1. Spirit Fanfics >
  2. Uma Razão Para Continuar >
  3. Confidências

História Uma Razão Para Continuar - Confidências


Escrita por: LilyMPHyuuga

Notas do Autor


Leitores mais lindos, mais um capítulo pra vocês! Quero agradecer aos comentários e favoritos! Eles me animaram muito, e me incentivaram a continuar! *-*
Lembrando: textos em itálico são lembranças ou trechos de músicas.
Todos os créditos ao autor da fanart.
Capítulo "um pouco" mais longo. Espero que gostem! =)

Capítulo 2 - Confidências


Fanfic / Fanfiction Uma Razão Para Continuar - Confidências

Naruto mal dormiu. Assim que o despertador tocou, ele o silenciou no segundo seguinte. Correu para o banheiro, se arrumou e desceu as escadas correndo. Desviou de um soco de Kushina a tempo quando ela o viu engolir a comida.

- Coma devagar, garoto! – A poderosa ruiva brigou cedo – Vai acabar passando mal desse jeito!

- Estou com pressa – falou de boca cheia.

Não conseguiu fugir do tapa dessa vez. O braço ficou ligeiramente dolorido, mas ele não ligava. Precisava sair de casa o quanto antes...

- Bom dia, mãe – deu um beijo na mulher.

- Não vai esperar o seu pai?

- Não dá, desculpa! – Correu para a saída – Dê bom dia a ele por mim, por favor!

Olhou o relógio. Sete horas. Daria tempo, ele pensou aliviado. Mas correu mesmo assim. Chegou ofegante no portão do colégio. Deu alguns acenos ao passar feito um furacão no meio dos alunos, enfim chegando ao seu destino.

Ela tinha fones nos ouvidos enquanto colocava os livros na mochila. Distraída e com um sorriso singelo no rosto, talvez apreciando uma canção. Perguntaria dela qual era a escolha da vez, para poder ver mais vezes aquele sorriso.

Hinata percebeu que era vigiada. Olhou para os lados e o encontrou. Fechou o armário. O coração de Naruto foi à boca quando notou que ela corava. Nem pensou duas vezes antes de vencer os poucos metros que os separavam, largando a mochila no último passo e passando os braços ao redor da cintura fina, elevando-a a poucos centímetros do chão. Ela deu um gritinho de susto, e o agarrou por reflexo. Recuperado o choque, a morena retribuiu o abraço com tanta força quanto ele.

- Bom dia, Naruto-kun.


“Cada gesto, cada som da sua voz
Toca fundo dentro de mim
Não sei por que
Preciso tanto estar com ela”

(Estranhos Como Eu – Ed Motta)

 

Há meses ela só se referia a ele como “Naruto”. Cresceram juntos, e Hinata sempre fora muito educada com os sufixos. Infelizmente, foi somente depois do acidente que percebeu o quanto adorava quando ela o chamava de “Naruto-kun”.

Naruto não era tão idiota quanto parecia. Ele notou o esforço constante da garota em tentar afastá-lo, cortar os laços. Mas o rapaz sempre fora o mais teimoso da equipe: jamais ficaria longe da garota que amava...

Ficara chateado no dia anterior, quando ela o expulsara de forma grosseira de sua casa. Sabia que era mais uma crise da moça, mas na hora da raiva, ele não conseguiu pensar no porquê daquela atitude. Fora para casa e ignorara o mundo ao redor. Passara a tarde vendo filmes e jogando videogame para se distrair. À noite, quando Sasuke ligara apenas para passar o tempo, ele enfim olhou para a data no visor do celular. Dois de janeiro... Seis meses que sua “tia” Naomi e sua “prima” Hanabi tinham falecido. Se sentiu um idiota por ter esquecido aquele dia tão importante! Ligou para Hinata em seguida, desesperando-se a cada ligação não-atendida. Na quarta chamada, quando ela atendeu e ele gritou feito um desesperado, não imaginava o susto que seu coração levaria.

“D-Desculpe, Naruto-kun”.

O “kun” voltara...

“Não, não podia ser” – sua mente imaginou que pudesse ter ouvido errado. Brigou com ela por causa do suposto banho demorado. Até que a confirmação veio para fazê-lo cair sentado na cama, abobalhado:

“O que houve, Naruto-kun?”.

Abriu seu coração para ela, sem se importar com mais nada! Colocou um casaco e um cachecol enquanto falava com a moça, as lágrimas insistindo em querer sair e ele lutando para não desabar ao telefone.

- Eu estava louco com a sua demora em me atender. Estou do lado de fora da minha casa nesse momento. Estava pensando em passar aí e te dar o abraço que não dei hoje. O que acha?

“Por favor, diga que sim!”.

O “não” veio, mas ele não ficou tão surpreso. O choque veio depois que ela prometera o abraço pela manhã... E céus! Como sentira falta daquele abraço!

Seis meses! Seis meses que não sentia o calor de Hinata.

- Bom dia, Hina.

Adorava chamá-la assim. Lembrava tempos bons, tempos mais felizes. Tempos em que passava os dias criando coragem para confessar seus sentimentos...

Naruto, depois do diagnóstico de depressão da melhor amiga, rezava todos os dias para que a Hinata que tanto amava se recuperasse, que deixasse as feridas cicatrizarem. Seria loucura jogar uma notícia dessas assim, quando ela ainda parecia tão sensibilizada. Mas ele prometera a si mesmo: “Quando tudo estiver bem de novo, não vou mais hesitar. Ela saberá de tudo!”.

 

 

- Todos entenderam?

Kurenai terminou de explicar o exercício na lousa e se voltou para a turma.

- Eu não.

A mulher de cabelos e olhos negros parou no lugar. Hinata não costumava fazer perguntas em público. Não depois do acidente, pelo menos. Até Naruto a olhou meio surpreso, meio sorridente.

- De onde surgiu aquele “6x - 3”?

O loiro estava prestes a responder para ajudá-la quando viu... Ela apontava para a lousa, e a manga escorregara um pouco. Fora rápido, mas ele teve um ângulo privilegiado.

Desviou o olhar, trêmulo. Não conseguiu prestar atenção em mais nada.

Não era a primeira vez que via faixas como aquelas em pulsos...

Engoliu em seco e balançou a cabeça, afastando os pensamentos. Foi mais difícil do que esperava, mas ele conseguiu alguns minutos de distração no intervalo entre as aulas. As lições em si foram mais complicadas... Sentar ao lado de Hinata e ficar imaginando “bobagens” o consumiu durante quase toda a manhã.

- Você está me assustando – Sakura chamou sua atenção quando o último professor saíra e ele foi um dos poucos a ficar na sala. Olhou para o lado e viu que Hinata já partira. Ele bufou. – Está calado a manhã toda. Está tudo bem? – Naruto olhou para a amiga, que percebeu seu olhar sobre a carteira vazia ao lado. Ela hesitava. – É sobre a Hina?

Não respondeu. Era e não era ao mesmo tempo. A dúvida estava lhe corroendo, mas ele temia preocupar a amiga ainda mais.

Naruto, Hinata, Sasuke e Sakura cresceram juntos na vila de Konoha. Os quatro herdaram a amizade de suas mães, descobriram lugares incríveis e aprontaram de tudo. O loiro era o mais travesso, como esperado, mas sabia convencer os amigos a participarem de suas “aventuras”. Ele era a alma e alegria do grupo, o elo que os fortificava e os deixava unidos...

Até a morte de Naomi e Hanabi.

Hinata ignorou todas as condolências e visitas que recebeu. Afastou-se da melhor amiga, com quem dividia vários segredos. Afastou o amigo introvertido, mas que sempre a ajudava quando precisava. E tentou com todas as forças se distanciar do antigo garotinho que gritava aos quatro ventos que era o líder do grupo. O rapaz sempre alegre parecia murchar com a tristeza que assolava os quatro. Sakura e Sasuke sofreram com a separação tanto quanto Naruto, mas se distanciaram a pedido da morena. Foi somente quando Naruto contou aos amigos que Hinata estava com depressão que eles entenderam o motivo de tanta agressividade por parte da Hyuuga. Sakura fora a que mais sentira a separação, mas depois de enfim compreendê-la, fazia o possível para respeitar seu espaço, sem nunca desistir (assim como Naruto lhe ensinara) de reconquistar a amizade que passava por um período turbulento.

Sakura se preocupava demais com Hinata, assim como ele. Seria tolice jogar nas costas da garota apenas uma suspeita, então ele apenas negou com a cabeça e disse estar distraído com outras coisas. Não sabia se a moça de cabelos rosados acreditava nele ou não, mas ficou aliviado quando ela concordou com a cabeça e saiu da sala, deixando-o sozinho.

Nem percebeu o caminho até sua casa. Kushina sorriu abertamente quando o viu, lhe dando um abraço apertado como se tivesse passado dias sem vê-lo, ao invés de poucas horas. Ela notou seu semblante ao se separar depois de um longo minuto em que ele não quis se afastar.

- O que houve, Naruto?

O tom delicado e amoroso, tão contrastante com o seu natural, o pegou desprevenido. Os olhos marejaram, e ele se esforçou para não chorar na frente da mãe. Há meses não fazia isso.

- Eu não sei, eu... – Agarrou os cabelos, em agonia – Acho que estou ficando maluco!

Kushina lhe beijou as bochechas, doce. Sugeriu que ele tomasse uma ducha quente e relaxasse antes do almoço.

- Que tal tomarmos uma xícara de chocolate quente depois, para conversarmos melhor?

Aceitou prontamente. Foi para seu quarto, tomou um banho quente, vestiu uma roupa confortável e se juntou à mãe na cozinha.

- É a Hinata-chan de novo? – A ruiva não esperou que terminasse de comer, afinal ele mal tocara na comida. Levantou o rosto, surpreso.

- É tão óbvio assim? – Forçou um sorriso, que saiu mais triste do que esperava.

- Eu sei que gosta dela. É normal ficar assim quando estamos apaixonados.

Naruto não se podia ver no espelho, mas não duvidaria se o dissessem que estava da cor dos cabelos da mulher à sua frente.

- N-Não é i-isso, e-eu...

- Não me enrole, Naruto – balançou as mãos, empolgada. – Só a Hinata-chan que não repara. Você só falta babar por ela!

- Mãe!

- Vamos ao que interessa – interrompeu. – Eu sou uma garota. Eu posso ajudá-lo.

- Mas eu...

- Vai mesmo tentar me convencer que não está apaixonado por ela? – Levantou as sobrancelhas, deixando o garoto ainda mais nervoso.

- Não é por isso que estou assim – rendeu-se, mesmo corado. – Eu gosto dela, sim. Mas não é isso que me preocupa.

- Se está preocupado com retribuição, está perdendo seu tempo – cortou novamente. – Ela também gosta de você.

- Mãe!

Kushina deu uma gargalhada, quase o fazendo esquecer do verdadeiro problema. A mulher era uma luz em sua vida, mesmo que o deixasse envergonhado boa parte do tempo. Viu-a se levantar e retirar os pratos, lavando tudo depressa e se reunindo novamente à mesa.

- Não gosto de vê-lo triste, querido – tinha o rosto apoiado nas mãos, e Naruto não pôde deixar de notar o quanto era linda. E fofa, às vezes. – Sempre que estiver para baixo, pode vir falar comigo. Sempre.

- Eu sei.

Forçou um sorriso para a mãe enquanto procurava as melhores palavras para abordar o assunto.

- A senhora... – Hesitou – Viu? Quando ele...?

Engoliu em seco, sem conseguir continuar. O sorriso de Kushina sumira.

- Vi.

- Como era?

A mulher estremecera.

- Nada agradável. O que isso tem a ver com a Hinata-chan?

 Olhou para as mãos, desviando o olhar pesado da mulher. Não era um assunto que ela gostava de lembrar, mas ele não encontrou outra maneira de começar.

- Eu acho que vi a Hina com um pulso enfaixado hoje...

Encarou os olhos violetas devagar. Pareceram marejados por um instante, mas ela piscou rapidamente, deixando-o na incerteza.

- Você acha?

- Foi muito rápido – esclareceu. – Posso estar enganado, mas... – Respirou fundo - Era muito parecido com o dele...

Eram raras as vezes que a Uzumaki ficava sem palavras. E todos esses momentos eram aflitivos para quem assistia. A seriedade, diferente da extrema raiva que sempre a acompanhava, não combinava com ela.

- Mãe...

- Eu a visitei uma vez – falou de repente, cobrindo parte do rosto com as mãos. – Depois da morte de Naomi e Hanabi. Antes dela voltar para a escola.

Naruto franziu o cenho.

- A senhora nunca me falou isso.

- Porque não precisava. Ela me ignorou como a todos. Não fiquei lá por muito tempo. – As mãos da mulher contornaram o próprio corpo, como num abraço – Ela ainda estava presa no torpor... Mas ainda soltou uma frase antes de me expulsar do quarto... – Suspiro – “Gostaria de ter ido com elas”.

O loiro fechou os olhos com força, deixando a cabeça cair sobre a mesa fria.

- Fale com ela, querido – bagunçou os cabelos dele com carinho, levantando o rosto sofrido do rapaz. – Você sabe, é o único a quem ela ainda escuta.

- Mas e se for verdade? – A angústia ficou clara em sua voz – Como vou lidar com isso? Mãe... – A mulher enxugou uma lágrima teimosa que correu pelo rosto do amado filho – Eu não sei se sou forte o bastante.

- Mas é claro que é! Você a acompanhou até aqui. Nunca desistiu dela... – A ruiva puxou a cadeira para mais perto da dele, dando-lhe um abraço apertado – Nós confiamos em você.

Recebeu um beijo tão carinhoso na bochecha, que desejou ficar ali no colo da mãe para sempre.

- Hinata-chan está doente, querido, mas você pode ajudá-la – os olhos violetas o admiravam, acreditavam nele. – O amor é mais forte que tudo! E lembre-se: eu estarei sempre aqui, para levantá-lo quando achar que vai cair. Estarei sempre ao seu lado... E ao lado de Hinata-chan também.

 

 

Apertou a campainha duas vezes antes de ouvir alguém correr para atendê-lo. Era Yoki, a governanta, que sempre sorria gentilmente quando o via.

- Naruto-kun, que bom vê-lo! – Abriu passagem para que ele saísse da neve – A srta. Hinata está lá em cima, no quarto. Pode subir.

Não era um costume comum deixar um garoto entrar no quarto de uma moça solteira, mas há alguns meses virara uma exceção na casa dos Hyuuga. Hiashi ficara enfurecido ao encontrá-lo saindo do quarto de Hinata na primeira vez em que fora visitá-la depois do acidente. Chamou-o para uma conversa particular, espumando de raiva e dando calafrios no garoto...

 

~*~

- Eu nunca o impedi de se aproximar de minha filha, Uzumaki – o homem falara assim que fechara a porta do escritório. – Mas acho que você passou dos limites.

- Entendo, senhor. – Não soube de onde tirara coragem para responder com naturalidade – Mas não o teria feito se Hinata aceitasse sair do quarto.

- Ela está em luto!

- Eu também estou! – Rebateu tentando controlar o nervosismo – Tia Naomi ajudou a me criar! Eu vi Hanabi crescer! Eu as amava!

- Mas é diferente, elas não eram...

- Minha família? – Cortou, exasperado – Eram sim! Sempre foram! Hinata é como uma irmã para mim! O senhor não pode me impedir de tentar ajudá-la a passar por esse momento difícil!

- E quanto a Neji? Não o vejo dando esse tratamento ao meu sobrinho!

- Eu falo com Neji todos os dias na escola! Eu e meus amigos nunca o deixamos sozinho, e ele sabe que pode contar conosco.

Parou de falar um pouco ao perceber que tremia. Fechou as mãos com força e se obrigou a sentar.

- Como o senhor não reparou que está sendo diferente para Hinata?

Hiashi deu a volta na sala, sentando-se do outro lado da mesa e fitando o loiro demoradamente.

- Ela estava lá... – Concordou o mais velho – Viu acontecer... É claro que a reação dela seria diferente.

- Eu ouvi sua conversa com a diretora Tsunade – interrompeu, aflito. – Não fiz de propósito, mas não consegui deixar de ouvir... – Hesitou – É verdade? Hinata está mesmo com depressão?

O Hyuuga estreitou os olhos ante à revelação, mas não falou nada a respeito. Apenas confirmou com a cabeça. Naruto encostou-se na cadeira, escondendo o rosto nas mãos. Respirou fundo algumas vezes antes de contar um segredo. Ainda tremia quando terminou de falar. Os olhos brancos de Hiashi estavam arregalados.

- Você a ama.

Não era uma pergunta, mas Naruto respondeu mesmo assim. Hiashi o imitou, soltando alguns suspiros antes de se levantar e decretar:

- Você tem a minha permissão para visitar Neji e Hinata sempre que quiser – Naruto o olhou surpreso. – Acredito em você, Uzumaki. Sei que respeitará minha menina, e a ajudará... – Andou até a porta, falando baixo, mas garantindo que Naruto o ouvisse – Ajudará meus meninos, já que eu mesmo não consigo fazê-lo...

~*~


“I wanted you to know that I love the way you laugh (Eu queria que você soubesse que eu amo o jeito que você sorri)
I wanna hold you high and steal your pain away (Eu quero te abraçar bem forte e levar sua dor para longe)
I keep your photograph and I know it serves me well (Eu guardo sua fotografia e eu sei que ela me faz bem)
I wanna hold you high and steal your pain (Eu quero te abraçar forte e roubar a sua dor)
Broken – Seether (ft. Amy Lee)

 

Hinata abriu a porta de repente, causando susto nos dois.

- Naruto-kun?! – Falou com as mãos sobre o peito, afim de controlar o choque – Há quanto tempo está aí? Eu já ia descer e perguntar se era você.

- Eu...

- Entre de uma vez!

Puxou-o para dentro do caos que estava o quarto da jovem. Ele não se impressionou. Havia dias em que o quarto refletia o estado de espírito da morena.

- Eu me distraí – respondeu.

- E pelo visto ainda está distraído – estalou os dedos, chamando sua atenção. Naruto a olhou sentada na cama, um livro ao seu lado. – Sente aqui.

- Resolveu ler o livro que eu te dei?

Ela o olhou um instante, sorrindo.

- Sim. Quis saber o motivo de tê-lo me dado.

- Era seu aniversário.

Hinata deu de ombros, convidando-o a ficar ao seu lado. Naruto atendeu o pedido, ainda meio absorto em pensamentos.

- Não trouxe livros hoje?

- Não vim estudar.

- Então o que devo fazer para entretê-lo a tarde inteira?

Naruto a olhou profundamente. Ela tinha um sorriso ansioso nos lábios, provavelmente nervosa com o próprio comentário. Fez com que se lembrasse do dia anterior, onde tentara convencê-la a passar uma tarde consigo.

Era um sincero e não-dito pedido de desculpas.

O loiro respirou fundo, sem desviar o olhar do dela. Hinata não sustentou por muito tempo depois que reparou a palma da mão do garoto, aberta sobre sua coxa. Um suspiro aliviado e ela o atendeu, segurando a mão dele com a sua. Naruto voltou o olhar para as mãos entrelaçadas, sentindo o coração bater forte.

- Não fuja.

A voz não passou de um sussurro. Não viu o semblante confuso da garota, e nem precisou adivinhar seu choque quando ele afastou devagar a manga comprida, revelando o pulso enfaixado que ele vira pela manhã. Hinata não se afastou, como pensou que faria. Porém, ouviu sua respiração acelerada quando o rapaz começou a desfazer a atadura.

- O que está fazendo, Naruto-kun? – Pareceu receosa.

- Tirando uma dúvida.

Tirou completamente a fita, deixando-a de lado. Hesitou várias vezes, mas enfim tomou coragem para virar o pulso descoberto. Ainda havia uma gaze, que ele também não teve dificuldade para remover. Difícil foi controlar o arrepio e o tremor quando viu o corte suturado atravessando a pele levemente arroxeada, contrastando com a alva. Não teve coragem de soltá-la, ou tirar os olhos marejados dali e encarar os perolados de Hinata.

- O que é isso, Hina?

- Como você soube?

A frieza dela o assustou. Não teve como evitar seu rosto quando ela puxou o braço de volta e refez o curativo, escondendo-o sob a manga novamente.

- Como eu soube?! – Retrucou – Acho que, de todas as perguntas, essa é a menos importante.

Hinata não respondeu, saindo da cama e ficando de costas para ele, próxima à janela.

- Quando foi isso, Hinata?

- Ontem à noite. Pouco antes de você ligar.

A respiração ficou entrecortada. Sentiu uma dor no peito vagamente familiar, mas que há tempos não o visitava. Engoliu em seco e tentou controlar o nervosismo crescente, à medida que Hinata falava como se não fosse nada importante:

- Você sabe como é, Naruto? Ter que aguentar algo assim?

O “kun” sumira novamente. Hinata estava fria como gelo, e isso não o ajudava a tomar coragem nem um pouco.

- Não, é claro que não sabe... – Ouviu-a brincar de leve com a cortina, entretida – Levantar todos os dias e recitar o mantra “eu vou ficar bem, eu vou ficar bem, como todas as outras vezes”. É bem simples, na verdade. É só colocar a droga de um sorriso no rosto e dizer a todo momento que estou bem. – Abaixou um pouco a voz, mas ainda assim Naruto conseguiu ouvi-la – Ninguém irá perceber que minha alma está gritando por socorro.

Um silêncio perturbador tomou conta. Naruto se pôs de pé e caminhou até a porta. Hinata se virou quando ouviu o girar da maçaneta.

- Eu entendo que dói, Hinata. Entendo mesmo – viu o rosto surpreso ao notar sua voz falhando. – Mas não espere que eu aja de forma tão indiferente quanto você. Eu... – Respirou fundo uma última vez, controlando as lágrimas – Isso – apontou para o braço dela – eu não posso aguentar.

Não se deu ao trabalho de fechar a porta ou despedir-se. Sabia que ela não correria atrás dele.

 


“Cause I'm broken when I'm lonesome (Porque eu fico em pedaços quando fico solitário)
And I don't feel right when you're gone away (E eu não me sinto bem quando você vai embora)
Broken - Seether (ft. Amy Lee)

 

Era sexta-feira. Três dias após o encontro desastroso com Naruto. Suspirou algumas vezes, olhando para o lado pela milionésima vez, como se o rapaz fosse magicamente aparecer na sua carteira na sala de aula.

Era também o terceiro dia que ele faltava a escola, o que tornava mais fácil pensar que era por culpa dela. Então resolveu fazer algo que não fazia desde o ano letivo anterior:

Saiu da sala na hora do intervalo.

Os olhares surpresos foram muitos, mas a garota os ignorou, como sempre. Não foi difícil encontrar cabelos rosados na lanchonete, que balançavam graciosamente por causa de uma doce gargalhada contada por Ino. Forçou um sorriso e se aproximou.

- Sakura – certificou-se que ela ouviria ao tocar um ombro da garota. – Sakura, podemos falar?

Os olhos esverdeados se alegraram ao vê-la. Concordou com a cabeça, passando o braço pelo de Hinata, e saindo animadamente de perto dos alunos barulhentos. Entraram em uma sala vazia no primeiro corredor. Sakura a olhava ansiosa.

- A que devo a honra de sua presença no recreio? – Brincou a Haruno, o que arrancou um sorriso verdadeiro da morena.

- Desculpe, eu não queria atrapalhar seu lanche, eu...

- Ora, por favor! Eu nem estava comendo! Vamos, diga: o que há?

- Eu queria saber... Bem... Queria saber se você tem notícias de Naruto.

O sorriso de Sakura sumira. Hinata lamentou o fato. Sempre achara o sorriso da amiga muito bonito.

- Eu tentei ligar para ele, mas sempre cai na caixa postal. E como você mora na mesma rua que ele, eu pensei...

- Pensou que eu o teria visitado e cobrado satisfações por ter faltado aula – completou por ela, soltando o ar no final, cansada. – Pensou certo.

- É? – Animou-se – E então?

- Não cheguei realmente a vê-lo. Só falei com tia Kushina. Ela disse que ele anda irritadiço, não quer falar com ninguém e se trancou no quarto.

- Por quê?

- Não faço ideia – deu de ombros, chateada consigo mesma. – Tentei arrombar a porta, mas tio Minato não deixou. Naruto não quis falar comigo.

- Ah...

Hinata estava prestes a agradecer e dar as costas quando Sakura a chamou:

- Por que você não vai visitá-lo?

- E-Eu?

- Sim.

- M-Mas e-eu...

- Nossa, fazia tempo que não a via gaguejar! – O sorriso da moça alargou-se – E nem corar também!

- S-Sakura!

A mais velha pulou nos braços da outra, contente como nunca.

- É muito bom ver que está voltando – Hinata fechou os olhos com o beijo carinhoso na bochecha. Sakura se afastou, sorrindo doce. – Vá vê-lo. Ele não vai te morder, eu juro.

Deram risinhos baixinhos antes de se afastarem de vez.

- Aproveite e passe lá em casa depois – Sakura falou da porta, acenando um adeusinho. – Podemos fazer um bolo e deixar mamãe louca por mexermos na cozinha dela. O que acha?

Um sorriso brincou nos lábios de Hinata.

- Parece uma boa ideia.


“The worst is over now and we can breathe again (O pior já passou e nós já podemos respirar de novo)
I wanna hold you high, you steal my pain away (Eu quero te abraçar bem forte, você tira a minha dor)
There's so much left to learn (Há muito o que aprender)
And no one left to fight (E ninguém para lutar)
I wanna hold you high and steal your pain (Eu quero te abraçar bem forte e roubar sua dor)
Broken - Seether (ft. Amy Lee)

 

Ainda demorou outros três dias para que tomasse coragem para sair de casa por outro motivo que não fosse a escola ou o cemitério. Era segunda-feira, completando exatos sete dias que não via ou falava com Naruto. Foi somente depois dessa contagem, no entanto, que ela reuniu forças e avisou ao primo (seu pai não estava em casa, para variar) que visitaria o amigo. Viu um brilho nos olhos de Neji, o que a deixou encabulada e fez com que saísse mais depressa.

Sete dias...

Odiava ter que admitir, mas estava saudosa do melhor amigo.

Sorriu com a descrição. Melhor amigo... Era assim antes, não era? Poderiam voltar a sê-lo, pensou a jovem. Ela não se importaria, sem dúvida. Já se reacostumara (demais) com a presença escandalosa do Uzumaki. Os últimos dias foram de um silêncio estarrecedor!

Kushina atendera a porta quando ia apertar a campainha pela segunda vez. Viu o rosto bonito da ruiva se transformar de surpreso para alegremente emocionado.

- Hinata-chan! – Sufocou a garota num abraço – Que bom vê-la, menina linda!

Hinata não sabia se corava ou se ria com os beijos espalhados em seu rosto.

- Ai, que falta de educação a minha! Entre, querida – abriu espaço e entrou com a morena. – Estou preparando o jantar. Vai ficar para comer conosco, não é?

- Espero que sim.

Lançou um olhar rápido para as escadas, o qual Kushina entendeu perfeitamente: tudo dependeria de como Naruto receberia a surpresa.

- Já faz uma semana que só consigo convencê-lo a sair para tomar banho e comer – falou meio tristonha. – Veja se consegue fazer um milagre por mim, querida. Ele sempre gostou muito de você.

Concordou de leve, e Kushina a deixou sozinha aos pés da escada. Seu olhar recaiu num porta-retratos em cima do aparador, o que arrancou dela um sorriso. Naruto há anos implorava para que a mãe tirasse aquelas fotografias da sala de estar, mas dona Kushina era dura na queda! Encontrara quatro pequenas fotografias no quarto do filho, do tipo tirada em cabines. Amara todas, mandara ampliá-las e as colocou na sala, para qualquer um ver. Os quatro amigos ficaram chocados ao vê-las pela primeira vez.

Três fotos cheias de caretas e olhares irritados. Uma última levemente decente. Hinata quase riu ao lembrar daquele dia.

           

~*~

Não tinham dinheiro suficiente para tirarem as fotos que queriam.

Naruto queria uma foto em conjunto e outra só com Hinata. A morena queria uma em conjunto, e mais três, cada uma com um amigo. Sakura queria uma com Hinata e com Sasuke. Naruto revidou mostrando-lhe a língua. Sasuke estava odiando aquela ideia de tirar fotos.

- Vocês são um bando de malucos – o jovem Sasuke bufou mais uma vez. – Sabia que eu devia ter ido para casa com Itachi.

- Não seja chato, Sasuke! – Brigou o loirinho – Vai ser legal.

- Em que parte brigar por dinheiro e fotografias está sendo legal? – Rebateu – Se vocês queriam fotos, bastavam pedir da mãe de vocês.

Os outros três, que ainda brigavam entre si, ficaram envergonhados com a ideia não-pensada.

- Agora é tarde, já estamos aqui – salvou Hinata. – Vamos logo com isso, antes que nossos pais descubram que fugimos de novo.

Estavam no centro do vilarejo, aguardando na fila da cabine de tirar fotos e contando as poucas moedas que tinham enquanto isso. O dono da cabine estranhou ao ver quatro jovens de dez anos, sem nenhum responsável por perto, pararem na sua frente.

- Quantas fotos conseguimos com isso? – Sakura entregou o dinheiro ao homem. Ele contou as moedas e deu de ombros:

- Quatro.

- Quatro? Só? – Naruto e Sakura berraram.

- Estou sendo gentil. Ainda faltam dez ienes aqui para o conjunto com quatro fotografias.

Aceitaram o acordo, e a velha discussão de como ficariam as fotos recomeçou. O homem, ao perceber a briga, tratou de passar um casal na frente deles, para poupar tempo e dor de cabeça.

- Que tal uma com todo mundo, outra minha com a Hina, outra com Sasuke e Sakura e a outra com Hina e Sakura?

- Parece bom para mim – concordou Sakura, enfim.

- Mas ainda falta uma minha com Sasuke-kun – Hinata falou triste.

- Ainda terá a foto com nós quatro, Hina - Naruto respondeu meio enciumado.

- Não é a mesma coisa. E você e Sakura? Como ficam?

- Não quero tirar foto com Sakura-chan! Já tenho um milhão de fotos com ela de quando éramos pequenos!

- Eu também tenho outro milhão de fotos com Naruto, Hina – concordou a pequena ruivinha. Sakura só mudaria a cor dos cabelos quando entrassem no Ensino Médio.

- Mas ainda são quatro fotos! – Insistiu a mais nova – Como faremos a divisão?

Ficou bem óbvio que também não tinham pensado naquilo antes, pois três rostos voltaram a enrubescer.

- Eu fico com a de todo mundo – decretou Sasuke. Naruto e Sakura o olharam chocados. – O quê? Já me trouxeram aqui. Quero uma foto para mim. São quatro: uma para cada um.

- Então é melhor todas serem de nós quatro! – Analisou o loiro – Para pararmos com a briga.

Só não pensaram no espaço na hora de entrarem. O dono da cabine, já sem paciência para a briga, mandou os quatro entrarem e falou que o acionamento da cabine era a cada trinta segundos. Para quatro crianças, era tempo demais para esperarem...

Mas, ao mesmo tempo, para quatro crianças, trinta segundos pareciam tempo de menos para se organizarem antes dos flashes.

A primeira foi uma confusão para se arrumarem. Rostos foram tampados com braços e Naruto e Sasuke quase saíram brigando, não fossem as meninas a pararem os dois.

A segunda foi menos pior. O humor dos meninos ainda não era dos melhores, principalmente quando foram colocados lado a lado. Hinata e Sakura descobriram muito tarde que quase não sairiam na foto, então empurraram os garotos para o lado com força a tempo. Resultado: Sasuke caindo por cima da metade de Naruto, e Hinata e Sakura forçando sorrisos ao imprensarem os outros dois para a parede.

A terceira saiu mais organizada. Sasuke e Naruto atrás das meninas, que se abaixaram um pouco e fizeram caretas. Naruto ainda estava emburrado por ter sido amassado na última foto. Sasuke estava tão indiferente quanto sempre.

A quarta foi a melhor, para todos os efeitos. Sakura puxou Naruto e trocou de lugar com ele. Combinou com Hinata como ficaria a última foto e apanharam os meninos de surpresa. No segundo antes do flash, Hinata e Sakura beijaram a bochecha de seu respectivo par, causando surpresa e um leve rubor neles.

Foram ingênuos na divisão das fotos. A briga pela última foi quase uma guerra mundial. O dono da cabine os expulsou antes que o restante da fila o fizesse.

Naruto acabou ficando com elas por pura sorte.

Ou azar, dependendo do ponto de vista.

Kushina descobrira a fuga dos quatro: Naruto ficou de castigo por uma semana.

~*~

 

Não sentiram tanta falta da quarta foto depois que ela ficou exposta para Deus e o mundo verem. Juntaram dinheiro e planejaram uma saída melhor ao centro, e cada um tirou as fotos que queria. Menos Sasuke, é claro – ele se contentou com uma foto do grupo mesmo.

- Não estou com fome! – Ouviu a voz de Naruto quando bateu na porta – Eu desço depois!

Abriu a porta devagar. O quarto estava parcialmente escuro, com somente a luz do computador se espalhando pelo ambiente. Naruto estava de costas para ela, com fones nos ouvidos, e não notou sua presença. Hinata fechou a porta, ficando nas sombras. Olhou para a estante ao seu lado, rapidamente encontrando as fotos que Naruto tirou na segunda vez: uma com todos e outra somente com ela. Sorriu bobamente. Tinha uma cópia daquela no seu criado-mudo – ela a resgatara há poucos dias, quando a saudade do rapaz aumentou a ponto de sufocar.

Naruto não se virou. Ainda estava entretido com algum filme, Hinata supôs. Deu de ombros. Imaginou que adoraria ver a cara de susto quando ele a encontrasse...

Largou a bolsa e a jaqueta no porta-casacos. Olhou toda a estante do rapaz até perceber que ele era um alvo difícil. Devia ter se lembrado, afinal. Naruto poderia ser extremamente extrovertido, mas quando parava para se concentrar... Somente uma bomba para tirá-lo do mundo dos pensamentos!

Sentou na cama e depois deitou-se. Praguejou quando ela não fez nenhum barulho. Deitou-se de barriga para baixo, as pernas balançando de leve para cima. Olhou para a tela no computador. Era definitivamente um filme. E dos mais sangrentos, do jeito que ele gostava. Hinata agradeceu quando ele mexeu o mouse sem-querer e revelou que faltava pouco mais de cinco minutos para o fim. Comeu a pipoca que ele largara sobre a cama. Ainda estava boa.

O filme acabara. Naruto navegou pelas opções sugeridas pelo site, e Hinata enfim decidiu se manifestar:

- Se você já leu o livro, eu não recomendo esses filmes d'O Hobbit.

O susto fora mais violento do que ela esperava. Naruto deu um berro, pulando da cadeira, se desequilibrando e caindo no chão com força. Como ainda estava preso ao computador pelo fone, levara o gabinete junto. Por sorte, ele o aparou a tempo, mas o monitor apagou quando os cabos foram puxados.

Hinata ficou estática no lugar, os olhos animadamente arregalados.

Kushina e Minato apareceram na porta, desesperados.

- Meu Deus, o que houve aqui?

Kushina parou na porta e começou a gargalhar. O Namikaze foi mais companheiro, ajudando o filho a se levantar e a arrumar o computador.

- Foi um vídeo que vi – falou o garoto ruborizado. – Tomei um susto.

- Bem-feito – replicou a mãe. – Para parar de ver essas porcarias.

- Eu não sabia que ia levar um susto.

- Se assiste essas porcarias, como espera não levar um susto?

- Não é porcaria, eu... – Olhou de relance para Hinata, que permaneceu sentada na cama enquanto toda a confusão se desenrolava. – Foi só um susto. Já passou.

- O jantar está quase pronto – Kushina falou da porta. – Podem descer em vinte minutos.

E fechou a porta sem delicadeza assim que Minato também passou por ela.

- O que está fazendo aqui?! – Hinata se surpreendeu com a velocidade que ele se dirigiu a ela – Quer me matar do coração?!

- Relaxe, eu não o peguei fazendo nada de mais – provocou, o que o fez ficar vermelho por um instante.

- Há quanto tempo está aqui?

- Poucos minutos. Você ouviu quando eu bati na porta.

- Era você? Por que não se anunciou?

- Quis fazer uma surpresa. Não foi minha intenção assustar seu frágil coração.

A morena abriu um sorriso esperto. Desejou fortemente que ele a puxasse para um abraço, igual ao que dera na semana anterior. Ficou frustrada, porém, quando ele soltou um suspiro e voltou a se sentar na cadeira da escrivaninha, de frente para ela.

- Não a esperava aqui.

- E eu não esperava que você fosse sumir por uma semana inteira.

Naruto baixou os olhos, envergonhado.

- Por que faltou a escola, Naruto-kun? – Tentou não parecer severa ao adicionar o sufixo, mas não soube se funcionara – Seus pais estão preocupados. Nossos amigos têm perguntado por você, e nem para atender a droga do celular você serve!

- Descarregou – falou simplesmente, ainda sem olhá-la.

- E você deixou de ter tomadas desde quando?

- Eu... Eu queria ficar sozinho.

- Por uma semana inteira?

- Você ficou bem mais tempo quando tia Naomi e Hanabi se foram.

Hinata, que tinha uma resposta na ponta da língua, travara com o corte. Engoliu em seco e fechou as mãos com força, lutando contra o instinto de fugir dali o mais depressa possível.

“Não, você veio por Naruto-kun”, pensou com todo fervor. “Não ouse fugir quando seu amigo precisa de você!”.

- Alguém morreu? – A voz saiu seca. A demora por uma resposta a fez arregalar os olhos. – Por Deus, quem foi?

Viu os lábios dele tremerem antes de pronunciarem baixinho:

- Lembra-se de meu primo Konohamaru?

Ela tampou a boca com as mãos, chocada.

- Céus! Quando aconteceu? Como?

Naruto levou ainda mais tempo para responder. Hinata se aproximou com cautela, segurando as mãos do rapaz com tanto carinho que ele pareceu se acalmar ao vê-las unidas novamente.

- Pouco depois de tia Naomi e Hanabi – gaguejou. – Uma semana depois.

Naquele mesmo dia, pensou assustada. Exatos seis meses.

- N-Naruto-kun...

Teve medo de perguntar, mas ele prosseguiu, roubando-lhe o ar:

- Ele cortou os pulsos.

 


“Cause I'm broken when I'm open (Porque eu fico em pedaços quando me abro)
And I don't feel like I am strong enough (E eu não me sinto como se fosse forte o bastante)
Broken - Seether (ft. Amy Lee)

 

Não teve coragem de encarar os possíveis olhos atemorizados. Sabia que ela faria as contas. Sabia que ela ligaria os pontos e entenderia, sem maiores explicações, do porquê ter se distanciado dela durante aquela semana.

Konohamaru era seu primo favorito...

Era um garoto esperto e falante, o xodó das meninas quando ele aparecia na vila, pois morava na vizinha devido ao trabalho dos pais. Adorava quando passava o fim de semana na casa dos Uzumaki-Namikaze, pois era certeza de ser paparicado por todos, principalmente por Hinata. O garoto também corava violentamente quando Hanabi aparecia para brincar, com Naruto sempre desconfiando que o primo tivesse uma queda pela Hyuuga mais nova. Não tirava sarro do menino, afinal, ele sabia o que era ser atraído por uma morena de olhos perolados...

- Ninguém nunca me contou – desculpou-se a jovem.

- Eu e meus pais não contamos para ninguém – justificou. – Não é uma boa notícia... Não seria depois do que aconteceu com você...

Hinata puxou as mãos de volta, e de repente ele sentiu as mãos ficarem frias. Deixou-as no mesmo lugar, na esperança de receber o calor da amiga novamente.

- Me desculpe, Hina, eu... Eu não tenho coragem de passar por isso de novo... Quando eu soube da morte de Konohamaru, quando eu soube como e o porquê... E ver você... Eu não sei como...

- Você tinha razão – calou-o de repente. – Minha pergunta foi inútil. Não é importante saber como você descobriu. Mas eu tenho algumas melhores.

Levantou o rosto para olhá-la. Os olhos brancos estavam firmes em sua direção, o semblante entristecido como o dele.

- Quer saber por que eu parei? O porquê de não ter levado a ideia adiante?

Naruto teve vontade de responder. E muita. Mas teve medo. E se fosse pior do que pensava?

Hinata o surpreendeu ao segurar suas mãos de novo, puxando-o para sentar ao lado dela. Ambos fitaram as mãos, sentindo-se covardes demais para perderem-se nos olhos um do outro.

- Não tenho como provar o que falo, então terá que confiar em mim, ok? – Ele confirmou baixinho – Eu tinha acabado de voltar do cemitério. Estava triste novamente...

- Eu imagino.

- Não me interrompa, senão vou perder a coragem.

A falsa briga fez aparecer um mínimo sorriso no rosto dele, o que a acalmou um pouco.

- Enfim... Voltei para casa e me tranquei no banheiro. Estava indo tomar um banho quando vi a lâmina em cima da pia. Eu... – hesitou – Eu não vi motivos para não fazer aquilo. Não havia nada que me prendesse aqui, nada que me impedisse de me unir à minha mãe e à minha irmã. A saudade é realmente capaz de matar uma pessoa...

Naruto teve vontade de interromper novamente, argumentar, implorar para que ela tenha mudado de ideia.

Implorar para que ela ficasse por ele...

- E eu fiz. Três pontos – mostrou o pulso descoberto e já sem a costura. – Tirei hoje, aliás. Já estavam coçando como o inferno!

Naruto enfim olhou para o rosto pequeno, oval e delicado da Hyuuga. Ela tinha um sorriso doce, os olhos brilhando ao se sentirem atraídos pelos azuis.

- E aí você ligou. E eu tomei um susto, porque não sabia que tinha levado o celular para o banheiro! – Ela deu um riso fraco – Ignorei algumas vezes, mas o banheiro é pequeno, e o toque que você escolheu para quando você ligasse ecoava de forma absurda! Nem para morrer você me deixa em paz!

A brincadeira não o fez rir, mas Naruto não se chateou. Hinata estava com um humor mórbido, mas era melhor que humor nenhum.

- Eu não tinha percebido quem era até ver sua foto, de qualquer forma – ela continuou, leve. – Mas assim que o vi, um susto maior me tomou: o que você diria ao me ver daquele jeito?! Fiquei pensando em milhões de maneiras que você escolheria para brigar comigo e reduzir meu coração ao pó! Corri para pegar uma toalha antes de atendê-lo, tentando estancar o sangue enquanto tentava falar normalmente contigo. Acho que sua voz escandalosa no meu ouvido foi a única coisa que me fez não desmaiar!

O coração batia depressa com as informações. Era difícil decidir o que sentia: medo por aquela noite, ou alívio por ele ter feito com que ela mudasse de ideia?

- Não conte ao meu pai que peguei o carro dele escondido e fui a um hospital assim que desliguei a sua ligação, ok? Nem conte o que eu fiz. Não quero assustá-lo à toa.

- Eu não vou.

- Que bom – os olhos azuis fecharam-se com um beijo na bochecha. – Então eu quero agradecê-lo, Uzumaki ou Namikaze Naruto. Por ter salvado minha vida mais uma vez.

- Mais uma vez?

Ela confirmou com a cabeça, os olhos brilhando como se lessem sua alma.

- Quer ouvir como aconteceu?

O pequeno sorriso que ameaçava instalar-se no rosto dele desapareceu por completo. Curiosamente, no de Hinata permaneceu.

Engoliu em seco.

- Você quer contar?

- Quero – sua voz saiu tão suave como algodão.

- Então me conte tudo – decidiu, com uma coragem que não sabia ter. – Não esconda um detalhe.

 


“I don't mind spending everyday (Não me importo de ficar todo dia)
Out on your corner in the pouring rain (Na sua esquina debaixo de chuva)
Look for the girl with the broken smile (Procure a garota do sorriso partido)
Ask her if she wants to stay awhile (Pergunte se ela quer ficar um pouco)
And she will be loved (E ela será amada)
She will be loved (Ela será amada)
She Will Be Loved – Maroon 5

 

Olhava para a garota enfeitiçado. A gargalhada dela, que não ouvia há meses inteiros, voltou de surpresa, arrebentando corações depois de uma briga infantil entre ele e sua mãe. A indignação da ruiva arrancou sorrisos e risadas das pessoas mais quietas na sala de jantar.

Ele mal podia acreditar que Hinata estava ali, em sua casa, jantando com ele e seus pais, divertindo-se como nunca. Era daquela Hinata que ele sentia falta...

Tudo mudaria daquele dia em diante. Ela prometera.

Um sorriso bobo brincou em seus lábios enquanto fugia da conversa e perdia-se em pensamentos. Hinata contara, emocionada, tudo sobre o último fim de semana que passara com Naomi e Hanabi, e no quanto aquele fora o melhor passeio das três com o pior final possível.

- Hoje eu dou graças a Deus por Neji não estar em casa naquela sexta-feira – ela comentou a certa altura. – Não sei se aguentaria perdê-lo também.

Contou sobre o quanto Hanabi tirava sarro dela por causa de uma paixão não-correspondida – o que o pegou de surpresa, deixando-o curioso o suficiente a ponto de perguntar quem era o rapaz que roubara o coração da Hyuuga. Ela não respondera, obviamente, e ele concordou em deixar esse assunto específico para outra data. Hinata continuou falando sobre a rápida visita à loja de conveniência, dos sorrisos e danças da irmã caçula, do beijo soprado de sua mãe... E, de repente, uma faísca. Uma grande bola de luz. E então acordando no hospital com os gritos de Naruto.

Não soube se foi para acalmá-la ou para se acalmar, mas Naruto se sentiu confortável para falar de seu primo, morto uma semana depois. Konohamaru sofria bullying na nova escola, e os pais não ligaram muito até o garoto começar a se isolar dentro de casa e perder o ânimo para fazer o que sempre gostava. Todos pensaram que era uma fase (triste, é verdade), e que logo passaria. Kushina, numa missão dada por ela mesma, resolveu visitar o irmão na vila vizinha e brincar um pouco com Konohamaru. O clima em Konoha era horrível, e ela pensou que passar alguns dias fora pudesse melhorar um pouco o próprio ânimo. Não poderia estar mais enganada...

- Foi ela quem encontrou o corpo – lamentou o loiro.

Kushina ajudara o irmão com o velório e enterro, proibindo a mãe do garoto de vê-lo até o funeral, onde Konohamaru estaria mais... “Ele mesmo”, por falta de um termo melhor. Foi lá que Naruto viu os braços enfaixados e bem-disfarçados sob as mangas do fino paletó que o menino usava. Foi como descobrira sobre o corte no pulso da amiga.

- Ele tinha doze anos e uma vida inteira pela frente... Você não é a primeira pessoa com depressão que eu vejo, mas definitivamente é a primeira que vou ajudar!

Era uma promessa.

- Acho que vou aceitar sua ajuda...

Naruto teve vontade de beijá-la!

- Mesmo? Porque se aceitar, não tem como voltar atrás!

Ela ficou hesitante, mas fechou os olhos, respirou fundo e confirmou com um sorriso.

- Vai me visitar mais vezes – o sorriso dela aumentou. – Vai visitar Sasuke e Sakura também, porque eles sentem a sua falta.

- Sakura deve estar me esperando agora mesmo.

- Vou levá-la na porta dela, só por garantia – Hinata riu. – Vai abrir seus presentes de aniversário. – Antes que a pergunta fosse formulada, ele respondeu: – Porque eu sei que só deve ter aberto o nosso.

- Nosso?

- Sim, o livro foi ideia de Sasuke. Sakura escolheu o título. Eu paguei. Nosso.

Uma mão foi ao peito, como numa tentativa de controlar os batimentos acelerados. Naruto percebeu tudo com um rápido olhar.

- Vai voltar a frequentar as aulas de piano – a morena arregalou os olhos. – Pense como uma forma de lembrar de sua mãe e irmã. Elas adoravam quando você tocava! E eu também...

A aceitação demorou a vir. Foi a vez de Naruto sorrir.

- Vai voltar a sair com a gente – a garota quase protestou. – Nem que seja de vez em quando – falou rápido. Ela bufou, mas não negou. – E vamos voltar às aulas de natação quando chegar a primavera.

- “Vamos”?

- Você ainda não entendeu? Estou tentando reunir o grupo novamente.

Uma risada baixinha o acompanhou. Hinata cruzou os dois indicadores sobre os lábios, fazendo a mesma jura do grupo de quando eram mais novos.

- Por enquanto é só isso. Depois lhe passo a lista completa.

Hinata abriu a boca num “O”, fingindo indignação. Rindo, deixou que ele segurasse sua mão enquanto desciam as escadas para jantar. Os pais do garoto perceberam o contato, mas foram discretos o suficiente para fingirem normalidade. E, como prometido, Naruto a levou na porta de Sakura. A garota de cabelos rosados atendeu a porta furiosa, aparentemente por ter sido obrigada a fazê-lo. Tomou um susto ao ver os amigos ali, pulando nos braços de Hinata dois segundos depois. Naruto mal pôde se despedir, tamanha a animação da integrante mais velha do grupo. Um adeusinho rápido bastou para que ele voltasse para casa com um ar bobo.

Deitou-se na cama, feliz, revivendo com prazer as últimas duas horas na companhia de Hinata.

Estava leve, tranquilo, em paz consigo mesmo e com o mundo, um sorriso apaixonado teimando em ficar no rosto.

Então por que tinha a impressão de que estava esquecendo alguma coisa?


Notas Finais


Obrigada pra quem leu até aqui! xD
E desculpas se o capítulo foi muito longo. Acho que me empolguei. ^^"
Até o próximo (e último) capítulo! =*


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...