História Unbreakable Heart - Além de mim

Havia chegado a menos de duas horas em Orleans.Nem lembrava qual era a ultima vez que tinha estado ali. Nada havia mudado tanto. Nova Orleans era Nova Orleans previsível e ao mesmo tempo imprevisível. As ruas estavam como em um bom dia de janeiro,movimentadas.  Palcos montados em uma esquina e uma quantidade razoável de turistas sorridentes, extasiados que vinham de todo lugar do mundo para conhecer a cidade do jazz.

 Lembrava da primeira vez que tinha estado ali quase me via de novo como um deles.Perdidos e ao mesmo tempo como se tivesse se achado.

Entrei na Rua Bourbon,havia ligado antes de sair do bar e reservado um quartinho em uma pousada que eu conhecia bem. Eu conhecia a dona,éramos amigas.Ela jamais aceitaria que me hospeda-se em algum lugar diferente.Fiquei ainda algum tempo na rua absorvendo algumas diferenças,ouvindo a música natural que emanava de Nova Orleans e as pessoas que passavam de um lado para o outro.

Finalmente entrei na pousada, que a porta pouco parecia enfeite no meio de tantas lojas que as cercavam. Você só conseguia  a realmente enxergar pelo fato de haver uma placa : Pousada da Tia Agnes,ou se realmente estivesse procurando por ela.

O lugar ainda estava do mesmo jeito que eu lembrava. Modesto,mas acolhedor. Uma recepção pequena,onde a recepcionista,que eu não a estava encontrando, ficava dentro de uma espécie de cabine,em frente a ela alguns sofás antigos floridos dispostos rondando uma mesinha de centro,com um vaso que Tia Agnes fazia questão de todo dia mudar as flores ali dentro.

Me voltei para recepção e toquei a campainha ali no cantinho,uma depois,depois duas vezes. Se alguma tinha mudado eu não sabia,mas normalmente havia uma recepcionista para ajudar tia Agnes. Apesar de lidar com qualquer coisa sozinha,era muita coisa para ser feito ali. E ainda dava liberdade de ela fazer as coisinhas dela se necessário.

-Um minuto!-gritou alguém atrás da porta dentro da cabine.

Olhei para trás e resolvi que era melhor sentar enquanto esperava. Pela gravidez ou não estava se sentindo mais cansada do que uma pessoa normal. E isso já era o bastante perto da  minha realidade.

Retirei o papel dobrado da primeira bolsa da mochila e fiquei avaliando aonde era aquela rua.Era no centro,não muito distante dali,mas o suficiente para precisar ir de ônibus. Agora onde ficava essa rua. Ela não conseguia lembrar.

-Querida,você finalmente chegou!-Me virei quando ouvi a voz tão conhecida.

Era reconfortante ver tia Agnes ali parada com as mãos na cintura. Tia Agnes era uma mulher negra de meia idade,baixa,corpulenta. Os cabelos estavam trançados como sempre presos em um lenço rosa. Um ser humano incrível e com um coração gigantesco.

Coloquei a mochila sobre o ombro e corri para que pudesse abraçá-la.

-Menina sem juízo.Quanto tempo não te vejo?-ela perguntou acariciando meu cabelo, mesmo que nós duas já soubéssemos a resposta.

Ela me segurou pelas mãos e me afastou o suficiente para pudesse me avaliar.

-Mas, Hayley você está tão magra,Menina.E pálida.Você anda comendo direito?.-ela não me deixou responder.-Vamos eu estava na cozinha esperando você chegar!

Ela me carregou até a cozinha e nos sentamos-nos à mesa. Ali era o escritório dela. O lugar onde sentávamos para conversar sobre qualquer ou simplesmente para vê-la cozinhando.

-E o que traz minha menina de volta para cidade?

Tia Agnes estava no fogão,com uma colher de pau pronta para experimentar alguma coisa com um cheiro maravilhoso.

-Mais coisas que gostaria,tia!-falei olhando para o papel que eu ainda amassava na mão.

Ela diminuiu o fogo,pegou uma concha,encheu uma tigela e se afastou sentando na minha frente.Colocou a mão sobre a minha e com a outra a tigela.

-Vamos querida,coma.Não estou exagerando você está muito pálida!

-Estou viajando a um bom tempo, e estou um pouco cansada.Como está as meninas? Jane-Anne,Sophie e Monique?

-Bem,todas bem.Monique parece que deu uma boa esticada.E você ta tudo bem? Você ta tão distante!

-Eu to sozinha no mundo,tia.Não tenho casa,pais,raízes.Nada.Escolheram me abandonar. Duas vezes.-eu não gostava de falar naquilo,mas ali estava a única pessoa que eu podia falar meus pensamentos em voz alta.-E estou nesse momento pensando na mesma opção!

-Do que você esta falando,Hayley?

-Um bebe.Feito por whisky e escolhas ruins!-ela ficou ali me avaliando. Colocando o pós e contras como ela sempre fazia,mas não em voz alta.

-Olha,eu sei que agora,nesse momento,você não vê muitas saídas e que tudo está muito confuso. Eu só não quero que você faça escolhas ruins que vão te fazer se sentir mal mais tarde,sabe?!

-Eu só estou tentando ser racional com relação a isso tudo!

-Só não peque por excesso,querida. Ainda e uma criança que você carrega no seu ventre. Talvez ser totalmente racional não te de as respostas que você precisa!

-Talvez!

-O pai mora aqui?-ela me perguntou,mas como s quisesse confirmar.

-O pai mora aqui!

Ela levantou,deu a volta na mesa e me abraçou pelas costas.

-Ah querida,você sabe não sabe? Você tem meu apoio,no que precisar!

-Eu preciso resolver isso tia.Não tenho condições de criar essa criança!

-Vai ficar tudo bem,certo? Você e esse bebê não estão sozinhos, por mais que essa cabecinha me ofenda achando o contrário - balancei a cabeça,ela só queria me confortar que não estava sozinha e que eu teria o apoio dela e das meninas,mas no fundo não sabia se daria certo.

Terminei de tomar a sopa e ela me empurrou para que eu pudesse descansar.

-Eu preciso...

-Você precisa dormir,claro!

-Eu realmente!

- Tudo ainda vai estar aqui quando você acordar!

Subi as escadas quase escoltada.Abri a porta e joguei minha mochila em cima da mesa com uma cadeira que tinha ali.O quarto era bem simples. Uma cama de ferro,com uma cômoda pequena.Em cima dela,uma TV de segunda mão,do lado da cômoda se encontrava a mesa onde eu havia deixado a mochila. A varanda do lado de fora dava para a rua.

Eu conseguia ouvir a movimentação do lado de fora. A música que reverberava pelas paredes de toda a cidade,os risos, o organismo vivo nova orleans.

Abri o bolso pequeno na mochila e tirei o papel que dobrei cuidadosamente. Não estaria ali se não tivesse outra opção. Eu não queria jogar nos ombros de um estranho decisões que eu jamais queria ter tomado. Eu era orgulhosa,uma garota que se criou na rua,independente,dona de spi,mas eu não estava mais sozinha e tinha que fazer escolhas melhores do que as tinha tomado ao sair de casa. Seguir um grupo de nômades. 

-Isso é tudo que eu tenho!

Klaus Mikaelson

Canal street ,659

(xx) 555-xxx