― Como ela está? Melisandre contou-me sobre como forçaram-na a se casar com o bastardo de Roose Bolton, e como ele era uma pessoa horrível...

O amargor invadiu novamente o paladar de Jon. O simples esforço de tentar imaginar as repulsivas atrocidades que o maldito Ramsay tinha cometido contra Sansa fazia com que um sentimento quase irracional de ódio tomasse conta de seu corpo, a ponto de fazer com que seu estômago revirasse em puro desgosto.

― Não acho que posso lhe dizer alguma coisa sobre isto. Simplesmente não consigo. ― o rapaz foi sincero ― Se nossa irmã quiser lhe contar o que aconteceu, ela o fará. Mas não sou capaz, Arya.

Os olhos acinzentados da garota repousaram sobre a face do irmão de modo compreensivo. Um silêncio instaurou-se na sala, mas para Jon, não era estranho. Há muito não via Arya, e mesmo quando as palavras lhe faltavam, era reconfortante simplesmente ficar ali, a encarando.

― O que acontecerá agora? ― ela perguntou.

― Fiz um pacto com Daenerys Targaryen e terei que marchar para o Sul ao seu lado. ― Jon explicou ― Depois volto para o Norte, caso com Alys e...

― Espere... Quem é Alys? ― Arya fez uma careta de confusão ao escutar aquilo.

Jon suspirou. Ele e a irmã teriam muito que conversar, e parecia que agora era a vez dele de contar tudo que se passou nos últimos anos. E assim o fez. Falou-lhe a respeito de tudo que acontecera em sua vida desde que se separaram, do instante em que pisou na Muralha até o momento em que lhe declararam Rei. Ela lhe fez perguntas, que ele prontamente respondeu. Conversaram por tanto tempo que quando se deram conta, a lua alta iluminava a penumbra da noite.

― Nós nunca devíamos ter saído de Winterfell. Nunca. ― Arya lhe disse ― Se tivéssemos ficado lá, nada disso teria acontecido. Papai, mamãe, Robb e Rickon estariam vivos, Bran não estaria sumido, Sansa não teria sido obrigada a casar com aquele monstro e nós... ― ela suspirou longamente ― Bem, nós nunca teríamos passado pelo que passamos. Nunca teríamos nos separado.

― Você voltará para casa, e quando isso tudo acabar, eu também voltarei. Nós nunca mais nos separaremos de novo, eu prometo. ― ele apertou mais ainda sua mão ao redor da de Arya.

Ela sorriu brevemente, mas a expressão morreu em seu rosto rapidamente.

― Eu gostaria de lhe pedir que fizesse uma coisa antes que marche até o Sul.

― Pode pedir.

― Quero que tome as Gêmeas e acabe com o resto dos Freys que lá estão. ― novamente as fagulhas de ódio tomaram conta dos olhos de Arya ― Quero que terminem de pagar pelo que fizeram com nossa família.

Jon largou a mão da irmã e recostou-se na cadeira, pois mesmo entendendo o que ela sentia, não podia deixar de ficar assustado ao ver tanto ódio estampado no rosto de Arya.

Mas ele já havia pensado naquela hipótese antes, e sabia que se tomasse as Gêmeas, poderia ir e voltar de Winterfell com mais facilidade, além de aumentar a moral de seus homens – muitos deles perderam entes queridos no Casamento Vermelho e ainda ansiavam por vingança. Seria bom também para os cofres do reino ter uma fonte de renda tão boa quanto A Travessia.

― Se eu o fizesse... ― Jon começou a falar ― Teria que montar uma estratégia para poupar minhas tropas ou ao menos perder o mínimo de homens possíveis... Não seria uma tarefa fácil.

― Eu posso lhe ajudar! ― a face de Arya se iluminou com a não negativa do irmão ― Conheço cada detalhe daquele castelo, decorei o nome e os rostos de todos que ali vivem... Restam pouquíssimas pessoas nas Gêmeas, Jon. Agora é a hora de atacar.

Arya estava certa, e Jon sabia disso. Ele pensava na vitória estratégica que seria tomar dos Freys o castelo que eles mantiveram na família por tantas gerações... E como, pessoalmente falando, seria satisfatório lhes tirar aquilo.

― Tem certeza que é isso que deseja? ― ele perguntou.

― Absoluta. ― a garota respondeu de forma impertubável.

― Então atacaremos e tomaremos as Gêmeas.

Ao escutar aquilo, Jon notou a boca de Arya repuxar-se em um sorriso de pura satisfação, o mesmo que viu no rosto de Sansa após a morte de Ramsay Bolton. Percebeu que, no final das contas, talvez as irmãs não fossem tão diferentes entre si como pensava.

 

***

 

O dia começou tarde para Jon após a longa noite em claro que passou ao lado de Arya. Os dois conversaram e fizeram planos durante horas, o que fez o sono vir apenas perto do raiar do sol. Mas ele teria que levantar logo, pois como Rei, as obrigações lhe chamavam. Espreguiçou-se, saiu da cama e ainda com os lençóis enrolados em seu corpo, foi até a janela; teve uma surpresa ao ver o emblema da águia prateada sobre o fundo azul sendo carregada por homens tanto no campo externo do castelo quanto no pátio interno. Instantaneamente, a imagem lhe causou sobressalto e sonolência que sentia passou, fazendo com que ele se apressasse para colocar as vestes e descer para verificar o que se passava.

Saiu de seu quarto e andou a passos largos, mas não tão rápido a ponto de correr. Cumprimentou os guardas e os homens que encontrava no caminho, mas sem delongas, até chegar ao átrio do castelo, onde encontrou os cavaleiros do Vale reunidos enquanto recebiam ordens de Lorde Yohn Royce, que usava sua famosa armadura de bronze.

Jon caminhou até ele e recebeu uma rápida mesura do velho senhor assim que ele o avistou.

― Majestade, é uma honra revê-lo. ― o homem lhe disse, enquanto curvava a cabeça.

― Também é uma para nós tê-lo aqui, Lorde Royce. Mas se me permite perguntar, o que o fez sair de Pedrarruna e vir para cá? ― Jon perguntou, levemente desconfiado.

― Lorde Baelish. ― uma careta formou-se no rosto de Yohn e o desprezo em sua voz era quase palpável ― Ele soube do seu encontro com Daenerys Targaryen e achou que seria adequado enviar um representante do Vale para uma ocasião tão importante.

― E Lorde Baelish, onde está?

Jon percebeu quando os ombros de Lorde Royce enrijeceram e sua expressão transmutou-se de irritada para tensa.

― Bem... Ele... Ele está a caminho de Winterfell, Majestade. ― depois de hesitar, o velho senhor enfim respondeu ― Foi encontrar-se com a Princesa.

Involuntariamente, Jon cerrou o punho direito e sentiu seu peito ser tomado pela raiva. Tremeu de ódio ao pensar em Petyr Baelish se esgueirando pelas galerias de Winterfell para se aproximar de Sansa. Ele se sentia culpado por não ter protegido a irmã antes, e agora se sentia impotente por ser incapaz de impedir que um homem tão baixo como Mindinho conseguisse impor sua presença à Sansa.

― Também não gosto dele. ― Lorde Royce lhe disse, como se pudesse ler seus pensamentos ― Não confio em Mindinho, e por mim ele já teria sido expulso do Vale há muito tempo.

― Por mim ele seria expulso de Westeros. ― Jon respondeu de forma mais amarga do que desejava.

― Creio que temos mais interesses em comum do que o desprezo por Lorde Baelish, Majestade...

Yohn Royce arqueou a grisalha sobrancelha esquerda e encarou Jon de forma enigmática, incutindo no jovem Rei certa curiosidade.

― Sinta-se livre para falar destes interesses, Senhor. ― o rapaz respondeu.

― Como bem sabe, eu sempre fui simpático à Casa Stark. Conheci o seu pai quando ele era apenas um menino enviado por Lorde Rickard, seu avô, para ser criado por Jon Arryn no Vale. ― Lorde Royce começou a falar, em tom saudoso ― Também insisti que a Senhora Lysa renegasse o Trono de Ferro e reconhecesse o seu irmão Robb como Rei... E também o apoiei quando os senhores nortenhos o declararam Rei, Majestade.

― Bem sei disto, Lorde Royce, e sou muito agradecido pelo seu suporte... Mas aonde deseja chegar?

― Contaram-me do acordo que fez com Daenerys Targaryen, e apesar de não ter muito apreço pelo sangue do dragão desde que o Rei Louco assassinou meu sobrinho Kyle ao lado de seu tio Brandon... Gosto ainda menos da ideia de ter uma Lannister sentada no Trono de Ferro, e muito menos ainda se a Lannister em questão for Cersei. ― ele confessou.

― Ninguém deseja que aquela mulher seja Rainha por muito tempo. Faremos de tudo para impedir que ela continue o seu reino de terror, eu lhe garanto. ― Jon respondeu.

― Sei bem, Majestade. E como creio que deve ter ciência, a Casa Royce é a segunda maior casa do Vale e eu próprio sou o comandante de boa parte do exército da região... Por tal razão, decidi ceder uma parcela dos meus homens para a sua causa.

Jon semicerrou os olhos. Pelas coisas que escutava sobre Lorde Royce, sabia que ele era um homem honrado e de boa reputação, mas mesmo com todas as qualidades que imaginava que ele possuísse, não conseguia encontrar nenhuma justificativa para tamanha bondade e desprendimento.

― E o que deseja em troca, Lorde Royce? ― o Rei perguntou, sem delongas.

― Apenas que freie a Casa Lannister e impeça que o resto de Westeros seja dominado por ela... Além de me apoiar quando for a hora de mandar Petyr Baelish de volta para os Dedos. Falta pouco tempo para acabar o prazo que demos a ele para que se prove um bom regente, e após isto, eu e os outros Lordes Declarantes pretendemos expulsá-lo de uma vez por todas do Vale... E para que isto ocorra sem problemas, queremos o apoio do nosso Rei. ― o senhor explicou.

O rapaz analisou o rosto de Lorde Royce, mas não detectou nenhum indício de que ele estivesse falando alguma mentira.

― Se for apenas isso que deseja, seria burrice minha recusar sua oferta, meu Senhor. ― Jon respondeu.

― Então temos um acordo, Majestade? ― Lorde Royce estendeu a mão em direção a Jon.

O Rei o encarou brevemente, mas não tardou a esticar o braço e pressionar a palma de sua mãe contra a de Yohn.

― Sim. Temos um acordo.

 

***

 

 Daenerys passou o começo da manhã observando o estranho movimento de pessoas que acontecia em Correrrio; viu, pela sacada do solar que ocupava, uma nova e enorme tropa de soldados chegar ao castelo. Pelo que Tyrion lhe contara, os homens eram cavaleiros do Vale enviados para auxiliar o Rei do Norte, e ela não pôde evitar imaginar aqueles guerreiros fazendo parte de seu próprio exército.

Ela escovava seus longos cabelos prateados diante da penteadeira que o Rei havia enviado para o seu quarto e encarava o reflexo no espelho enquanto pensava em como estava tão perto de conseguir o que desejou por tanto tempo. Apenas algumas poucas semanas a separavam da retomada do trono e da glória que eram de sua família por direito, e o simples ato de pensar naquilo fazia com que seu estômago revirasse em pura ansiedade.

― Missandei, por acaso sabe se há notícias de Drogon? Não sinto sua presença há alguns dias. ― a Rainha perguntou para sua dama-de-companhia, que estava próxima a sacada.

― Não, Majestade. Quer que eu mande os homens checarem? ― a moça se aproximou com passos leves.

― Sim. ― Daenerys largou a escova e encarou a conselheira ― Preocupo-me com ele, mas também com aqueles que por ventura podem vir a se machucar. É melhor prevenir do que remediar.

― Vossa Majestade tem razão. Levarei suas instruções a Marselen para que ele organize uma busca por Drogon.

Missandei curvou levemente sua cabeça e caminhou em direção à porta.

― Espere! ― Daenerys a chamou ― Depois de conversar com seu irmão, vá até Lorde Tyrion e lhe diga para escrever uma carta para Pedra do Dragão informando que marcharemos para Porto Real em breve. Diga-lhe que quero informações sobre os dothraki, os Greyjoy e os soldados Martell e Tyrell.

A dama-de-companhia assentiu.

― Tudo dará certo, Majestade. Conseguirá o que deseja e fará todos os senhores dobrarem os joelhos, tenho certeza. ― ela disse, tentando tranquilizar a Rainha.

Logo após de dizer aquelas palavras, Missandei cruzou a porta e saiu do quarto, deixando Daenerys sozinha.

Por um breve instante, lembrou-se da história da princesa perdida, a irmã de Jon que depois de anos, finalmente havia voltado para casa e sentiu uma pontada em seu peito. Por pior que fosse admitir, sentia inveja do reencontro dos dois, pois sabia que tal episódio jamais lhe ocorreria.

A Rainha voltou a encarar seu reflexo no espelho e suspirou longamente. Ela se sentia insegura, e mesmo cercada por tantas pessoas, também sofria de uma terrível solidão. Sentia falta de Drogon, Rhaegal e Viserion; de seu marido Drogo e de seu filho Rhaego, e até mesmo de seu irmão Viserys. Sentia falta de sua família.

Daenerys escutou a porta ranger e esperou ver Missandei, que provavelmente tinha voltado para perguntar alguma coisa. Mas, pela imagem refletida no espelho, viu que não se tratava de sua dama-de-companhia; mas sim um homem alto, de pele clara e rosto austero que era emoldurado por uma barba negra espessa, da mesma cor dos cachos que pendiam do topo de sua cabeça. O coração de Daenerys disparou dentro de seu peito ao vê-lo pelo espelho, e de sobressalto, virou-se em direção a ele.

― Desculpe por assustá-la, Senhora. Não foi minha intenção. ― ele lhe falou, parecendo desconcertado.

― Não me assustou. Eu apenas não... Não o esperava. ― Dany respondeu, tentando recompor-se.

― De qualquer maneira, me desculpe. ― Jon deu alguns passos em direção a ela, mas parou no meio do caminho, como se hesitasse ― Posso voltar outra hora, se quiser.

― Já está aqui, não faz sentido não dizer a que veio.  ― a jovem usou o tom mais régio que possuía para disfarçar seu nervosismo.

Jon a encarou, mas manteve de forma estoica a posição em que se encontrava, sem mover-se um centímetro sequer.

― Fizemos um acordo, e venho até a Senhora reiterar minha intenção de mantê-lo. Mas...

― Mas...? ― Dany o interrompeu, ansiosa pela conjunção utilizada por Jon. Ele não iria abandonar o plano que fizeram. Iria?

― ...Mas preciso resolver um assunto concernente aos Reinos do Norte e das Terras Fluviais antes de acompanhá-la até Porto Real. Algo que precisa ser liquidado o mais rápido possível para que a paz seja efetivada por aqui. ― o rapaz respondeu de forma concisa.

Daenerys sentiu o sangue ferver em suas veias ao escutar aquilo. Ora, o que seria mais importante do que derrotar os Lannister e conquistar Porto Real? Não havia nenhuma hipótese plausível para que seus planos fossem mudados de forma tão drástica, afinal de contas, ela era a Rainha e não aceitaria aquilo.

― Este não foi o nosso acordo. ― Dany falou, e sentiu seus lábios contraírem-se em puro desgosto.

― Sei bem, e por este motivo decidi vir até aqui para informa-lhe de minha decisão antes de debater o assunto com os meus senhores.

Jon a encarou de forma séria e silenciosa, e foi impossível para Daenerys identificar o que se passava na cabeça dele naquele momento; ela, no entanto, sabia o que se passava na sua, e era algo longe de ser amistoso.

― Então devo atrasar meus planos apenas porque lhe convém? ― ela perguntou, tentando abafar a ira que tomava conta de seu peito.

― Não é esse o motivo, Senhora. ― a expressão de Jon endureceu e ele a encarou com as orbes negras que pareciam ler sua alma ― Não estou fazendo isto porque pretendo atrasar sua conquista ou para lhe sabotar de qualquer outra maneira.

― Mas querendo ou não, está sabotando. ― Daenerys sentiu seus ombros enrijecerem na medida em que falava ― E pior, está desrespeitando o compromisso que firmou comigo.

Uma sombra estacionou sobre o rosto de Jon e seus lábios encolheram-se em uma fina linha.

― Lhe dei minha palavra, Senhora, e vou cumpri-la. Eu jamais romperia um compromisso firmado.

A Rainha levantou-se, e furiosa, foi até ele com passos pesados.

― Pois não é o que parece! Prometeu-me que lutaria ao meu lado, mas está fugindo como um covarde! ― perdendo o controle de vez, Daenerys gritou enquanto encarava o rapaz.

― Não sou covarde! ― Jon também elevou o tom de voz, embora fosse mais contido que a moça ― Mas não farei tudo o que quer do jeito que deseja! Estou lutando por meus homens e principalmente por minha família, e se é tão mimada a ponto de não compreender que existem coisas mais importantes que o maldito Trono de Ferro, talvez seja melhor que não o consiga!

― Então acha que não mereço recuperar o que é meu?!

― Não existe merecimento nesta história! A única coisa que existe é a vida de milhares de pessoas que dependem de mim e da Senhora, mas parece estar tão cega pela ambição que é incapaz de enxergar algo além do poder! ― o timbre de voz do Rei subiu e era possível ver sua irritação.

O sangue do dragão falou mais alto e Dany mal se deu conta quando a palma de sua mão colidiu contra a maçã do rosto de Jon; em choque, ela pôde sentir o formigamento tomando contra do seu membro superior enquanto o Rei a encarava incrédulo.

Jon passou os dedos sobre a área atingida e antes que Daenerys pudesse dizer qualquer coisa, virou os calcanhares, deu-lhe as costas e bateu com força a porta após deixa-la atrás de si.

A Rainha sentiu as pernas tremerem e vacilarem, tamanho era seu nervosismo. Caiu de joelhos no chão e por alguma razão que era incapaz de compreender, começou a chorar. Sentiu as lágrimas quentes e salgadas rolarem por suas bochechas enquanto seu peito descia e subia, exasperada demais para conseguir controlar os próprios sentimentos.

 

***

 

Lyanna sentiu o coração diminuir dentro de seu peito ao sair da visão. Virou-se para o lado e viu Rhaegar, e por instinto, jogou-se sobre ele e envolveu-o com os braços de forma tão próxima que era possível escutar os batimentos do seu coração. O Príncipe, mesmo que surpreso, correspondeu ao abraço e pressionou-a sobre o próprio corpo.

― Por que está fazendo isto? Não que eu não goste, mas é incomum uma demonstração de afeto por sua parte... ― ele indagou.

― Por Daenerys. ― ela afundou ainda mais o rosto sobre o peito de Rhaegar ― Ela está sozinha no mundo e não consegue lidar com isso. Jon ao menos tem as irmãs, mas Daenerys... É estranho sentir-se mal por alguém que sequer nasceu ainda?

― Claro que não, Lyanna. ― ele passou os dedos pelo topo da cabeça da garota, tentando acalmá-la ― Você é uma pessoa boa, por isso sente tanto...

― Eles não deveriam brigar. Eles deveriam se unir, Rhaegar. ― a garota quebrou o abraço e encarou o Príncipe.

Fitou os olhos índigos e sentiu uma calma transpassar por seu corpo. Naquele momento, Lyanna desejou profundamente esquecer-se de tudo aquilo, deixar todos os problemas para trás e fugir com Rhaegar. Seu coração pedia calorosamente aquilo, mas sua cabeça sabia que não podia ceder.

Ela tentou afastar-se, mas o Príncipe a puxou de volta, fazendo o corpo de Lyanna recostar-se ao seu.

― Podemos ficar assim só por algum tempo? Por favor? ― Rhaegar pediu.

Lyanna suspirou fundo. Seu coração venceria a cabeça desta vez.

― Sim.

E ficaram com os corpos colados ouvindo a respiração um do outro até adentrarem em mais uma das visões verdes.


Notas Finais


Queridos, em primeiro lugar, mil perdões pelo (longo) atraso. Apesar de estar de férias da faculdade, eu tive que pagar uma cadeira que eu tava devendo e tô fazendo centenas de provas de estágio, o que consome todo o meu tempo.
Neste capítulo também aconteceu uma coisa que não tinha acontecido comigo enquanto eu escrevia esta estória: eu tive bloqueio. Eu olhava pra tela do notebook e não conseguia escrever absolutamente nada. Eu travei e isso me desanimou muito, e foi, em grande parte, o motivo pelo atraso.
Não pude responder os comentários do capítulo passado pela falta de tempo, e me perdoem por isso também. Garanto que não voltará a acontecer e eu peço pra que vocês comentem do jeito que sempre comentaram e não me abandonem, ok?
Farei de tudo pra que evitar que um atraso tão grande ocorra de novo porque amo esta estória e valorizo o incentivo que vocês me dão.
Me digam o que vocês acharam do capítulo e me perdoem por qualquer errinho que vocês encontrem durante a leitura. Um beijo enorme e até logo ❤


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