História Depois da Luz - Uma Perda

*Mike*

No caminho para casa a única coisa que realmente conseguia pensar era em como seria a reação de El ao encontrar com sua mãe. Como trataria ela ? Como seria a relação das duas ? Será que isso seria um problema pra mim ? Quer dizer, nós, porque não sei oque a mãe de El faria. Na verdade não sei sobre nada, e isso enche meu corpo de coceiras e nervosismo, porém haja oque houver, aconteça oque acontecer, não vou deixar ninguém, nem nada me separar de El agora. 

E parando para pensar agora, o que será que as pessoas pensam de mim e El ? Não tenho certeza se Jonathan viu El e eu nos beijando, mas com certeza nos viu de mãos dadas. Isso é normal não é ? Amigos podem dar as mãos.. 

Eu realmente não sei oque todos ao nosso redor pensam sobre nós. Eu percebi que a Sra. Byers estava me consultando bastante sobre El, talvez seja porque me importo bastante com ela. Sinceramente não faço ideia. E além disso, os garotos deixaram um espaço especialmente para mim ao lado de El.

Bom, oque eu queria pensar de verdade naquele momento era como seria a reação das duas. Estava tão curioso e ansioso para ver esse momento, que fui imaginando durante todo o caminho para casa como seria. Tanto que nem percebi o quão rápido eu fui, num piscar de olhos já estava em casa.

Abri a porta de entrada e o som de desenho já vinha de encontro aos meu ouvidos. Claro que era Molly vendo 'Tom & Jerry' na tevê da sala de estar como de praxe. Meu pai provavelmente estava trabalhando naquela hora, já Nancy deveria estar no quarto dormindo ou em algum lugar com Steve. Apesar deles terem terminado, eles ainda saiam bastante juntos. Na verdade depois daquele natal, Nancy, Steve e Jonathan tonaram-se amigos, começaram a sair juntos, ir ver filmes no cinema, ir em boliche, em restaurantes etc.. 

Já minha mãe estava fazendo o almoço. Não foi preciso nem pensar muito para chegar a esta conclusão porque quando entrei em casa, ao mesmo tempo que minhas orelhas  ouviam o som de desenho animado, minhas narinas sentiam o incrível e inconfundível cheiro do bolo de carne da minha mãe. Mesmo passando muito rápido pelo corredor e indo em direção às escadas, minha mãe me viu e soltou um : 

- Michael ? É você ?

- Sim, mas estou atrasado ! - Eu falei subindo rapidamente as escadas.

- Atrasado ? Atrasado para onde ?  Você acabou de chegar e vai sair de novo ? - Disse minha mãe falando bem alto lá da cozinha.  

- Pera aí mãe, quando sair do banho explico tudo ! - Falei do andar de cima.

Não ouvi resposta nenhuma depois que disse isso. Fui correndo para o banheiro, e provavelmente bati meu recorde de banho mais rápido. Não passei mais que 3 minutos de baixo do chuveiro, me sequei rapidamente, olhei para o espelho e fiquei me encarando por uns 5 segundos, percebi o quão horrível minha cara estava. Fazia 2 dias que não dormia e minhas ultimas refeições haviam sido ovos com bacon e lasanha. Minha cara branca, mais que o normal, com olheiras gigantes abaixo dos olhos. 

Minha aparência poderia estar péssima, mas não sentia nenhum cansaço, nem nada do tipo. Acho que ter a El no "mesmo mundo" que eu, do meu lado, anulava tudo isso que eu poderia sentir.

Depois que parei de me encarar fui para meu quarto pegar uma roupa para me vestir. Abri meu armário e logo vi a camiseta que estava usando quando dei meu primeiro beijo em El. Estendi o braço para pega-la, porém hesitei e logo coloquei meu braço ao lado do meu corpo novamente, pois lembrei que essa era a camisa que estava usando no dia que ela foi embora também. 

Do lado dela se encontrava uma camiseta que nunca havia usado perto de El, ela era muito parecida com a que eu usei quando falei pela primeira vez à El que ela estava linda, só que em vez de ser azul, ela era toda verde com uns detalhes mais escuros. Decidi que essa seria a camiseta que iria usar. Junto com ela, coloquei minha calça jeans que tinha um tom mais preto do que azul, um par de meias brancas como sempre, e por fim calcei meu tênis branco desgastado que eu sempre usava.

Passei uma última vez no banheiro para escovar meus dentes, e pentear o cabelo. Desci as escadas e fui para a cozinha falar para minha mãe que iria sair com a Sra. Byers.

- Então mãe, a Sra. Byers, o Will e o Delegado Hopper me chamaram para sair com eles, eu posso ir? - Falei pedindo a sua autorização.

- Mas onde eles vão ? 

- Não sei, ela apenas me convidou para passar a tarde com eles. E então ? Eu posso ? 

- Sim, mas você não vai comer nada ? 

- Não, comi lá, só passei aqui para perguntar se poderia ir ! - Falei caminhando em direção à porta. - Tchau mãe ! - Completei quando já estava com a mão na maçaneta. 

- Tchau Filho..

Novamente, durante todo o caminho para a casa do Will eu fui com a cabeça nas nuvens, só imaginando oque poderia acontecer nas próximas horas. Estava muito animado para ver o que iria ocorrer.

Cheguei na casa dos Byers, meio ofegante por ter ido e voltado rápido, bati na porta. Joyce atendeu e me convidou para entrar, reparei que ela já estava com uma roupa diferente da que estava usando quando eu havia saído. Ela estava com um colete jeans preto, uma camiseta vermelha listrada, o seu sapato de sempre e uma calça moleton. Entrei e logo percebi que a sala não estava igual à sala de antes, não tinha mais garotos deitados no chão, El também não estava ali.

- Onde está todo mundo ? - Perguntei curioso enquanto ia fechando a porta.

- Dustin e Lucas foram embora não faz muito tempo, Jonathan vai levar Will no cinema, acho que vão assistir um tal de exterminador do futuro e o Hopper vai chegar daqui a pouco. - Disse Joyce enquanto entrava num quarto.

- Como assim ? Will não vai conosco ? 

- Não. Não é necessário o Will ir. 

- Certo. Onde El está ? 

- Está no quarto trocando de roupa, colocando algo mais feminino.

- Tudo bem. Ela comeu todo o café da manhã ?

- Sim. Ela amou a oque o Jonathan fez. Eleven é um amor. - Disse Joyce dando uma risadinha

- Verdade, ela é um amor..

Consegui ouvir um baixo riso de Joyce ao ouvir oque eu havia falado. Mas não era um riso de deboche, ou algo do tipo. Soava mais como um riso de felicidade por tudo aquilo estar acontecendo.

Fiquei algum tempo sentado no sofá enquanto balançava as pernas de ansiosidade, e pensava o quanto tudo mudou em apenas um dia. O quanto ainda poderia mudar, e quanta coisa eu tinha pra perder agora. Fiquei tendo vários pensamentos durante minha espera em cima do sofá dos Byers, até um lindo anjo de vestido azul com bolinhas brancas saiu do quarto de Joyce. Aquela com certeza era a melhor roupa que já tinha visto ela vestir. Ficou perfeita nela, como se já fizesse parte dela. Quando vi ela sair daquele quarto, meus olhos brilharam ! Levantei na hora, como se tivesse me apaixonado duplamente por aquele ser angelical.

El me viu e veio correndo me dar um abraço, como se eu tivesse partido para nunca mais voltar. Ela colocou os braços em volta de mim, como se fossem laços dando voltas e voltas em uma caixa de presente. Com uma delicadeza e aconchego gigante, ela entrelaçou seus braços ao meu corpo e encostou sua cabeça em meu peito, como se quisesse ficar grudada escutando meus batimentos cardíacos pra sempre. 

- Ela só conseguia falar de você depois do café da manhã.. - Disse Joyce refazendo o caminho de El com os braços cruzados e um sorriso alegre e gentil no rosto.

- É verdade El ? Mas eu prometi que voltaria. - Falei acariciando sua cabeça e olhando para baixo, para conseguir ver seu rosto.

- Sim. - Disse El olhando para mim, com um sorriso perfeito e encantador depois do que falou, e com uma lágrima escorrendo por sua bochecha, como uma gota de chuva que escorre por uma folha de arvore após a tempestade.

- Confia em mim El. Eu nunca vou te deixar.. - Eu falei encostando sua cabeça de volta ao meu peito, apertando um pouco mais o abraço, deixando-o assim mais aconchegante.

Ficamos assim por alguns segundos até que, o silencio que estava estabelecido ali foi quebrado por um barulho de carro chegando. 

- Bom crianças, Hopper chegou, vamos indo ? - Disse Joyce pegando sua bolsa que estava em cima do sofá.

Joyce abriu a porta e esperou El e eu passarmos para que ela pudesse trancar a casa. Ela sentou no banco do passageiro e cumprimentou Hopper com um selinho não muito demorado, enquanto El e eu sentamos nos bancos de trás. 

Hopper e Joyce foram cochichando praticamente o caminho inteiro, mas eu nem prestava atenção no que falavam porque estava com um anjo encostado no meu braço e também olhava para fora da janela enquanto me perdia nos meus pensamentos.

El dormiu encostada em mim praticamente todo o caminho, mas enquanto estava acordada morria de perguntar para onde iríamos, mas nenhum de nós revelou. 

Até que chegamos onde a mãe da El morava. Como El estava dormindo quando chegamos, Hopper e Joyce me pediram para ficar no carro com ela, a medida que eles iriam perguntar para mãe de El se nós poderíamos entrar. 

Porém em vez de Hopper e Joyce sinalizarem que poderíamos sair do carro pra mim, eles voltaram para dentro do carro e estávamos dando meia volta até eu falar :

- Hey, por que estamos voltando ?! Aquela era a casa errada ?!

Os dois estavam meio abatidos de cabeças baixas, até meio pensativos demais. Não me responderam então perguntei de novo.

- Sra. Byers, o que aconteceu ? Por que estamos voltando ? 

Mais uma vez ninguém me respondeu..

- Me respondam o que aconteceu !

- A mã.. A mãe da Eleven faleceu antes do Natal Mike. E a tia não vai cuidar da Eleven porque ela nunca acreditou que sua irmã teve um bebê.. - Disse Joyce não muito alto para evitar de acordar a El.

Aquelas palavras entraram perfurando meu coração de uma forma inimaginável. Toda minha felicidade tido ido embora. Como vou explicar isso pra ela ? El vai morar com quem agora ? Depois que ouvi isso fiquei muito atordoado, é como se eu tivesse levado um tiro.

- Mike, vamos levar ela para tomar um sorvete ou algo do tipo ? - Falou delegado Hopper 

- Pode ser.. - Eu falei meio cabisbaixo, passando a mão sobre sua cabeça.

Com Joyce e Hopper fora do carro eu falei :

- El, acorda.. Vamos, chegamos na sorveteria.

Ela acordou e saímos do carro para entrar na sorveteria. Fomos até a vitrine, escolhemos os nossos sabores, El pegou uma casquinha de morango e eu de chocolate, enquanto o Delegado e a Sra. Byers pegaram potezinhos de sorvetes napolitano. Hopper pagou para nós e nos sentamos na mesa. Eles sentaram-se lado a lado igualmente à El e eu.

- O que foi Mike? - El perguntou colocando a sua mãe em meu rosto.

- Nada El.. Está tudo bem - Eu falei tentando puxar um sorriso forçado.

- Mike.. Amigos não mentem.. - Ela falou olhando nos meus olhos.

Eu olhei para Hopper e Joyce em minha frente então voltei meu olhar para El e falei..

- El, a surpresa não te trazer para cá.. íamos te levar para conhecer sua mãe.. Mas ela morreu el.. 

Meu coração simplesmente se destruiu em pedaços quando disse isso a ela. Estava me segurando muito para não chorar na frente de todos ali. El era tudo para mim, não aguentaria vê-la sofrer.

Eu não sei muito bem se ela entendeu, mas eu estava muito magoado, por ela e por mim. Eu acho que precisava de um chão tanto quanto ela naquele momento, então eu apenas abri os braços e pedi um abraço ela, mesmo sem dizer nada ela entendeu e veio junto a mim, como ela fez hoje mais cedo, entrelaçou seus braços ao redor do meu corpo e encostou sua cabeça em meu peito. 

Olhei para baixo e pude vê-la chorando. Se havia algum estilhaço de coração dentro de mim, ele foi despedaçado igualmente os outros pedaços foram. A cada lágrima que caía de seus olhos e molhava o tecido da minha camiseta, eu ficava cada vez pior. 

Eu não aguentava mais e acabei chorando junto com ela. Poder liberar isso de dentro de mim foi um grande alívio, não conseguia mais segurar o choro para parecer forte para El. Nem liguei para oque as pessoas ao redor pensariam ao ver Michael Wheeler chorar, eu apenas soltei. A cada lágrima que caía dos meus olhos ela me apertava mais um pouco, cada vez se tornava mais aconchegante para ambos. 

Até uma hora que ela olhou para meu rosto e ainda abraçados, eu sequei minhas lágrimas, sequei às dela, olhei dentro dos seus olhos que pareciam mais ser um infinito e falei

- El, eu sempre vou estar aqui para você. Nós sempre estaremos aqui para você. Somos sua família agora..

Então eu a beijei. Não foi um beijo com a magia dos outros, não foi um beijo tão bom quanto os outros, mas era o beijo que nos confortaria, era o beijo que significaria que tudo aquilo era passageiro. Era o beijo que precisávamos. 

O Beijo foi acabando bem devagar, nossos lábios foram se separando um do outro e então ela abriu os olhos, eu abri os meus e estavámos olhando dentro da alma um do outro. Com um hálito de morango misturado com chocolate eu disse :

- Te Amo El.. 

- Te Amo Mike..

Fim do Capítulo 6