Eu acordei com a chuva batendo na janela do meu quarto. O céu estava nublado e o hospital estava agitado. Eu tentei chamar alguém, mas ninguém veio. Eu olhava para o céu inexpressivo quando um cheiro de queimado atingiu meu nariz. Eu rapidamente olhei para a porta e vi uma garotinha. Ela estava cheia de fuligem e o cabelo bagunçado. Deveria ter uns 5, 6 anos.
- Ei, oi pequena! Qual é seu nome? – perguntei.
- An... Anna. – Ela disse, timidamente.
- Olha, que coincidência, Anna, porque eu também me chamo Ana.
- É mesmo? – Ela parecia curiosa.
- Sim! – e então percebi que ela fitava o café do lado da minha cama – Você está com fome?
- sim...
- Então pode vir comer. – ela hesitou – Tudo bem, eu acabei de acordar, não estou com fome. Sente-se aqui. – e cheguei mais para o lado. Ela correu e pulou na cama, atacando o prato de café.
- Você está machucada? Como veio parar aqui? – perguntei curiosa.
- Houve um incêndio na minha casa e de repente eu acordei na recepção. Eu estava com fome, então fui procurar meus pais. Você sabe onde eles estão? – me perguntou com a boca cheia e os olhos grandes, cheios de expectativa.
- Não, Anna, eu não sei, mas eu vou perguntar para o meu amigo médico assim que ele chegar aqui, ok? Nós vamos encontrar seus pais. Você precisa de um banho, venha cá, eu te empresto uma camiseta minha.
Ela tomou banho e se trocou, e assim que se deitou do meu lado, adormeceu. Depois de umas duas horas, Pedro apareceu, esbaforido, no meu quarto.
- Anna! Oh, meu Deus, que bom!
- O que aconteceu? – eu perguntei.
- Nessa noite, houve um incêndio em um conjunto habitacional não muito longe daqui, e várias pessoas sofreram queimaduras graves, por se tratar de um lugar pequeno e falta de saídas de emergência. Vários morreram. Anna estava bem, mas seus pais estavam gravemente feridos, então ela ficou dormindo na recepção. Eu cheguei a achar que ela tinha saído do hospital.
- Nossa, mas e os pais dela? Eles estão bem, né? – perguntei. Ele olhou nos meus olhos e negou com a cabeça. Eu levei a mão à boca, em sinal de surpresa. Uma garotinha tão pequena assim, perder os pais... Parecia cruel demais.
- E... o que vai acontecer com ela? – eu me preocupei.
- Ela vai ser encaminhada para o sistema de adoção, assim como todos os outros que perderam seus pais. São 32, no total.
- 32 crianças perderam os pais?! Meu Deus... – não pude evitar, comecei a chorar.
- Anh? Ana? O que aconteceu? – a menininha acordara. Sua inocência era preciosa demais para se perder assim...
- Seus pais, eles... – eu olhei para o Pedro e ele assentiu. E então eu olhei de volta para ela – Eles foram fazer uma viajem muito longa. Eles não puderam se despedir porque tudo aconteceu muito rápido. A rainha da Inglaterra os convocou para serem seus espiões! – Ela abriu a boca em surpresa.
- Meus pais... São... Espiões?!
- Sim, e por isso eles tiveram que ir embora, para não trazer nenhum perigo para você. Mas saiba que agora mesmo eles estão salvando milhaaares de pessoas!
- Uau... Isso é... Incrível! – ela gritou – quem é esse?
- Esse é o doutor Pedro, um velho amigo... Colega meu.
- Ahh. Olá, doutor Pedro, eu sou a Anna. – E estendeu sua mãozinha pequena.
- Hahaha, olá Anna, é um prazer. – ele riu.
- Bom, se não se importam eu gostaria de dormir um pouco mais – ela disse, com aqueles olhos grandões e escuros.
- Ok, pode dormir – eu disse.
Quando estava claro que ela já estava apagada, oi que não demorou muito, Pedro disse:
- O que você fez foi... Muito legal.
- Eu não poderia traumatizar essa coisa fofa. Pedro, eu sei que isso é precipitado, mas... tem como eu adotar ela? – ele não esperava por essa.
- Anh... Seria, mas... É muita... Anh... Burocracia... Pera... Você está falando sério?! – ele gaguejou.
- Sim. - eu respondi, olhando para aquele anjinho fofo, dormindo. – Eu vou cuidar dela...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.