- Pra trás! - Rick gritou enquanto eu olhava para aquela horda enorme de zumbis invadindo Alexandria - entrem nas suas casas!
- Ah, meu Deus - eu disse - ah, meu Deus.
- Brooke! - Rick gritou - vai!
Olhei uma última vez para os zumbis e peguei meu facão, matando o máximo que eu conseguia. Eu ia recuando enquanto matava alguns zumbis e acabei tropeçando na calçada. Peguei minha pistola rapidamente e matei um maldito zumbi que ia cair em cima de mim. Levantei-me e comecei a correr na direção da casa.
- Carl! - eu gritei ao ver ele no meio dos zumbis.
Peguei meu facão e corri na direção dele, encontrando Rick e Deanna junto ao garoto. Mais atrás, estavam Ron e Gabriel, além de Michonne. Ergui meu facão e acertei na cabeça de três zumbis, liberando espaço para que eles corressem. Jessie me ajudou, matando outros zumbis.
- Venham! - ela gritou - estou com Judith!
Entramos na casa correndo e eu tranquei a porta, começando a puxar uma cômoda para impedir que ela fosse aberta.
- Brooke - Rick disse baixinho - suba até onde Deanna está. Ela foi mordida.
- Ai - falei e fiz uma careta - tudo bem.
Subi as escadas correndo e entrei no quarto onde ela estava.
- Hey - falei - vou dar uma olhada nesses machucados - peguei o que estava disponível ali no quarto e comecei a fazer alguns curativos.
- Não se preocupe com isso - ela disse - eu vou morrer mesmo.
- Não fale assim.
- Não tenho salvação - ela disse - é a verdade.
Apertei mais a perna dela e suspirei.
- Eu sinto muito.
- Eu sei que sim - ela deu um fraco sorriso e eu assenti.
Tivemos que sair da casa.
E para isso, foi preciso cobrir nosso corpo com lençóis cheios de entranhas.
- Ok - Rick disse - fiquem calmos. Não chamem a atenção. Passaremos por eles.
Suspirei e fechei meus olhos por alguns segundos, inspirando e pegando a mão de Carl enquanto descíamos as escadas ,entrando no meio dos mortos. Eu segurava, também, a mão de Sam, um garotinho, filho de Jessie, o que me preocupava, afinal, aquilo devia ser apavorante para ele. Saímos na varanda e um aperto surgiu em minha garganta.
A rua estava repleta de zumbis. Alexandria, que emanava segurança, parecia um cenário de um filme de terror. O cheiro de podridão e os gemidos dos mortos tornavam aquilo tudo mais pesado, mais triste. Descemos as escadas da varanda.
- Mãe - ouvi Sam dizer.
- Shhh - falei baixinho para o garoto e continuei andando.
Eu olhava bem para a cara de cada zumbi que passava ao meu lado. Nós caminhávamos relativamente rápido e eu senti meu coração acelerar cada vez que um morto esbarrava em mim. Paramos perto do lago e Rick sussurrou:
- Certo, novo plano. Sinalizadores e poucas armas não bastam. São muitos errantes bem espalhados. Não vamos até o arsenal. Precisamos dos veículos lá da pedreira. Todos dirigimos. Precisamos reuni-los. Nós saímos e voltamos.
- Certo - Jessie concordou - mas a Judith… Ir até a pedreira e voltar, eu…
- Eu fico com ela - Gabriel sugeriu - mantenho-a segura na igreja até afastarem os errantes daqui.
- Consegue fazer isso? - perguntei, encarando-o.
- Devo fazer isso - ele respondeu - preciso fazer. E farei.
- Está bem - Carl disse e passou Judith para Gabriel.
- Leve Sam - Jessie disse.
- Não - o garoto protestou.
- Sim, é mais seguro.
- Não deixarei você.
- Sam.
- Mãe, eu não vou. Eu consigo continuar. Eu consigo. Por favor. Vamos logo.
- Okay.
- Irei mantê-la segura - Gabriel disse.
- Obrigado - Rick respondeu e o padre continuou sua jornada até a igreja.
A noite havia chegado e nós ainda andávamos entre os mortos. O plano parecia estar dando certo e eu estava mais aliviada.
Foi aí que tudo mudou.
Senti Sam soltar minha mão e eu olhei-o, rapidamente.
- Sam, vamos - Jessie disse e eu vi o garoto começar a chorar - querido, vamos.
- Você consegue - falei, tentando ajudá-los - pegue minha mão. Vamos, você consegue.
- Sim - Jessie disse - você consegue. Venha, vamos.
- Venha Sam - Rick disse.
- Sam? - Ron e Jessie chamavam o garoto.
- Você consegue - repeti entredentes - vamos.
- Sam, olhe para a mamãe - Ron começou a dizer.
- Querido, você consegue - Jessie disse e eu pude perceber o desespero em sua voz - Sam, venha comigo. Precisa vir comigo.
- Eu queria ir - o garoto disse em meio ao choro.
- Preciso que seja forte - Jessie continuou.
Foi nesse instante que dois zumbis morderam o garoto.
- Mamãe! - ouvi o menino gritar enquanto era devorado e eu senti um calafrio em meu corpo. Apertei a mão de Carl e tudo ficou em câmera lenta. Era como se eu pudesse somente ouvir as batidas do meu coração. Jessie gritava e eu olhei-a.
- Jessie - falei - não.
- Jessie, Jessie - Rick disse.
- Precisamos ir - Carl disse - venha.
E aconteceu novamente.
Jessie foi a segunda a ser devorada.
- Brooke - ouvi Carl dizer e eu percebi que Jessie ainda segurava a mão de Carl que tentava se soltar.
- Não! - senti o desespero aumentar e a angústia esmagou meu peito - droga - falei e comecei a puxar o garoto.
- Pai - Carl disse e Rick pegou o machado que levava em suas mãos, batendo no braço de Jessie para que ela o soltasse. Carl quase caiu em cima de mim e eu o ajudei a se equilibrar. Virei-me e vi Ron apontando uma arma para nós.
- Você - ele disse - você.
Michonne atravessou a katana em seu peito eu vi o garoto cair no chão, sendo devorado por zumbis em seguida. Tive a impressão de ter visto Ron atirar, mas vendo a situação, pensei ter me enganado.
- Pai - ouvi Carl dizer e eu entrei em choque.
- Carl - Rick disse ao ver o garoto cair no chão, soltando minha mão.
Ele havia sido baleado por Ron.
No olho.
- Ah, meu Deus, meu Deus, meu Deus - eu disse várias vezes enquanto via Carl no chão, com o rosto coberto de sangue.
- Não - Rick disse pegando o garoto no colo.
Peguei meu facão e prendi a respiração, matando todos os zumbis que entravam na minha frente. Um golpe bastava para matá-los. Corríamos em direção à enfermaria e eu sentia minha visão ficando embaçada por conta das lágrimas. Entrei na enfermaria e joguei o lençol que me cobria no chão.
- Preciso de bandagens - comecei a falar para Denise e Aaron que estavam ali - soro e toalhas limpas. Tragam-me pinça. Sutura. Rápido. Aaron, pegue a maca.
Segundos depois, Rick entrou na enfermaria e eu indiquei a maca para que ele colocasse Carl.
- Por favor - Rick disse - salve-o.
- Vou fazer o meu melhor - respondi e comecei a estancar o sangue que saía do ferimento.
- Você tem que salvá-lo. É sua obrigação! - ele gritou e eu olhei-o.
- Você não pode me jogar essa responsabilidade! - gritei de volta - eu já disse vou fazer o meu melhor! Não me culpe se ele morrer! Aaron, toalha. Segure-a aqui. Pinça! Droga, alguém tem uma lanterna? Preciso de mais luz! Okay. Mantenha pressão - pedi a Aaron - Denise? - chamei-a - Preciso de suas mãos! Vou começar dando pontos nas lacerações. Me ajude com isso! Michonne, a bandeja. Traga-me - ela me trouxe a bandeja rapidamente e eu percebi que suas mãos tremiam levemente - a bala está um pouco profunda mas consigo remover. Ele está ligado ao monitor? - olhei para Denise e ela confirmou, ligando o monitor - Perfeito. Pinça - Denise me entregou a pinça e eu segurei a lanterna na outra mão, iluminando a cavidade provocada em seu rosto enquanto inseria a pinça - vamos. Peguei! - retirei a bala e a joguei em uma bandeja - hemorragia. Tragam-me a sutura. Segure a toalha aqui, Michonne. Rick? - olhei-o saindo pela porta - Rick! Vá atrás dele - falei para Michonne e ela saiu - Aaron, assuma o lugar da Michonne. Vamos - falei enquanto tentava conter a hemorragia - consegui! Vou costurar isso daqui e acabamos - suturei a ferida em seu olho e dei o ponto final - pronto.
Encostei-me na parede e olhei para Carl, inconsciente, na maca. Olhei para as minhas mãos e vi o sangue do garoto nelas, o que me fez começar a chorar. Inclinei-me e deixei todo o aperto em minha garganta sair, causando-me uma onda de desespero.
Eu soluçava enquanto chorava descontroladamente olhando minhas mãos, que agora tremiam. E se ele não sobrevivesse? E se nós não conseguíssemos recuperar Alexandria? E se eu não visse Daryl novamente? E se mais algum amigo morresse?
Lembrei-me de Sam e o modo como ele morreu fez com que eu chorasse ainda mais.
- Ei - Denise disse e colocou a mão em minhas costas - você conseguiu. Ele vai ficar bem.
Eu apenas assenti e continuei chorando como uma criança idiota. Eu soluçava e simplesmente não conseguia parar de chorar. Aaron veio até mim e me abraçou, afagando minhas costas.
Eu me senti inútil. Eu podia ter protegido Carl. Eu podia ter ajudado ele e nada disso teria acontecido. Mas quem iria prever algo assim?
Eu me sentia totalmente insegura. Como se eu não conseguisse mais me virar sozinha. Como se eu não acreditasse ser capaz de matar novamente. Olhei pela janela e tudo fez sentido.
- Eu preciso ir - falei soltando-me de Aaron e peguei meu facão, abrindo a porta.
Vi todos os sobreviventes eliminando os zumbis, o que me deu mais uma motivação para acabar com aqueles malditos. Corri na direção dos mortos e levantei meu facão, acertando a cabeça de qualquer errante que cruzasse meu caminho. Era como uma libertação. Um livramento. Cada golpe era uma descarga de raiva, angústia, medo e pesar.
O sol estava nascendo quando eu acertei o último zumbi em pé perto de mim. Coloquei meu facão em meu cinto e me curvei, apoiando minhas mãos em meus joelhos. Fechei meus olhos e senti alguém segurando meu rosto. Ergui meus olhos e encontrei Daryl. Joguei-me em seus braços e senti ele me apertar, puxando-me mais para perto.
- Obrigado por estar vivo - sussurrei e ele beijou meu rosto.
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