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História Uma nova vida em Sweet Amoris - Por eles, o sacrifício


Escrita por: Bryhanny

Capítulo 127 - Por eles, o sacrifício


Com muita luta consegui abrir os olhos e senti um vento quente muito forte ao redor de mim. Eu havia adormecido não sei por quanto tempo, mas graças ao chamado de Gaia eu consegui entender o que estava acontecendo. Quero dizer, em parte entendi, mas ainda era um mistério como eu não havia sido afetada pela Escuridão do mesmo jeito que os outros. Olhei ao redor e vi Kentin já sofrendo os primeiros efeitos, sua pele já se deteriorando, sua consciência em algum lugar que eu não pude descobrir. O restante de nossa infeliz comitiva reduzida a pó.

E aquele incessante barulho como se algo muito grande estivesse aos poucos ruindo.

-Gaia, o que eu faço? -eu perguntei.

Mas não foi Gaia quem me respondeu. Foi a própria Escuridão já perdendo a forma de tornado que havia tomado e desenvolvendo uma silhueta digamos, mais humana.

-Apenas durma, criança. Tudo vai acabar logo.

Aquele sussurro me deu calafrios até a medula. Nunca havia ouvido nada tão sinistro em toda a minha vida.

-Mãe! -Gaia falou através de meus lábios chamando a atenção da Escuridão.

-Eu tive uma filha uma vez há muito tempo, mas ela não existe mais. Eu tive um amor, mas ele se foi. -e virando-se de novo em minha direção falou. -Você tem uma filha, mas tem um amor?

Meus olhos se arregalaram ante aquela pergunta. É lógico que ela estava errada. Não tinha chance de eu ter uma filha, aliás eu saberia se tivesse. E quanto a ter um amor... Minha cabeça girou ao pensar em uma possível resposta, mas eu não tinha tempo a perder.

-Você tem certeza de que é isso que quer? -ela falou ferozmente quando aproximei minha mão tentando tocá-la. -Um novo ciclo começará. Uma Escuridão, um Extinto e uma Criadora. Tem certeza de que quer isso para si? Ser a grande vilã, odiada e temida por todos pela eternidade só para manter o equilíbrio do Universo? Vale a pena?

Eu quase não sabia nada sobre a Escuridão. Apenas pensei que fosse uma força da natureza, furiosa, que a tudo destruía, mas o que eu via ali era alguém incompreendida que carregava um fardo, fadada à eterna solidão.

Balancei a cabeça afastando tais essas conclusões. Foi assim com Gael, quando lhe mostrei compaixão e em troca, ele me aprisionou e me torturou. Apesar do meu desejo a minha vontade era de acabar logo com aquilo tudo e encontrar uma forma de levar todos de volta para casa, mas não seria tão fácil já que Iliara me dissera que a Escuridão não podia ser destruída.

Não tive mais tempo para pensar. De onde estava eu pude sentir o último fragmento do Véu se dissipando abrindo um portal que ligava o Mundo Etéreo ao mundo dos humanos. Tudo estava perdido então.

A Escuridão apenas me deixou e continuou andando, ou flutuando, na direção onde a peleja era mais forte.

-Grande Élan nos ajude. -eu murmurei uma prece já sem esperanças.

E ele veio em nosso auxílio, mas não do jeito que esperávamos: em uma carruagem dourada como o próprio sol, eu e creio que todos, humanos, elementais e etéreos exilados pudemos vislumbrar o imenso poder dele. Não tive dúvidas de que era Élan em sua armadura reluzente que marchava em nossa direção. E por onde ele passava tudo congelava.

Mas não era um congelar com o qual estávamos acostumados a ver em filmes. Tudo o que era vivo simplesmente parou. Até o ar quente que chamuscava minha pele e meus cabelos simplesmente parou de soprar. Senti-me como se tivesse sido jogada no vácuo ou qualquer espaço equivalente.

-Novamente você, Imma! Insatisfeita. -ele vociferou de cima da sua carruagem.

A Escuridão o atacou com tudo o que tinha, mas a luz dele era tão forte que as sombras simplesmente se dissipavam ao entrar em contato com ele. Ela só seria párea para ele numa luta de curto alcance, mas parecia que essa possibilidade não era uma opção.

-Novamente, Élan! Destruindo-me. -ela rebateu.

-Era parte do acordo, mas você não soube manter sua palavra. Por sua causa este mundo existe e por sua causa terei de destruir todos os outros, infectados como estão pelas suas sombras. Eu faço um acordo e você quebra. Eu crio, você destrói. Eu faço, você desfaz. -ele falava cada vez mais alto como se lhe fosse horrível estar ali naquele lugar.

-Eu concordo com você e você me exila. Eu reclamo e você me prende. Eu me liberto e você me persegue. Eu busco companhia e você a destrói. -ela falou aproximando-se perigosamente dele, já sem se importar com a luz dele.

-Já não há mais saída Imma. Prefiro encerrar tudo e me recolher do que passar a eternidade limpando as sujeiras, fruto da sua teimosia em aceitar o seu fardo em silêncio.

-Grande Élan. -eu gritei, mesmo sabendo que ele poderia me fulminar só com o olhar. -Permita-me opinar, por favor.

Ambos, a luz e a escuridão me encararam como se só naquele instante tivessem dado conta da minha existência.

-O que é essa coisa? Não me lembro de ter criado nada assim. -ele esbravejou aparentando uma perigosa fúria.

Mas ele também não precisava me esculachar, pensei zangada. Eu não era exatamente uma coisa, eu sou uma pessoa e iria fazê-los me ouvir. Não seria ele quem destruiria tudo o que eu mais amava.

Ele balançou a mão sem muito interesse, para que eu prosseguisse:

-A Es... quero dizer, Imma ressente-se por ter de carregar um fardo tão pesado, sozinha. Eu entendo a importância da missão dela e entendo o seu ressentimento...

-Interrompeu-me para dizer que está do lado dela? Isso não me faz mudar de ideia em aspecto algum.

-Gaia tentou amenizar essa dor criando um receptáculo para a mãe, mas ele, apesar de ser forte, não tinha os requisitos necessários para contê-la em sua totalidade, por isso acabou sendo corrompido. As histórias que chegaram ao nosso tempo são distorcidas por conta de longas eras de más interpretações, por isso nossa espécie nunca entendeu a importância da função de Imma, e por isso a temem e a odeiam tanto, aumentando ainda mais sua obstinação em destruir tudo o que você construiu.

-E o que você, uma híbrida propõe? -ele perguntou coçado o queixo.

-Desobrigue Imma de sua função... eu me responsabilizo em assumi-la a partir daqui. Eu serei o receptáculo da Escuridão, guardiã do Mundo Etéreo e o ajudarei a equilibrar o Universo.

O que diabos eu estava propondo? Nem sei onde estava a minha razão, mas para mim essa foi a saída mais óbvia para salvar a todos. Eu nunca me perdoaria se Élan destruísse o mundo que eu tanto amo.

-E o que a leva a acreditar que você consegue tal façanha? Nem Gael conseguiu. -a Escuridão rebateu.

-Justamente por isso: eu não sou Gael e ao contrário dele, eu entendo os riscos, sem falar que sou muito mais forte do que ele. Só não posso permitir que meu senhor destrua tudo. É possível levantar o Véu uma vez mais e curar os exilados de sua corrupção.

Élan me encarou por tanto tempo, em silêncio que eu cheguei a pensar que ele iria levantar um dedo contra mim e me fulminar só por tê-lo entediado com minha proposta, mas ele continuou coçando o queixo antes de falar:

-Seu coração tem coragem, criança. Mas o de Imma também tinha. Eu também tenho. -ele falava mais para si mesmo do que para mim. -Eu tinha uma filha, mas dentro em pouco ela já não existirá mais, não da forma como eu a conhecia. Eu tinha um amor, mas precisei sacrificá-la para que este Universo se mantivesse em movimento. Você tem uma filha, criança, mas nunca poderá vê-la crescer. Você tem um amor, mas nunca mais poderá ficar com ele. Foi o que nos aconteceu. É isso o que você quer?

-Perdão, Grande Élan, mas eu não entendo. Eu não tenho uma filha.

Gaia em mim deu seu último suspiro e de minhas mãos eu pude ver sua essência divina flutuar como pequenas plumas levadas por um vento que não soprava. Gaia se foi, mas eu não conseguia sentir aquele já esperado vazio.

-Se eu permitir que você seja a nova Escuridão, a criança que você carrega em seu ventre será a nova Gaia. Ela não poderá viver aqui, pois sua missão é gerar vida no mundo dos humanos. E o elfo de luz nunca poderá cruzar o Véu para este lado.

Aquelas palavras me atingiram como um tapa, e eu não consegui segurar as lágrimas. Não era possível! Eu estava grávida. Do Lysandre? Quando? Como?

Lembrei-me da fatídica noite de amor já perdida no tempo e no espaço que vivemos. Eu havia desejado tanto poder voltar e revivê-la depois que tudo isto acabasse, mas agora a realidade teimava em apossar-se de minha vida. Eu nunca mais poderia me aproximar de Lysandre ou de ninguém que eu amasse.

-Ainda quer o fardo, criança? -Élan perguntou.

-Sim. -eu respondi resoluta.

Não havia problema para mim em permanecer nesse mundo de exílio, desde que todos os meus entes queridos permanecessem bem.

Imma então aproximou-se de mim e me abraçou. Não era um abraço quente. Era mais como ser abraçada pela primeira manhã de inverno após uma longa noite de chuva. Quanto mais ela me abraçava, mais eu sentia vontade de abraça-la.

Por fim, ela simplesmente havia sumido, e de pé estávamos apenas Élan e eu.

-Tudo acabou? -eu perguntei.

-Não há como saber. Imma permanecerá em repouso, mas é seu corpo quem vai decidir até quando vai aguentar. Até lá, vou precisar de ajuda para levantar o Véu... mais uma vez.

E exatamente de onde eles estavam brotou um pequeno cristal que crescia devagar.

-Este é o ponto zero do Véu. Precisamos colocar ordem em todo esse caos que se formou e mandar cada qual para o seu lugar de direito antes que o processo se conclua. -Élan falou subindo na carruagem e me estendendo a mão, mas eu não poderia segui-lo, não antes que ele me prometesse.

-Meu amigo. Por favor. -eu me aproximei do corpo desacordado e parcialmente danificado de Kentin abraçando-o com força.

-O que sente por ele? Está pronta para separar-se dele?

-Desde que ele esteja bem. -eu respondi com sinceridade.

-O que sente por ele? -ele insistiu.

-Eu o amo. -eu respondi por fim.

-Que o seu amor seja sempre a sua motivação. Por que eu não tenho certeza de por quanto tempo você conseguirá suportar. Como você mesma disse, a solidão e o peso deste fardo podem ser dementadores. Pode ser que as sombras que ainda espreitam os abismos deste mundo queiram reivindicar o domínio de suas mãos.

-Eu aguentarei. Por eles, eu juro que aguentarei.

 

 



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