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História Uma Flor no Deserto - O Posto de Gasolina


Escrita por: LaraOrlow

Capítulo 4 - O Posto de Gasolina


Fanfic / Fanfiction Uma Flor no Deserto - O Posto de Gasolina

Kathlin não conseguira dormir bem aquela noite. Seus sonhos eram confusos, sua família estava nele. Eram todos zumbis, tomando café da manhã em uma mesa bonita e bem posta, mas toda manchada de sangue. Depois viu-se caindo em um poço cheio de cadáveres, e ela afundava entre eles, indo cada vez mais fundo. Ela gritava desesperadamente, esperando que alguém lhe ouvisse e jogasse uma corda para lhe salvar. Até que sentiu uma garra em seu ombro, rasgando sua pele, enquanto ela lutava para se desvencilhar. Então acordou!

Edward estava com uma das mãos em seu ombro, chacoalhando gentilmente a fim de acordá-la. Ela estava agitava e gemendo. O rapaz decidira ficar de guarda para que a moça descansasse, era muito mais seguro para ambos que um dos dois ficasse de prontidão. Mas agora ele não tinha certeza de que ela realmente conseguira relaxar.

- Obrigada por me acordar. – suspirou Kathlin – não costumo ter pesadelos, mas essa noite sonhei com minha família.

- Sua família era um pesadelo? – ele riu enquanto mastigava uma raiz qualquer que encontrara sob seus pés.

- Engraçadinho! No sonho eles tinham se transformado.

- E eles se transformaram? Quer dizer, de verdade? Não no sonho, mas aqui, na realidade. O que aconteceu com eles?

- Eu não sei lhe dizer. Não sei se viraram ou não. Nós morávamos em cidades diferentes. Perdemos o contato depois que as redes telefônicas foram cortadas. Talvez ainda estejam vivos. Talvez não.

Ela se levantou e esticou o corpo. Não era nada fácil dormir no chão duro com uma pedra para apoiar a cabeça. Por mais que dormisse assim quase todos os dias, seu corpo sempre reclamava pelo incômodo.

- E você Edward? Qual o fim de sua família? Porque está sozinho?

Ele respirou fundo. Pergunta complexa aquela. Mas era justo que sua companheira tivesse uma resposta.  Ainda que ele mesmo não tivesse certeza de qual seria essa resposta.

- Bom, para lhe dizer a verdade eu não sei. Quer dizer, eu devo ter tido uma família antes disso tudo. Talvez eu fosse casado, talvez tivesse filhos, talvez fosse gay, talvez fosse um vândalo, ou quem sabe um homem de negócios. O fato é que não sei de absolutamente nada. Não me lembro. Eu suponho que tenha sofrido um acidente ou algo do gênero. Porque a lembrança mais antiga que eu tenho é a de estar saindo de um carro batido. Mas quando isso aconteceu o mundo já estava mudado, porque eu já tinha minha armas e lembro de ter matado um ou dois zumbis que me esperavam do lado de fora desse carro. Depois vaguei pelo mato, um misto de consciente e inconsciente. Até que fui voltando ao normal. Ou quase.

- Se você estava em um carro, e tinha armas, será que não pertence a alguma comunidade? Sei de alguns assentamentos humanos que tem tentado sobreviver.

- Não sei dizer. Talvez. Mas não faço questão de descobrir. Depois disso tenho uma única certeza, se eu quiser ficar vivo, tenho que matar. Simples assim.

- E porque não me matou?

- Porque percebi que você é uma máquina de produzir mortes, igual a mim...

Aquele foi o fim da conversa. Kathlin não tinha ideia da impressão que causava nas pessoas. Mas máquina de morte seria o último adjetivo que poderia supor. Não sabia se poderia considerar aquilo um elogio ou uma depreciação. Mas o fato era que Edward estava certo. Ela já matara tantos humanos e zumbis, que perdera a conta. A vida alheia tinha se tornado banal.

Revirando sua bolsa, a moça encontrou um pacote de biscoitos, abriu e dividiu com o rapaz. Algum carboidrato cairia bem. Faltava algumas horas para amanhecer, mas estava disposta a seguir em frente na viagem, caso ele concordasse.

- Como conseguiu essa moto?

- Herdei de algum dos meus defuntos.

Assim, subiram na motocicleta que já estava com o motor ligado, prontos para ir adiante.

A estrada estava vazia, aquela região parecia estar ficando cada vez mais limpa de zumbis, eram poucos que encontraram pelo caminho, e num estado de putrefação tão adiantado, que sequer valia a pena o desgaste para matá-los. Só pararam quando encontraram um posto de gasolina para abastecer o veículo.

Enquanto Edward enchia o tanque de gasolina, Kathlin foi dar uma espiada no armazém. Era uma região rural, e esses comércios sempre tinham um pouco de tudo. A porta de vidro cheia de marcas de sangue em formato de mãos estava trancada. Bom sinal, o local ainda não tinha sido vasculhado por nenhum humano. A moça bateu na porta, a fim de produzir barulho e verificar se tinha algum morto-vivo ali dentro. Nada, silêncio absoluto. Foi até a oficina mecânica ao lado, pegou uma chave de pressão que estava jogada no chão e arremessou contra o vidro da porta. Logo os estilhaços voaram em todas as direções e Kathlin conseguiu terminar de quebrar para entrar.

O lugar estava limpo. Prateleiras, produtos organizados, faltavam itens, como se alguém os estivesse consumindo. Ou tivesse fechado as portas quando seus produtos já estavam no final e percebeu que nenhum fornecedor faria novas entregas. Sem poeira nem teias de aranha. Um ar de limpeza pairava no local. Uma exceção naquele novo mundo fétido. Aquilo era estranho. Por mais que o antigo dono do armazém fosse alguém absurdamente exigente em quesitos de limpeza, não fazia o menor sentido estar limpo, ainda que fechado, após tanto tempo. Ao menos poeira e teias de aranha deveriam estar por toda parte. A não ser que...

Kathlin foi interrompida em seus pensamentos quando escutou tiros do lado de fora. Correu para ver o que estava acontecendo. Edward estava com sua arma em punho e acabara de acertar alguém. Ela correu para ver o que estava acontecendo. A parte de trás da cabeça dele estava sangrando. Ele cambaleava um pouco antes de despencar no chão e à sua frente caído e ensanguentado, estava um homem com no máximo quarenta anos. Morto com uma bala no meio de sua testa.

Estava clara a situação para ela. Aquele homem deveria ser o dono do armazém. Conseguira se manter em algum esconderijo e vivera dos suprimentos de seu estabelecimento. Por isso mantinha trancado. Percebera os dois intrusos, graças ao barulho dos vidros quebrados, fora defender seu território com o pedaço de cano de ferro em sua mão, acertara a cabeça de Edward, com força o suficiente para rasgar a pele, mas não o bastante para desmaiá-lo. E Edward automaticamente revidou após a agressão.

- Pobre homem! – rosnou Kathlin – devia ter nos deixado saquear, não conseguiríamos levar tudo mesmo.

Edward estava zonzo graças ao ataque do homem. Sentou no chão e segurou a cabeça entre as mãos. Precisava descansar.

Kathlin o deixou sozinho e resolveu vasculhar o lugar com mais cuidado. Talvez houvesse mais pessoas ali. Talvez existisse um esconderijo que pudessem passar mais tempo que o simples pernoitar a que estavam acostumados. Talvez o homem tivesse um pequeno tesouro que lhe interessasse, já que tentara defender o lugar com tanta fúria.



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