04/09/2015
Pickering, Ontário
13h29min, horário de Toronto
Quando se é a novata da escola as coisas complicam, principalmente se você não é, no mínimo, do mesmo país que os demais. Mas tudo muda a partir do momento que você faz amizades e acaba sendo ‘esquecida’ do seu cargo de ‘novata estrangeira’. É claro que comigo não foi diferente, afinal, aqui não é nenhum filme americano e muito menos uma história feliz que fala sobre alguém que se intitula feia, mas poderia ser uma Barbie na vida. Posso dizer que eu sabia do meu destino na escola nova: fazer alguns poucos amigos e provavelmente sonhar com o garoto mais bonito do colégio, entretanto, eu estaria omitindo os fatos se dissesse que aconteceu desse jeitinho.
Por vir de um país considerado diferente e no mínimo exótico – ou se quiserem pensar em “longe para caralho”, também vale –, facilmente fiz amizades. As estrelas, ou melhor, dizendo os populares da escola me acolheram de bom grado, ou quase isso. Pine Ridge não era um pesadelo como fora me dito por Alicia Carter, uma menina do segundo ano que tinha a aula de canto comigo, que me alertou logo na primeira aula como a escola era uma merda total onde ou você era popular ou era o escoro dos mesmos. O que me impressionou foi quando Thomas Matthew – ou Matt, como ele prefere – botou seus olhos azuis piscinas em mim, decidindo que eu seria a próxima da fila a ser sua amiga.
É claro que para minha surpresa, Matt era o capitão do time de futebol, ou precisamente o Quarterback* – ou seja, meu possível futuro amor –, mas como minha vida só vacila ela provavelmente pensou “ah, o menino bonito quis falar com ela, mas ele não vai querer ela… assim seria muito fácil”, e o fez homossexual. É, pasmem. Matt, o gostoso do capitão do time era na realidade, gay. E para piorar, ele vivia falando da minha bunda, bradando aos ares o meu “big ass” para quem quisesse ouvir.
Sua melhor amiga não foi com minha cara, Amanda Katharine era alguém simples e aos meus olhos, uma pessoa normal que não precisaria necessariamente estar com as estrelas – muito menos eu, é claro –, mas no terceiro dia de aula, nós fizemos duplas na aula de biologia e precisaríamos ver um vídeo passo-a-passo de como decepar um sapo, e eu, sem querer, acabei percebendo o porque dela ser amiga do Matt: Amanda acabou me abandonando com o bisturi na mão e indo ajudar uma garota delicada chamada Felicity Awall e pelo rubor na face da garota, consegui notar o quão intimas elas eram, e sim, Amanda também era homossexual.
O problema começou quando eu a abordei para tirar a prova do meu pensamento e perguntei se ela e a Felicity tinham algo, ela quase me bateu, mas Freddy chegou para me ajudar. Para piorar, Freddy, totalmente heterossexual era apaixonado por Amanda, que na cabeça do mesmo, gostava de homens. Tudo pareceu piorar quando o James, o melhor Halfback* do time começou a invocar com a Felicity, praticando bullying.
Eu, com meu forte senso de justiça quis ajudá-la, mas novamente sua “quase-namorada” pareceu querer me matar, como se a culpa fosse minha de tudo estar acontecendo. Mesmo sendo intrusa e fazendo o que não queriam que eu fizesse, fui falar com James para ver se ele parava com aquilo. Obviamente ele desconfiou do porque eu defender a garotinha estranha do terceiro ano, eu tive que dar uma explicação mal feita que no final resumiu-se em “ela é minha prima”. No dia seguinte a escola inteira já sabia que eu, a brasileira era prima da garota estranha de Ajax.
Devo confessar que tentei passar o dia inteiro fugindo de Amanda, com medo do que fosse acontecer se ela me pegasse. Já estava na última aula e eu tomei todas as minhas forças de vontade para tentar me lembrar dos caminhos existentes da escola, tentando achar um caminho alternativo até a aula de História dos EUA. Acabei indo pelo jardim do fundo para entrar pelo portão D e encontrei duas pessoas conversando as escondidas.
– Eu… Eu… Eu gosto… de você. – ouvi uma menina falando bem baixo, deixando a ultima palavra presa em sua garganta, mal a pronunciando. A sua frente estava um garoto alto que eu conhecia de vista: Shawn Mendes, do segundo ano. Ele era uma espécie de estrela, mas uma de verdade, que cantava e era famoso.
– Me desculpe, não posso te dizer que é recíproco. – ouvi sua voz, calma, como se estivesse acostumado com isso.
É claro que ele está acostumado, sua burra. Ele é bonito e famoso, é normal pra ele.
Minha consciência – que por acaso fala e se auto-intitula como Macrow – me explicou, como se eu fosse idiota. Decidi passar como se nada tivesse acontecendo, afinal, preciso chegar à minha sala logo. Passei com passos decidos por eles, que mostraram duas reações distintas: a da garota mostrava repulsa, como se eu tivesse estragado o clima. Já o garoto parecia aliviado que tivessem acabado com o papo chato.
– Tenho que ir, minha aula de história vai começar. – ouvi-o explicar-se quando virei para entrar pelo portão, dando de cara com Felicity.
Ela parecia bem, não estava no cantinho escondida como ficava antes – quando James a atormentava e ela se escondia dele –, de relance a vi olhar para mim e ficar vermelha. Quando fui passar por ela, senti-a segurando a barra da minha blusa branca. Quando virei para ela, percebi suas mãos mexendo-se freneticamente e seu olhar perdido nos meus pés. Felicity era do meu tamanho, talvez um pouco mais baixa, mas não era transparente essa diferença.
– Eu… – ela começou, ainda olhando para o chão enquanto procurava palavras para poder me dizer.
Vai agradecer, queridinha? – Macrow pensou, provavelmente dando uma gargalhada em meu interior.
– Você…? – comentei, tentando dar uma ajudinha para ela.
– Quero agradecer… Mandy me contou que você descobriu tudo… Obrigada por me ajudar, a Mandy provavelmente perderia a paciência e no dia seguinte a escola inteira saberia que eu sou… você sabe… – escutei tudo que ela tinha para falar, ficando irritada quando ela parava de falar por nada. – Podemos fingir que você é uma prima distante?
– Claro, Felicity. Eu quero ajudar. – sorri o mais simpática que consegui, mas aquele bando de curiosos nos olhando me irritava 100%. Ai está uma coisa que eu e Amanda somos parecidas, o gênio forte.
– Que bom, desde que você chegou eu venho tentando conversar com você, mas a Mandy fica brava… – ela comentou deixando um sorrisinho de canto escapar, cobrindo a boca logo depois.
– Por quê? – perguntei confusa.
– Porque você também curte mulher… ela pensou que você iria me querer, idiota da parte dela, né? – congelei na primeira frase quando percebi que eu era a nova “homossexual” do grupo e não sabia.
Você tem o jeito de ativa da relação, minha querida. – Macrow me provocava intensivamente, fazendo-me ferver.
Cala a boca, Macrow. Não é porque sou meio estressada que sou a “ativa”. Isso é preconceito, seu mente fechada.
– Eu o que? – perguntei quase gritando, mas tentando no mínimo não chamar a atenção de todos para nós.
– Desculpa, era segredo? É que o Matt comentou que você era uma Mandy da vida, estressada e que era “o macho”. – quase engasguei, mas acabei ficando vermelha que nem um pimentão e acabei falhando em todos os aspectos, sentindo o ar parar de circular na minha mente. Comecei a tossir intensivamente e ficar vermelha por conta da falta de ar.
Senti um par de mãos em meu corpo, uma segurava minha cintura, mantendo-me de pé e a outra dava tapinhas na minhas costas, tentando fazer com que eu parasse de tossir. A essa altura todos do corredor já nos olhavam e até mesmo Matt e Amanda vieram até nós, tentando me ajudar. Cessei a tosse e comecei a respirar com dificuldade, percebendo a cena que eu fiz.
– Você está bem? – uma voz me perguntou, tive que olhar para cima para conseguir ver o rosto da pessoa e para minha surpresa era Shawn Mendes me ajudando a não morrer.
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