História Uncover - Olivia Maya

I thought that I've been hurt before

But no one's ever left me quite this sore

Your words cut deeper than a knife- Stitches, Shawn Mendes

Olivia Maya

Não consegui dormir bem a noite, como já era de se esperar. Todo o meu corpo doía e minhas pálpebras pareciam pesar uma tonelada, em cada olho. Mas Soraia sacudiu-me por quase cinco minutos, mandando eu me levantar, tomar um banho e descer para apanhar apenas um rápido café, pois teríamos que estar na frente do estúdio da rádio em menos de meia hora.

Fiz tudo em um tempo recorde. Tomei banho, fiz minha higiene, escovei meu cabelo e o prendi em um rabo de cavalo no alto da minha cabeça e vesti-me em uma roupa casual, sem deixar de lado minhas botas de saltos médios. Encontrei Soraia e mais duas pessoas no corredor do hotel, ao me avistar, ela me estende um copo com café e me arrasta até o elevador.

Aguardamos o elevador descer e andamos até a entrada do hotel. Antes mesmo de pisarmos no hall, pessoas do outro lado da rua começam a correr, preparando câmeras e gritando por meu nome em meio a perguntas confusas. Olho para Soraia que apenas acena para o motorista que abre, rapidamente, a porta do carro e dois seguranças do próprio hotel me ajudam a chegar do outro lado sem ter que lidar diretamente com todas aquelas pessoas que pareceram terem dormido ali ou acordado extremamente cedo para me abordarem.

Acomodando-me no banco, solto um suspiro e meneio a minha cabeça. Soraia faz uma rápida ligação, falando com Patrick, o responsável por toda a programação do meu dia na rádio famosa.

— Está preparada para as perguntas sobre esse beijo? – Soraia questiona e eu uno minhas sobrancelhas, permitindo que meus olhos caiam para a tela de seu celular.

Havia uma foto minha, no exato momento em que decidi beijar Justin. Como se tivéssemos sido pegos em flagrante. E por mais que a foto não tivesse sua melhor qualidade e nitidez, dava para identificar que se tratava de Justin e que também se tratava de mim. As pessoas ao redor do mundo, com certeza, saberiam que éramos nós.

— Não acredito... – sussurro e balanço a minha cabeça de forma negativa.

— Pois acredite, linda. Essa foto já está em todos os portais de noticia do mundo.

— Não há como desmentir isso?

— Como, Olivia? Uma foto comprova muita coisa. Agora... – ela me olha, estreitando os olhos. — Que tipo de coisa é essa que está acontecendo entre vocês?

— O que? – minha voz altera-se uma nota.

— Algo está acontecendo entre vocês dois, Olivia, o que é?

— Nada está acontecendo, Soraia. – ela continua me olhando de forma desconfiada. — Estou falando sério.

— Tudo bem. Eu posso fingir que acredito nisso, mas o mundo não.

— O que irei fazer? – começo a sentir o desespero se apossando de mim.

— Eu não sei, mas terá que se virar bem com as perguntas.

Engulo em seco e jogo-me contra o estofado do banco traseiro do carro, virando minha cabeça para o lado oposto ao que minha amiga estava e encaro a janela, parcialmente, aberta, pensando em como ter me deixado levar me empurrou diretamente para uma queda, sem chance de me levantar e prosseguir.

Minutos depois, o carro para em frente ao estúdio da rádio de Elvis Duran. Ao sair do veiculo após o motorista abrir a porta para mim, olho fascinada para o local, mesmo estando apenas do lado de fora. Mas, quando mais nova, acompanhava o programa, tendo a chance de ouvir as pessoas que admiro estarem ali, e agora era a minha vez.Patrick aparece na porta do estúdio, falando ao telefone. Ao nos ver, ele acena e se apressa em nossa direção. Ele beija o rosto de Soraia e faz o mesmo em mim.

— Olá, garotas. Foram pontuais. – ele diz após encerrar sua ligação e guardar o aparelho celular em seu bolso traseiro de sua calça jeans justa. — Temos que preparar você, Olivia, entraremos no ar em vinte minutos.

— Como tudo vai funcionar? – pergunto, apressando meus passos para conseguir acompanhar os passos apressados de Patrick, que já tornava a passar pela porta do estúdio.

— Elvis chegará, irá cumprimentar você, fará sua saudação e lhe chamará. Mas, você já estará a postos. Os fãs ligarão, farão perguntas e depois você irá cantar.Depois de você, umas meia hora depois, o Shawn vai chegar, parece que deu algo errado com a agenda dele e o mesmo não podera comparecer.

— Posso não responder algumas perguntas? – murmuro com incerteza.

— Pode, mas o que tem a esconder?
Muitas coisas!

— Nada. – digo e ele dá de ombros, assobiando para uma mulher que passava apressada por um dos corredores do lado de dentro da rádio.Pego meu celular para mandar uma mensagem para o Shawn. 

"Está tudo bem?" -Olivia 

"Sim...Estou,em uma sessao de fotos, desculpe não estar ai"-Shawn. 

"Tudo bem.Bjs"-Oliv

Olho para os lados, fascinadas pelo local ser tão movimentado, com pessoas correndo para todos os lados, sequer prestando atenção nos pequenos detalhes ao redor. Tudo era mágico para mim, como se ainda estivesse dentro dos meus sonhos de menina.

— Vá se maquiar, nos encontramos em oito minutos. – Patrick diz e empurra minhas costas para o lado de uma sala com a porta aberta.

Entro e encontro uma mulher segurando uma maleta de maquiagem. Sento-me na cadeira de frente para um largo espelho e não recebo nem um ‘’bom dia’’ ou perguntas, apenas sinto-a me maquiar tão depressa quanto ela termina. Abro meus olhos e vejo o meu rosto no espelho, nada forte, apenas o suficiente para esconder as olheiras da minha noite mal dormida e deu-me um pouco de cor nos lábios.

— Está na hora! – gritam na porta, apenas me levanto e me apresso a sair da sala.

— Para onde eu vou? – pergunto com a voz alterada para que o homem que havia gritado, e agora corria, pudesse me ouvir.

— Sala doze B! – ele grita e continua sua corrida, dobrando um corredor.

Começo a andar pelo corredor que eu estava, procurando pela sala que ele havia dito, mas ela simplesmente parecia não existir. Olho para todos os lados e esbarro-me com alguns corpos pelo caminho, mas todos estavam tão afoitos que não se importavam com o meu esbarrão.

— Onde estava, Olivia? – Soraia aparece atrás de mim, fazendo-me olhar assustada para trás.

— Estou perdida...

— Vamos logo. O programa já começou. – ela diz e segura uma de minhas mãos, puxando-me por todo o corredor e dobrando a direita.

Andamos por mais alguns segundos e paramos em frente a uma grande porta e ao lado havia um estreito vidro. Havia pessoas conversando, todas com grandes fones e com microfones próximos a suas bocas. Outras estavam sentadas, mexendo em celular ou computador, mas todas pareciam atentas ao que faziam.

— Venha! – Patrick segura minha mão livre e me puxa.

Solto a mão de Soraia e olho para trás, por cima dos ombros.

— Boa sorte! – ela diz e cruza seus dedos, os mostrando para mim.

Eu realmente precisaria de sorte.

Patrick empurra mais uma porta e ao passarmos por ela, me deslumbro com o estúdio da rádio em funcionalidade. Era tudo como eu costumava ver nas fotos, as paredes brancas com escritas em tom verde e azul, outra com pequenos tijolos como decoração e atrás da mesa tinha o famoso apresentador que eu tanto admirava.

Elvis Duran.

Isso era mesmo real?

O homem falava animadamente em frente ao microfone, ao olhar para mim, ele sorri e faz um breve sinal com o seu polegar esquerdo para mim. Patrick me aproxima da mesa, e sem dizer nada, me ajuda a me sentar na cadeira. Ele coloca o microfone próximo ao meu rosto e coloca sobre meus ouvidos os fones. Eu não escutava mais nada, apenas o que Elvis falava.

— E agora, para começar o dia com chave de ouro, quero chamar uma jovem que vem conquistando uma legião. – ele sorri e continua falando. — Olivia Maya!

Eu podia ouvir um dos covers que eu fiz tocando ao fundo.

Meu coração estava batendo tão depressa que eu poderia chorar neste exato momento.

— Obrigada, Elvis. É uma honra estar aqui. – começo dizendo, me surpreendendo com a firmeza em minha voz. — Espero que todos estejam tendo um bom dia.

— Então, Olivia. Sabemos um pouco sobre sua carreira avassaladora, mas pode nos dizer um pouco mais sobre isso? Essa é a sua primeira aparição em uma rádio?

— Bom, tudo aconteceu muito rápido em minha vida. Em um dia, eu estava atrás da tela do computador, mandando mensagens para meus ídolos, tentando ser notada por eles, e no outro era como se tudo tivesse mudado, e eu recebi a proposta de estar aqui. Por mais que anos tenham passado, tudo serviu para me ajudar, e eu amadureci em meio as minhas escolhas e sonhos. Agora, um dos meus sonhos foi realizado, estou aqui, pela primeira vez.

— Isso é fascinante. – ele diz e sorri.

— Justin Bieber é o seu mentor, certo? – ele pergunta e eu apenas aceno, prestando atenção em suas palavras. — Como foi receber o convite para fazer parte da vida dele?

— Foi assustadoramente bom demais para ser verdade. A principio, eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, era como se estivesse dentro de um sonho, e quando meus olhos abrissem, eu me depararia com a realidade, em meu quarto, segurando uma escova de cabelo enquanto a fazia de microfone. – digo e ele solta uma breve risada. — Mas, quando Scooter e Justin chegaram até mim e me propuseram isso, eu me senti tocar o céu. Precisei enfrentar um longo processo de convencimento da minha família, mas Soraia me ajudou com isso, e quando me dei conta, eu estava aqui. E poder subir aos palcos com Justin é algo único, realmente não tem preço. Ele vem me ensinando muito, a crescer, tanto como artista quanto como pessoa.No começo, eu era fã do Bieber, depois eu discuti com ele no twitter, e anos mais tarde ele me chamou para conversar.

— Parece que os seus fãs já estão querendo fazer perguntas. Podemos abrir algumas ligações?
Abro um imenso sorriso.

— Claro. Estive ansiosa durante toda a noite para esse momento.

— Então vamos lá... – ele diz e alguém parece ser colocado na linha. — Quem está falando?

— Deus! É Beatrice. – uma garota com  voz doce e empolgada diz do outro lado.

— Então, Beatrice, o que deseja perguntar para Olivia Maya?

— Eu não tenho nenhuma boa pergunta em mente... – ela diz e assim como Elvis, solto uma risada alta. — Só queria dizer que amei o nome que você e Shawn deram para seus fãs. Eu contei aos meus amigos no colégio, eles acharam que eu estava ficando louca de tanta empolgação.

Solto mais uma risada, achando-a extremamente fofa.

— Isso é adorável, Beatrice. Eu estava sem muita ideia para nomes, mas Shawn me ajudou muito com isso. Ele é realmente bom, uh? – digo em tom de brincadeira. — E fico muito feliz por você ser uma MayaRedhead.

— Sim! Eu realmente sou. – a garota diz e solta um grito, fazendo-me rir ainda mais.

— Obrigada por ligar, Beatrice. Tem algo mais a dizer para Olivia?

— Eu torço muito para você e não vejo a hora de ir a um show!

— Espero que logo nos encontremos por ai, Beatrice. Quero pode lhe abraçar e lhe agradecer devidamente.

Com isso, ouço-a agradecer algumas vezes e a ligação se encerra, mas logo outra se inicia.

— Olá, quem fala? – Elvis pergunta.

— Sou a Madison!

— Então, Madison, o que gostaria de perguntar a Olivia?

— Oh, meu Deus! Nem acredito que estou falando com você... – ela diz afoita. — Mas, quero realmente saber, você e Justin estão namorando?
Meus olhos se arregalam e minha garganta parece fechar.
Eu sabia que essa pergunta chegaria.

— Não, querida. Nós não estamos namorando. – minha voz não sai trêmula, mas meus lábios estavam desta maneira, mesmo que eu tentasse controlá-los, mordiscando o inferior.

— Então o que foi aquele beijo na noite passada?

— Eu...

— Você gosta dele? – a garota me interrompe, causando-me ainda mais um pouco de pânico.

— Não há dúvidas disso. Justin é uma pessoa muito especial em minha vida, mas somos apenas amigos.

— Amigos? – ela questiona.

— Amigos.
Eu não conseguiria responder mais nada sobre isso.

— Obrigado por ligar, Madison. O que tem a dizer para Olivia? – Elvis me salva de uma grande enrascada.

— Gosto muito do seu trabalho, Olivia. Será que posso pedir para que cante uma música que gosto muito?

— Claro, linda.

— Então, por favor, cante Breathe Me da Sia?

— O seu pedido é uma ordem. – digo e ouço uma sonora risada do outro lado.
Madison me agradece por algum tempo e a ligação se encerra. Elvis me faz mais algumas perguntas sobre meu trabalho, mas nada que me deixe em uma nova situação complicada. Ele chama o intervalo, e quando retornamos, ele me dá espaço para cantar.
Soraia havia ajeitado tudo com o homem que tocaria violão comigo. Sento-me em um pequeno banco, ao lado do dele e espero o sinal de Patrick. Umedeço meus lábios e seguro a beira do pedestal, olhando para o microfone e repassando a letra da música em minha cabeça.

— Help, I have done it again. I have been here many times before. Hurt myself again today. And, the worst part is there's no-one else to blame. (Me ajude, fiz isso de novo. Eu já estive aqui muitas vezes. Machuquei a mim mesma de novo hoje. E, a pior parte é que não têm ninguém para culpar)

Continuo cantando, mantendo meus olhos fechados em cada palavra que escapava por meus lábios, fazendo-me sorrir ao ouvir a minha própria voz ecoando pelo estúdio. Eu queria que as pessoas também estivessem gostando, e que, principalmente, Justin, estivesse sentindo orgulho de mim, do que eu era capaz de fazer.

Porque eu me sentia capaz.