Havia me despedido dele, entrei e ainda não entendia nada do que tinha acontecido naquele dia...
- Pai?! – subi as escadas, o procurando.
Vi as fotos que costumávamos pendurar nas paredes da escada... Até que vi uma de minha mãe... Peguei aquela foto e lembrei-me do dia que a tiramos... Lembro que aquele tinha sido o nosso primeiro piquenique depois que viemos morar aqui. Ela estava tão feliz! Nossos lanches tinham sido feitos com coisas que cultivávamos. Minha mãe fazia uma geleia de morango divina... Virou sucesso na feira de Juiz de Fora... Ela era incrível! Para tudo tinha um jeito. Continuei subindo as escadas agarrada ao retrato.
Quando cheguei ao corredor da parte superior da casa, ouvi o que parecia meu pai chorando... O som vinha do quarto que era deles. Abri a porta, que estava encostada, sorrateiramente...
- Pai?! - Coitado! Estava agarrado ao vestido que ela mais gostava de usar: um lindo godê turquesa!
- Ela era tudo para mim... Acompanhou-me nas loucuras mais insanas! Deu-me tudo o que um homem podia querer: Uma família! Eu deveria ter feito tantas coisas por ela. – Ele chorava de soluçar... Era muito difícil vê-lo naquele estado. - OH CÉUS!
- Ei! Olha para mim. – segurei o rosto dele e limpei uma lágrima que escorria... – Sabemos que será difícil, mas precisamos tentar! Por ela. JUNTOS!
Ele me olhou fixamente. Suspirou. Levantou, foi ao banheiro, jogou uma água no rosto... Voltou. Deu-me a mão.
- JUNTOS! – com um leve sorriso em seu semblante.
A partir dali, tocamos a vida como dava... Tranquei a faculdade depois de duas semanas, já que não tinha estrutura psicológica suficiente para continuar frequentando. Nas sextas, continuei indo a feira local para vender as coisas da fazenda... Não era a mesma coisa! Sentia falta dela... As vendas não iam bem. Após 4 meses, meu pai foi dispensado do emprego, depois de crises constantes de choro e depressão. Ele não saía mais de casa. Ficava sentado em uma poltrona perto da lareira o dia todo, praticamente, e quando levantava, era para fazer o chá que os dois tanto gostavam.
Chegou o tempo que não dava para continuar morando naquele lugar. Não... Não pensávamos em nos desfazer da propriedade, por ora era apenas espairecer a mente por um tempo mesmo. Fomos morar um pouco mais para o centro da cidade de Ubá, MG. Em poucas semanas, a diferença era notável: meu pai voltou a trabalhar, agora era vigilante em uma das escolas aqui de perto de casa mesmo; voltei a estudar, estou me preparando para um novo vestibular; nos tempos vagos, dava reforço a algumas crianças da vizinhança e a vida voltou a tomar forma.
O que me deixou bastante curiosa foi umas mensagens de texto frequentes de um número que eu não me recordava: “Olá! Espero que esteja bem. Abraços.”; “Como vai, moça? Dê-me notícias! Abraços.”; “Seu pai está melhor? Espero que estejam se recuperando bem. Bom dia!”...
- OH CÉUS! Quem pode ser? Devem estar confundindo o número, apesar de saber bem o momento que eu e meu pai estamos passando...
Não dei muita importância, de qualquer forma.
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