História Uncertain Future - Shawn Mendes - True

12/09/2015

Pickering, Ontário

19h27min

Eu nunca fui uma pessoa que sabe mentir bem, geralmente eu gaguejava, desviava o olhar ou até mesmo vermelha eu ficava, tudo por uma mentirinha. Mamãe sempre dizia que eu nunca poderia ser uma advogada, porque mentir não era meu forte, já papai dizia que eu deveria ser uma, com meu forte senso de justiça eu poderia ajudar as pessoas que precisam.

Mas eu totalmente concordo com mamãe, mentir não é meu forte. É como se eu tomasse uma poção que não permitisse que eu mentisse, certo que é uma coisa boa, ser verdadeira, mas, não sabendo mentir, não consigo detectar mentiras. E era isso que eu mais precisava nesse momento, saber se Shawn mentia para mim.

Ao longo dessa semana que convivemos juntos nada me fazia sentido, como por exemplo Ryan, meu irmão extremamente ciumento confiar no Shawn tão facilmente, ou mamãe que sempre expulsava os garotos que eu saia porque não queria que eu me relacionasse com qualquer um, todos os meus familiares vêm agindo estranho.

Mas finalmente, olhar aquela foto com mais cuidado – e um pouco de ciúmes – pude perceber: Shawn já foi meu vizinho?

A foto mostrava Shawn e uma garota loira, provavelmente nos seus dez ou onze anos de idade, em uma praça. No fundo da imagem, uma casa que eu mal me recordava: a casa dos meus avós em Portugal. Está certo que pode haver algumas casas parecidas na cidadezinha que meus avós moram, mas tudo pareceu se encaixar…

Minha família tão receptiva…. Meu apelido de infância…. Essa nossa conexão…

Claro que eu posso estar louca, afinal, eu me lembraria de conhecer Shawn Mendes de algum lugar, certo? Afinal, é impossível esquecer a sua boca, seu sorriso, seus olhos…. É impossível esquecê-lo.

Mas por que me parece tão crível essa possibilidade? Por que me parece que Shawn Mendes faz parta da minha vida, mesmo mal fazendo-a? Por que me sinto tão íntima, mesmo não sendo? Por que me sinto apaixonada, mesmo não estando?

É impossível sentir esse tipo de afeto tão cedo, mal o conheço. Faz apenas uma semana, mas sinto como se nos conhecêssemos o suficiente para podermos até mesmo casar.

Por que essa demora para me responder, estaria ele criando uma mentira para essa pergunta? Porque eu realmente não consigo olhá-lo e notar uma mentira em seu olhar perdido consigo ver apenas um menino simples e atordoado, sem saber como reagir.

– Por que essa pergunta, do nada? – Ele finalmente me respondeu, calmamente sibilou cada palavra, formando uma frase que eu não gostaria de pensar sobre. Era estranho imaginar que essa possibilidade era válida, principalmente por ter várias dicas esse tempo todo, mas nunca perceber.

– Apenas responda, Shawn. – Falei levantando-me e sentando-me na cama, olhando diretamente para ele, que fazia o mesmo.

– Não…. Por que essa pergunta? – Ele tornou a perguntar, mas percebi um vacilo em sua voz.

– Você está mentindo, não está? – Perguntei com a garganta prestes a fechar, como se um sentimento dolorido subisse por ela, me fazendo querer chorar até amanhã.

– Não estou, amor. – Ele disse tentando chegar perto, mas me afastei, mostrando que não era o momento para aquilo.

– Por que me sinto tão conectada com você? Por que você sabe mais de mim do que deveria? Por que você tem uma foto com uma garota que parece uma cópia minha mais jovem? Por que você está na frente da casa dos meus avós? – Perguntei tudo de uma vez, sentindo uma lágrima descer pela minha bochecha.

Por que raios eu chorava? Por que raios eu me sentia deprimida, como se algo ruim estivesse acontecendo? Por que eu sentia a necessidade de saber a verdade, mesmo podendo não ser o que eu desejo ouvir? Por que Macrow mal fala comigo, por que ele não me ajuda nos momentos de tensão… por quê?

– Calma, amor. Você está muito agitada… – ele começou a falar e eu senti-me ignorada, como se minhas perguntas sequer tinham saído da minha boca. – Dorme um pouco, quando você acordar, iremos conversar.

– Eu não quero dormir, Mendes. –  falei em um sussurro – Eu quero saber como que todas as respostas estavam na minha cara e eu não percebi?

–Vamos conversar sobre isso depois, amor. – Ele disse, levantando-se e saindo do quarto, fechando a porta.

Me joguei para trás, gritando. Era uma atitude infantil, eu sei, mas eu sabia que algo estava acontecendo e até mesmo Ryan e Aali pareciam saber sobre. E me irritava ser a última a saber, principalmente quando o assunto parecia ser sobre mim. E foi com lágrimas nos olhos, que me virei para o lado e dormi, pensando em como seria nossa conversa.

[...] Shawn Point Of View […]

Dizem que o amor machuca, que devemos fugir desse sentimento o máximo que podemos, mas eu nunca achei isso, para mim, o amor é um dos sentimentos mais puros do mundo. E o primeiro amor a gente nunca esquece, certo? Mesmo mudando de país, estado, continente, sexualidade, o primeiro amor sempre é lembrado.

E Aurora não sabe, mas ela foi o meu amor. Sim, Aurora Guimarães foi o meu primeiro amor, o amor que eu nunca esqueci e que nunca esquecerei, porque sei que ela, além de ser meu primeiro amor, foi o único, e sempre será.

Desde o verão dos meus dez anos, em dois mil e nove, Aurora vem aquecendo meu coração de moleque. Ela me fez ver o lado bom das coisas, me ensinou um pouco de português, me fez me sentir livre novamente, ser quem sou, seguir atrás dos meus sonhos.

Ela era o centro de tudo, a garota mais feliz que eu já conheci. Que se aventurava e não ligava para o que as meninas pensavam dela, ela era ela, ela era simples. Mesmo não sendo a menina mais bonita, ela era maravilhosa para mim, perfeita para mim, uma criança que pedia por atenção, e teve toda a atenção.

Mas ser aventureira não foi tão bom, na realidade, custou uma parte de si.

No penúltimo dia de férias em Portugal, Matthew Espinosa, mais conhecido como meu pesadelo, convidou seus amigos “descolados” para irem numa cachoeira e Aurora que estava dentro desse grupo, me convidou. Estava tudo dando certo, umas sete crianças brincando na água como quem não querem nada, até que, alguém gritou e caiu. Um barulho alto de algo caindo na água foi escutado por todos nós.

Era Aurora, jogada no meio do lago, cheia de sangue a sua volta. Eu corri para ajudá-la, chamamos a ambulância, fizemos de tudo. Mas quase foi tarde demais, quando chegamos no hospital – eu e Matt –, a mãe dela não queria nos ver, culpando-nos. Horas mais tarde soubemos que ela bateu a cabeça e ficou alucinada, escutando e vendo coisas que não devia.

Mas a pior parte, ela perdeu as memórias. A mãe dela me perdoou, mas culpou Matt por tê-la levado até aquela bendita cachoeira. O médico nos disse que ela não sabia quem nós éramos, então pediu para que nós nos afastássemos para que ela não tivesse um colapso e ficasse louca. E eu fiz isso, nos meus dez anos de idade, larguei meu grande amor para que ela não morresse.

– Shawn? – Alguém me perguntou, e eu virei bruscamente, deparando-me com meu pai. – Por que está chorando, filho?

– Estraguei tudo, pai. – Falei e senti-o abraçando-me.

Como um fantasma que me assombrava, as palavras de Matt voltaram para mim, “Não fui significativo o bastante para fazê-la ter um colapso…, mas você vai, se não se afastar”. O arrependimento bateu, eu talvez devesse ter me afastado quando pude, mas eu não conseguiria abandoná-la. Não novamente…. Não quando tive minha segunda chance que tanto pedi.

Meu telefone começou a tocar e o nome do Ryan pareceu no visor, mas quando atendi, quem eu menos esperava começou a gritar.

– Onde minha filha está, Mendes?