História Um novo mundo, um novo começo - Nada novo

As coisas realmente pesaram.

Maggie chorava à todo instante e eu não sabia como ajudá-la.

Nem mesmo Daryl era mais o mesmo.

Ele não falou, ou sequer olhou para mim depois de Beth.

Depois do reencontro com todo o grupo, enterramos Beth e pegamos um carro, viajando sem nenhuma direção.

Ou melhor, tínhamos uma direção. Estávamos acompanhando Noah para sua cidade natal na esperança de encontrar algum familiar vivo.

Eu estava no carro com Tyresse, Noah, Rick, Michonne e Glenn, o qual eu dividia um pequeno espaço atrás.

- Quanto mais? - Rick perguntou depois de um tempo.

- Oito quilômetros - Noah respondeu.

- Ei, Carol? - Rick disse no rádio comunicador.

- Na escuta - ela respondeu.

- Estamos quase lá - Rick disse - só queria checar o alcance.

- Todos estão bem - Carol respondeu - rodamos 800 quilômetros. Esta pode ser a parte fácil.

- Temos que pensar que sim. Espere 20 minutos para conferir.

- Se não derem notícias, vamos procurar.

- Entendido.

- Queria dizer uma coisa - Noah falou depois de um tempo.

- O quê? - Tyresse disse, olhando-o.

- A troca - Noah começou - era a coisa certa. Deu certo. Alguma coisa aconteceu depois.

- Deu no que tinha que dar - Tyresse falou - do jeito que sempre seria.

- Nunca quis matar ninguém antes.

- Eu já quis. Só que assim, eu só via o que queria. Eu não enfrentava.

- Enfrentava o que?

- O que aconteceu, o que está rolando. Meu pai sempre dizia para mim e para Sasha que era nosso dever acompanhar o noticiário. Quando eu era criança e estava no carro dele, sempre havia notícias no rádio. Algo aconteceu a mil quilômetros daqui ou ali na esquina. Algo medonho que eu não entendia. Porém, ele não mudava de estação. Não desligava, só ficava ouvindo. Para enfrentar, manter os olhos abertos. Meu pai sempre chamava isso de “pagar o custo elevado da vida”.

- Perdi meu pai em Atlanta - Noah disse - ele teria gostado do seu. Ainda tenho mãe e irmãos gêmeos. Tomara.

- Tomara que sim.

- Faltam três quilômetros.

- Muito bem - Rick disse - vamos parar no mato e seguir à pé. Ficar fora da estrada.

- Não precisamos fazer isso - Noah rebateu.

- Por via das dúvidas - Rick respondeu.

Tyresse estacionou ao lado de alguns carros batidos embaixo das árvores e nós descemos.

- Bom lugar - Rick comentou - vão parecer carros batidos em meio às árvores.

Levei um susto ao ouvir um zumbi bater na janela de dentro do carro e todos olharam para a criatura que grunhia atrás do vidro.

- Por aqui - Noah disse e nós o seguimos pela floresta.

Andamos pela mata atentos à qualquer coisa. Eu andava com meu facão firme em minha mão e Glenn seguia ao meu lado. Nos deparamos com algumas cordas amarradas entre as árvores e passamos por entre elas, seguindo nossa caminhada.

- Eles têm observadores? - Rick perguntou à Noah quando já estávamos bem próximos - atiradores?

- Fazíamos sobre uma picape ou do lado de fora - Noah respondeu.

Aproximei-me de Glenn e olhei os muros da pequena comunidade, notando o portão aberto.

- Hoje não - Glenn disse e nós andamos até a estrada, parando em frente à um dos portões fechados, o qual Noah bateu e esperou alguma resposta.

- Ouviram? - Noah perguntou e eu olhei para o muro.

- Por aqui - falei e subi no muro, olhando através dele para uma comunidade devastada, sem qualquer resquício de vida. Olhei para o resto do grupo e balancei a cabeça negativamente.

Pulamos o muro e começamos a andar pela rua da comunidade.

Noah parecia com pressa, andando rapidamente mais à frente do grupo.

- Noah - Rick disse - devagar. Noah! - Rick chamou por ele, que começou a correr.

Corremos atrás dele e paramos em uma encruzilhada. Noah começou a chorar e caiu no chão.

Fiz um careta ao ver o garoto aos prantos e Tyresse foi até ele, tentando consolá-lo.

- Eu cuido deles - Michonne disse, referindo-se à alguns zumbis que andavam pela rua.

- Vamos fazer uma rápida busca - falei para Glenn e Rick.

- Eu fico com ele - Tyresse disse e nós assentimos.

Começamos a andar na direção de uma das garagens após Rick informar a Carol que não havia nada na comunidade. Eu estava parada ao lado de um carro quando ouvi Michonne quebrar um vidro no chão. Rick tocou o braço dela e ela se abaixou, pegando uma camisa.

- Camisa limpa - ela disse.

- Vamos pensar em algo - Rick disse enquanto eu começava a olhar na garagem em busca de algo útil.

- Vamos sim - ela respondeu - tem sacos de lixo na garagem.

- Não achava que ainda existiria? - Rick perguntou para Glenn e eu parei para olhá-lo.

- Você achava? - Glenn perguntou de volta.

- Depois do que aconteceu - Rick começou a dizer - logo depois com Beth no hospital, eu vi aquela mulher, Dawn. Ela não queria matá-la. Eu sabia. Eu vi. Mas eu queria matá-la. Só me perguntei se valia a pena. Não tinha nada a ver com Beth. Não sei se pensei se esse lugar ainda existiria, mas Beth queria trazê-lo aqui. Ela queria trazê-lo para casa. Foi por ela. E também poderia ter sido por nós.

Olhei para Michonne e ela se virou, voltando a olhar pela garagem. Suspirei e arrumei meu rifle atrás de mim, voltando a procurar algo na garagem que fosse útil.

- Estava pensando naquele cara lá no contêiner - Glenn começou a falar - lá no Terminus. Como eu fiz com que parássemos. Depois da prisão, na minha viagem, consegui Maggie de volta. As coisas deram certo. Perder Washington… perder… perder Beth logo depois de descobrir que ela estava viva. Não entendia como você. Agora, eu não nos faria parar. A gente passaria direto. Eu teria matado aquela mulher. Certo ou errado - olhei a última caixa e me aproximei deles.

- Nós precisamos parar - Michonne disse - estamos na estrada há muito tempo.

Depois de mais uma busca, eu andava ao lado de Rick na estrada, segurando um saco com algumas coisas que poderiam ser úteis. Glenn seguia mais atrás e eu vi Michonne se aproximar.

- Que tal botar portas de garagem para tapar o buraco? - ela perguntou - prender com um carro até conseguir reconstruir. Pode funcionar.

- Uma floresta cerca o lugar - Rick disse - não temos visão - Michonne ficou com uma expressão frustrada - qualquer um poderia cair matando sem que percebêssemos. Foi o que provavelmente aconteceu.

- Foi o que aconteceu com nós - falei.

- Poderíamos derrubar as árvores - Michonne insistiu - usá-las para fazer um muro. Vejam - ela disse e começou a caminhar. Nós três começamos a segui-la. Ela andou até fora dos muros e nós encontramos corpos dilacerados, cortados ao meio, além de um caminho que parecia ter sido construído por algum veículo.

- Não importa - Glenn disse.

- O quê? - Rick perguntou.

- Você perguntou se importava se tivesse a matado ou não. Não importa se você, eu ou Daryl a matássemos. Não importa.

- Washington - eu disse e todos me olharam - Eugene mentiu sobre a cura, mas ele pensou em Washington por algum motivo.

- Só que ele estava mentindo - Glenn disse.

- Sobre a cura - Michonne disse - mas ele viu que Washington era um lugar onde haveria uma chance. Estamos perto de lá. E se existirem pessoas? E se existir um lugar seguro? Estamos a 160 quilômetros de distância. É uma possibilidade, uma chance. Em vez de só ficar ao ar livre, em vez de apenas sobreviver. Por que agora, sobreviver é isto aqui - ela apontou para os corpos - não quer outro dia com uma chance?

- É melhor irmos - Rick disse ao perceber que alguns zumbis se aproximavam.

Eu me virei e comecei a sair dali, sendo seguida por Glenn.

- Fica a 160 quilômetros daqui - Rick disse - deveríamos ir para Washington.

- Rick! - escutei Noah gritar ao longe - Rick! Socorro!

Peguei meu facão e comecei a correr na direção dos gritos. Encontramos Noah se protegendo de alguns zumbis com uma grade de jardim. Glenn matou um zumbi e Rick foi até Noah. Michonne tentou acertar um dos zumbis com sua katana mas foi bloqueada por um ferro que havia fincado no zumbi. Ela o segurou pelos ombros e eu finquei meu facão na cabeça do maldito.

- É o Tyresse - Noah disse.

- Onde? - Rick perguntou.

- Minha casa. Foi mordido - Noah disse aquilo e eu senti um aperto na garganta.

Noah começou a correr e eu o segui.

Entrei na casa o mais rápido que eu pude, pulando a mobília espalhada pelo chão.

- Rápido - falei para Rick, pegando o machado que estava preso em meu cinto.

Rick segurou a mão de Tyresse e Glenn seu corpo.

- Agora! - Rick gritou - um golpe limpo.

Prendi a respiração e acertei o braço de Tyresse, amputando-o.

Colocamos uma toalha para estancar o sangue e Glenn e Rick o carregaram enquanto eu, Michonne e Noah íamos na frente. Eu segurava meu facão com força, sentindo as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

- Depressa - Rick disse e nós aceleramos o passo.

- Vamos pelos fundos - Glenn disse e saímos da casa, correndo para o portão dos fundos.

- Temos que quebrar a corrente - Noah disse e eu vi vários zumbis do outro lado do portão.

Rick deixou Tyresse com Noah e Michonne abriu o portão, deixando os zumbis entrarem.

Eu golpeava os zumbis com tanta força que os matava com um só golpe. Rick atirou em vários deles e nós eliminamo-os facilmente.

- Vamos - eu disse apreensiva e Rick carregou Tyresse com a ajuda de Glenn.

Corremos de volta ao carro.

- Fique conosco - Rick dizia enquanto carregava Tyresse com agilidade pela estrada. Eu, Michonne e Noah ajudamos eles a passarem pelas linhas amarradas entre as árvores e o pé dele ficou preso. Vi um zumbi se aproximar e peguei uma pedra no chão, acertando a cabeça dele e fazendo-o cair. Glenn soltou o pé dele das linhas e Rick não conseguiu segurá-lo, derrubando-o no chão - aguente as pontas. Força!

- Pelos pés - Glenn disse - levantes os pés.

- Vamos - Rick disse e nós nos posicionamos para levantá-lo - um, dois, três!

Carregamos ele até o carro e Glenn entrou antes para ajudar Tyresse a entrar.

- Tudo bem - Glenn disse - passe-o para cá.

Eu segurava a perna de Tyresse e Noah segurava seu quadril.

- Aguente firme - Rick disse e passou o comunicador para mim - avise Carol.

Michonne assumiu meu lugar e eles colocaram Tyresse no carro. Entrei no banco do passageiro e liguei o comunicador.

- Carol - falei enquanto minhas mãos tremiam - estamos no carro. Precisamos cauterizar o braço e enfaixar. O kit de primeiros-socorros está com vocês. Tire Sasha e Carl daí. Eles não precisam ver isso.

Soltei o botão e Rick entrou ao meu lado, ligando o carro.

Ele tentou sair, mas o carro não saiu do lugar.

- Qual é - ele sussurrou e o carro saiu de uma vez, batendo no carro que estava em nossa frente, o qual abriu a porta traseira e derrubou vários zumbis no carro - vamos - ele disse e deu ré, saindo dali com o carro.

Tyresse estava desacordado e Rick parou o carro. Tiramos ele para fora e eu tentei sentir seu pulso, mas ele já estava morto.

Afastei-me e sentei no chão, deixando as lágrimas escorrerem pelo meu rosto enquanto fitava o nada. Lembrei-me dos dias em que eu passei com ele depois da prisão e lembrei-me da pessoa boa que ele era. Ele não merecia isso.

Glenn se sentou ao meu lado e passou um braço pelo meu ombro. Encostei-me nele e fiquei olhando Tyresse ali, já sem vida.

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Nos encontramos com o resto do grupo e Rick estacionou o carro. Abri a porta e desci do carro, olhando para Daryl que me observava ao longe. Dei um leve sorriso e senti lágrimas descerem pelo meu rosto. Ele veio até mim e me abraçou forte. Passei meus braços por sua cintura e enterrei minha cabeça em seu ombro.

- Sinto muito por Tyresse - ele disse.

- Sinto muito por Beth - falei e ele me apertou mais.

Cada um de nós pegou a pá e depositou terra na cova de Tyresse enquanto Gabriel lia algumas palavras da bíblia. Peguei a pá depois de Michonne e joguei a terra na cova. Depois, entreguei-a para Daryl e fiquei esperando-o, mais afastada. Ele entregou a pá para Sasha e eu estendi minha mão para ele, que entrelaçou sua mão na minha e se afastou dali, andando calmamente ao meu lado.