Encaro o complexo de alas como se fosse a última vez, contra minha vontade, sou arrastada do lugar. Todos os olhares assustados me cercam, desaprovadores ou até admiradores...
Groove sabe tanto da minha capacidade que precisaram me segurar quase imobilizando-me.
Quando estou na porta para ir embora escuto um "achei".
Paul levanta um pedaço fino de papel. Uma foto. A foto de Eva e Vicent.
Agora o mundo desmorona de vez.
EVA
Meus simples ouvidos não parecem acreditar no que estão ouvindo, meu coração NÃO quer acreditar.
A mobilidade que as palavras saem da boca de Angie, ou mesmo Angelique, é de assustar. O homem elegante parecido com meu ex namorado Vicent Groove parece passivo e sem ouvi-la, não está disposto a discutir.
Seu amigo, que conheci no baile, é outra pessoa. Mais formal com menos intimidade e parece ter feito algo que magoou muito Angie.
Ela se rende. De uma maneira nada covarde.
Ainda a encarando sinto os policiais segurarem minhas meninas. Num ataque de leoa empurro um dos e puxo Rose para perto.
-Calma, sabemos andar com as próprias pernas. -Rosno mas ele parece nem ligar.
Subimos obrigadas pela escada da ala vermelha. Quando as palavras faziam sentido na minha cabeça já era tarde demais...
Angelique era policial, pelo que percebi não sei o caso, talvez seja o assassinato de Kate. Caso não resolvido e nem perto disso. Ninguém me parece suspeito, ninguém é tão frio pra isso. Eu conheço este lugar.
Enganar-me deve ter sido fácil, enquanto torcem e distorcem minhas coisas uma dor cresce em meu peito. É como se facas me ferissem repetidas vezes. Dando até um embrulho no estômago.
O ardor das lágrimas e garganta prestes a expor todos os órgãos vem à tona quando ela aparece na porta.
Assustada, mexe no cabelo e avança nos meus dedos, sentir sua pele queima, parece que nunca mais irei fazer isso de novo.
Ela planta um papel mas logo é retirada de perto de mim. Percebi que só murmurei o que mais me machuca. Não consegui falar muita coisa. Já ela parecia distante, dizia coisas bem articuladas, como uma "ajuda".
Por um momento uma grande confusão se forma lá fora. Não dou-me nem o trabalho de ver, sou uma adulta derrotada. Parece que tudo foi virado de ponta cabeça, inclusive minha intimidade está sendo invadida.
Nem liguei mais para quem entrava e quem saía, apenas guardei o tal papel em baixo do biquíni.
-Quem é esse? -Paul, acho que esse é o nome correto, encontra algo nas minhas coisas e não espera e nem respeita a situação.
Viro meu rosto em sua direção, ele mostra a foto que mais temia que aparecesse: Meu caso com Vicent.
Sua pose de durão está um pouco afetada, parece ter machucado o braço.
-Groove. Corra aqui. -grita agitado para alguém do lado de fora.
Apenas dois segundos depois o homem negro entra. Ele encara meu rosto e depois vira-se.
Paul parece sussurrar algo e mostrar a tal foto. Parando para observar os dois homens vejo uma semelhança assustadora entre o tal de Groove e Vicent. Logo conecto.
Devem ser parentes.
-Você conheceu esse homem? Quando? -Groove parece me espetar com o olhar fixo e fino para mim.
Enxugo as lágrimas insistentes e abaixo a cabeça.
-Tenho direito a um advogado. -Digo em voz alta.
Eu posso ser ingênua, mas não sou burra. Óbvio que estão achando que matei o Vicent.
Mas todos são inocentes até que se prove o contrário e eu não o matei. Não tem provas contra mim.
Groove passa mais um tempo me olhando como se pensasse o que fazer comigo e se retira.
-Olha aqui. -Paul rosna baixo e vem até minha pessoa. Seus dedos grandes e nada agradáveis seguram meu queixo levantando meu rostos. -Porque não deixa de ser egoísta e economiza nosso tempo e a saúde mental dessas crianças?
Ele aponta para fora fazendo menção as minhas meninas, só enxergo raiva. Raiva sem motivo.
Conheço esse tipo de homem e nunca me intimidei por eles.
-Eu não devo nada a você. -Rosno na mesma agressividade e solto meu rosto saindo do quarto.
Percebo que os policiais voltaram, e caminham até minha pessoa. Percebi que estava muito ferrada desse jeito.
ANNIE
Miss D. Sendo levada foi a coisa mais louca da minha vida, Admirar aquela mulher foi o que fiz metade da Minha vida.
-Ei? Pra onde estão te levando? -Pergunto a Minha coordenadora que só olha pra mim de relance e passa a mão pela minha cabeça sussurrando "Cuide delas".
Só tenho tempo de assentir com a cabeça enquanto se vai.
Angie já fugiu de vista. Eu sabia que algo cheirava mal por ali. E não tinha expectativas com ela mas ela pegou pesado com isso.
-Você sabe o que está acontecendo? -Lizz se aproxima; com certeza vendo o contado forte que tenho com Miss D.
-Não entendi muita coisa.
-Rose acha que ela é da policia. -Diz como se fosse segredo e soluça. -Será que é?
Minha boca está aberta, meu ar até demora para circular.
-Não, ela não tem essa capacidade... ou tem? -Pergunto querendo saber a opinião dela. -Ela teria sido uma vaca se fizesse isso...
Batendo os pés, volto para o meu quarto; só nas portas paraliso, roupas e sapatos no chão me fazem desesperar.
São roupas boas jogadas no chão. Respiro fundo e adentro. Pego as primeiras roupas brava, jogo tudo em cima da cama pestes a Bater em qualquer um.
ANGIE
Não dava mais para me debater, minhas lágrimas brincam só de escorrer e expor minha dor.
O mesmo tempo que levei pra chegar até Odessa levei até Kiev. Até minha casa. Minha velha e boa casa; que pela primeira vez não me apetecia entrar.
Escancaro a porta e deixo que meus olhos se acostumem com a pouca luz, acendo a primeira lâmpada da sala e escuto um breve "MIAW" , Raposa para na minha frente e começa a se lamber. Sem saber como irei resgatar minhas coisas no Complexo caminho sem ânimo até a banheira.
Rastros da minha decepção são deixados em uma série de pertences retirados do meu corpo, minha cabeça dói, meus olhos inchados não me deixam mais chorar...
-Não quero estar aqui, não quero estar aqui... -Repito o mantra mesmo sabendo que o mesmo não vai funcionar.
As palavras apenas me acalmam; dando-me alusão que posso ir a onde quiser.
Abro a torneira principal da banheira e entro completamente nua. Meu corpo pesado parece até cena de filme... não se acha felicidade.
Quando a água chega no meu ombro lembro da sensação de mais cedo, quando tudo estava bem. Quando tudo estava em ordem e andamento.
Agora parece que derrubei uma bola de silicone no meio da água, desesperado e inacabado.
Tento desprender minha mente do que aconteceu, é quase impossível parar um minuto de lembrar de Eva e da confusão.
Ela precisa me ligar, se acharem a foto vão culpa-la e eu consigo a prova de que precisava... a FOTO MESMO.
O assassino está lá. Atras do vidro e eu preciso prestar atenção como não prestei das últimas vezes...
Presa nos pensamentos e flutuando na agua alcanço meu celular largado bem na borda da banheira; Corro meus contatos tentando achar alguém para desabafar...
só encontro Paul e ele não é meu contato mais, apago seu número sem nem pestanejar, meu rosto se ilumina depois da letra J, no K vejo o nome de Kate, lembro dos galhos que já me quebrou.
Sem nem muita expectativa coloco para chamar...
KATIE
Percebi o esquadrão perto da porta, no momento entendi quem trabalhava lá além de mim: Angelique.
Ando rapidamente e segura até Paul, meu contratante e dois homens que aguardam atras dos mesmos...
-A quem vieram? -Pergunto em tom sério e profissional.
-Katie. Claro. -Meu chefe, Groove, toma a vez- finalizou seu trabalho. Mesmo seu e-mail sendo de grande ajuda vemos que Angelique está com problemas. Segundo Paul.
-Na verdade, ela até salvou alguns dos seus.
-Dos meus? -Encurva a cabeça franzindo a sobrancelha.
-Ela pediu minha ajuda para que a máfia não matasse um dos seus. -Esclareço e pelo seu rosto: ele não sabia.
ANGIE
Ela desligou a chamada com um simples "até logo", senti meu rosto corar por ter que pedir sua ajuda novamente.
Levanto nua para me enrolar numa toalha seca e fazer um bom chá. Então, depois de um vestido simples eu estava de cabelos molhados e penteados na frente do fogão.
Durante a água subia e borbulhava minhas entranhas se enrolavam, nunca mais havia me atrevido a fazer algo assim durante pelo menos 1 mês que estive no internato.
Depois de sair de lá, por baixo da tristeza e automaticamente refiz minhas constatações de cada mulher.
Annie é ciumenta sim;
Cheia de si ;
Confiante porém não arrogante.
Lizz é religiosa;
Tem sérios problemas com a raiva do ex;
Mas não faria mal a uma mosca.
Rose é meio louca;
Sabe de muita coisa mas sempre em segredo;
Amiga de todas.
Kate era Katie;
Quem mais mudou, porque não era uma delas;
Corajosa e cheia de marra;
Mas com o coração enorme.
Eva é a dedicação e respeito em pessoa;
Cuida dos outros como se fosse ela;
E não teria como matar alguém. Não com a consideração imparcial.
-Acho que esqueceu de trancar? -Um rosto conheço e nem tão feliz se anuncia pela metade antes de fechar minha porta.
A água borbulhante quase me deixa cair no chão, ela corre e tira a água em ebulição sem pensar duas vezes e nem deixa esfriar, joga pelo cano abaixo da minha pia.
-preciso de algo mais forte também, saímos do trabalho. Diz retirando da bolsa de lado exatamente o que eu precisava: um lindo e grande vinho tinto.
Sento no sofá com minha gata e duas xícaras que havia pegado para o chá.
-Pode encher. -Aviso.
-Tenho duas coisas pra lhe falar. -Depois do líquido escorrer descuidado pela minha xícara eu o viro de vez prestando atenção nela. -Eu ainda tenho coisas que peguei no seu caso.
Olho de relance fumegante para a mesma e depois tranquilizo.
-E ? -Pergunto estendendo o braço com a xícara.
Enchendo, ela pensa um pouco antes de proferir a próxima palavra.
-E que eu retirei do quarto onde dormia antes mesmo de invadirem tudo.
De canto de olho encaro-a. Bebo um longo gole do líquido amargo;
-E? -Pergunto de novo.
-E que você quer deixar tudo assim? -Pergunta um pouco mais brava. -Entenda que você pode mudar tudo isso. Já entendi que vão culpar alguma das meninas de todo jeito, Groove está vidrado em culpar alguém.
-Hoje eu não ligo. Hoje eu não quero mais saber de nada. -Digo pegando logo a garrafa de suas mãos e bebendo um gole enorme nela mesmo.
-E você vai deixar assim, Angelique? -na teoria ela está me pressionando na parede e colocando seu dedo na minha cara.
Olho de relance para seus olhos arregalados me observando.
-Não sei.
Me sentido traída, isso que estou. Depois de tudo que fiz pelo distintivo preto e prata é quase uma afronta oficial a minha pessoa. Pior que isso só o fato de Paul ter feito isso e Eva me odiar.
Pra que tentar?
-Você tem tudo mas... -Ela começa tentando colocar tudo que estava ao meu alcance... ESTAVA.
-Mas o que? VAI VIR UM MAGO? UM GÊNIO DA LÂMPADA E RESOLVER TUDO PRA MIM? -Limpo a garganta envolvendo mais álcool nela- Eu tinha sim, só com a foto isso estaria acabado, mas agora estou passando como louca.
Desabafo abaixando a cabeça, bem apoiada em cada palma da minha mão; respiro o ar mais puro que consigo, coloco as idéias confusas em ordem (Ou quase) e Kate fica calada. Bate com o punho no meu sofá. Ela concorda comigo pelo menos um pouco.
-Como não dá? tinha tanta coisa nas suas pesquisas! -Ela parece querer resolver de verdade, mas está fora do seu alcance.
-Tinha.. -Suspiro olhando para ele e tomando outro gole.
Parecendo ler meus pesamentos ela se anuncia:
-Eu não posso fazer nada, mas você pode.
-Como? -Abro meu coração a opções.
-Também não sei. -Ela se preocupa.
...
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