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História Uma quinta chance. - Não esqueça


Escrita por: Pirataurbana

Capítulo 2 - Não esqueça


Ibuki não queria fazer aquele acordo com Takuto, porém o conhecia bem para saber que era a coisa certa. Durante o tempo que passou longe teve a chance de amadurecer e pensar o relacionamento que os dois tiveram, na verdade tiveram outros casos durante esse tempo, casos esses que só o ajudaram a ter certeza de que Shindou era o único que daria certo, apesar de ambos serem cabeça quente ele nunca tinha se sentido tão aceito por alguém, ninguém o compreendia e sabia o que ele estava pensando como Shindou. Quando teve a chance de voltar para a faculdade de Raimon nem pensou duas vezes, precisava fazer Shindou aceita-lo de novo nem que fosse só como amigo. Teria que fingir que não o conhecia na faculdade, mas sabia que ainda iriam sair juntos graças a Tenma, precisaria aproveitar aqueles momentos.

— Ibuki? Você já voltou? Nem veio falar conosco!

A cerimônia tinha acabado a pouco mais de dez minutos, Ibuki já poderia ter ido para casa, mas achou melhor esperar o estacionamento esvaziar e evitar a correria. Ele sorriu ao ver Tenma se aproximando.

— E ai? Tudo bem, Matsukaze?

— Quando você chegou?

— Estou na cidade faz uma semana, precisei resolver a papelada da transferência, as coisas do apartamento, documentação do carro e coisas assim.

— Então... Agora você não tem nada para fazer?

— Não, eu só...

— Ótimo, a gente vai sair para comer algo — Tenma começou a puxar Ibuki. — Vamos, vamos. Quanto mais gente melhor é todos devem estar com saudade de você.

Ibuki quase soltou um "eu duvido", mas se controlou devido à empolgação do menor. Tenma não tinha mudado nada desde a época do ensino médio, aquilo não era ruim, quase não havia brigas no grupo apenas para agrada-lo e para não irritar Tsurugi também. Munemasa se deixou ser arrastado, apesar de precisar andar curvado devido à diferença de altura, Tenma só parou quando viu os irmãos Tsurugi ao lado de um Fiat branco.

— Ibuki? — soltou Yuuichi com surpresa. — Não sabíamos que você já tinha chegado.

— Ainda não tinha tido tempo livre para socializar — brincou Ibuki.

— O Shindou já viu você? — perguntou Tsurugi. Direito como sempre. — Ou mesmo o Kirino?

Ibuki sentiu uma fagulha de raiva nascer ao ouvir o nome Kirino, detestava aquele garoto.

— Já me encontrei com o Takuto, tínhamos que conversar sozinhos. Não acham?

— Você amadureceu — Yuuichi sorriu de lado.   

— Nem tanto, ainda sou o mesmo Ibuki...

— O mesmo Ibuki que quebrou o braço do Takuto em cinco partes?  

Ah aquela voz. Incrível como algumas palavras de uma pessoa fizeram o humor de Ibuki despencar. Ele odiava Kirino Ranmaru e era péssimo em esconder isso, todos conheciam sua aversão ao rosado. Aversão mútua na verdade, eles sempre trocavam faíscas.

— Foi em três, não em cinco — corrigiu Ibuki. — Kirino, a que devo o desprazer?

— Eu que deveria perguntar isso — o rosado cruzou os braços.

Shindou estava ao lado de Ranmaru, mas nem esboçou reação, já estava mais do que acostumado aquilo, até achava bonitinho ser disputado daquela maneira. A muito sabia sobre os sentimentos de Ranmaru, porém jamais poderia corresponder, via o outro como um irmão e nada mais.

— Ah, você foi de quem mais senti falta — brincou Ibuki. — Como sobreviveu sem minha pessoa por perto?

— Foi a melhor época da minha vida — bufou Kirino. — Não me digam que essa criatura vai lanchar conosco!

— Vai, eu o convidei — sorriu Tenma.

Matsukaze  percebia situação, mas não demonstrava. Ele sabia que os amigos não se davam bem, mas ignorava, tinha esperança que se continuassem saindo juntos um dia todos poderiam se dar bem novamente. Ele é Tsurugi não tinham começado brigando e hoje eram namorados? Tudo podia acontecer.

— Está bem, briguem pela minha herança mais tarde — sorriu Shindou. — Estou morrendo de fome, vocês podem se matar quando estivermos com sanduíches...

Logicamente no carro de Shindou não iriam caber todos, mas Ibuki tinha sua moto e poderia ir nela. Kirino não desfez o rosto irritado nem quando o carro deu partida.

— Não acredito que você não falou nada...

— Falar o que Kirino? — suspirou Shindou. — Não temos cinco anos, somos adultos, podemos nos entender sem tudo isso.

— Esqueceu o que ele fez para você? — gritou Ranmaru.

— Não, por que você faz questão de me lembrar a cada dois dias — Shindou cerrou os dentes. —  Eu sei que está preocupado, mas eu não sou idiota, sei me cuidar.

Era mentira, Shindou não lembrava o que exatamente o tinha feito romper com Ibuki e ainda quebrar o nariz dele.

Ranmaru bufou e colocou seus fones de ouvido. Shindou revirou os olhos e deu aquele assunto por encerrado.

— Tenma, você tinha mesmo que fazer isso? — perguntou Tsurugi. — Não será facil aguentar esses três.

— Ora Tsu, foi necessário — ele descansou a cabeça no ombro do outro. — Eles vão se entender, nosso dever como amigos é ajudar nisso.

— Se você diz...

Shindou suspirou.  Aquilo seria mais complicado do que ele imaginava, afinal ele iria ignorar Ibuki, mas os outros não, então de que adiantaria? Kirino tinha sua razão ao se irritar, ele não conseguia disfarçar que Munemasa ainda lhe afetava.

— Kirino... — chamou quase em um sussurro .

O rosado tirou os fones e encarou o outro, para ter ouvido aquilo com certeza não estava ouvindo nenhuma música.

— Que foi? — soltou Ranmaru.

— Desculpa, está bem? — pediu Shindou. — Eu sei que só está preocupado comigo é que ele...

— Te afeta mais do que você gostaria — completou Kirino. — Eu sei, você nunca o superou de verdade.

— Eu... Quer dormir na minha casa hoje?

— Eu iria mesmo sem você pedir.

— Por isso eu adoro você.

—É...adora...

Nos bancos de tras os outros três sorriram aliviados, o clima ficava mais do que pesado quando Kirino e Shindou estava brigados, aquilo poderia estragar o dia deles e era época de comemoração, estavam entrando no último ano de suas faculdades.

— Que bom que vocês se resolverem! — gritou Tenma fazendo Shindou derrapar o carro um pouco para a esquerda.

— Que susto! — respondeu Shindou.— Tinha era esquecido que estavam aí.

—Nossa, obrigada pela consideração — brincou Yuuichi. — Tudo bem Shindou, tempo difíceis vão chegar para você esse ano.

— É talvez, talvez — Shindou balançou a cabeça. — E ai? Como vai o Tayou?

— Tentativa desesperada de mudar de assunto? — riu Kirino.

— Ah, cala a boca.

Demorou mais dez minutos para chegarem a pizzaria de sempre, não tocaram mais no assunto "Ibuki" durante a viagem, divagaram sobre outras besteiras qualquer como o novo anime na TV e a próxima partida de futebol.

— Ah sim, o time daquela faculdade é forte — disse Tsurugi quando desceram do carro. — Mas é nosso último ano, temos que fazer por merecer o título de geração lendária.

— Então vocês ainda jogam futebol?

Shindou sentiu um arrepio na nuca, internamente tinha desejado que ele tivesse se perdido.

— Claro que sim — sorriu Tenma. — Você vai voltar para o time, Ibuki?

— Eu não sei, estou enferrujado — Ibuki girou o braço como se quisesse alongar um músculo. — Não costumava jogar na minha outra cidade.

— Ah, você tem que voltar — disse Shindou. — Não temos um goleiro decente desde que você saiu.

— Ah, eu teria que falar com o capitão — Ibuki sorriu.

— Ah, acho que ele vai aprovar — riu Shindou. Ele era o capitão. — Basta está no campo na hora certa amanhã.

— Estarei lá.

Os outros trocaram olhares confusos, naquela pequena troca de palavras Ibuki e Takuto pareciam muito como antigamente quando estavam juntos.  

— Então... Vamos entrar? — perguntou Kirino. — Achei que alguém aqui estava com fome.

— Ah, claro — respondeu Shindou ainda com um sorriso brincalhão no rosto.

Ibuki não conseguia parar de sorrir, tinha até esquecido como era conversar com Shindou sem brigas. Em quanto lanchavam todos falavam e contavam piadas como era nas noites depois dos jogos. Ele sentia mais falta daquilo do que imaginava, acima de tudo estava adorando ver o sorriso de Shindou e a risada recatada que às vezes o pianista soltava.

— Aí aqueles caras vieram achando que o Tenma e o Shindou não eram de nada — continuou Tsurugi que falava do último jogo. — Passaram o jogo todo dizendo que eles seriam os alvos mais fácies, vocês tinham que ver quando eles juntos driblaram os caras deixando eles no chão e ainda fizeram um gol combinado. Acho que ele não vão mais querer jogar de novo.

— Sim, foi ótimo tirar o sorriso da cara deles — Shindou cruzou os braços. — Ninguém me subestima ou meu time.

— Realmente, você costuma ser bem surpreendente... — soltou Ibuki. — Principalmente entre quatro paredes.

Ele falou a última parte baixinho, apenas Shindou ouviu, mas foi o suficiente para ele engasgar com o refrigerante e corar fortemente.

— Porra Ibuki!

Os outros encararam Shindou, se possível ele corou mais ainda ao perceber o que tinha dito.

— Takuto, você... Isso foi um palavrão? — perguntou Kirino surpreso.

Shindou suspirou, era bem irritante não poder falar palavrão perto dos amigos, eles tinham uma imagem dele sempre elegante, correto e bem educado, ele acabava ficando preso naqueles adjetivos. Porém quando estava sozinho com Ibuki era diferente, ele podia xingar, podia blasfemar enfim, podia não ser o garoto pianista criado em um berço de diamante. Talvez fosse isso que mais sentia falta, na companhia de Munemasa ele podia ser ele mesmo.

— Foi...Reflexo... — respondeu tentando inventar uma desculpa. — Eu acho que já quero ir para casa.

— Bom, eu preciso mesmo ir pegar meu carro — Yuuichi olhou seu relógio. — O Tayou chega hoje, vai poder passar dois meses em casa.

— Por quê? Está de férias? — perguntou Tenma.

— É por causa da doença dele, quatro meses jogando e depois descansando, ordens médicas — explicou Yuuichi. — Ele tem sorte de jogar tão bem que ninguém liga pra isso.

A despedida foi rápida, Tenma e Tsurugi disseram que iriam voltar a pé já que estavam a poucos quarteirões de casa, então bastou a Shindou deixar Yuuichi em casa.

— Precisar pegar algo na sua casa? — perguntou Takuto quando ficou a sós com Kirino.

— Você sabe que não, a quantos anos tenho uma mala no seu quarto? Quatro? Cinco?

— Eu diria seis,  eu colocaria uma cama extra se você não surtasse sempre que falo sobre isso.

— Não surto — Kirino estalou o pescoço. — Você ainda tem a chave do bar do seu pai?

— É claro. Por quê?

— Estou precisando me embebedar essa noite.

Shindou teve que concordar com ele, no dia seguinte era sábado então eles não precisariam se preocupar com o trabalho ou a faculdade, apenas com a ressaca. O bar do seu pai era bem equipado, havia bebidas dos mais diferentes tipos e gostos, ele não tinha permissão para usar tudo, mas dava para se divertir.

— Takuto, você me deixa mal acostumado — sorriu Kirino quando sentaram no bar. — Ter um melhor amigo rico é pra poucos.

— Por que isso agora? — Shindou lhes serviu outra dose do coquetel. Um de seus muitos talentos era a habilidade de barman. — Geralmente você só vem com essa conversa depois de ver seu presente de aniversário ou natal.

— Você é meu presente diário Takuto.

Shindou riu, o rosado já estava ficando bêbado? Esquecerá que Kirino era fraco para álcool e que precisava fazer doses fracas. Kirino era o tipo bêbado sincero, ficava falando sem pensar e de manha não lembrava nem de metade do que tinha feito e falado. Shindou já estava acostumado, seu tipo de bêbado era o sonolento, quando menos percebia estava caindo de sono, mas ele demorava muito a ficar bêbado.

— Fico lisonjeado com isso, mas acho que as coisas que compro para você são mais caras.

— Você sabe que eu anda te amaria né? Mesmo se sua família fosse à falência, mesmo se você não fosse tão bonito...

— Sim Kirino, você já me disse isso mais vezes do que disse seu nome.

— Eu sei, eu sei — ele se debruçou sobre o bar, as mãos apoiadas no queixo. — Eu continuo repetindo na esperança de fazer efeito um dia.

— Você não está bêbado ainda, está?

Kirino o encarou e piscou antes de abrir um sorriso maroto. Não, ele não estava bêbado.

— Eu teria feito você bem mais feliz... Sabe disso, não é?

— Precisamos passar por isso de novo? Da última vez você saiu correndo da casa, tive que mandar os seguranças te trazerem de volta antes de algo acontecesse.

— Não preciso que converse comigo, quero apenas que me escute! — gritou Kirino batendo o punho com força na bancada do bar — Meus sentimentos por você não são mais segredos desde o nosso ensino médio, você sabe o quanto eu te amo, mesmo assim eu aguentei ver você namorando com o Munemasa, aguentei ver vocês dois juntos, aguentei você não poder sair comigo por que tinha que ficar com ele... Já se pergunto o por que?

Shindou não respondeu, apenas virou a dose de coquetel e tornou a encher o copo.

— Por que, por mais que eu odeie aquela girafa, ele fazia você feliz. Seus olhos brilhavam como nunca brilharam para mim, você estava sempre sorrindo, estava mais solto, mais confiante. Vocês se amavam, até um cego perceberia aquilo.

— Por que estava me dizendo tudo isso? Sabe pedi para você vim hoje para me ajudar a esquecer ele, e...

— Por isso eu preciso lembrar por que vocês terminaram, lembrar por que você quebrou o nariz dele! Takuto, ele traiu você, ele te traiu com aquela garota intercambista por semanas! Lembra? Lembra que você os pegou juntos naquele cinema?

As lembranças voltaram girando na cabeça de Shindou. Sim, isso mesmo! Foi por isso que ele é Munemasa romperam. As lembranças daquele dia estavam tão enevoadas, ele as apagou de sua memória para tentar esquecer a dor que sentiu, dor que passou e muito a do braço quebrado. Sem perceber começou a chorar, aceitando o abraço de Kirino ele se permitiu descarregar a frustração no ombro do amigo.

— Agora eu lembro, a garota era do time, era nossa amiga — disse Shindou entre soluços. — O Kariya já tinha me dito que os viu juntos, mas eu não quis acreditar.  Ah Ranmaru, eu não queria ter lembrado-se disso de novo.

— Sinto muito, mas eu precisava fazer você lembrar, era a única forma de evitar o que você estava quase fazendo.

— E o que seria?

— Se jogando nos braços do Munemasa de novo.

 



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