História Uma Oportunidade Inesperada - Jantar indesejado

    “Quem realmente era aquela mulher?”

Essa pergunta ecoava na mente de Taehyung. O homem realmente tinha de confessar que havia ficado surpreso, afinal ele não esperava reencontrar a loira atrevida do dia anterior.

- Eu te conheço de algum lugar? - se dirige a loira, inclinando um pouco a cabeça para fitar o rosto que até então era conhecido porém não vinha em sua lembrança.

Até que percebendo a cor do cabelo e os traços angelicais do rosto, automaticamente veio a lembrança do dia anterior, a moça bela e desleixada da cafeteria.  Vendo que esta continuava de cabeça baixa, perplexa por conta do reencontro inesperado, ele logo viu uma oportunidade de dar o troco pelo atrevimento do dia anterior.

- Espero que desta vez faça proveito de seus bons modos, diferentemente de ontem. -  a provoca, claramente testando até onde seu atrevimento iria

Logo esboçou um sorriso vitorioso ao perceber que a provocação havia surtido efeito, pois a moça não havia respondido, encontrava- se com o rosto extremamente corado e de cabeça baixa, fazendo com que o mais velho se sentisse no poder.

- Com licença, estou de saída.- desvencilha-se da jovem estática.- Tenho outras pendências para resolver e acredito que você também. - fala de maneira diabólica.

Se retirou do local de trabalho satisfeito consigo mesmo por sua atitude com a desconhecida porém um certo questionamento rondava sua mente.

 Afinal de contas quem era aquela mulher e por que ela estava prestes a adentrar seu escritório?

O homem não sabia nem ao menos seu nome, não sabia nada sobre ela, mas não podia negar a si mesmo que aquele inesperado reencontro tivesse sido bem interessante.

Resolveu ligar a rádio de seu carro e deixar que as notícias e músicas tomassem conta de seus ouvidos, o desviando de qualquer tipo de pensamentos.

 Ao final do trajeto, estacionou seu carro e se dirigiu até seu apartamento. Havia decidido sair mais cedo do trabalho, pois queria ter um dia para si, sem trabalho, sem papelada e o principal: Sem ter de lidar com funcionários, sócios da empresa e os problemas que aquela acarretava em sua vida.

Ao adentrar seu apartamento, foi recebido por sua empregada que logo tratou de o cumprimentar.

- Bom dia senhor Taehyung chegou cedo hoje gostaria de que tipo de comida para o almoço. - fala a mulher sorridente. Ela era uma pessoa muito dedicada, trabalhava a um bom tempo para a família de Tae, tendo assim acompanhado uma fase de seu crescimento.

- Não se preocupe Noona, está dispensada por hoje, pode ir para casa.- Tae fala calmamente a mais velha.

- Tudo bem senhor Tae, mas se sentir fome, eu deixei kimbap pronto na geladeira. Muito obrigado! - exclama sorridente, pega suas coisas e se dirige a saída do apartamento.

Foi até o banheiro de seu quarto, em busca de tomar um banho relaxante. Ao final de seu banho, escutou o barulho da campainha tocar, então tratou de vestir seu moletom e ainda secando seu cabelo e foi até a porta atender.

- Espero que não tenha esquecido que hoje é dia de visitar seu pai.- Exclama uma mulher de cabelos negros  que batiam em seus ombros, em tom autoritário. Era um pouco mais baixa que o mais novo, porém sempre estava com um par de saltos que a faziam ter a altura do mesmo.

Tae apenas arqueou a sobrancelha e tratou de rapidamente respondê-la.

- Bom dia para você também mãe e se veio aqui apenas para me lembrar disso, perdeu sem tempo pois eu não vou.- falou friamente a mulher que rebateu.

- Você está muito errado se acha que tudo pode ser da sua forma, você irá sim, pois seu pai não têm estado muito bem e ele quer muito vê-lo. É melhor que apareça antes que seja tarde demais e você tenha de ser tomado por remorso. - ralhou secamente a mais velha. – Estaremos te esperando no horário de sempre, é melhor que apareça.- dirige o olhar ameaçador que o filho tanto conhecia.

Ele apenas assentiu desinteressado, revirando os olhos e fechando a porta em seguida sem se interessar com a mãe. 

Se jogou em sua cama e ficou ali durante o resto o dia.

Por mais que não quisesse ir, as palavras de sua mãe o fizeram repensar e ir ao maldito jantar. Nunca tivera uma boa relação com os pais, pois estes nunca deram um pingo de atenção ou importância a existência do filho, apenas o viam como alguém que teria serventia para o futuro das empresas da família.

Teve de ignorar seus sonhos por conta de sua família. Um deles era o de cursar medicina.

Desde cedo ele havia descoberto interesse na profissão, desde pegar os livros  de anatomia na ampla biblioteca da mansão onde havia crescido e passar dias e dias vislumbrando o conteúdo  destes até brincar de examinar os empregados da mansão.

Porém, seu pai, um homem extremamente frio e ambicioso, nunca havia dado importância aos interesses do filho e então ao terminar o ensino médio, Taehyung foi obrigado a assumir o controle de uma das empresas de sua família, a empresa de publicidade, Concept.

No começo ele relutou bastante em seguir na direção da empresa. Mas conforme foi se adaptando a maldita realidade, o homem foi se tornando cada vez mais frio, infeliz e insatisfeito consigo mesmo, sua vida era um extremo vazio, ele vivia para cumprir os propósitos que os outros tinham para ele.

Então foi levando a vida sem propósito algum, todos os dias de sua vida não tinham importância alguma para o mesmo, ele sempre estava solitário e não havia qualquer acontecimento sequer que o deixasse feliz.

Seu pai e sua mãe eram as pessoas mais egocêntricas que este conhecia, apenas se importavam com dinheiro e status. Até que depois de muitos anos, o Senhor Kim estava em uma reunião quando de repente teve um derrame, deixando todos apavorados. Após isso este foi diagnosticado com uma doença crônica chamada AVC, que provocou paralisia no velho.

Afastou todos aquelas pensamentos de sua cabeça e tratou de se vestir para ir jantar na casa dos pais.

- Boa noite! Estou feliz que resolveu vir. – Cumprimenta sua mãe o lançando um sorriso vitorioso, mas também feliz por ver que havia surtido efeito sua conversa mais cedo com o mesmo, afinal também buscava aproximar-se dele. – Seu pai está no quarto descansando, ele ficará feliz em ver que você veio visitá-lo, os empregados prepararam a mesa, sente-se, irei trazer seu pai.

Sentou-se diante daquela imensa mesa retangular de mármore. Lembrou-se de sua infância, quando este fazia suas refeiões sozinho e do quanto aquilo fora solitário para este.

- Boa noite meu filho! Como você está? – um homem de meia idade sendo empurrado em sua cadeira de rodas por uma empregada, chegando na sala de jantar ao lado de sua mulher.

- Olá pai! Vim aqui apenas porque minha mãe insistiu muito e quanto a mim, sei que está se referindo a empresa, para sua felicidade fechei a negociação com a empresa que o senhor tanto queria . - Falou de forma fria sem ao menos encarar o mais velho que abaixou a cabeça tristonho pela resposta do filho.

- Não fale dessa forma com seu pai Kim Taehyung. Você não sabe o quanto ele está sofrendo dessa doença, o quanto ele sente sua falta e se preocupa com você. – Fala com um misto de tristeza e frustração pelas más palavras proferidas pelo filho.

- Desde quando você e o papai se importam comigo?! Vocês nunca sequer deram a mínima para qualquer coisa que não fosse dinheiro e status, me criaram apenas com o objetivo de me tornar o herdeiro dos negócios da família e agora vem com que esse papo de preocupação. É tarde demais. – alterou o tom de voz ao cuspir as palavras que até então estavam entaladas em sua garganta.

- Basta filho! Eu não aceito que fale dessa forma com sua mãe. – exclamou e após isso, apenas começaram a comer silenciosamente, sem proferir uma palavra sequer durante o jantar.

Depois de comerem, Taehyung sem dizer ao menos uma palavra, se levantou e foi em direção a saída da mansão. A senhora Kim ia se levantar e falar com o filho, porém foi impedida por seu marido que segurou em seu pulso e pediu para ela que o deixasse ir.

Após o desastroso jantar, Kim pegou seu carro e foi embora para seu flat. Se sentia aliviado por ter falado aos pais tudo aquilo, porém a chateação nos olhos de seus pais o fez se sentir com a consciência pesada. Por mais que ele obtivesse guardado rancor e más lembranças de seus pais, o pai fragilizado pela doença e o desespero da mãe pela tentativa falha de se aproximar do filho o faziam se sentir mal consigo mesmo.

Será que eles realmente se preocupavam com ele agora?

Não, os pais sempre frios e inacessíveis de Taehyung não conheciam aquele sentimento chamado preocupação, não mesmo. Pelo menos foi nisso que ele sempre acreditou.