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História Uma Razão Para Continuar - Entrega


Escrita por: LilyMPHyuuga

Notas do Autor


Genteeeee!! Aos 48 minutos do segundo tempo!! kkkkk
Leitores do meu coração, eu ainda tenho algumas coisas para falar nas notas finais, mas, basicamente, é aqui que terminamos essa fic. Quero agradecer infinitamente a cada comentário, a cada favorito... Obrigada, de verdade! Foi por vocês que eu continuei! <3
Essa história foi um desafio, e foi um prazer passá-la "para o papel". É uma história que já está no meu coração! Espero que gostem de ler, assim como eu amei escrever!
Um beijo estalado em cada um de vocês! *-*

Obs. 1: Perdoem-me pelo tamanho do capítulo (de novo). O segundo maior desafio dessa história foi escrevê-la em apenas três capítulos.
Obs. 2: Pensamentos, textos extras e letras de música em itálico.
Obs. 3: Créditos ao autor da fanart.

Capítulo 3 - Entrega


Fanfic / Fanfiction Uma Razão Para Continuar - Entrega

“Tap on my window knock on my door (Toque em minha janela, bata na minha porta)
I want to make you feel beautiful (Eu quero fazer você se sentir linda)
I know I tend to get so insecure (Eu sei que eu tendo a ficar tão inseguro)
It doesn't matter anymore (Mas isso não importa mais)
It's not always rainbows and butterflies (Nem tudo são arco-íris e borboletas)
It's compromise that moves us along, yeah (É compromisso que nos impulsionam, sim)
My heart is full and my door's always open (Meu coração está cheio e minha porta está sempre aberta)
You can come anytime you want (Você pode vir quando quiser)
She Will Be Loved – Maroon 5

 

Hinata teve vontade de amaldiçoar até a terceira geração da criatura que batia insistentemente em sua porta às sete horas da manhã de um sábado.

- Quem é? – Insistiu, mas sem resposta.

Vestiu o robe, irritada, e pôs-se a abrir a porta.

- Espero que tenha um excelente motivo...

Ela congelou ao ver um par de brilhantes olhos azuis.

- Para me acordar... – Engoliu em seco – Naruto-kun?

O loiro sorriu abertamente, achando graça de sua roupa amarrotada e seus cabelos desgrenhados.

- Hora de se arrumar, Hina. Vamos sair.

- Céus! Para onde?

E então ele abriu a mochila nas costas, revelando um par novo de patins. Meia hora depois, às portas do salão de patinação, Hinata se perguntava como Naruto conseguira convencê-la a sair tão cedo para uma atividade que poderiam fazer melhor à tarde ou à noite – quando um deles não estivesse morto de sono. Mas desconfiava que a frase “Você prometeu, Hina!”, dita algumas dezenas de vezes, tenham ajudado Naruto a persuadi-la.

- São oito da manhã, Naruto-kun. Não tem ninguém aqui.

- Eu não teria essa certeza.

Naruto bateu na porta mais algumas vezes antes de, surpreendentemente, Itachi abrir a porta.

- Itachi-san?

O irmão de Sasuke olhou docemente para Hinata antes de se voltar para o Uzumaki, sério:

- Você está me devendo uma. E bem grande.

- Feito.

Dito isso, passou pelo casal, jogando, de costas, um chaveiro para Naruto.

- Vocês têm até dez horas. Foi o máximo que consegui.

- Está ótimo – gritou o loiro, animado, para o homem que já entrava no carro estacionado na rua. – Obrigado!

Naruto segurou a mão de Hinata e entrou, fechando a porta atrás de si. Hinata olhava tudo desconfiada.

- O que você fez, Naruto-kun?

- Nem faça essa cara. Só pedi um favor – caminhou um bom pedaço até perceber que ela não o seguia. – Deixe de marra, Hina. É o Itachi! Acha que ele consentiria em algo que não fosse correto?

Quando ouviu os passos da moça, não evitou um sorriso. Ligou as luzes do local.

- Patinação – ela concluiu. Naruto se aproximou, maravilhado. – Como conseguiu fazer o salão abrir para nós dois?

- Na verdade – ele confessou sorridente – era para nós quatro. Por isso Itachi se envolveu. Mas Sakura disse que ficou acordada até tarde estudando, e que recuperaria o sono agora pela manhã. Sasuke... Bom, você sabe como é aquele idiota. Nada tira ele da cama nas manhãs de sábado e domingo.

Puxou a garota até os bancos, onde trocaram os tênis pelos patins. Naruto foi, todo desajeitado, para a pista. Caiu algumas vezes antes de se firmar e dar voltas para longe. Hinata se esforçava para não rir do amigo.

- Sabe... O lago da praça está congelado a essa altura. Lá você não precisaria pedir favor a ninguém.

- Mas aí eu não teria você só para mim.

Hinata corou com o comentário tão natural. Naruto não viu, distraído com a patinação.

“Mas você gosta dele. O que custa tentar?”.

“Não vou falar isso para Naruto-kun. Somos amigos. Apenas isso”.

“Não se dependesse de você”.

As vozes vieram nítidas, como se tivesse acabado de ouvi-las. As mãos tremeram um instante.

“Então eu quero agradecê-lo, Uzumaki ou Namikaze Naruto. Por ter salvado minha vida mais uma vez”.

Distraído com a história que ela contara, o garoto se esquecera de perguntar como salvara a vida dela, em ambas as vezes. Hinata não insistiu nesse detalhe, porém. Não sabia se era o momento certo para dizer que fora apaixonada por ele.

“Fora?”, perguntou-se. Não era mais? Mesmo sentindo saudades quando não tinha notícias dele? Ou quando ansiava em ver o sorriso que a salvava de seus pesadelos noturnos? E encarar sem medo ou vergonha os olhos azuis que mais gostava no mundo?

Suspirou, negando com a cabeça de leve. Era uma boba. Ingênua, que acreditara que o luto a faria esquecer-se do que sentia pelo loiro que patinava alegremente pelo gelo artificial do salão.

Uma boba apaixonada.

- Venha logo, Hina! Prometo não rir de você!

- Você é um mentiroso obsessivo – provocou. – Devia parar com isso.

- Prometo parar se você vier logo.

Então calçou os tênis, porque aquilo o faria feliz e, consequentemente, a faria feliz junto. Era curioso assimilar que o sorriso dele a estava salvando de sua própria escuridão.

- Você não cansa de me salvar? – Sussurrou.

- Desculpe. O que disse?

Sorriu, negando com a cabeça e pedindo para ele ignorar. Levantou devagar e deu poucos passos. Quase caiu, mas ele a socorreu a tempo, sempre disposto a ajudá-la. Não teve vontade de soltar sua mão. Os olhos azuis brilhavam ao olhá-la de tão perto.

- Obrigado por ter aceitado vir.

A boca ficou seca com a proximidade. O coração estava acelerado.

- Você vai ficar me devendo uma.

Naruto fez um bico, chateado, fazendo-a rir.

- Você também, Hina?

Ela enfim soltou-se dele, patinando para longe. Segura a alguns metros dele, voltou o olhar para o rapaz. Ele tinha o mesmo semblante daquele dia...

Do dia em que morrera de vontade de se confessar.

Do dia em que Naomi chegara exausta do trabalho e anunciara que tiraria o fim de semana de folga.

 

~*~

Foi uma sexta-feira maravilhosa. Naruto conseguira convencer os três amigos a acordarem cedo e irem para a praia na vila vizinha. Pegaram uma carona com Itachi, que ficara responsável por eles por puro azar: era o único maior de dezoito anos disponível e que tinha o dia de folga no trabalho. O Uchiha mais velho contou mais tarde que não se arrependera, no entanto, pois fora divertido ver os quatro divertirem-se no mar, na areia, brincarem de pega como se fossem crianças de novo e voltarem para o mar. Hinata, porém, pediu para retornarem para Konoha logo depois do almoço, confessando, com o rosto rubro de vergonha, que não avisara ninguém que sairia, pois partiram muito cedo da vila. Yoki encontraria o quarto vazio e deduziria que a moça saíra para a casa de Sakura, talvez, mas que ficaria desconfiada com a demora em notícias.

Naruto ficou chateado durante todo o caminho de volta, argumentando que tinha planos para o fim de tarde na praia.

Mas não durou muito. Assim que deixaram a Hyuuga em casa, Naruto pulou do carro também, arrependido pelo gelo dado na amiga durante a hora inteira de viagem de carro. Pediu desculpas, aceitas não muito tempo depois, e pediu pessoalmente à Yoki e Neji que passaria a tarde fora com Hinata. Pedido concedido, Naruto esperou que a amiga se arrumasse e a levou ao shopping. Assistiram um filme, compraram doces, visitaram a livraria e a loja de músicas.

Hinata amava quando o loiro se perdia ao ouvir uma música que gostava. Ele fechava os olhos, balançando a cabeça de leve, sempre com um sorriso no rosto. Às vezes aberto, contagiante. Outras um singelo, simples, como quem aproveita uma brisa refrescante num dia de calor. Mas o sorriso sempre estava lá.

- O que está ouvindo? – Perguntou uma vez.

- “My Escape”, da banda Ravenscode. Conhece?

Ela negou. Naruto emprestou os fones. Era realmente uma bela canção. Hinata fez um lembrete mental de colocar aquela música no celular, para ouvir sempre que quisesse, e lembrar do semblante tranquilo do garoto ao ouvi-la.

- Quase dezoito horas – Naruto observou. – Prometi que a levaria cedo para casa.

Hinata concordou de leve, um sorriso bobo no rosto. Não conseguia imaginar um jeito melhor de terminar as férias!

Chegaram às portas do casarão dos Hyuuga um pouco depois do horário marcado com Neji. Por sorte, o moreno não estava à vista na janela da sala, como sempre fazia quando Hinata demorava a voltar para casa.

- Hina, eu preciso te dizer uma coisa. Ou melhor, pedir.

A moça se voltou para o amigo, reparando em seu nervosismo e segurando-lhe as mãos com carinho.

- O que quiser – disse com um enorme sorriso.

O rapaz hesitou. Muito. Hinata riu quando o rosto dele ficou vermelho.

- Eu queria saber... Pedir... Se eu... A gente...

- Hinata!

O casal deu um pulo no lugar. Nem repararam no carro que estacionara próximo a eles. Naomi saía dele, afobada.

- Boa tarde, tia! – Naruto sorriu para a mulher.

- Boa tarde, querido – aproximou-se e deu um beijo estalado na cabeça do garoto. – Hinata!

- Boa tarde, mamãe – a garota se encolheu com o olhar sério que recebeu.

- Arrume suas coisas! Chame Hanabi e Neji. Vamos sair.

- Para onde?

- Ainda não decidi! – Abriu a porta da casa e gritou de lá de dentro – Passaremos o fim de semana longe de Konoha!

Hinata e Naruto riram, aliviados. Naomi só estava estressada, logo passaria.

- O que ia dizendo, Naruto-kun?

- Vamos, Hinata! – A voz forte da Hyuuga mais velha ecoou – Quero ir ainda hoje!

Naruto riu.

- Vá. Eu digo quando vocês voltarem.

- É urgente?

- Não muito – segurou o rosto dela, docemente. Os olhos brilhavam. – Posso esperar até segunda.

- C-Certo.

Hinata se soltou, entrando em casa. Viu Naruto caminhar até o portão do jardim e parar um momento. Ele se virou, olhando-a fixamente. “Tudo bem?”, ela moveu os lábios, ao que ele apenas confirmou com a cabeça, um sorriso simples no rosto.

O mesmo sorriso de quando o vira viajar com a música que mostrara a ela...

Um olhar profundo, cheio de promessas...

Promessas que demorariam a se cumprir.

~*~

 

- Ainda está aí?

Naruto parou na sua frente, estalando os dedos para despertá-la. Ela tomou outro susto com a proximidade.

- S-Sim, eu... Eu me lembrei de uma coisa.

- O quê?

Aquele olhar... Aquele sorriso... Por que a deixava tão nervosa?

- No dia em que saímos para a praia, para o shopping... Aquela sexta-feira antes de viajar com mamãe e Hanabi... – O rapaz sorriu com a lembrança – Você disse que tinha algo a me pedir. Desculpe-me, só lembrei agora.

- O que a fez pensar nisso?

- Não sei explicar – gaguejou. – O modo como me olha... Foi igual àquele dia.

- Mesmo?

Confirmou com a cabeça. Sentiu as pernas bambas quando uma mão dele veio parar em seu rosto.

- A culpa é sua. Quem mandou ser tão linda?

Arregalou os olhos, sentindo as bochechas esquentarem. Ela ouvira mesmo aquilo?

- Você não percebe mesmo? – A voz dele ficara rouca – Ou não quer perceber?

Os batimentos ficaram acelerados, e ela pensou que poderia facilmente ter um ataque cardíaco se Naruto chegasse mais perto.

- Perceber o quê?

Outro sorriso, dessa vez acompanhado de um beijo carinhoso na testa.

- Vou contar quando estiver pronta. Eu prometo.

Abraçou-a apertado, e ela pode ouvir o coração também descompassado ao encostar a cabeça sobre o peito dele.

- Vai demorar?

Ele afastou-se com um sorriso ainda maior. Hinata pensou seriamente em chamá-lo de “garoto dos sorrisos”.

- Céus, espero que não! Já estou segurando há um bom tempo!

 


“Time, is going by, so much faster than I (O tempo está passando, muito mais rápido que eu)
And I'm starting to regret not spending (E eu estou começando a me arrepender de não gastar)
All of it with you (Tudo isso com você)
Now I'm, wondering why (Agora estou querendo saber por que)
I've kept this bottled inside (Eu tenho mantido isso engarrafado aqui dentro)
So I'm starting to regret not telling (Então, eu estou começando a me arrepender de não dizer)
All of it to you (Tudo isto para você)
So if I haven't yet, I've gotta let you know (Então, se eu não o fiz ainda, quero que você saiba)
You'll never gonna be alone! (Você nunca vai estar sozinha)
From this moment on (Deste momento em diante)
If you ever feel like letting go (Se você sentir que está partindo)
I won't let you fall (Eu não vou te deixar cair)
You'll never gonna be alone! (Você nunca vai estar sozinha)
I'll hold you 'til the hurt is gone (Vou te segurar até a dor passar)
Never Gonna Be Alone – Nickelback

 

Chegara na escola na manhã de segunda-feira ansiosa. A patinação na manhã do último sábado não lhe saía da cabeça, assim como o semblante misterioso do loiro que, mais uma vez, chegava atrasado. “Droga!”, ela pensou frustrada. Queria ter falado com ele antes que o professor chegasse. Queria saber o que tanto ele escondia, queria brigar com ele por ter sumido no dia anterior, queria abraçá-lo até perder as forças!

Queria muitas coisas com o Uzumaki, mas temia não ser capaz de realizar nenhum de seus desejos.

O rapaz sentou ao seu lado, como sempre, lhe desejando bom-dia e tirando o material da mochila para prestar atenção na aula. Hinata soltou um suspiro. Abriu o caderno na última página e rabiscou algo. Passou o caderno ao rapaz rapidamente, enquanto Kakashi escrevia no quadro.

“Pode ir lá em casa hoje? Não entendo nada de classicismo”.

Era uma desculpa esfarrapada, e até mesmo Naruto reconheceu, dando um risinho.

“Você? Com dificuldade em literatura? Conta outra”, ele devolveu o caderno.

“Todo mundo tem defeitos”, rebateu. “Vai ou não?”.

Naruto a olhou um instante, o olhar indecifrável. Hinata insistiu silenciosamente por uma resposta. Ele demorou a devolver o caderno.

“Deixe-me apresentar um amigo:
 

“Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

“Camões, conhece?”.

Hinata levantou as sobrancelhas, surpresa. O poema era absurdamente famoso, mas eram poucos que conheciam algo além da primeira estrofe.

“Andou lendo poesia, Uzumaki?”.

“Você me pediu ajuda. Considere isso como primeira lição: Camões é um TÉDIO!”.

Não pode evitar o sorriso. Olhou para o lado, sendo retribuída com um polegar levantado.

As horas se arrastaram, tortuosas como toda segunda-feira. Naruto saíra da sala na hora do intervalo, mas voltara pouco depois com um lanche. O dele e o dela.

- Não estou com fome.

- Anote na lista: comer direito.

- Que lista?

- A lista da sua nova rotina. Esqueceu? – Falou tranquilamente enquanto furava a caixinha de suco e entregava à ela – Você pediu a minha ajuda.

- Mas eu tomei café, Naruto-kun – pegou a caixinha mesmo assim. Recusou o salgado.

- Vou trazer um sanduíche natural amanhã – ele mordeu o salgado, dando de ombros. – Esqueci que você não gosta de salsicha.

- Não vou perdoá-lo por isso – tentava parecer séria enquanto se esforçava para não rir dele falando de boca cheia, feito uma criança.

- Não ouse fazer isso. Sou uma pessoa muito vingativa.

- Então eu o chateei no sábado? Por isso não deu notícias ontem?

Não era normal Hinata falar sem pensar. Assim que percebeu o que dissera, ambos ficaram constrangidos. Naruto deixou o lanche de lado e foi até a mochila. Tirou um pequeno papel e entregou a ela.

 - Não imaginei que sentiria minha falta, por isso não falei nada – parecia sinceramente arrependido. – Eu saí com mamãe. Dona Kushina estava se sentindo presa em casa, então a levei para o parque, para dar uma volta.

Era uma fotografia. As árvores congeladas e o cenário ao redor pintado de branco. O parque estava deserto, e apenas os cabelos ruivos de Kushina, de costas para a câmera, contrastavam com o entorno.

- Você voltou a fotografar? – Não escondeu a animação.

- Não – ela o olhou confusa. – Nunca parei.

Desviou o rosto no segundo seguinte, envergonhada. Ele não voltara a fotografar. Fora ela que se desinteressara pela vida do amigo nos últimos meses.

Ter consciência disso a afetou mais do que esperava. Levantou de repente, entregando a foto ao garoto.

- É linda – falou sem emoção nenhuma. – Como sempre.

Engoliu em seco e saiu da sala às pressas. Escondeu-se no último boxe do banheiro mais distante de sua sala. Chorou silenciosamente, ainda apavorada de que alguém pudesse encontrá-la. Não se preocupou com o horário, encontrando Kurenai, a professora do último tempo, no corredor em frente à sua sala, esperando seu horário.

- Hinata?

- B-Bom dia, Kurenai-sensei.

A professora não tinha como não notar seu rosto cabisbaixo e choroso, mas não comentou nada. Sabia dos problemas da garota, e temia a possibilidade de Hinata pensar que ela queria se meter em sua vida. O sinal tocou logo, e Asuma, o professor de física, também ficou surpreso ao encontrar a aluna fora da sala.

- D-Desculpe, professor – Hinata sentiu que precisava justificar sua ausência. – Eu não estava me sentindo muito bem.

- Não tem problema, Hinata – falou gentil. – Visitou a enfermaria?

Ela concordou com a cabeça, numa mentira facilmente aceita pelo casal.

- Já se sente melhor, Hinata? – A mulher de Asuma perguntou docemente. – Pode ir para casa mais cedo se ainda estiver debilitada. Não vou lhe dar falta.

- O-Obrigada, Kurenai-sensei. V-Vou aceitar.

Entrou na sala atrás da professora, andando rápido ao seu lugar e evitando os olhares curiosos dos colegas. Hinata estancou ao encontrar seu caderno aberto sobre a mesa, uma pequena mensagem escrita no canto da página:

“Fugir não é a solução. Fale comigo. Eu sempre vou estar aqui para você”.

Os lábios tremeram, e ela mal ouviu quando o garoto sussurrou atrás dela, falando algo em tom de urgência, claramente preocupado. Não respondeu. Guardou tudo e saiu na velocidade que entrara.

- Hinata!

Ainda ouviu o arrastar da cadeira do loiro, mas não deu ouvidos. O fato dele não a seguir devia-se a Kurenai, provavelmente. Ela explicaria sua “saúde debilitada” e mandaria o Uzumaki de volta à sua mesa. Hinata desejou, mesmo contra sua própria vontade, que a professora não o segurasse. Gostaria que Naruto a alcançasse, já na saída da escola, a abraçasse e dissesse que estava tudo bem.

Sentiu-se tola. Enxugou as lágrimas teimosas e correu até em casa, decidida a trancar-se no quarto e não sair até o dia seguinte.

 


“Sei que posso te provar que não há nada
Nessas horas de ilusão
Me perdoa, me aceita no seu mundo
Me devolve tudo que já era bom”

As Horas – Marjorie Estiano

           

Era fim de tarde quando enfim deixou o livro de lado. Foi ao banheiro, a fim de limpar o rosto depois do choro incessante após o término da leitura. Ela praguejou mentalmente seus amigos, por terem lhe entregado uma história tão bonita e triste ao mesmo tempo.

- Está tudo bem, Hinata? – Neji se assustou ao ver seu rosto, ainda inchado, quando desceu para jantar.

- Foi um livro que eu li, não se preocupe – o rapaz pareceu aliviado com seu sorriso. – Um drama. Não consegui resistir.

- Que bom que está voltando a ler – Hinata o olhou depois do comentário carinhoso. – O Uzumaki me pergunta a cada dois dias se você já terminou de ler o bendito livro que ele lhe deu de aniversário. É esse?

Surpresa, ela confirmou com a cabeça, narrando sobre a trágica história de dois adolescentes que se apaixonam e têm que enfrentar o maior de todos os desafios: a morte iminente. Quase caiu no choro de novo ao contar o fim, e Neji fez uma careta: não gostava de dramas.

- Por que seus amigos lhe dariam algo assim?

- É bonito, apesar de tudo. Tem sua lição, no fim das contas.

- Que seria...?

- Aproveitar cada segundo com as pessoas que a gente ama – respondeu de imediato. Neji a olhou surpreso. – “Alguns infinitos são maiores que outros”*...

O primo não ouviu seu sussurro, mas a frase marcante do livro a fez tomar uma decisão.

- Neji-niisan – o moreno quase engasgou com o sufixo, há muito não usado, mas ela não ligou. – Se importa se eu visitar Naruto por alguns minutos? Prometo não demorar.

- Está tarde, Hinata...

- Eu sei! Mas como eu disse: não vou demorar! Volto antes de papai, se duvidar.

O garoto hesitou, mas permitiu a ida desde que ele fosse com ela. Hinata não viu aquilo como um problema, rapidamente buscando os casacos e o acompanhando até a rua dos Namikaze, a três quadras de distância. Bateu na porta, arrancando outro grito animado de Kushina quando viu os “irmãos” Hyuuga parados em sua porta. Deixou-os entrar, ofereceu janta, sucos e doces. Hinata rejeitou, mas Neji acompanhou a ex-Uzumaki até a cozinha, prometendo à prima que a esperaria ali.

- Não vou me demorar – avisou à ruiva, antes de subir as escadas e correr na direção do quarto desejado. – Naruto-kun? – Bateu de leve.

Ouviu um barulho vindo de dentro, como se algo caísse com força. Coisas se remexendo e passos apressados. Um loiro afoito apareceu na porta, sem camisa e com o rosto mais felizmente surpreso impossível.

- Hina!

- Oi! Posso entrar?

- Claro, por favor!

Passou no meio do caos que virara o quarto do garoto e pulou na cama.

- Passou um furacão aqui?

- Estava procurando umas coisas – riu envergonhado. – Você me deu um susto.

- Caiu da cadeira de novo?

O rosto vermelho confirmou as suspeitas da garota. Fez força para não rir, ao que ele ignorou e buscou algo em cima da escrivaninha.

- Posso te mostrar umas coisas?

- Curioso. Também vim pedir para ver umas coisas.

Ele ainda a conhecia tão bem como antes?

- Aqui. Veja se gosta.

Era exatamente o que viera ver. Naruto espalhara as fotografias pela cama, para que ambos pudessem ver. Hinata apontou as que já conhecia, e o garoto as guardou de volta numa caixa. As novas a surpreenderam.

Fotos de Kushina eram predominantes, pois o filho amava os cabelos da mãe, lamentando dia sim, dia não, a infelicidade de não ter nascido ruivo também. Kushina era fotogênica e linda em excesso, o que a fazia uma cobaia perfeita para Naruto. No parque, em praças, no lago próximo à floresta, em cima dos monumentos dos maiores governantes de Konoha... E as favoritas dela: junto com Minato. O Namikaze não era tão fã de aparecer nas fotos, e só estava presente em algumas porque a esposa pedia muito.

- Ele tem uma cópia de cada uma dessas fotos, o bobão. Milhões e milhões de fotos de dona Kushina.

E então vinham as fotografias de paisagens. A câmera profissional do garoto, presente de dois aniversários atrás, fazia uma grande diferença. A visão de Konoha do alto do monumento dos governantes não era a mesma diante da lente do Uzumaki: parecia uma cena tirada de um filme, tamanha a qualidade que ele colocava nela.

Fotos dos amigos. Sakura aparecia em um bocado, e Hinata fez de tudo para esconder os ciúmes – antes a maioria era dela. Sasuke também, mas somente se estivesse acompanhado de alguém.

- E a minha favorita...

Uma de Hinata. A moça a olhou confusa. Estava na sala de aula vazia, com os fones no ouvido e o olhar perdido para além da janela.

- Encontrei essa garota um dia na minha sala. “O retrato da solidão”, pensei em nomear. Clichê, eu sei. Mas sabe... Depois de olhar sem parar para os olhos dela, eu percebi que estava equivocado. Há um mínimo sorriso nesse rosto. Quase imperceptível, mas está aí. E os olhos... Os olhos brilham, como se agarrando a uma memória! Como se fizesse força para não esquecê-la!

Naruto enfim encarou os olhos perolados. As lágrimas caíam deles, sem nenhuma vergonha.

- Foi o dia em que tentei me matar – confessou. – Quando completou seis meses da morte de mamãe e Hanabi... Eu tinha sonhado com elas naquele dia. Eu tentei me apegar a cada detalhe do meu sonho, tentando lembrar das vozes delas, das risadas delas...

Enxugou o rosto com força, sentindo braços fortes a envolverem. Deixou-se ser abraçada, pois desejava aquele contato mais do que tudo no momento. Deixou-se ser consolada, aninhada, do jeito que devia ter sido no dia que Naruto tirara aquela fotografia.

- Vai parar de doer?

- Vai – ele beijou a testa dela demoradamente, erguendo seu rosto choroso para que o olhasse. – Prometo que vai.

 


“Just when I felt like giving up on us (Quando eu senti vontade de desistir de nós)
You turned around and gave me one last touch (Você se virou e me deu um último toque)
That made everything feel better (Que fez tudo parecer melhor)
And even then my eyes got wetter (E mesmo assim meus olhos ficaram úmidos)
So confused when I asked you if you love me (Tão confusa quando te perguntei se você me amava)
But I don't wanna seem so weak (Mas eu não quero parecer tão fraca)
Maybe I've been California dreaming (Talvez eu tenha tido meu sonho californiano)
California King Bed – Rihanna


“1 – Visitar Naruto, Sakura e Sasuke, nessa ordem. E de preferência o primeiro mais vezes, porque ele é o mais ciumento;
2 – Abrir os presentes de aniversário. E de Natal;
3 – Voltar a frequentar as aulas de piano. E chamar o melhor amigo quando reaprender a tocar uma música;
4 – Comer direito;
5 – Fazer exercícios. Natação é uma boa ideia;
6 – Sair de casa mais vezes, nem que seja ao mercadinho para ajudar Yoki com as compras da semana;
7 – Cinema com os amigos pelo menos uma vez por mês;
8 – Voltar a ler e cozinhar, como sempre gostou;
9 – Não ter vergonha de chamar os amigos quando se sentir sozinha;
10 – Acreditar que a amamos mais do que tudo!"

 

Guardou o papelzinho dobrado no bolso. Ela o levava para todos os lados desde que o encontrou em seu caderno, dias depois de visitar Naruto e se atualizar com seu álbum. Tentou seguir à risca alguns, mas lugares cheios ainda a atormentavam. Sentia olhares pesados sobre si quando concordou em ir à praça mais próxima à escola com Sakura e Ino. As duas falavam sem parar, sempre tentando puxá-la para o assunto, mas a multidão a incomodou demais. As duas então a levaram para a casa da loira, onde Hinata se sentiu mais à vontade para enfim falar alguma coisa. Foi uma tarde animada, apesar de tudo.

Conseguiu ir à feira com Yoki no fim de semana. Visitou Sakura e Sasuke – para a sorte da morena, ambos estavam na casa do Uchiha. “Dois coelhos numa cajadada só”, pensou. Yoki a levou numa nutricionista, que passou uma dieta leve para Hinata voltar a se alimentar mais e melhor. Os exercícios podiam esperar a primavera, concluiu. Cinema nem pensar! Pelo menos não enquanto os ataques de pânico e ansiedade ainda fossem presentes em público.

- Está atrasado! – Brigou com o loiro que entrava na sala, afobado.

- Desculpe. Gai-sensei ficou maluco! – Ele esfregava os braços com força, correndo para a frente do aquecedor – Queria treinar o time nesse frio! Já me imaginou de bermudas nesse gelo, Hina?!

Hinata riu. Não esperou que ele se recuperasse para enfim sentar-se no banco em frente ao piano, na sala de músicas da escola. O último tempo já tinha acabado, e eles tinham combinado de se encontrar ali, para uma surpresa prometida pela Hyuuga. Respirou fundo, estalou os dedos – mais por nervosismo do que por hábito ou cena – e dedilhou as teclas devagar, chamando a atenção do loiro.

- Ah, o item 3! – Naruto bateu palmas, animado – Estava ficando ansioso!

Tocou por mais alguns segundos, pedindo desculpas antecipadamente pela voz desafinada, e cantou:


“Would you help me to find a new away? (Você me ajudaria a encontrar um novo caminho?)
Would you guide me through all of this again? (Você me guiaria por tudo isso de novo?)
Don't let me slip away (Não me deixe escapar)
I need you here till the very end (Preciso de você até o fim)

 

Naruto sorriu ao reconhecer a música que apresentara no dia da praia, antes do fim de semana que mudaria a vida da garota para sempre.

Ela sorriu também, perguntando-se se devia contar que baixara aquela música e a ouvira incansavelmente nos últimos seis meses.


“So stay here with me (Então fique aqui comigo)
There's so much love and you're smile (Há tanto amor e você sorri)
When I look at your face (Quando olho para seu rosto)
And I'm here to stay (E eu estou aqui para ficar)
You're my first and my last (Você é meu primeiro e último)
Loving, you my escape (Amor, você é meu refúgio)”

 

O loiro ficou sério quando ela cantou a última frase olhando em seus olhos. Teria ele entendido a mensagem?


“So tell me you'll be right here with me (Então me diz que vai ficar aqui comigo)
Hearing your voice is like (Ouvir sua voz é como)
Hearing an angel sing (Ouvir um anjo cantar)
Through the good and bad (Através do bom e do mal)
And all in between (E tudo pelo meio)
You're the one I want (Você é o que eu quero)
And the one I need (O único que eu preciso)
And I know (E eu sei)
And I know (E eu sei)

 

Não evitou o próprio orgulho. Aquela música era perfeita. Não havia forma melhor de contar tudo o que sentia, tudo o que sentia vontade de dizer e não tinha coragem.

Perguntaria ao garoto por que ele não a apresentara àquela música antes. Muito teria sido evitado ou não deixado de lado com aquela canção...


“You told me to live each day (Você me disse para viver cada dia)
To live each day like is my last (Viver cada dia como se fosse meu último)
I won't make you turn away (Não farei você se afastar)
So come with me and never look back (Então venha comigo e nunca olhe para trás)

 

Estava na hora de deixar o passado para trás, ela concordou. E abraçar seu futuro, se ele assim permitisse.


“After all that we've been through (Depois de tudo que nós passamos)
You're still by my side (Você ainda está do meu lado)
And I'm grategul you there (E eu sou grata a você)
And I, I love you (E eu, eu amo você)
You're my best friend (Você é meu melhor amigo)
And I want you to know I care (E eu quero que saiba que eu me importo)

 

Mais claro do que isso, impossível. Ela cantara toda a estrofe com os olhos fixos nos azuis como o céu. Seria possível ele não perceber?

“Você não percebe mesmo? Ou não quer perceber?”.

Sorriu com a lembrança. Como pode ser tão cega?  


“So tell me you'll be right here with me (Então me diz que vai ficar aqui comigo)
Hearing your voice is like (Ouvir sua voz é como)
Hearing an angel sing (Ouvir um anjo cantar)
Through the good and bad (Através do bom e do mal)
And all in between (E tudo pelo meio)
You're the one I want (Você é o que eu quero)
And the one I need (O único que eu preciso)
And I know (E eu sei)
My Escape – Ravenscode**

 

Naruto não a deixou terminar a música. Sentou ao seu lado e colocou uma mão sobre a dela, impedindo-a de continuar. Os lábios tremiam num sorriso.

- Tudo bem, entendi.

- Você é um estraga-prazeres.

- Vamos falar sobre isso mais tarde.

Voltou seu rosto para a moça e recuperou o tempo que perderam num beijo roubado e de tirar o fôlego. “Agora sim posso ter um ataque cardíaco de verdade!”, pensou Hinata. O modo como seu coração batia, tão rápido e confortador, a deixava sem ar ainda mais rápido. Mas não iria se separar dele, não agora que finalmente podia tê-lo por completo.

- Você percebeu – declarou, apaixonado, os lábios ainda próximos aos dela. – Até que enfim.

- Perdoe a demora. Tive um contratempo... – Naruto a beijou de novo, dessa vez mais calmo, sentindo cada segundo dos lábios colados – Perdoe-me por tê-lo rejeitado por tanto tempo. Eu não tinha percebido... Nós dois... Eu achei que não era possível.

- E agora? – Sorria.

- Agora eu percebi.... Você me olhou daquele jeito de novo... Desse jeito – corrigiu, dessa vez roubando um selinho do loiro. – Você podia ter me contado.

- Eu tentei! Céus, como eu tentei! – Riram – Por que acha que eu fiquei chateado quando você disse que não podia passar o dia na praia conosco?! Eu estava planejando uma surpresa, uma declaração na praia e tudo mais. Sasuke ia me ajudar... Mas aí voltamos pra Konoha, e eu tentei te falar quando te deixei em casa...

- E aí mamãe chegou.

- É... – Naruto segurou o rosto dela com as duas mãos, encostando sua testa na dela – Talvez não fosse o momento certo, não é? Depois de tudo o que aconteceu, essa distância só iria nos machucar.

Hinata aceitou outro beijo apaixonado.

- Você foi tão paciente, Naruto-kun! – A emoção tomou conta de sua voz – Poderia ter desistido tantas vezes...

- De você? Não mesmo! – Abraçou-a forte, fazendo um bico antes que ela mergulhasse em seu peito – Você é minha luz, Hina... Não sou nada sem você.

Um bom tempo se passou até que um funcionário da escola aparecesse, perguntando o motivo de estarem ali depois do fim das aulas. Hinata entregou-lhe a chave e saiu da escola, a mão agarrada a de Naruto a todo momento.

- Você que é minha luz, Naruto-kun – comentou no caminho até em casa. Ele a olhou docemente. – Meu salvador... Você foi o motivo de eu sair daquele carro, salvando minha vida. Foi você quem me ligou naquela noite fria e impediu que eu cometesse uma loucura.

Naruto estancou no lugar, os olhos arregalados com a confissão. Hinata contou tudo o que ele se esquecera de perguntar, inclusive sobre a paixão pelo garoto misterioso de quem Hanabi implorava para que a irmã se confessasse.

- Deixe-me satisfazer o último pedido de minha mãe e irmã, Naruto-kun...

Segurou as mãos dele com força, posicionando-se em frente ao garoto, encarando seus olhos e falando do fundo do coração:

- Naruto-kun, eu amo você.

 


“That was just a moment in time (Aquele foi apenas um momento na vida)
And one we'll never forget (E um que nunca esqueceremos)
One we can leave behind (Um que nós podemos deixar para trás)
Cause when there was doubt (Pois quando houver dúvidas)
You'll remember I said (Você se lembrará do que eu disse)
I didn't come here believing (Eu não vim aqui acreditando)
I would ever be away from you (Que nunca ficaria longe de você)
I didn't come here to find out (Eu não vim para descobrir)
There's a weakness in my faith, yeah (Que há uma fraqueza em minha fé)
I was brought here by the power of love (Eu fui trazida aqui pelo poder do amor)
Love By Grace – Lara Fabian

 

Caminho em direção aos túmulos cercados de flores coloridas. Muitos já passaram ali naquele dia, mas eu queria ser a última, para ter todo o tempo do mundo com minhas amadas.

- Boa tarde, meninas.

Escuto as respostas apenas em minha cabeça. Quase consigo ouvir as risadas de Hanabi e mamãe. Sinto como se elas estivessem por perto...

- Cinco anos se passaram... Que saudade que eu ainda tenho de vocês! – Depositou os girassóis em cada túmulo, abrindo espaço entre as outras. Sorriu. – Mas não vou mais chorar, não aqui! Prometi a Naruto-kun que iria sorrir mais ao lembrar de vocês. É complicado às vezes, mas estou me esforçando.

Tagarelei por uns bons minutos, contando tudo o que podia me lembrar desde que as visitara pela última vez. Quando ouvi passos se aproximarem, respirei fundo, percebendo que quase não parei para respirar. A animação fazia isso comigo às vezes.

Soprei um beijo para cada uma delas, enquanto a outra mão acariciava distraidamente a barriga. Ri baixinho ao constatar o fato.

- Acho que tenho uma novidade – confidenciei, mostrando rapidamente o objeto pequeno dentro da bolsa, para que Naruto-kun, a alguns metros de distância, não o visse. Coloquei o indicador em frente a boca, pedindo segredo. – Vocês são as primeiras a saber. Naruto-kun é o próximo, mas só mais tarde... Estou planejando um jantar especial! – Sorri bobamente, já imaginando o semblante de meu amado. – Voltaremos outro dia, tudo bem? – Acariciei as pedras frias de mármore – Eu amo vocês.

Naruto-kun chegou mais perto, depositando mais flores sobre os túmulos. Ri quando ele se atrapalhou com os arranjos, sem saber como arrumá-los. Ajudei-o com essa árdua tarefa antes que ele falasse palavras carinhosas para a “tia” e para a “prima”.

- Aliás... – Ele continuou – Hinata falou algo para vocês duas? Há dias ela tem me escondido algo, mas ainda não consegui arrancar dela! Algumas dicas? Um sinal seria bem-vindo.

Eu ri, impressionada com o sexto sentido de meu marido. Ele realmente me conhece melhor do que ninguém.

- Conto mais tarde – jurei.

- Mesmo?

Confirmei, beijando os lábios que tanto amava.

- Vamos?

Ele concordou, segurando minha mão e caminhando comigo de volta ao carro. Em todo o caminho até em casa, não consegui parar de sorrir, me sentindo uma boba.

Tenho dias bons e ruins, como qualquer pessoa. Há vezes em que sou uma alegria contagiante, e nem mesmo Naruto-kun é capaz de me acompanhar. E há também os dias em que levantar da cama é insuportável, e o peso do mundo parece desabar sobre mim! Nessas horas, em que a respiração vira um desafio, tenho que me lembrar de olhar para o lado, e visualizar o rosto adormecido de meu marido. Tento respirar fundo e contar até dez. Quando não consigo, chamo por ele, que me atende imediatamente, como se estivesse acordado há tempos! Naruto-kun me incentiva a relaxar e inspirar e expirar devagar, me fazendo imitá-lo. Assim que melhoro, ele me conta uma história... Às vezes de nossa infância, outras da faculdade. Quase nenhuma me é desconhecida, mas a cada vez que ele conta de um jeito diferente, me faz rir e acreditar que posso transformar aquele dia em um melhor que nas histórias. Basta eu acreditar... Basta tê-lo ao meu lado...

Ele me deu uma razão para continuar...


Notas Finais


*Trecho retirado do livro “A Culpa é das Estrelas”, de John Green.
**Traduzido do feminino para o masculino, para se encaixar na história.

Quero dedicar essa fic a uma amiga, C****, que sofre de depressão há muitos anos. Ela provavelmente nunca vai ler essa fic, porque a) não gosta de Naruto; e b) não gosta de fanfics. Mas eu a amo mesmo assim. Vou mostrar pelo menos essa dedicatória a ela. <3
C****, minha pequena C****... Deus sabe o quanto eu queria ser corajosa como Naruto e poder ajudá-la incansavelmente! Eu gostaria de estar ao seu lado nos melhores e piores momentos, mas sei que isso é impossível. Rotinas diferentes não deviam atrapalhar tanto, pois eu sinto sua falta mais do que parece. Queria te ajudar mais do que apenas oferecer um ombro pra chorar e um abraço pra se confortar. Queria poder ler mais livros sobre o assunto, consultar outros especialistas... Qualquer coisa pra te ver melhorar! O progresso é lento, às vezes quase inexistente, mas eu tenho fé que um dia você vai perceber que os motivos para continuar são mais fortes que os motivos para desistir. E quando esse dia chegar, e ele vai chegar, quero estar ao seu lado, para te dar um abraço de urso e te confessar que eu sempre acreditei em você! Você é a minha inspiração... <3

Assim como minha amiga, milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas pela depressão. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Brasil está no topo da lista dos países com mais pessoas diagnosticadas pela doença. Ela é grave e muitas vezes silenciosa, então é preciso ficar atento com as pessoas próximas, pois pode acontecer com qualquer um. Os sintomas que eu mostrei em Hinata são apenas alguns (pois há várias outras classificações da doença, assim como causas), mas outros podem ocorrer, e o pensamento suicida é o mais comum entre eles. Entre 2 a 7% dos adultos com depressão morrem de suicídio, e cerca de 60% das pessoas que morrem por suicídio apresentavam depressão ou algum outro distúrbio de humor. Prestem atenção, por favor. Depressão NÃO É frescura, é doença. E como qualquer outra, tem suas causas e tratamentos. A cura é longa e muitas vezes exaustiva, principalmente para o afetado, mas não é impossível. O apoio da família e dos amigos é fundamental para que ocorra o primeiro passo para a cura: a pessoa saber que não está sozinha.

Obrigada pra quem acompanhou até aqui! Até uma próxima vez! <3


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