História Um Tempo de Lobos e Dragões - Bran II

Bran

Estava deitado em uma cama macia e num quarto cheiroso, mas desconfiava que talvez fosse apenas seu subconsciente lhe fazendo dar valor a algo que não sentia desde que saiu de Winterfell. Deitado ali, naquele quarto escuro na Muralha, ele até se sentia inútil, como se não pudesse fazer nada. Nada.

— Bran, quando vamos para Winterfell? — Meera perguntou mais tarde, o olhar perdido para fora da janela. — Meu pai esteve lá, você acha que algum dia vou reencontrá-lo?

— Não posso. Preciso voltar para a Árvore-coração.

— Tem uma na sua casa. O bosque sagrado, lembra? Você pode ficar lá o dia todo e a noite toda se quiser, pelo menos lá vai estar em segurança.

— Não, eu não devo ir para lá agora.

— Por quê?

— O corvo disse que eu voaria. — Bran murmurou sentindo-se de repente fraco, a testa salpicada de suor e os olhos baixos pedindo para se fecharem.

— Bran, você está bem? Está passando mal? Onde está o meistre? Tem algum por aqui?

— Estou bem, Meera.

— Não Bran, você não está. Está tremendo e soando — ela pousou a mão em seu rosto com delicadeza. — e está ardendo. Bran? Bran?

Ela segurou seu rosto, os olhos preocupados e grandes negros como a noite, Bran levantou sua mão até o rosto dela e enrolou o dedo em um de seus cachos antes de cair em um sonho profundo.

O corvo de três olhos disse que ele voaria. Um corvo diferente daquele na árvore, esse tinha apenas dois olhos e mais alguns se juntaram a ele. Correu ao redor do riacho e uivou, mas soou como gelo se partindo misturado com um fraco uivo no fim. Farejou a neve sentindo o cheiro de sangue coagulado e caminhou sozinho através de pernas paradas e cobertas de roupas velhas e rasgadas. Ele olhou para cima por cima dos pelos e tentando evitar a neve e viu um homem entre outros mil, mil entre outros milhares. Milhares e milhares com os mesmos olhos azuis que queimavam como gelo.

Voe. Voe. Voe. Voe. Um corvo gritou repetidas vezes olhando nos olhos dele. Sentou-se sobre os quartos trazeiros enquanto afundava as patas na neve macia e observava o corvo com curiosidade e desejo.

Voe. Voe. Voe.

Os corvos voaram para ele e tudo ficou negro novamente.

Abriu os olhos com rigidez sentindo a cama enxarcada, tinha um homem ao seu lado que olhou surpreso e Meera correu até sua cama e levantou-o puxando suas costas, segurando seu rosto e olhando em seus olhos.

— Você acordou?

Ele anuiu.

— Bran, você sabe por quanto tempo ficou desacordado?

Ele negou.

— Cinco dias. O Lorde Comandante da Patrulha insistiu em enviar uma carta para Winterfell, eu o segurei por um tempo, mas ele está decidido.

Bran não conseguia falar, fechou os olhos com força e abriu os lábios expulsando um ar gélido de seus pulmões.

— Vou chamar o Lorde Comandante imediatamente. — O homem velho com uma barba por fazer salpicada de cinza saiu pela porta de madeira com seu manto negro da Patrulha da noite.

Meera não tirou os olhos de Bran e não tirou as mãos dele.

— Bran, agora me diga, o que viu? Com o que sonhou?

Ele abriu os lábios para falar sentindo tamanha dificuldade, era como se estivesse caindo das muralhas de Winterfell novamente. Não, não caindo. Não tinha caído. Nunca caí. Fui empurrado. Sim, sim, empurrado.

A palavra se formulou em seus lábios como um sussurro carregando um pequeno arrepio.

— Verão.