História Um Tempo de Lobos e Dragões - Jon VII

Jon

Não havia nenhum cavalo além da Muralha, nenhum lugar para deitar e descansar. Nada. Apenas um grande mar de neve que tomava conta de todos os lugares que seus olhos conseguiam alcançar. Ainda podia ouvir os gritos, o som de espadas se quebrando, o cheiro da morte e o medo nos olhos dos homens da Patrulha.

Nem mesmo Fantasma estava ali, tinha se perdido do lobo gigante enquanto se esquivava dos mortos. Eram tantos, e eles eram poucos demais para enfrentá-los. Poucos e despreparados. Poucos e amedrontados.

Ouviu o barulho de galhos, no começo achou que fosse o vento, mas era apenas um deles que se movia. Segurou o cabo de Garralonga na bainha e olhou assustado ao seu redor. Um corvo negro voou para além, onde vinha a alvorada. O laranja levava o negro da noite, fazia as estrelas brilhantes sumirem com sua claridão. Não sabia há quanto tempo estava correndo, horas, dias talvez. Edd o mostrou o caminho, disse para correr e ele foi. Eu fugi.

Há alguns anos não teria fugido, teria ficado, teria lutado e teria morrido. Mas agora sua mente e coração estavam ocupados, ele tinha uma Casa para proteger, Sansa estava sozinha em Winterfell, lidando com toda a politicagem, os homens insatisfeitos e não queria que a irmã se encontrasse mais uma vez sem saída e tendo que se casar mais uma vez para sobreviver, ou para que os seus sobreviva.

E também havia Bran, ele estava indo para Winterfell, chegaria lá o quanto antes, Tormund havia prometido.

Tinha que continuar lutando, precisava continuar de pé e foi por isso que Jon correu quando Edd apontou. Foi por Sansa, por Bran, por Arya que poderia estar em qualquer lugar, pela casa Stark. E não podia esconder de si mesmo que um nome também havia sido adicionado à lista, correu por Daenerys.

Precisava viver por eles, para protegê-los o melhor que podia. Mas correr já era difícil e começava a acreditar que estava delirando. A pele queimava como fogo, sentia náuseas e uma dor vacilante gritando em sua perna, uma dor que o impedia de correr mais rápido, dor que o impedia de enxergar melhor, de lutar melhor.

Um vento gélido bagunçou seus cabelos enquanto corria entre as árvores, sentia o cheiro dos pinheiros, já devia estar há dias da Muralha. A notícia já devia ter chegado em Winterfell, mas agora estava preso do outro lado, não podia passar por Castelo Negro, os Outros estavam lá e estava longe demais para voltar.

Mas como voltaria?

Devia ter corrido para o outro lado, para lá da Muralha onde ficam os Sete Reinos, poderia ter corrido e se instalado num castelo de alguma casa pequena, estaria protegido, pelo menos por uma noite. Agora, os Caminhantes Brancos tinham passagem para o outro lado e atacariam a qualquer momento. E não estarei lá para protegê-los.

Percebeu subitamente que algo se aproximava atrás dele, ouviu um barulho e parou para tentar identificar o que era, não demorou muito a perceber um cavalo se aproximando, não muito distante. Sabia que não deveria ser ninguém, mas não tinha mais forças para correr, então apenas desembanhou Garralonga enquanto via o cavalo se aproximando com um homem sobre ele. O rosto coberto com um pano negro, caiu na neve e arrastou-se enquanto o homem descia do cavalo e se aproximava.

Não era um Caminhante Branco. Não era um...

O homem tirou o pano que cobria seu rosto, Jon pareceu não acreditar, os olhos esbugalhados enquanto puxava um ar frio para os pulmões. Os corvos gritavam no céu enquanto os rodeavam.

— Tio Benjen... — Falou sem forças, era como se não falasse a anos. A garganta estava seca e doía a cada palavra pronunciada.

Sentiu as mãos do tio ao seu redor enquanto o ajudava a levantar.

— Consegue andar, Jon?

—Acho que sim.

Mas quando levantou-se a vista escureceu e os sentidos foram levados dele.

Acordou ouvindo o barulho da água caindo em cascatas ao lado, quando olhou para cima percebeu que não estava sonhando, era mesmo Benjen Stark que estava na sua frente, do outro lado da fogueira. Jon sentou-se sentido uma forte dor em todo o corpo e com uma careta olhou ao redor.

Eles estavam em uma gruta escura e pequena, a fogueira era o que os mantinha esquentados e os fazia enxergar.

— O que aconteceu? Achei que estava morto.

— Por algumas vezes eu echei que você estava morto desde que o trouxe.

— Quanto tempo se passou?

— Uma quinzena desde que atacaram a Muralha e te encontrei na Floresta Assombrada. Nem todos os Outros estavam na Muralha, a maioria ainda estava na Floresta e você ia em direção a eles, Jon.

— Onde estamos?

— Próximos à antiga Fortaleza de Craster. Temos que encontrar um jeito de fazer você voltar para Winterfell.

— E o senhor? Precisa vir comigo.

— Aqui. — Ele entrou uma tigela a Jon, um líquido vermelho que a primeira vista pareceu vinho, mas bastou um segundo olhar para perceber o que era realmente. — Não vou voltar, Jon. O que aconteceu com o seu lobo? Lembro que vivia o tempo todo atrás de você.

— Precisa voltar, tio! — Falou mais baixo do que desejava, estava sem forças e colocou uma mão cuidadosamente sobre o peito. — O que aconteceu?

Benjen Stark não precisou contar muito, grande parte Jon conseguia perceber e entender sem precisar ser dito. Já não tinha tempo ou cabeça para duvidar. Mas não mudou de ideia, não importa o que tio Benjen pense, precisava encontrar um jeito de levar os dois de volta para Winterfell.