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História Um poeta - Um "Bege" Acadêmico


Escrita por: SirenSong

Notas do Autor


Heeeeeeelo pessoas lindas desse brasil baranil

Espero que gostem da História.

Ela é um pouco de como eu me sinto, e um pouco dos meus medos.

Capítulo 1 - Um "Bege" Acadêmico


Fanfic / Fanfiction Um poeta - Um "Bege" Acadêmico

Carlos estava exausto, recolheu os papéis e jogou dentro da pasta sem muito ânimo, deveria ter viajado para fora do país quando teve chance, o Brasil não era o melhor lugar para se seguir numa vida acadêmica.

As luzes já estavam sendo apagadas e fora o vigia, em sua patrulha de rotina, não se ouvia mais qualquer alma viva na faculdade. Checou se não estava esquecendo nada. Lembrou do projetor que ficara na sala de Sônia. Cruzou os corredores da instituição encolhendo-se sob o vento frio. À essa hora, as luzes dos postes eram as responsáveis pela maior parte da iluminação, o que dava um certo ar sinistro ao caminho até a sala da coordenadora.

Mas, havia algo diferente naquela noite.

Carlos não precisou acender a luz da sala. Pela janela, o luar adentrava iluminando uma figura feminina. Ela estava parada, com uma postura impecável, altiva e soberana, como as estatuetas dos anjos na catedral. Olhava para janela, enxergando um mundo que não era aquele que se desdobrava a seus olhos.

Uma parte incômoda da racionalidade do professor lhe dizia que deveria fugir. Que aquilo não era normal. Mas a outra parte, uma maior e mais proeminente, temia que qualquer gesto seu fosse afugentar aquela figura, como uma revoada de pássaros, ou um animal assustado.

Então Carlos apenas se aproximou a passos leves.

Ela era real? Ou o devaneio da imaginação de uma mente frustrada?

O vestido era longo, tremulava com o vento, pequenas pedras cintilavam à luz da lua, como se o próprio firmamento houvesse cedido parte do céu estrelado para formar-lhe. Negro no dorso, ele decaia em um degradê perfeito, acinzentado, até misturar-se com bruma que espalhava-se a sua volta. Um fato intrigante à razão do escritor. Não sabia se uma por uma peça pregada por sua mente, mas havia uma fina névoa dispersa pela sala.

A estranha figura, parecendo notar a presença do homem, virou em sua direção com um sorriso singelo.

- Bela noite, senhor Monteiro. - Cumprimentou com a voz das sereias..

- Boa noite...

- É um grande prazer conhecer tão refinado poeta.

- Você… conhece meus trabalhos? - perguntou com insegurança, não queria soar ofensivo, nem minimamente rude.

- Li teus contos, são belíssimos, é como se as próprias musas compartilhassem de teu leito.

Havia algo no sorriso da jovem que lhe deixava a vontade, algo que lhe fazia esquecer que estava conversando com uma estranha, surgida no breu da noite.

- Agradeço o elogio, mas, você não me parece uma fã normal.

- E de fato não sou. - Respondeu melódica - Embora lastime que nada mais que leio de tua autoria, possua a cor de teus primeiros versos.

Carlos abaixou o olhar, aquele era um assunto que lhe frustrava. Sempre sonhara em ser um escritor,  daqueles que capturam o leitor e o joga em um mundo novo, em um mundo mágico, como Homero e os grandes clássicos. Mas, os dois livros de poesias que lançara não foi suficiente para alavancar uma carreira, e o romance que escrevera, devia estar mofando nas prateleiras de algum sebo, soterrado por um mil exemplares de romances estrangeiros. Depois de tantos fracassos, o que tinha mais para fazer além de viver sua vida em seus tons de um bege acadêmico?

- Acredito que as musas me abandonaram.

- Acreditas mesmo nisto? - Indagou movendo-se como uma massa de ar se acomodando a um novo cômodo - Acaso não fora tu que foste leviano com elas?

Carlos não respondeu. Tanta coisa estava envolvida. Seus pensamentos começaram a divagar.

- E difícil escrever sobre algo que não se sente - ele sussurrou quase num desabafo para si mesmo. - A vida não é como uma aventura cheia de emoções, colorida como um quadro da renascença. Ela é: responsabilidades, obrigações e contas para pagar.

Carlos realmente sequer entendia o porquê de estar tendo aquela conversa com aquela estranha. Mas de algum modo, ela lhe deixava seguro, quase confortável. Não era como se ela estivesse entrando e remexendo em suas feridas mais profundas.

- Eu creio que todo bom poeta precisa de um bom mecenas. - Ela interrompeu

- Desculpe...? - realmente confuso com a mudança no assunto.

- Talvez o que lhe falte, seja a inspiração certa. Talvez precise recolorir sua vida. Talvez ... Eu possa lhe ajudar com isso.

- Você? - Carlos soltou incrédulo. Ela sorriu.

- Eu conheço histórias que demorariam mais de uma vida para você escrever. Segredos que fariam ossos remexerem em tumbas. - Ela o capturou com o olhar.- Sensações que você jamais imaginou.

- E você me contaria?

- A questão, meu doce poeta, é... Realmente queres que eu lhe conte? - Ela moveu-se novamente, e o ar a sua volta ajustou-se à ela - Sois esperto o bastante para entender que uma vez que saia da segurança de sua casa, a estrada torna-se a tua senhora e tu, não será mais senhorio de teus pés.

Carlos ficou calado, sabia disso. Sentia em seus ossos que aquela escolha lhe mudaria o rumo de sua vida. Então, olhando aquela encantadora figura, outra pergunta emergiu em sua mente.

-  Por que eu?

Ela se aproximou, e seus olhos pareciam mergulhar no mais profundo da alma do acadêmico.  

- Porque teus versos lembram poemas de um alguém muito precioso para mim.

Ouve um breve momento de silêncio, quebrado pela retomada da mulher.

- Estou lhe fazendo um convite, senhor Monteiro. Se o recusar, respeitarei tua decisão, não lembrará de minha visita, e tua vida se seguirá conforme teu desejo. Mas, o aceitar, haverá perigo e prazer, e os quadros da renascença serão opacos diante de tua vida, pois lhe ajudarei a pinta-lá, começando por pinceladas de um vermelho vivo, um carmesim pulsante, e então, conhecerá tantas cores que jamais supôs que existissem.

Então ela voltou a janela e como se mergulhasse desfazendo-se nas brumas, ela deixou suas ultimas palavras: “Três noites lhe darei para decidir tua resposta”.

A mulher desapareceu com a naturalidade com a qual o sol se põe no horizonte. Carlos ficou algum tempo tentando entender o que havia acontecido. Estava enlouquecendo? Não, havia algo que lhe dizia que tudo aquilo era real. No local onde a mulher desaparecera uma pena havia ficado, não a pena normal de um pombo, sua ponta era cuidadosamente cortada.

Uma pena para um poeta.


Notas Finais


Obrigada a todos que leram
Nos vemos nos coments ou nos próximos capítulos ^^


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