História Uma garota normal, ou quase... - Que cena mais linda, será que to atrapalhando o casalzinho?

Sabe quando você vê uma coisa,  que você teimava em não acreditar? Quando a sua pequena esperança de que tudo daria certo, de alguma forma estranha, maluca até,  mas boa?  E no segundo seguinte ela é destruída bem diante de você? Vê-la assim,  de braços dados com aquela outra,  apenas confirmou o que eu achava,  ela tem a Selena. – Algumas lágrimas tentam escapar, deixando o meu globo ocular lubrificado. Fecho as minhas mãos como se fosse socar alguém, a pressão sobre os meus dedos faz com que eu já não os sinta. –  De alguma forma meu inconsciente tentava me manter firme, pensando que a garota que me beijou,  gostaria de mim, que ela não estava apenas brincando quando me puxou para aquele beijo. Além disso aquele foi o meu primeiro beijo, eu queria que fosse com alguém especial. Alguém que me amasse na mesma intensidade . Sei que isso de primeiro beijo perfeito é coisa de histórias de romance,  porém ainda tinha esse sonho bobo, infantil. Mas os populares são assim,  estão sempre usando os outros,  como meros objetos destruindo seus sonhos,  e mostrando o quão ruim você devia se sentir por não ser igual à eles. Pamela Anderson não é diferente,  aquilo que aconteceu na festa, nossa conversa,  ah... Foi mentira,  ela me enganou, se fazendo de boa moça. Ela acabou com todas as minhas chances de realizar esse sonho,  bobo, mas meu. Eu a odeio! 

 Ouço o rugido, ele parece distante, porém ainda causa incômodo : Seldy ... Seldy... Seldy . Uma lágrima persistente acaba caindo em minha bochecha, sendo puxada pela gravidade até o seu destino final: o chão. 

Ainda encarando aquela cena patética, notei a presença de Justine. Ela olhava diretamente para mim, mais pálida que folha de papel,  parece até que viu um fantasma. Seus lábios separados demonstravam o seu choque em me ver. E a Pamela, ah.... essa idiota seguia em direção ao prédio grudada naquele projeto de aluna . Ao longe sua voz  chama por Justine ,  que continua em estado de choque me olhando. Para entender o porquê de não haver uma resposta,  ela vira e tenta compreender o que fez com que sua amiga ficasse congelada no local como uma estátua. 

Ela parece desconcertada, atônita, porém já sei que tudo isso é apenas parte de sua maravilhosa atuação digna de um Oscar. Nossos olhares se chocam, e ela consegue sustentá-lo,  só que por pouco tempo.  A idiota parece triste,  mas não vou cair nessa de novo.

Saio dali praticamente puxando o Glenn, que estava confuso com o desenrolar da situação. Entramos na escola, e passamos pelos corredores cheios de armários e pessoas conversando amenidades,  ele foi me seguindo  sem reclamar. No meio do trajeto tirou a minha mão do seu pulso, entrelaçando seus dedos aos meus logo em seguida. E depois de um lance de escadas e mais alguns corredores sem fim, chegamos ao covil, também conhecido como: biblioteca.

- Laurr. – me chama, e viro em sua direção me abraça, e me sinto protegida. Era como se seus braços fossem meu melhor refugio,  meu porto seguro. – Não fique assim... Não gosto de te ver desse jeito, sou seu melhor amigo, odeio ver você triste. – Falou enquanto me afagava, demonstrando todo o seu carinho. Glenn sempre foi implicante, um pouco louquinho, mas nesses momentos ele é a melhor pessoa que existe. Embora não pareça, ele é super carinhoso e protetor, por isso ele consegue namorar o Rick. Eles são um casal fofo. 

- Gggg, ela não podia ter feito isso comigo! – sussurrei com a voz entrecortada sobre seu peito. Neste ponto as lágrimas já rolavam soltas, molhando sua camisa. As tentativas de contê-las não alteravam nada.

 O apertei mais em meu abraço, rodeando meus braços em sua cintura com força, tentando me agarrar a minha tábua da salvação. Glenn continuou o cafuné e a fazer movimentos circulares com o polegar em minhas costas.

- Laur... – Ele me afasta um pouco,  sua mão direita segura meu queixo delicadamente,  como se fosse a pétala de uma flor. Ergue a minha cabeça e olha nas portas de minha alma, passando seu sentimento de calma enquanto a sua mão esquerda limpava as lágrimas que insistiram em ficar no meu rosto. – Você sabe que vai ter que conversar com ela,  né? – Pergunta apreensivo, com medo de minha reação. 

- Não quero falar com a Pamela. Que ela fique lá com a Selena. – sinto um aperto no coração. As “gotas” voltaram a cair, pela raiva que eu estava sentindo dela. As últimas palavras saem em forma de desprezo, ríspidas. 

Olho o rosto de Glenn atentamente, percebendo que ele não olhava pra mim,  e sim para algo que estava atrás. Sua expressão denotava uma certa raiva, como um animal quando alguém estranho chegava perto de sua cria. Decido olhar para trás,  e vejo a “coisa”.

- O que você está fazendo aqui!? – Vociferei assustando-a. Ela se encolheu, como um cachorro com o rabo entre as pernas.

- Eu quero conversar contigo . – Disse com um fio de voz. Ela parecia frágil,  pequena até pros seus 1,78. Acanhada como um filhotinho inocente. Sinceramente, com uma atuação tão boa assim ela podia só fazer um teste pra ser atriz,  passaria de primeiro. 

- Não tenho nada pra conversar com você. – afirmo com toda a firmeza que consegui reunir. – Porque você não vai ficar lá com a sua namorada Selena,  ein??! – Ironizo. Ela me olha perplexa, confusa. Estava prestes a falar  outra coisa quando ela me interrompe:

- Do que você está falando??  Não estou com Selena. – Falou. Pamela perdeu a compostura de popularzinha, parece que ela finalmente desceu do pedestal, e seu rosto demonstra sua revolta com o que havia acabado de falar, para ela minha acusação era um ultraje.

- Ahhhh não,  não está com ela, é só coisa da minha imaginação!  Aquela foto ali na entrada pra todo mundo ver é o que então?  Montagem?! – Solto toda minha fúria nessas últimas palavras,  com nojo dessa mentirosa. 

- Eu não estou com Selena,  aquilo foi apenas um incidente!  Eu estava bêbada, por beber pra afogar as mágoas. E- eu tinha acabado de levar um fora seu! – minha alma vibrava nas ondas de desespero de sua voz.

- Então o que aconteceu depois de você dançar com ela?? – Pergunto, sua pele fica branca como papel e seus olhos fitam o chão. 

- Eu... eu não lembro. – Ela diz ainda fitando o chão e tremendo. 

- Ah, você não lembra,  que conveniente,  né Glenn? – viro a cabeça por cima do ombro,  para ver a expressão dele, meu amigo que tinha ficado tanto tempo quieto,  que tinha até esquecido que estava na mesma sala que nós duas. Ele fica aflito, por eu tê-lo puxado pra dentro de nossa briga.

-Lauren... Por favor... – busco o foco na fonte da voz embargada e falhada. Com a mão  frente a boca e o outro braço cruzado sobre o diafragma, a “ frágil” garota tenta conter seus soluços inutilmente, fazendo-a tremer. Lágrimas mancham o seu rosto diabolicamente angelical, uma imagem realmente deplorável. Mas não irei cair nessa novamente. 

Num movimento rápido estendo meu braço para trás e agarro a mão de G, puxo-o em direção a saída da biblioteca onde Anderson está. Passando por ela eu acrescento: 

- Aproveita pra ficar com a Selena e o seu amiguinho: o Arthur. 

Sinto seu corpo ficar tenso, porém não ligo. Passo pela porta marchando para o corredor, onde se ouvia os sons de meus passos triunfantes e os soluços de uma mentirosa.