História Under Your Tree - Noite do Festival

    Ao anoitecer, já estávamos todos no Centro da cidade, organizando nossa bancada com os fairyCakes de amora. O festival ocorria todos os anos, há quase dois séculos, em homenagem ao aniversário da cidade. As festividades duravam todo o fim de semana e havia várias atividades em seus dois dias, desde a disputa da receita do ano e escolha da “Princesa de Painswick” – uma mistura de rainha do baile e miss – à danças típicas, apresentações musicais e teatrais, concurso de fantasias. Quase não dava para respirar, pois a maioria dos moradores e mais alguns turistas lotavam as ruas.

    Avistei o prefeito, Arthur Jenkins, se aproximar de nós cumprimentando a todos que via pela frente. Arthur era primo de quarto grau do Thom, por parte de mãe, tinha uns dez anos a menos do que a gente, e costumava nos pentelhar bastante quando era mais novo. Foi com muito esforço e determinação que ele havia chegado onde estava hoje.

  - Thom, Susu, Ed! Há quanto tempo – nos cumprimentou, sempre sorridente e com apelidos. – Como vão?

  - Eu particularmente estou indo maravilhosamente bem – respondi. – Não sei se está lembrado, mas esta é minha filha Rosalie, e estes são Emily e Elias, meus netos.

  - Ah Rosie! Lembro-me de você e dos gêmeos ”pondo fogo” na cidade, parece que foi ontem – ele exclamou.

  - Como vai senhor Jenkins, é um prazer revê-lo – Rosie trocou um aperto de mãos com ele. – Meus filhos e eu vamos morar aqui, então agora cabe a eles e a Vincent a missão de agitar Painswick.

  - E a Rachel também – disse Suzan.

  - Ah é, Artie! Esqueci de contar – O orgulhoso Vovô.De.Menina Thom narrou toda a história de Benjamin e Rachel. Ben não estava conosco, justamente porque tinha ido buscá-la na hospedaria onde costumava ficar desde que voltou.

  - Isso é ótimo! – disse Arthur. – Cinco novos habitantes em uma única semana. Isso é praticamente uma família nova! – dadas as circunstancias e toda a historia entre minha filha e Ben, não tive como deixar de rir. – Bom, sejam todos bem vindos. Vou circular pela festa, espero que se divirtam; primo, quando eu tiver um tempo, vou lá conhecer a Rachel.

    Ele se foi, ainda saudando a todos pelo caminho. As pessoas começavam a se aglomerar em torno das bancas para conhecerem os pratos, e os nossos bolinhos estavam fazendo muito sucesso – principalmente com as crianças. Eram tantas pessoas espremidas, que nenhum de nós reparou muito na figura de um homem bronzeado, alto, com um embrulho rosa nos braços, até que ele se pronunciasse.

  - Pensei que quisessem conhecer a Rachel – Ben tentou falar acima do volume da multidão.

    Os avós correram na direção deles, seguidos por Rosie, Vince, Emily e Elias. Era engraçado os ver disputando a menina, que passava de colo em colo. Eu queria que meus amigos vivessem a mesma mágica que eu vivi ao segurar Emily pela primeira vez, então preferi ficar por ultimo – até por que alguém tinha que vender os FairyCakes.

- Edwin, seu velho ranzinza e muxibento, que desfeita é essa? – Thom fingia estar magoado. Ou talves estivesse mesmo, mas ele era tão palhaço que não dava para saber. – Venha já aqui conhecer minha neta!

    Ben veio ocupar meu lugar, e eu fui ver a ilustre senhorita Rachel Marshall. A pequena era linda; exceto pelos cabelos quase dourados, ela possuía todos os traços da família de Thom: pele clara, olhos escuros, nariz pequeno e aquilino. Ela não parecia incomodada com todos os desconhecidos que a cercavam e riam para ela, provavelmente ela de algum modo sabia que éramos da sua família. Suzan a passou para o colo de Rosie e, enquanto ela a embalava, toquei sua mãozinha com a ponta do indicador. Seus dedinhos se fecharam em torno do meu e ela fixou aqueles olhos cor de café em mim, como se me conhecesse desde sempre. Rachel então sorriu para mim, e eu senti algo que talvez nunca fosse ser capaz de explicar.

    Eram quase dez da noite, e havíamos combinado de ir embora às onze, após a decisão do prato ganhador do concurso esse ano. Estava sentado com minha família e meus amigos assistindo uma apresentação de um grupo de jazz enquanto aguardávamos o resultado. Nós não vencíamos há mais ou menos quatro anos, então ficamos bem ansiosos, porém um acontecimento acabou atrapalhando nossa noite.

    Um grupo de jovens adolescentes passou por nós, entre eles uma menina com a faixa da Princesa de Painswick. Eles se dirigiram à Vincent o mais discretamente possível, mas eu consegui ouvir o que disseram.

  - Olha, galera! VinCêDêEfe e sua turma – disse um dos garotos.

  - Essa é a sua namoradinha, Vincent? – a “Srta. Princesa” riu debochada, acenando para Emily. – Vocês combinam.

    Eles se afastaram às gargalhadas, enquanto Vince se encolhia num canto. Aqueles garotos tecnicamente não disseram nada de ruim, mas a discriminação na voz deles era quase palpável. Isso, somado ao fato dele ser muito introvertido, não era um bom sinal. Conversaria com Thomas e Suzan sobre isso mais tarde. Vi o olhar de ódio de Emily em direção a eles, e suas narinas dilatadas.

    Finalmente nos anunciaram como os vencedores do “Prato do Ano”, o que nos deixou felizes, embora não por muito tempo, graças ao incidente de alguns instantes atrás.

  - Olhem, está na hora da dança – disse Rosie. – Essa sempre foi minha parte favorita da festa! Tia Su, pega a bebê?

  - Com prazer. Vem na vovó, Rachel! – Suzan respondeu sorrindo.

  - Ben, vem comigo! – Rosie saiu o puxando pela mão sem aguardar sua resposta.

  - Opa, é pra já! – ele exclamou.

    Vince tornou se aproximar de Emily, mas não parava de gaguejar e fitar o chão; já ela fazia um grande esforço para nem olhar o menino.

  - Então... sabevocêquererdançarcomeu... – ele dizia.

  - O que disse? – Emily pergunta impaciente. Ele respirou fundo antes de tentar mais uma vez.

  - E-eu... eu... eu queria saber se você gostaria de dançar – foi com muita dificuldade que Vincent conseguiu desembolar as palavras e fazer o convite. Minha neta porém se levantou de uma vez só, com olhos marejados, bochechas vermelhas e quase gritando.

- Não! Eu não quero dançar Vincent. Não quero dançar, nem conversar, e nem ver ninguém! – ela respondeu e todos nós ficamos mortificados com o exagero de sua atitude.