História Uma Simples Serviçal - O festival de Walpurgis

Algumas semanas após aqueles beijos calorosos que trocaram no estábulo dos Bygul, as investidas de Shido passaram a ser mais persistentes, agora que ele já sabia que a criada era louca de amores por ele.

Ele se divertia e a provocava, visitando-a em horários inusitados, ou indo escondido até a cozinha, ou o pátio quando ela lá estava. Lyfia sempre respondia com reprovação por medo de acharem os dois, embora também achasse divertido todo aquele jogo. Acreditava que não daria em nada além do que houve daquela única ocasião, o que para ela havia sido o suficiente, tinha sonhado com Shido desde que o vira pela primeira vez e um homem daqueles lhe dando tal atenção, a uma criada feito ela, era mais, muito mais do que Lyfia podia ter esperado. O que diria então dos beijos?

Ela fechava os olhos e suspirava sonhadora ao recordar-se do calor da boca dele contra a sua, da maciez, pele na pele, suas respirações unidas e…


…das mãos atrevidas dele apalpando sua coxa direita e nádega.


Ok, essa parte não é tão romântica assim. Aquele sem-vergonha do senhor Shido…


“Estava pensando em mim, Lyfia?” - ele diz perto do ouvido dela, e ela pula para trás, sem tê-lo visto chegar. Limpava os corredores do segundo andar e homem se esgueirou até lá feito um gato, silencioso. Parecia até que ele preferia exatamente esses locais para abordá-la com a segurança que queria.

“Ahhh!! Senhor Shido!” - respondeu com ar de reprovação, fazendo bico - “Não vê que eu estava distraída?”

“Distraída demais até durante o serviço… me pergunto o que imaginava com aquele sorriso belo em seus lábios.” - inclinou-se sobre ela, colocando a mão na parede atrás da empregada, cercando-a. A moça olhou para trás e se viu sem saída quando ele aproximou-se para um beijo, e não negou-lhe quando Shido tomou sua boca com a dele.

“Mmmhmm... ahhh-” - ela gemeu contra a boca do nobre quando este aprofundou a carícia, suas mãos segurando-a pela cintura e puxando-a para perto dele, colando seus corpos.


Era isso que eu estava pensando e muito mais… ahn-!


Ele rompeu o beijo lentamente, separando os lábios deles pouco a pouco, parecia uma tormenta para Lyfia, que queria mais daquela boca, daquele gosto.

“Eu soube que as festividades da Noite de Walpurgis estão perto, você vai comparecer?” - ele mudou o assunto, mas claramente com uma ideia já planejada para estes dias, que envolvia Lyfia de certa forma.

“Ah… eu, claro.” - ela respirou fundo, retomando o fôlego. Shido ainda estava tão próximo, com o rosto quase colado ao dela quando fazia aquela pergunta e usando uma voz sedutora que a fazia estremecer. Assim era tortura demais para a criada. Precisava reorganizar as ideias.

Puxou-o, com a mão sob o peito dele, afastando-o um bocado para poder responder direito.

“Eu irei sim.”

“Então me espere pois estarei lá também. A sacerdotisa de Asgard estará presente e irá celebrar o ritual em homenagem a Odin, gostaria de que estivesse ao meu lado para receber as bençãos, ver as pessoas comemorando, beber algo comigo...” - ele faz a oferta, e Lyfia assente com a cabeça em silêncio, com um sorriso tímido e o rosto ruborizado.

Shido pega uma de suas mãos gentilmente e a beija antes de retirar-se.

A empregada suspira encantada, encarando a mão a qual ele beijou com euforia. Estava completamente rendida e apaixonada por aquele charmoso bastardo.


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Os nove dias seguintes que antecederam a Noite de Walpurgis, as pessoas faziam oferendas para Odin, já que muitos acreditavam que celebrar o festival que traria não só as bençãos de Frejya e das colheitas fartas e dias mais ensolarados de Verão para eles, mas também as do Pai-de-Todos, que se enforcou na Árvore do Mundo – Yggdrasil – durante nove dias e nove noites, para poder adquirir conhecimento das runas sagradas. No último dia, ele próprio se feriu com sua lança sagrada, Gungnir, e morreu para nascer de novo, mais sábio. O deus patrono de Asgard e templos dedicados a ele recebiam muitas orações e blóts em troca de bençãos.

Perto da principal floresta próxima ao palácio, preparavam o mastro para a celebração de Walpurgis, as fitas no topo do mastro para as moças dançarem em volta, e claro, reuniam bastante lenha para a enorme fogueira que Asgard viria naquela época do ano.

Quando o 30 de Abril chegou, o dia no ano que possuía a noite mais escura de todas, as pessoas já começaram a se reunir ao redor do mastro e prepararem suas tendas, comida e bebida, traziam amigos e família para rirem e se divertirem junto ao restante da população. Embora muitos nobres reprovassem tal mistura entre os mais pobres e os ricos por parte das princesas asgardianas, que permitiam isso acontecer num festival que acreditavam ser sagrado, e portanto devia ser celebrado à parte, longe da ‘ralé’ da sociedade, como diziam.

Lyfia foi com o seu melhor vestido, de uma cor verde-azulada escura e o avental por cima da saia. E claro, usando o broche de sua mãe abaixo da gola. Sorria ao ver e reconhecer muitos dos trabalhadores das regiões das mansões próximas a dos Bygul, e também empregados da própria mansão. O som da música típica asgardiana, as moças dançando e cantando ao redor do mastro com as fitas, e cheiro da deliciosa comida no ar a faziam ficar na expectativa para aquele dia, que ela julgava um dos seus favoritos durante o ano.

Ela estava tão distraída que não notou quando acenderam a fogueira – apenas ouviu o celebrar das pessoas quando Shido repousou uma mão em seu ombro, e com a outra ofereceu-lhe um copo de vinho quente.

“Senhor Shido!” - e ele lhe sorriu.

“Não vai me oferecer uma dança, minha bela dama?” - perguntou fazendo charme, o sorriso confiante de quem já sabia a resposta que a fazia estremecer dos pés a cabeça e querer esconder o rosto como uma garotinha empolgada.

“Ora… não vão se queixar se um nobre de uma Casa tão famosa como a sua dançar com uma simples empregada?” - ela rebateu, pensando se ele ia se importar ou não – ou se ate aquele ponto ele dava a mínima se tivesse algo casual com uma serviçal da própria família.

Ele sorriu de canto, desafiador, sem perder a postura.

“Vão pensar apenas que eu estou dançando com a moça mais linda de Asgard, apenas isso.”

“Mas que atrevimento!” - ela riu-se, batendo levemente a mão no peito dele - “Sabe bem que as princesas de Asgard são as mulheres mais belas daqui, não há questionamento de ninguém a respei-”

“Eu trocaria a ambas por você a qualquer momento.”

“Você não tem jeito, né?”

“Não. Isso é algo ruim?”

Ela suspira com um sorriso, conformada. Bebeu o copo todo de vinho quente, colocou sob a mesa mais próxima, e retornou para pegar a mão que Shido lhe oferecia, sem se importar com o que os outros pensariam naquele momento. Dançaria com ele até o amanhecer se fosse necessário, se divertiria e riria como todos os outros porque ela também tinha direito a essa fagulha de felicidade, ainda que em sua mente ela sempre se lembraria de que era uma plebeia, e que aquilo seria algo passageiro.

Que seja eterno enquanto dure - pensou ela, dançando eufórica ao lado do homem que amava.