História Uma Nova Chance - Capítulo Único

Doze anos haviam se passados depois da terceira grande guerra ninja. A Vila da Folha estendia-se ao pôr do Sol com um brilho magnífico refletindo em seus prédios e florestas. Muitos jovens casais se encontravam caminhando juntos e conversando entre si; trocando risadinhas e brincadeirinhas como era normal fazer em início de relacionamentos.

Entretanto, sentada sozinha estava a senhora Uzumaki, ou melhor, ex-senhora Uzumaki. Hinata, aos trinta e quatro anos, observava aquelas jovens com uma pequena pontada de inveja. Passara grande parte de sua juventude seguindo um amor imaginário e, naquele momento, estava sentada em um banquinho de uma praça, sozinha e sem esperanças sobre o que poderia ser considerado amor.

Depois de quase dezessete anos de casamento acabara descobrindo que estava sendo traída há cinco – o que transformava todos seus pensamentos bons sobre seu marido em vagas lembranças de coisas que pareciam não ter acontecido. Saíra de casa, depois de se cansar das mentiras; terminara seu casamento, sem realmente ter para onde ir – quando se casara com o portador da Kyuubi acabara por desistir de sua posição de direito como líder de seu clã e do lugar que sempre fora sua casa; precisara deixar os filhos com a irmão, pois não tinha um local seguro para morar. Naruto gritara por seu nome; dissera que era tudo um engano; implorara para que ficasse, mas Hinata estava cansada de só pensar nos outros.

As horas passavam, pessoas iam e vinham e a Hyuuga que abdicara de tudo não sabia o que deveria fazer. Sua carreira ninja poderia ser recuperada, claro. Formara-se Jounin ainda muito nova e tinha capacidade suficiente para se tornar professora ou voltar a realizar missões. Mas, e seus filhos? Como Boruto, que já detestava o pai, e Himawari ficariam? Uma pedra desceu por sua garganta, não os poderia deixar com Hanabi para sempre.

Um suspiro escapou por seus lábios ao notar que ficava tarde. Precisava voltar para casa da irmã, o jantar a esperava e as explicações que tinha que dar para seus pequenos também. Convencia-se a se levantar e enfrentar a própria vergonha quando uma sombra parou a sua frente. Alto. Esguio. Com longos cabelos negros e olhos tristonhos.

— Sasuke...

— Você descobriu, hein?

A voz profunda atingiu seus ouvidos como um soco. É, tinha descoberto as infidelidades do ex-marido com a ex-mulher do homem que estava parado a sua frente. Um suspiro escapou por seus lábios enquanto Sasuke ocupava o lugar vago ao seu lado.

— Como?

— Eles foram descuidados. Depois de buscar as crianças na escola voltamos para casa e... Bem, não foi uma cena agradável — comentou com um dar de ombros. — Consegui evitar que as crianças vissem, mas não consegui ficar naquela casa por mais tempo. Era nojento.

Os olhos perolados estavam marejados mais uma vez, mas ela se recusava a chorar na frente daquele homem. Sasuke era amigo de Naruto, mas depois que passara doze anos longe de todos alguma coisa em si havia mudado. Agia como um pai, gostava de ficar com a filha e os afilhados, mas terminara seu casamento no momento em que voltara para casa. Dissera não amar Sakura, que tudo tinha sido um engano e que não queria mais gastar o tempo dela.

— Ela fez isso por minha culpa, desculpe-me — falou encarando-a.

Hinata não pode evitar rir daquilo. Sim, Sakura ficara com tanta raiva do Uchiha que decidira se voltar para a pessoa que sempre a amara, sem se importar se estava destruindo uma família. Boruto, quando descobrisse, nunca mais olharia para o pai.

— Não, foi culpa de Naruto. Decisões dele — respondeu deixando que uma lágrima escapasse por seu olho esquerdo. — Apenas ele.

Voltaram a ficar em silêncio. Não havia muito o que dizer para que ela se sentisse feliz. Acabaram se tornando próximos em um dos aniversários de Himawari, quando Naruto não apareceu e Sasuke ficou com eles, comemorando até tarde da noite. Depois disso, algumas vezes a convidou para conversarem, provavelmente sabendo das escapadas infiéis do amigo, mas, como a boa esposa e pessoa que era, ela nunca aceitou.

— Para onde vai agora? — questionou o Uchiha. Seu corpo estava inclinado para frente, como se quisesse ficar ainda mais próximo dela.

Sasuke sempre notara a Hyuuga, mas a achara esquisita pelos sentimentos fortes que sentia pela Uzumaki. Contudo, com o passar dos anos, aprendeu a valorizar a pureza de seus sentimentos e se encantou, depois que voltou definitivamente para a vila, por essa mesma característica. Amara apenas o irmão, a mãe e Naruto – por mais que o odiasse naquele momento pelo que fizera a mãe dos filhos.

— Vou passar a noite na casa de Hanabi e depois... Depois vou decidir o que fazer — respondeu olhando para frente, como se procurasse uma saída no céu já escurecido pelo tempo. — Não é como se existissem tantas opções assim para mim.

— Você sempre pode ficar com uma casa no complexo Uchiha — ofereceu amenizando a voz.

— Sasuke, eu não posso...

— Não estou te pedindo para que fique comigo, Hinata — interrompeu-a seriamente. — Estou oferecendo uma das casas. Sei muito bem que ainda gosta daquele baka.

Os dois caíram em silêncio, pois a mulher não sabia o que responder. Gostava de Naruto? Talvez não da mesma forma que antes, mas ele ainda era pai de seus filhos e nem mesmo contara para as crianças que estavam separados. As opções voaram pela sua mente, mas a oferta de Sasuke era a coisa mais próxima que tinha de arranjar um lar em um futuro próximo e que tivesse privacidade suficiente para se reerguer.

— Tudo bem, eu aceito, Sasuke — concordou recebendo um sorriso aliviado em troca. — Mas, por favor, não conte para ninguém. Farei isso no meu tempo.

***

Hinata recuperou o sobrenome de solteira no momento em que assinou os papéis da separação. Há dois meses morava em uma casa no compendio Uchiha e pagava aluguel para Sasuke. Voltara a exercer suas funções ninjas e por sua evolução surpreendente acabara por conquistar um cargo alto dentro da corporação.

Boruto e Himawari moravam consigo. As duas crianças evitavam o pai como se fugissem dele e Naruto começava a acusá-la de estar colocando coisas nas mentes infantis. Muitos se afastaram de si e outros apoiaram sua decisão. Kiba e Shino vivam lhe fazendo visitas para ajudar com as coisas de casa; até a filha de Kurenai aparecia várias vezes para fazer companhia.

Entretanto, o único que tinha coragem de conversar consigo sobre Naruto e as decisões que vinha tomando era Sasuke. Ele aparecia tarde da noite na porta de sua casa e ficava até quase de manhã, em suas noites de insônia, conversando e lhe fazendo companhia. Os dois estavam muito próximos e a primeira pessoa a perguntar o que acontecia foi seu filho mais velho.

— Mamãe, a senhora e o tio Sasuke estão juntos?

Hinata olhou para Boruto sem saber o que responder. Não era como se ela e Sasuke houvessem dito alguma coisa ou esclarecido sua situação; além disso, não podia considerar alguns beijos eventuais e toques mais ousados como juntos.

— Não diria isso, querido — respondeu voltando a cortar a cenoura que estava presa em entre seus dedos. Naquele momento, terminava de preparar o jantar.

— Então o que a senhora diria?

Hinata encarou-o calada, sem saber como responder. Não que realmente tivesse uma resposta. A primeira vez que Sasuke a beijara fora durante uma madrugada, depois que voltara de uma missão. Dissera estar com saudades e a conversa terminara ali, em um beijo. Depois, as conversas durante a madrugada acabaram por se estenderem a quase encontros, mas ela nunca teria coragem de mostrar isso para todo mundo – não com tão pouco tempo de solteira; não como Naruto fizera com Sakura e a esfregara em sua cara.

— A senhora gosta dele, mamãe? — insistiu Boruto apoiando-se na mesa.

— Estou aprendendo a gostar... — murmurou sem pensar duas vezes. Quando percebeu o que dissera, arregalou os olhos e voltou-se para o filho que sorria minimamente. — Não foi isso que eu quis dizer! A mamãe está muito ocupada para pensar nessas coisas, entendeu?

— Claro, mamãe, entendi tudinho! — concordou Boruto pulando de onde estava e correndo para o lado de fora, deixando uma Hinata completamente vermelha. Como há muitos anos não ficava.

***

— Você ouviu, titio?

O gritinho esganiçado de Himawari ao abraçar-lhe o dorso fez com que seus ouvidos doessem. Sasuke tinha que ser lembrando que Naruto era o pai daquelas crianças constantemente, mas não que realmente importasse, pois passava mais tempo com elas do que com a própria filha.

— E aí, fui bem? — perguntou Boruto aparecendo ao seu lado com o maior sorriso que tinha. — Consegui tirar tudinho dela!

Sasuke pedira ajuda aos dois afilhados por não ter tanta coragem quando exibia por aí. Enfrentar Hinata e abrir seu coração sem saber se era correspondido era uma coisa que não saberia como fazer.

— Você foi ótimo, Boruto, obrigado — agradeceu bagunçando o seu cabelo. — E sim, Hima, eu ouvi o que sua mãe disse.

— Ela gosta do senhor! — pulou a menininha feliz. — Quer dizer que será nosso novo papai?

— Naruto sempre será seu pai, Hima — explicou paciente. Por um momento, os olhinhos azuis murcharam e Sasuke se obrigou a continuar. — Será seu papai número dois.

— Isso! — gritou a garotinha feliz. — E Sarada será nossa irmã!

Boruto e a irmã começaram a correr em volta de si, tão felizes que se esqueceram de sua presença. Sasuke aprendera a criar laços com Naruto e nunca esperar se apaixonar pela Hyuuga. Entretanto, sabia que perdera tempo demais pensando na própria vingança e em busca de sua redenção, não deixaria que mais passasse sem que pudesse aproveitar e realmente criar uma família que fosse só sua, com alguém que amasse.

Retirou a pequena caixinha que sempre levava consigo. Sabia que ainda não era hora de fazer aquilo, mas um sorriso brotava em seus lábios, Hinata estava quase pronta para avançar de seu estado solitário e começava a recebê-lo em seu mundinho. Quando entrasse, faria o pedido.