História Um Tempo de Lobos e Dragões - Jon III

Jon

Ele estava andando pelo pátio de Winterfell, a neve caía em seu cabelo negro enquanto ele ouvia sussurros e olhava para os lados tentando ver qualquer coisa além da escuridão. "Jon" uma voz feminina sussurrou vinda das criptas. Jon caminhou até lá, tinha cheiro de fumaça e medo, os passos iam ficando mais lentos à medida que ele entrava mais fundo nos andares nunca explorados. Não gostava de entrar ali, acreditava que não era o seu lugar, nunca foi um Stark de Winterfell, apenas um bastardo do Norte. Um Snow.

Ele estava completamente sozinho caminhando no escuro.

"Pai". Murmurou quase sem fôlego. "Pai". Não houve respostas. Uma brisa fria bagunçou seus cabelos enquanto uma pequena luz no fim o fez enxergar melhor. Viu Gelo, a espada de Ned Stark pegando fogo e derretendo ao lado, em seguida viu sua espada bastarda, Garralonga flamejando. Olhou para si mesmo, vestia o negro da Patrulha da Noite, estava confuso demais, mas segurou Garralonga e sua mão não queimou, o calor do fogo de certa forma era confortável.

Em seguida viu uma grande mancha de sangue no chão, e com a espada flamejante caminhou até onde o seu nome era sussurrado. Viu uma pena voando pelo espaço e uma mulher de costas para ele ao fundo. Tinha o cabelo loiro-platinado e quando virou-se sorriu docemente para ele, sua mão foi ao seu encontro, chamando, mas não era a mesma voz de antes. Novamente tudo escureceu, a única luz viva era a da espada, assim que a levantou, Jon deu de cara com uma estátua de pedra e caiu no chão com um grito.

Acordou sentindo-se cansado, como se tivesse andado por toda Winterfell e sua mão queimava como se tivesse realmente segurado uma espada de fogo.

Depois do encontro desajeito e não programado com Daenerys Targaryen, naquela noite Davos comunicou que ela queria uma reunião apenas com Jon Snow no salão de Winterfell. No começo ele achou um pouco estranho, preferia estar ao lado de Sansa, mas agora não conseguia pensar o que ela poderia querer e o que ainda esperava dele. Tinha aceitado aquele casamento repentino, não poderia recusar, não com um exército de Outros vindo do outro lado da muralha para destruir tudo que os Primeiros Homens construíram. 

Jon caminhou até o salão, seu único companheiro é Fantasma. A rainha Daenerys estava sentada em uma mesa bebendo de seu vinho, era como se aquele lugar tivesse sido dela a vida toda, parecia tão confortável, tão familiar. Ele caminhou até a cadeira a frente dela e apoiou os braços na mesa.

— Vossa graça, posso saber por que solicitou uma audiência entre nós dois?

— Jon Snow, quero conhecê-lo, quero saber se posso confiar em você.

— Eu poderia dizer que sim, mas confiança é algo que apenas o tempo pode dar.

Ele puxou a cadeira.

— Não, eu o quero em pé. — Falou surpreendendo-o. Jon deu um pequeno passo para trás sem nunca tirar os olhos dos dela. — Diga-me, como era seu pai?

Jon olhava a rainha tentando encontrar ali que ela não falava sério. Por que queria saber sobre Eddard Stark? O que ela ganharia com isso? É comigo essa aliança, por que falar do meu pai?

— O senhor meu pai foi um homem honrado demais e foi morto por isso. Não acho que devamos falar sobre ele.

— Então fale-me por que saiu da Patrulha da Noite.

As feições de Jon ficaram duras e ele apertou a mandíbula com força antes de responder. Fantasma estava deitado do outro lado, pelo menos seu lobo gigante a Rainha não se opôs a deixa-lo trazer. Ele me segue para todos os lugares, assim como o seu dragão. Ele teve de dizer para que ela aceitasse.

— Não há o que dizer, Vossa Graça.

— Tyrion me alertou que diria algo como isso. — Ela levantou e caminhou até a porta, quando a abriu, Tyrion entrou ao lado de uma das mulheres de Daenerys, Missandei e logo atrás vinha Sansa com Brienne e Pod. De repente o salão estava cheio de Nortenhos e acompanhantes da Rainha.

— Fale Jon Snow, como posso confiar a minha vida a você se nem seus votos com a Patrulha você cumpriu? Prometeu sua vida a Patrulha da Noite, mas aqui está o senhor, prometerá muitas coisas para mim em alguns dias no casamento, descumprirá isso também? Por que deixou a Muralha?

Os olhos de Jon se esbugalharam enquanto tocava o peito, exatamente onde a cicatriz que Olly tinha feito estava. Às vezes ele acordava soando, sentindo as cicatrizes queimando de dentro para fora e doía. Doía ver aqueles rostos, cada cicatriz que nunca sarou. Jon olhou ao redor, todos o encaravam, Sansa com pesar e Tormund impaciente, a Rainha o encarava como se o tivesse colocado em um jogo, um jogo que ele não faz questão de jogar.

— Perdão Vossa Graça, mas preciso me retirar.

Ele caminhou para as portas do salão, Fantasma acompanhando-o de perto.

— Não lhe dei permissão para sair, Jon Snow.

— E mesmo assim estou indo.