Os dias pareciam etéreos, e eu caminhava pelas ruas de Sleepy Rose como se pisasse em nuvens. As pessoas pareciam ter acabado de acordar de uma longa noite de sono. Os pelos dos meus braços se arrepiavam sempre que eu cruzava com alguém. No começo eu até me belisquei várias vezes só para ter certeza de que não estava dormindo, mas meu corpo estava bem mais desperto do que eu estava acostumada.
Desde aquele fatídico dia eu tentei compreender como consegui voltar para casa, mas parece que ninguém lembrava de nada. Dia após dia eu cumpria minha rotina, meu pai me acordando para ir à escola, meu caracal deitado em minha janela, meus amigos passando por mim sorrindo-me alegremente...
Definitivamente essa merda não estava certa. Então decidi confrontar o meu pai. Não era possível que ele não pudesse se lembrar de nada. Nem de ter sido abduzido, nem da quase guerra causada por Gael, nem do meu pacto com Gaia.
-Você está estranha ultimamente. -ele observou encarando-me com aquele olhos azuis.
-Eu sempre fui estranha desde que você resolveu me criar. -ironizei.
-Tiramos o dia para sermos cruéis com nossos pais hoje? -ele brincou.
-Pai, é sério. Tem certeza de que não lembra de nada?
Ele se virou de costas para mim e começou a lavar algumas louças que eu tinha certeza de que estavam limpas.
-Não está feliz? Estamos em casa finalmente.
-Sim. Então me diga como terminou.
Ele me olhou espantado.
-Vai se atrasar para a aula.
Eu sabia que ele estava me escondendo alguma coisa. Ou não queria falar ou não podia. De repente eu podia encontrar as respostas por outros meios. Lembrei-me de como fiz da última vez para invocar Gaia e corri em direção aos fundos da propriedade. Que se danem as aulas, eu ia em busca de algo maior.
Sentei-me no meio da clareira que meu pai havia feito logo que nos mudamos para a cidade e cruzei as pernas. Esse procedimento podia levar o dia todo, mas eu precisava saber se eu realmente havia vencido a Escuridão e o que havia acontecido com Gaia após isso... e com o Kentin.
Fechei os olhos e tentei sentir as vibrações ao meu redor. Nada. Não conseguia sintonizar. Não conseguia ouvir as árvores crescendo ou os animais ao meu redor trabalhando ou as folhas realizando fotossíntese. Não era possível que eu estivesse quebrada. De repente ouvi uma voz bem distante me chamando.
Abri os olhos e a voz sumiu. Era familiar, mas eu não conseguia lembrar a quem pertencia. Seria alguém da escola querendo saber por que não fui à aula? Se fosse isso, não ia demorar até meu pai começar a ligar ou partir logo para um feitiço de localização, típico dele, mas nada disso aconteceu. Apenas mais silêncio.
Voltei a fechar os olhos e a voz recomeçou. Me mandava acordar, mas eu não conseguia descobrir de onde ela vinha.
-Vamos Mãe Gaia! Fale comigo.
-Você tem que acordar. Meu pai está chegando e vai destruir tudo se não pararmos a Escuridão.
Eu abri os olhos e já escurecera há um bom tempo ao meu redor, mas não conseguia entender como isso era possível. Eu tinha certeza de que não havia passado nem meia hora desde que amanhecera. Ou eu estava ficando louca.
De pé empreendi viagem de volta para casa, ouvindo o som das folhas secas debaixo dos meus pés. Mas aquela sensação... aquela voz... Do que realmente eu me lembrava de quando estava no Mundo Etéreo? Qual foi exatamente a última coisa que fiz?
De repente, tudo fez sentido!
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