Daenerys
Tinha passado uma semana desde o fatídico dia. Só vira Jon Snow algumas vezes durante os jantares à mesa, ele estava sempre caçando ou fazendo planos com seus aliados nortenhos, Sor Davos e o selvagem. Todas as noites ele saía para planejar sua própria guerra contra os inimigos que ele chama de Outros, inimigos esses que segundo ele também são os dela, mas nunca os viu antes, nem sabe como eles são.
Daenerys estava sozinha em seus aposentos desembaraçando os cabelos e pronta para dormir, tinha dispençado Missandei e as aias, gostava de passar os dedos pelos próprios cabelos enquanto pensava em si mesma sentada no trono de ferro, mas agora pensava com tristeza na última semana e desejava seu trono mais que qualquer outra coisa naquele momento. Um trono longe do frio do Norte.
Ouviu uma batida na porta e quando pediu para que entrasse acreditando ser Missandei, foi Jon Snow que passou pela porta e parou no meio do quarto olhando para ela com o mesma expressão séria que ela sempre via em seu rosto.
— O que faz aqui? — Perguntou assustada.
O homem caminhou até o meio do quarto e olhou para ela seriamente, Dany sentiu-se desconcertada, não usava mais que seus trajes de dormir.
— A noite chega, e agora minha vigília começa. — Falou olhando dentro de seus olhos, a princípio Dany não entendeu, mas logo a compreensão tomou seu rosto. — Não terminará até minha morte. Não tomarei esposa, não possuirei terras, não gerarei filhos. Não usarei coroas e não conquistarei glórias. Viverei e morrerei no meu posto. Sou a espada na escuridão. Sou o vigilante nas muralhas. Sou o fogo que arde contra o frio, a luz que traz consigo a alvorada, a trombeta que acorda os que dormem, o escudo que defende o reino dos homens. Dou a minha vida e a minha honra à Patrulha da Noite, por esta noite e por todas as noites que estão por vir.
A medida que falava sua voz ia ficando mais rouca e suave, Daenerys sentiu cada palavra com pesar, um aperto atravessando em seu coração. Ao terminar de recitar o juramento, Jon Snow deu um passo para trás enquanto Dany se perguntava por que ele tinha ido até ali para dizer-lhe aquilo.
— Só há duas formas de sair da Patrulha da noite. — Ele levantou um dedo. — Se tornando um desertor e sendo condenado por traição. — E depois levantou outro. — Morrendo.
— Por quê? — Ela perguntou quase sem ar, por que ele desertou da Patrulha?
Os olhos de Daenerys quase se esbugalharam quando ele começou a soltar as linhas de sua roupa.
— O que está fazendo? — Ela tentou desviar os olhos, desviar o rosto ou o corpo, qualquer coisa para não olhar, mas seu corpo estava imóvel, seus olhos estavam completamente parados apenas nele. Sentiu algo esquentando seu coração, algo queimando em seu corpo, mas preferiu acreditar que era a lareira. Apenas seu peito estava nu, ela observou cada músculo em sua pele pálida, até que percebeu as cicatrizes.
Sem mandar em seu próprio corpo, Daenerys se aproximou dele o máximo que podia, mais do que achava adequado, um instinto desconhecido que aquecia a palma da mão a fez levantá-la e pousá-la no peito dele e tocou a cicatriz que marcava sua pele, em seu coração, tocou cada cicatriz e bem ali, naquele momento, ela teve sua resposta.
Jon Snow nunca desertou da Patrulha da Noite. Aquele teria sido um pensamento maluco se ela mesma não tivesse enfrentado a morte pelo fogo diversas vezes.
— Eu fui... — Ela colocou a mão em seus lábios e se assustou, pois contrastando o frio do Norte, seus lábios esquentavam suas mãos de uma maneira que causava arrepios leves e desconhecidos. Ele não precisava dizer, ela já havia entendido, mas mesmo assim continuou. — Preciso falar. Fui morto pelos meus irmãos da Patrulha. Eu era o Lorde Comandante e precisava de forças e precisava salvar os Selvagens do outro lado da Muralha, para que eles lutassem lado a lado contra um inimigo em comum. Mas alguns irmãos da Patrulha não ficaram muito felizes e me mataram.
— Como... — voltou?
Ela mal conseguia falar, tudo que queria ver era seus olhos escuros, tudo que queria ouvir era sua voz, e se culpava, mas tudo que queria sentir mais uma vez era o calor de seus lábios, mesmo que na palma de sua mão.
— Uma Sacerdotisa Vermelha que serve ao deus R'hllor. Ela me trouxe de volta.
— Sinto muito, Jon Snow. — Sua mão se abriu em seu peito, cobrindo a cicatriz com delicadeza e timidez. — Sinto tanto.
Naquele momento ela viu a dor gritando em seus olhos e desejou no mais profundo do coração ser capaz de afastar aquela dor daqueles olhos tão doces.
— Peço permissão para me retirar dos seus aposentos, Vossa Graça. — Ele se afastou e vestiu-se. Daenerys sentiu um pequeno aperto no peito. Tinha sido tão injusta. Tyrion a instruiu para conhecê-lo, mas nunca teve a oportunidade de falar com ele a sós depois da pequena cena no salão. Gostaria de desculpar-se, mas não sabia como.
— Sim.
Ele já estava caminhando para a porta quando ela virou seu corpo para o dele. Já não se importava se era impulso, era o que ela queria em seu coração.
— Ei Jon, fica. — Murmurou. — Estou pedindo.
Ele a olhou surpreso, os lábios entreabertos e os olhos demonstrando sua breve confusão. Era tarde, todos no castelo já estavam dormindo, seria sensato ir, mas ela não tinha tempo para ser sensata.
— Beba um pouco de vinho comigo. Vamos conversar, vamos falar sobre você, vamos falar sobre mim. Sente, encha uma taça e vamos nos conhecer. Por favor.
Jon Snow inclinou o canto dos lábios. Um sorriso, Dany pensou, isso deve ser um bom sinal.
Ela nunca o tinha visto sorrir antes, e nunca imaginou que a primeira vez que o visse seria um sorriso para ela. Foi simples e impulsivo, lá no cantinho da boca, sem mostrar os dentes, apenas uma inclinação, mas ainda assim estava ali, um sorriso de Jon Snow.
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