História Um novo mundo, um novo começo - Novos inimigos

Uma semana se passou desde que eu e Daryl voltamos.

Foi uma semana tranquila.

Rick tentava me incluir nas atividades de Alexandria porque ele, assim como todos os outros sobreviventes, queriam que eu voltasse a ser o “antigo eu”.

Eu não sei dizer se o fato de eu não lembrar de exatamente tudo causava mesmo tanto impacto assim neles, mas parecia que sim.

Eu ficava encarregada de ajudar os moradores a eliminar os zumbis que chegavam até às cercas, vigiar durante a noite a treinar os moradores. Eram dias calmos e sem graça. Sem movimentação ou descargas de adrenalina.

Agora, eu estava olhando o nascer do sol de cima do posto de vigia. O céu ia ganhando um degradê laranja e amarelo conforme o sol ia subindo. Era um dos meus momentos favoritos do dia. Tudo ficava silencioso e tudo parecia certo. Sem mortos-vivos vagando pelas ruas.

- Você devia dormir às vezes - ouvi Daryl dizer e só então percebi que ele estava ali.

- Eu dormi ontem - respondi.

- Não. E nem anteontem. E nem nos outros dias. Você fica acordada a noite toda.

- Não vejo isso como um problema, aliás, não me afeta em nada.

Daryl bufou e olhou na direção do sol.

- Rick está nos chamando lá embaixo - ele disse depois de um tempo.

Nós seguimos até onde Rick estava.

Ele queria que nós, junto com outra moradora, Ann, fôssemos em uma busca por suprimentos no lugar dele, que tinha outras coisas para resolver. Eu, Ann e Daryl concordamos, pegamos nossas mochilas e algumas armas e saímos floresta afora.

- Nós não estamos com sorte - Ann disse depois de revistarmos a quinta casa e não acharmos nada.

- Tem mais casas pra lá - Daryl respondeu apontando para a rua - ainda podemos encontrar alguma coisa.

Nós entramos na sexta casa. Eu segui para o andar de cima enquanto Daryl e Ann revistavam o andar de baixo. Eu fui revistando porta por porta, encontrando cômodos revirados de famílias que pareciam ter ido embora às pressas, sem tempo para juntar muita coisa. Abri a última porta no final do corredor e me deparei com quatro zumbis devorando o que parecia ser uma pessoa.

- Merda - sussurrei e um zumbi virou para mim, começando a levantar para vir em minha direção. Comecei a puxar a porta, mas ela estava presa por uma peça de roupa que estava no chão. Fiz mais força e puxei a porta, mas ela não fechou. Coloquei o rifle que eu levava nas mãos em minhas costas e puxei o facão de meu cinto esperando os zumbis virem enquanto andava para trás, parando ao lado da escada.

Acertei o primeiro zumbi diretamente na cabeça, derrubando-o sem vida no chão. Os seguintes vieram juntos e eu acertei um na cabeça enquanto empurrava o outro contra a grade, derrubando-o no andar debaixo. E, o último, eu matei-o com um golpe só. Soltei o ar de meus pulmões de uma só vez e me virei, vendo Daryl subindo as escadas rapidamente.

- Você tá bem?

- Você fica com o andar de cima da próxima vez - respondi e desci as escadas, juntando-me à Ann - acharam alguma coisa?

- Achamos enlatados - ela disse mostrando-me a mochila - e um facão.

- Ainda não é o suficiente - falei e Daryl desceu as escadas depois de se certificar que não havia mais nenhum zumbi ali.

- Vamos - ele disse - temos mais a rua inteira pra ver.

Após revistarmos a rua toda, juntamos uma boa quantidade de suprimentos e até algumas armas. Nós estávamos voltando para casa, andando pelo meio da floresta quando quando, em um golpe rápido, eu vi Ann ser puxada e, em segundos, estávamos cercados por duas mulheres e três homens armados. Eu ergui meu rifle na altura da cabeça deles, assim como Daryl, e eles riram, enquanto uma mulher segurava uma faca no pescoço de Ann.

- Finalmente - o cara que parecia ser o líder do grupo disse - eu estou esperando calmamente vocês limparem as pra gente faz um bom tempo.

Eu olhei para Daryl e ele me olhou de volta, rapidamente.

- Eu sei que a abordagem não é muito amigável - ele continuou - mas veja só vocês. Estão com roupas boas, boas armas e conseguiram bastante comida. Por que não nos dizem onde vivem e todo mundo vai pra lá?

- Por que vocês não tentam procurar a própria comida ao invés de roubar como covardes dos outros? - falei e ele sorriu.

- Pra quê? Roubar é mais fácil, não é? E aí, que tal irem entregando as armas e as mochilas?

- A gente não vai entregar nada - Daryl disse e ele o olhou, virando a cabeça.

- Vocês não entendem, não é? Nós mandamos em vocês agora.

- São dos Salvadores? - perguntei e ele negou.

- Nós somos piores.

- Bela propaganda.

- É a última chance - ele disse - armas e mochilas no chão.

Nem eu, nem Daryl mexemos um músculo. O líder olhou para a mulher que estava com Ann e assentiu. Em um movimento rápido, a mulher cortou o pescoço de Ann, que caiu agonizando no chão. Eu senti uma onda de raiva surgindo e apontei na direção da mulher.

- Veja bem - o líder disse - nós não estamos brincando. Temos quatro pessoas apontando a arma pra essa belezinha aqui - ele disse apontando pra mim - se ela atirar, são quatro contra ela. Você acha que consegue matar todos antes de ela perder a vida? - ele perguntou à Daryl - é, eu também acho que não. Então coloquem suas armas no chão, agora.

Daryl hesitou por um momento e colocou a arma no chão. Eu obedeci também e coloquei a arma no chão, jogando meu facão sobre os pés deles. Eu olhei para Daryl e ele assentiu. Assim que dois caras se abaixaram para pegar as armas, eu e Daryl os atacamos. Eu derrubei o cara que estava em frente à mim e parti pra cima da mulher que matou Ann, derrubando-a no chão. Chutei seu rosto, deixando-a atordoada e chutei a cara do outro cara que vinha em minha direção. A mulher se levantou e eu desviei de seu soco, abaixando-me e pegando o facão do chão. Quando eu estava pronta para decapitá-la ouvi alguém chamar:

- Ei, lindinha - o líder disse e eu vi ele com um rifle apontado para Daryl, que estava imobilizado pelo outro cara - no chão.

Eu rapidamente soltei meu facão e a mulher segurou meu pescoço, prendendo-me contra uma árvore.  

- Isso foi muito ruim pra vocês - o líder disse e veio até mim - vocês mexeram com as pessoas erradas. Vamos levá-la - ele disse para os outros - uma hora ela vai dizer onde eles vivem e boom!, vamos atacar com tudo. Leve-a.

Os outros dois caras vieram até mim, segurando meus braços e me arrastando.

- Não encoste em mim - eu disse e tentei me soltar, mas um deles me acertou com um soco. Eu me inclinei e cuspi o sangue da minha boca no chão.

- Você não vai levá-la - Daryl disse, enfrentando o cara - nós nem conhecemos vocês e vocês não nos conhecem. Se vocês levarem-a, nós vamos te achar. E todos vocês vão morrer, cada um de vocês. Porque nós vamos matar todos enquanto você assiste.

- Ah é? - o cara disse e deu um soco em Daryl, empurrando-o e chutando-o - isso se você conseguir voltar pra casa - ele disse e pegou a perna de Daryl, erguendo-a e pisando com força nela, quebrando-a. Eu ouvi o barulho do osso se quebrando e ele gemeu alto de dor. 

Eu tentei me soltar e ir até ele. Dei uma cabeçada em um dos caras e chutei as partes baixas do outro, que se curvou e caiu de joelhos. Eu comecei a ir na direção dele, mas o cara que estava no chão puxou meu pé, fazendo com que eu caísse no chão, batendo minha cabeça contra uma pequena pedra que estava ali. Senti o sangue escorrendo pela minha testa e alguém me levantou do chão segurando-me pela cintura.

- Não! - eu esbravejei, brava comigo mesma por não conseguir chegar até Daryl - não! Me solta! - eu me remexia, mas não conseguia me soltar do cara que me segurava.

-- Se você não ficar quietinha, eu posso acabar com o sofrimento dele aqui mesmo - o líder disse e eu vi as duas mulheres com as armas apontadas para Daryl, que segurava sua perna, visivelmente com muita dor. Eu parei de me remexer e o cara me colocou no chão - boa menina. Vamos embora - ele disse e os dois caras seguraram um em cada braço meu, levando-me dali enquanto eu olhava uma última vez para Daryl.