História Uma nova e diferente vida - Sonhos e acasos impróprios

“Eu estava deitada na cama, naquele quarto, novamente. Apenas de roupas íntimas, as mãos suavam de nervosismo. Eu o vi em pé, um pouco distante da cama, conseguia ver apenas sua silhueta por conta da pouca iluminação do quarto, que se resumia apenas a um pequeno abajur que ficava em cima de um criado-mudo ao lado da cabeceira da cama. Mas ele estava fora do alcance da luz fraca e amarelada, então eu não conseguia enxergá-lo direito.

Mas ele me via, e eu podia sentir todo o seu desejo por mim naquele momento. Podia sentir tudo aquilo naquele ar pesado. Ele veio se aproximando lentamente da cama, cada passo parecia imitar um tigre se aproximando da presa.  Conforme ele se aproximava a luz ia o alcançando e finalmente eu puder ver seu corpo aos poucos, e logo o seu rosto. Mas o choque que me atingiu ao vê-lo me fez travar, fez com que meus olhos se arregalassem e meu corpo enrijecesse cada músculo. Não era ele. Não era quem eu pensava que era. Eu vi aqueles cabelos cor escarlate e não consegui compreender. Não era quem eu pensava ser, mas porque ele aqui?

Senti mais um tremor percorrer meu corpo. Eu não conseguia me mexer, não conseguia falar nada. Vi ele se aproximando da cama. Colocando primeiro o joelho e em seguida vir quase engatinhando para perto, com um sorriso de canto de boca e aqueles olhos acinzentados que parecem te devorar, talvez de fato quisessem...

Tocou e deu um beijo em um dos meus pés, meu corpo inteiro se arrepiou. Veio ainda engatinhando, subindo cada vez mais até conseguir ficar de joelhos entre as minhas pernas. Pousou suas mãos nos meus joelhos, pois minhas pernas estavam apoiadas por cima das coxas dele. Eu ainda não conseguia me mexer, eu não conseguia tirar meus olhos dos dele. Ele veio deslizando as mãos pelas minhas coxas e as repousou em meu quadril. Deu uma risada, meu coração disparou. Foi então aproximando a boca do meu abdômen, deu um beijo ali, me olhou nos olhos, subiu a boca até chegar entre meus seios, eu prendi a respiração sem querer. Eu queria falar algo, eu queria perguntar, mas nada saía.

Ouvi chamarem meu nome, bem distante. Ele riu mais uma vez, se afastou de mim, saiu da cama e ficou em pé de costas para mim. Deu uma última olhada por cima dos ombros e foi em direção à escuridão. Eu quis gritar para ele ou com ele, mas nem uma palavra saiu da minha boca...”

Acordei com batidas na porta e a voz da minha mãe chamando meu nome. Eu estava encharcada de suor e com a respiração ofegante. Não conseguia acreditar no que tinha sonhado. Eu sempre tinha o mesmo sonho ou parecidos, desde que “aquilo” aconteceu, mas dessa vez foi diferente, dessa vez não era ele, era aquele garoto. Mas porque? Eu não entendo!

Levantei da cama com alguma dificuldade, ainda estava meio atordoada, fui atender a minha mãe que batia na porta.

- Oi mãe, desculpa a demora, eu estava dormindo. - falei abrindo a porta e esfregando os olhos com as mãos.

- Estava ficando preocupada! Você não atendia logo essa porta e nem o celular - falou colocando as mãos na cintura.

Pude então reparar que minha mãe já estava arrumada, e que mulher linda! Usava um vestido florido, umas sapatilhas vermelhas e uma bolsa vermelha, tinha os cabelos soltos e uma maquiagem bem leve. Parecia tão mais jovem e feliz. Se bem que minha mãe aparentava ter sempre menos do que a idade real, uma mulher com cabelos castanhos com alguns fios mais claros puxando para um dourado que davam um movimento e luz aos cabelos na altura dos ombros, pele clara, os olhos da mesma cor que os meus, um sorriso lindo. Realmente minha mãe é maravilhosa. Sorri pra ela como quem diz “e então, qual o acontecimento especial?”.

- Adivinha!!! – ela falou toda animada agitando as mãos como uma garotinha.

Coloquei a mãos no queixo e fiz uma cara de pensadora por alguns segundo quando voltei a olhar pra ela a mesma revirou os olhos e me olhou com cara de tédio.

- Desculpe-me, senhora, estou com problemas com minha bola de cristal, ela está para o conserto, não vai ser possível adivinhar no momento...

- HAHA, cheia de gracinha hein... Boba. - falou rindo - Liberaram a nossa casa, já podemos ir pra lá!!

Meu rosto se iluminou imediatamente com um sorriso enorme, pulei em cima da minha mãe abraçando-a, meus deuses eu estava muuuuito feliz. Disse para a minha mãe que estaria pronta logo, corri para o banheiro para tomar um bom banho, assim que saí fui procurar uma roupa para usar. Peguei uma saia preta de cintura alta que tinha alguns de botões posicionados verticalmente na frente, um cropped preto, uma camisa xadrez azul e preta que coloquei por cima aberta, e o meu coturno preto que eu tanto amo. Penteei o cabelo, que por sinal comecei a achar longo demais, coloquei um choker de veludo com uma lua de pingente e uma pulseirinha de couro. Passei só um rímel, peguei uma bolsa de couro de lado com tachinhas que eu tinha, e já estava tudo ok.

Peguei algumas coisas minhas que tinham pelo quarto e guardei na mala, não tinha tirado quase nada da mala, ainda bem. Depois de arrumar tudo em seu devido lugar fui bater na porta da minha mãe para dizer que eu já estava pronta. Ela já estava com tudo pronto também, chamamos pelo telefone do quarto o rapaz que trabalhava no hotel para nos ajudar com as nossas coisas. Vieram dois rapazes e nos ajudaram a descer tudo, ao chegar à recepção minha mãe foi encerrar a conta e pedir para chamarem um táxi.

Quando o táxi chegou, o que não demorou muito, colocamos nossas coisas nele com ajuda dos rapazes, minha mãe os agradeceu e deu gorjeta a eles, entramos no carro e ela mostrou o endereço ao motorista, que nos levou até onde seria nossa nova casa. Não demoramos muito para chegar, e logo de cara eu amei.

A casa era linda! Tinha um pátio na frente bem grande onde tinha uma mesinha e umas poltronas, garagem para dois carros. A casa tinha dois andares, mas não era tão grande, na parte de baixo havia a sala, e uma cozinha americana, que no caso e a sala de janta e a cozinha separados por um balcão, havia mais um quarto que minha mãe disse que usaria como escritório e um banheiro. No andar de cima haviam dois quartos, sendo que cada um tinha uma varandinha, e além deles tinha mais um banheiro. Na parte de trás da casa havia mais um pátio onde tinha uma área descoberta e outra mais atrás que tinha cobertura, havia uma piscina pequena também, que inclusive estava vazia ainda. Fiquei completamente apaixonada pela casa, a área do pátio era bem espaçosa, mas a casa em si não era grande, era perfeita! E ficou pronta antes do previsto, hoje ainda é sexta feira, o previsto seria amanhã, isso é ótimo.

Eu estava em pé do lado de fora, ao lado do táxi, ajudando a tirar as coisas do carro para levar pra dentro, quando escutei um ronco de motor, um barulho de moto que aparentemente estava se aproximando, olhei para um lado da rua e não vi nada, mas assim que olhei para o outro lado vi uma moto se aproximando e diminuindo a velocidade gradativamente. Eu demorei um pouco a acreditar, a moto passou em uma velocidade absurdamente baixa ao meu lado, e foi como se tudo ficasse em câmera lenta.

Era ele.

De novo ele.

Passou e eu o encarrei e segui com a cabeça, ele me encarava enquanto passava e sorria de lado, virou o rosto para frente e acelerou a moto, sumindo de vista na próxima esquina. Não pode ser real, pelo amor dos deuses, como é possível? Esse garoto está me perseguindo, sinceramente, parece que está em todo lugar!

E eu não sei o que é isso que eu sinto quando o vejo, uma sensação estranha, ele tem algo que me chama, e é como se eu já o conhecesse, não de agora.

Mas é impressão, só isso. Espero não vê-lo mais, isso já está perturbando a minha cabeça.