1. Spirit Fanfics >
  2. Uma Flor no Deserto >
  3. Seguindo em frente...

História Uma Flor no Deserto - Seguindo em frente...


Escrita por: LaraOrlow

Capítulo 3 - Seguindo em frente...


Fanfic / Fanfiction Uma Flor no Deserto - Seguindo em frente...

Kathlin não sabia exatamente como agir diante daquela situação. Já tivera a oportunidade de encontrar pessoas agradáveis e interessantes, que fizeram valer a pena uma boa conversa e a troca de lembranças do que o mundo fora antes da epidemia, mas que morreram por não saberem se virar no novo estado do mundo. Já acompanhara grupos nômades por tempo suficiente para preferir ficar sozinha a ter que se submeter a regras absurdas como virar a garotinha do chefe do bando para ter segurança. E já matara pessoas que fingiram ser amigáveis quando queriam apenas lhe transformar em comida para o jantar.

Agora precisava avaliar sua situação. Era difícil prever quem era bom ou mal. Precisava pelo menos de um tom de voz acompanhado do olhar. Aquele rapaz na moto lhe parecia feroz o suficiente para ser perigoso, entretanto não movia um único músculo, com o olhar surpreso ao vê-la em combate.

Como ele não reagia, mesmo após ela terminar, Kathlin resolveu ignorar. Se realmente quisesse lhe fazer algum mal, já teria feito. Teria aproveitado a oportunidade dela estar entretida com os monstros e lhe roubaria, lhe jogaria contra eles e fugiria rapidamente, ainda mais com um veículo motorizado.

Então, dando de ombros virou as costas e fez menção de voltar à estrada.

- Eu quero seu arco e sua aljava. – Edward decidira que ela era uma boa combatente. Então respeitaria essa qualidade e pediria gentilmente, antes de arrancar à força aquilo que desejava.

A jovem suspirou fundo, virou-se de frente para ele e sem ao menos pensar no que respondia disse simplesmente:

- Podia me chamar pra tomar um suco primeiro...

Suco? Edward riu. Não queria rir, queria descer da moto e arrancar a arma dela, rápido como roubaria o brinquedo de uma criança. Mas ele simplesmente riu. A resposta fora tão inusitada diante do mundo ao seu redor, que só lhe restara rir.

Ela virou as costas e voltou para a estrada. Mas o barulho da moto logo estava atrás de si, e antes que pudesse praguejar qualquer coisa, estava sendo enlaçada pela cintura e jogada na garupa da moto. Tentou descer se jogando, mas o rapaz acelerou a moto e gritou ainda dando risada:

- Faz tanto tempo que não sei o que é dar risada, que antes de tirar suas armas, quero um pouco da sua companhia. Sua resposta me fez bem. Se tentar se jogar da moto em alta velocidade vai virar comida de zumbi, então aconselho se segurar firme. Quando pararmos você tenta me matar.

Kathlin ficou furiosa. Porque não acertara uma flecha a cabeça dele quando teve oportunidade? Ele estava atônito quando se encontraram. Teria sido mais fácil. Agora sua situação se complicara de verdade. Segurando-se na garupa, logo começou a avaliar sua situação. Pular com o veículo em movimento poderia lhe causar ferimentos realmente desnecessários. Continuar ali talvez fosse o mesmo que assinar um atestado de morte, afinal sabe-se lá qual era a intenção daquele cara. Boa, não era!

Chegou a cogitar a possibilidade de matá-lo ali mesmo, seu punhal estava fácil de ser pego, mas a motocicleta perderia o controle e um desastre iminente aconteceria. Então chegou a conclusão que ameaçar a vida dele era a melhor opção.

Pegou o punhal e espetou no pescoço do rapaz à sua frente. Novamente ele deu risada. Acelerou mais ainda a moto o que a obrigou a largar a pequena arma e segurar firme na cintura dele, caso não quisesse cair para trás e arrebentar os miolos no asfalto. Boa escolha, agora, além de estar sendo levada cativa, ele poderia reagir agressivamente quando parassem.

O que não demorou a acontecer. Chegaram numa vila rural à beira da estrada e a moto foi diminuindo a velocidade. Kathlin fingiu que estava tudo bem, manteve-se com o corpo relaxado, para que ele não pudesse perceber sua intenção, e quando a velocidade era baixa o suficiente, a moça se jogou no chão, rolando num gramado alto.

Sua única reação foi correr. Correr desesperadamente. Fugir antes que ele pudesse ir em seu encalço. Mas era óbvio que isso não seria tão simples assim. Ela estava a pé, ele numa motocicleta. Claro que conseguiria alcançá-la com facilidade. E foi o que aconteceu. Em poucos minutos a moto estava na frente dela, cercando seu caminho, de forma que se ela tentasse seguir adiante teria que confrontá-lo. Estava ofegante, pernas trêmulas, coração disparado, mente confusa. Bom, sua única alternativa agora era defender o que era seu, e se fosse preciso matar, ela o faria. O rapaz desceu da moto com as mãos levantadas, em sinal de paz. Seu olhar, entretanto era ameaçador, como de um algoz avaliando o ponto fraco da presa.

 - Me deixe ir embora e nenhum de nós vai se machucar. Você pode até me matar, mas não sem antes eu lhe causar algum ferimento indesejado.

- Calma moça. Eu só lhe pedi suas armas.

- Sinto muito, não vai tê-las. Foi difícil conseguir e continuarão comigo. Só vai tirar se me matar. Mas como eu disse, se me matar sairá no mínimo ferido antes de conseguir. E acho que um ferimento não vale a pena.

Edward já sacava a arma quando escutaram o som inconfundível de zumbis rosnando em sua direção. Era uma pequena manada de trinta zumbis que se agitara com o barulho dos dois.

Imediatamente se posicionaram de costas um para o outro, protegendo ambas as retaguardas. Instintivamente Kathlin pegou seu arco, como eram muitos luta corpo a corpo não era algo que valeria a pena, certamente acabaria sendo mordida, nesse caso atingi-los a distancia seria muito mais seguro. Edward parecia ter a mesma estratégia de combate, logo estava com sua arma em punho mirando em direção aos corpos trôpegos que cambaleavam em sua direção.

- No três? – O rapaz perguntou.

- Já estamos no três!!!!! – Respondeu ela imediatamente, começando a lançar flechas diretamente no meio da testa dos que estavam mais próximos.

- Ok, no três. – Ele deu risada e começou a atirar nas cabeças que estouravam com a explosão das balas.

Apesar do barulho produzido pelo revolver, não apareceram outros, eram somente aqueles da manada, que foram abatidos rápida e eficazmente. Agora os dois poderiam voltar a discussão sobre quem ficaria com o arco e a aljava.

- Muito prazer, Edward. – O rapaz estendia a mão sinceramente para a moça que a pouco estivera às suas costas.

Era uma boa combatente, de fato respeitaria essa característica nela. Não que técnica de combate fosse algo raro nos dias de hoje. Ao contrário, quem estivesse vivo ainda, certamente era porque tinha habilidades para tal. O que lhe dava essa sensação de respeito por ela era justamente o fato de estar sozinha até aquele momento. Não que ele próprio não tivesse feito exatamente a mesma escolha. Não que ele subestimasse a força de uma mulher. Nada disso. Mas era sim algo a ser valorizado em uma pessoa. Isso e aquela teimosia corajosa de negar ceder sua arma. O conjunto todo não era algo fácil de se encontrar por aí.

- Kathlin. – Respondeu seca, já se arrumando para ir embora.

- Bom, lhe pedi suas armas, você não me deu. Lhe trouxe comigo, você tentou se jogar da moto. Você é suicida ou algo assim?

- Algo assim...

- Eu não costumo passar pelas pessoas e deixá-las vivas, moça, porque em geral elas nos ameaçam. Mas você não foi ameaçadora, apesar de matar com a agilidade de quem bebe um copo de água. Eu vou lhe poupar se me der o que quero. Simples assim! – Edward já não tinha mais tanta convicção se realmente queria aquele conjunto de arco e flecha. Talvez estivesse mais interessado em conhecer um pouco daquela jovem inusitada e corajosa.

- Meu amigo, já lhe disse, pode me matar se quiser. Só então terá minhas armas. Se realmente quisesse já teria feito, então, pelas minhas estatísticas você não quer mesmo me matar. Não sei o que quer exatamente, mas não são minhas armas. Então, façamos o seguinte, tente arrancá-las de mim, e sairemos ambos feridos. Ou damos meia volta cada um de nós e seguimos nosso rumo.

Ela era esperta. E ele começava a sentir que estava afrouxando. Já matara tantas pessoas sem o menor constrangimento, por simplesmente lhe cruzarem o caminho, porque com essa esguia e magricela garota seria diferente? Simplesmente respeito por suas habilidades? Sim, isso contava bastante. Mas algo em seu humor e sua segurança convicta, lhe faziam não querer perdê-la de vista.

- Para onde está indo Kathlin?

- Seguindo em frente apenas.

- Quer carona?

A jovem ponderou. Não queria carona realmente. Estava diante de um completo desconhecido, que poderia ser alguém em quem confiar, ou não. As últimas pessoas que conhecera não eram confiáveis. Pelo menos não em seus respectivos bandos. Esse era um nômade solitário, como ela. O que teria visto por aí? O que teria encontrado em suas andanças? Teria matado humanos? Quantos zumbis teria eliminado? Lembrou-se de seu próprio rosto no espelho pendurado na porta do refeitório do galpão onde passara a noite. Lembrou-se de ter imaginado que aquela seria uma oportunidade única de conversar com um rosto humano, ainda que fosse o seu próprio. E agora estava diante de alguém, de carne e osso, vivo, pensante, não predador, que insistia em lhe pedir suas armas, mas não a ameaçava de forma alguma, ainda que seu olhar fosse o de uma besta faminta. Era outro rosto, além do seu próprio refletido num espelho velho.

- Não quero, mas vou com você, até que me ofereça algum perigo. Quando, e se, isso acontecer, esteja certo de que vou matá-lo.

Edward riu, subiu na moto e deu partida enquanto esperava que ela o acompanhasse. Era o início de uma longa jornada.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...