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História Um Pedaço do Oceano em Mim - Sábado


Escrita por: LunaRangerRosa

Notas do Autor


POR CONTA DOS TERMOS DE USO E POSTAGEM DESSE SITE, TODAS AS REFERÊNCIAS AO CONSUMO DE DROGAS OU BEBIDAS ALCOOLICAS SERÃO SUBSTITUIDAS PELA PALAVRA "UNICÓRNIO"
Tenho essa fanfic no nyah também
Os personagens e a historia são meus, se copiar é plagio
Pretendo postar toda semana, então, se eu demorar, pode pegar no meu pé nas mensagens
Espero que se divirtam :3
Beijos da Luna Chan u3u

Capítulo 1 - Sábado


Todos os sábados, bem cedo, eu acordo e vou surfar. Aquele dia não foi diferente. Fiz um sanduíche com o que tinha sobrado na geladeira, coloquei o macacão, peguei minha mochila, a prancha e fui. O solo tinha acabado de nascer, mas já estava quente. Cheguei e fui caminhando pela areia ainda fria da praia até os rochedos, onde as ondas batiam. O som que vinha do mar me acalmava e alegrava. Deixei as coisas atrás de uma pedra (meu lugar secreto), voltei para a areia e corri para a água. O mar estava agitado, mas as ondas eram pequenas. É sempre bom poder passar algum tempo no meu segundo lar (A mãe de um amigo me disse uma vez que eu era filho de Iemanjá. Levo isso mais a sério do que gosto de admitir).

O sol foi subindo no céu e comecei a ficar cansado, então voltei para meu esconderijo nos rochedos.

Eu estava sentado no meu canto, com o nariz coberto de bronzeador e o sanduíche em uma das mãos, quando o vi. A primeira coisa que eu vi foi o rosto claro dele, coberto de sardas e quase escondido pelos cabelos escuros e molhados. Seu nariz era fino, a boca pequena, os olhos quase puxados e de um verde azulado que eu podia jurar que não existia em olhos humanos. Os olhos eram contornados por um tipo de tatuagem estranha: vários círculos negros que iam ficando cada vez menores a medida que subiam no rosto dele. Caramba, isso deve ter doído muito!

Ele estava apoiado na pedra com os dedos finos e longos, e olhava para mim. Devia ser novo aqui na ilha, ou estava tirando umas férias fora da temporada, e queria pedir conselho pra se virar por essa praia.

- Ei, você! – Eu disse e ele se assustou. – Quer subir aqui pra gente conversar? Qual o teu nome?

Ele foi embora rápido, por baixo das pedras. Parecia tímido, e também era muito corajoso por andar tão perto da água. Fiquei meio desapontado porque achei que ia ter companhia dessa vez, mas tudo bem. A vida continua! Terminei de comer e troquei o macacão de surf por uma camisa e  bermuda (sempre com a sunga por baixo, óbvio), juntei as coisas e fui caminhando pelos rochedos até chegar em uma trilha que separava aquela área da praia, e a praia da parte urbana. Pouco antes de entrar, ouvi um barulho muito baixo e esquisito, que não parecia ser de nenhum bicho, ou talvez de um bicho muito machucado. Desviei da trilha alguns metros seguindo o som. E vi o garoto estirado sem roupa no chão com os olhos arregalados, sufocando. Corri até ele, desesperado. Ele tinha parado de se mexer e eu tive medo que ele morresse! Fiz exatamente como aprendi nas aulas de primeiros socorros da praia em época de temporada. Um, dois, três, quatro, cinco, boca-a-boca. De novo. De novo. De novo...

Finalmente, voltou a respirar. Ficou acordado apenas para puxar o ar algumas vezes, com muita força, e depois desmaiou de novo, de cansaço. Me bateu o desespero de novo! O que eu podia fazer? Tinha um cara desconhecido nos meus braços, sem roupa e desmaiado!

Respirei fundo para colocar a cabeça pra funcionar. Tirei minha bermuda para por nele, o que foi a parte fácil. O difícil foi pensar em para onde levá-lo, e como levar minhas coisas junto. O lugar mais perto era a minha casa, tinha que servir. Coloquei a prancha em um esconderijo da trilha, por baixo das folhas que cobriam o chão.

- Volto para te buscar depois. – Sussurrei. Depois pus a mochila de frente, para acomodar o menino nas costas, e fui pra casa.

Quando o coloquei na cama, comecei a reparar mais em quem eu havia trazido para casa. Com certeza, um garoto muito estranho.

Ele tinha uma cicatriz no pescoço, como se algum super felino gigante mutante tivesse arranhado ali. As orelhas eram largas e pontudas, com argolas finas de enfeite, tipo piercings. Pareciam orelhas de algum ser místico meio bicho meio gente, ou um elfo. A “tatuagem” em volta dos olhos era, na verdade, um monte de pedras pretas que pareciam coladas na pele dele, que estremeceu quando passei os dedos por elas. Não tinha nenhum outro pelo no corpo além dos cabelos longos e finos, e não havia nenhum sinal de que raspava ou depilava.

Ele era alto, talvez até mais do que eu. Era esguio, mas forte, com “gominhos” no tórax. O rosto era suave, mas o corpo era masculino. Tinha cheiro de mar e de flores, era muito bom. Me inclinei para sentir melhor, quando ele acordou. Nós dois levamos um susto e ele se moveu até o outro lado da cama.

- Ei! Ei, calma... – eu disse. Ele ainda me olhava assustado – Você desmaiou e eu te trouxe pra minha casa. Tá tudo bem, eu não vou te machucar.

Ele baixou os olhos e percebeu que estava vestido. Acho que isso deixou ele aliviado.

- Qual o teu nome? – Uma pausa, como se ele estivesse pensando. Ai meu deus, será que ele teve amnésia?

- É... Abel.

- Abel... Tipo da Bíblia? – Ele pareceu envergonhado por um momento, mas respondeu:

- É, isso mesmo.

- Meu nome é Vinícius. Pode chamar de Vini se quiser, eu não ligo muito. Prazer em te conhecer! – Estendia a mão meio que de brincadeira, e Abel apertou. Ele era forte.

- Então... – eu disse – Você sabe por que desmaiou no meio do mato? Você tem asma ou alguma coisa do tipo? Nossa, eu devia ter te levado pro hospital, né? Quer que eu chame um médico...

- Não, não! Sem médico! – Ele me interrompeu – Você tomou a melhor decisão. Obrigado por me salvar. – O que Abel disse acabou me deixando feliz, mas eu ainda estava preocupado com ele. Parecia ser muito novo e misterioso. Houve um momento de silêncio em que eu olhava para ele e pensava no que perguntar agora. Não sabia a idade dele, nem o que tinha causado aquele problema, muito menos porque ele tinha orelhas pontudas e pedras ao redor dos olhos.

- Bem, eu vou buscar a minha prancha. – Disse – Se quiser eu posso te levar pra casa também...

- Não! – Ele percebeu o susto que eu levei com a resposta e explicou:

- Eu ainda estou fraco, na verdade. Posso ficar aqui mais um pouco? Por favor!

Ainda está para nascer alguém que pudesse negar qualquer coisa pro Abel depois de ele ter feito aquela cara. Assenti com a cabeça, vidrado nos olhos úmidos e expressivos dele. Mostrei onde ficava a cozinha, o filtro de água, o banheiro, e saí, já morrendo de vontade de voltar.

Quando cheguei, vi Abel de pé na cozinha bebendo água como se tivesse acabado de voltar de uma expedição ao deserto. Estava escorado no balcão e ainda vestia apenas a minha bermuda, que tinha ficado larga e só não caía devido a seus ossos proeminentes na virilha.

- Ah, você foi rápido! Ele disse quando percebeu que eu tinha chegado. – Muito obrigado por me deixar ficar!

- Sem problemas – Respondi. Aquele silêncio de novo. – Eh... Eu vou banho agora. Fica a vontade. Eu vou querer saber mais sobre ti depois, tá?

Abel pareceu espantado de início, mas disse que tudo bem. Durante o banho, me caiu a ficha de quão idiota isso tudo parecia.  Tem um guri desconhecido na minha cozinha, que eu encontrei pelado e desmaiado na praia, e que não quer voltar para casa nem  ir para um hospital!

Voltei para a cozinha vestindo uma bermuda e a mesma camiseta de antes. Abel parecia estar descongelando alguma coisa que eu tinha comprado no período feudal para não morrer de fome e abandonado no congelador. Ele olhou para trás quando me ouviu. Me sentei na mesa e passei a mão pelos cabelos. Hambúrguer. Ele tava fritando hamburguês, e usando p que sobrou do pão e da maionese pra fazer sanduíches.

- Então... – Comecei a dizer, mas não terminei. Ele pôs a comida em dois pratos e foi até a mesa com eles. Puxou um prato para si e começou a comer, esperando que eu continuasse.

- Acho que você devia voltar para casa. – Tomei coragem para dizer. – Pelo jeito sua saúde é sensível, e teus pais devem tar preocupados...

- Eu não tenho pais. Eu fugi. Não sou uma criança, e a minha saúde não é sensível. – Ele respondeu. Direto, mas suave. Eu não sabia o que falar. Gaguejei um pouco e, quando fui perguntar, ele respondeu.

- Elas eram más comigo. As mulheres com quem eu morava. Queriam fazer testes comigo por causa dos meus... defeitos...

- Então você precisa avisar a polícia! – Eu estava cada vez mais chocado.

- Não dá pra localizar elas. A cidade onde eu morava fica longe e elas são muito espertas. Eu preciso encontrar um lugar para ficar até que eu possa...

- Fica aqui! – Eu disse num impulso. Alguma coisa naquele guri me fazia querer ele por perto.

- Tem certeza de que não vou ser um problema?

- Tenho. Mas quero que você responda o que eu perguntar, okay?

- Tudo bem.

Nessa hora o meu celular tocou. Era um amigo meu, pela quarta vez naquele dia. Não podia ignorar agora. E eu que tinha tantas perguntas...

- Alô!

- E aí, cara? Bora sair hoje? Mesmo role de sempre, a gente, o Ed e as minas do skate...

- Nossa, cara, hoje não dá.

- Por que? – Caramba, eu preciso inventar alguma coisa!

- Eh, um primo meu tá passando uns dias aqui e... eu preciso de um tempo pra organizar a casa pra ele ficar.

- Ué, leva ele também!

- Poxa, cara, fica pra próxima, viu? Ele vai ficar um tempo aqui, semana que vem a gente apresenta pra galera.

- Okay então. Quer que eu dê um "UNICÓRNIO" a mais por ti?

- Haha, pode sim. Falou, cara!

- Falou!

Ufa.

Abel ainda me olhava, curioso, por trás do sanduíche que ele tava comendo.

- Então... A gente precisa comprar comida. – Disse. Ele concordou. Talvez eu devesse comprar alguma roupa pra ele, não sei... Que bom que tinha uma grana guardada, dá pra gastar um extra. Era pra um shape novo do skate, mas isso pode esperar.

Terminei meu sanduíche – que estava muito bom – e ajudei o garoto a ter alguma coisa para vestir. Ele era mais magro do que eu, mas alguns centímetros mais alto, o que fez com que conseguisse vestir as minhas blusas. Ele estava ansioso para sair, mas eu pedi que colocasse uma touca e óculos, por causa daquilo que ele havia chamado de “defeitos”. Incrivelmente, meus chinelos ficaram grandes nele. Outra coisa para botar na lista de compras.

Não nos parecíamos em nada. Minha pele era mais bronzeada que a dele, que não ficava rosa ou mais escura com o sol. Meus cabelos eram rebeldes e iam até o pescoço, enquanto os dele eram lisos e escuros, e desciam até o meio das costas. Eu era mais forte do que ele. Meus olhos eram escuros e amendoados, bem brasileiros, os dele pareciam de algum ser mitológico oriental. Ia ser difícil convencer meus amigos de que ele era meu primo.

Peguei a mochila de pano, ele encheu duas garrafas com água, e saímos para o centrinho. Abel olhava tudo, muito curioso, e não parava de beber água. Fiquei espantado que ele não sentia vontade de ir ao banheiro de 10 em 10 minutos.

Compramos comida de preguiçoso. Biscoito, salgadinho, miojo, refrigerante, "UNICÓRNIO" e muita carne congelada. O guri queria levar salgadinho de alga ou camarão, mas eles eram caros, e como que a gente ia preparar eles?

- Eu posso dar um jeito. – Ele disse sorrindo. Que sorriso! Ok, salgadinhos de alga. O shape ia ter que ficar para mais tarde.

Era pouco mais de quatro da tarde quando voltamos. Perguntei se ele queria ir pela praia. Ele me olhou espantado, mas depois assentiu com a cabeça. Tiramos os chinelos e andamos pela areia fofa. Abel não queria chegar muito perto do mar.

- Você mora no continente? –Perguntei. Óbvio, se ele não era da ilha...

- Não.

- Você mora onde, então?

- Vamos fazer um combinado? – Olhei para ele, querendo que fizesse a proposta.

- Sobre o meu passado misterioso, só vale uma pergunta por dia, tudo bem? – Ele disse, e olhou para mim, meio sorrindo, mas meio desconfortável também.

- Okay. – Concordei.

O sol descia para o mar, batia nas pedras e nos prédios dos hotéis vazios por não ser temporada. Andamos em silêncio e chegamos na minha casa pela mesma trilha onde tinha encontrado Abel. Naquele momento, tudo o que eu pensava era pra onde esse caminho – não o da trilha – ia me levar.


Notas Finais


Espero que tenham curtido
u3u


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